1.º Guia sobre os peixes de água doce de Angola

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Marco Arruda M

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Terminou a sua formação superior na Escola Superior de Tecnologia do Mar em Peniche. O tema do trabalho final de curso de Biologia Marinha e Biotecnologia foi realizado no âmbito do estágio no IPIMAR (Instituto Português de Investigação da Pesca e do Mar) agora IPMA, sobre o tema: “Comportamento alimentar de Pleuronectiformes: Linguado e Pregado”, e o estágio realizado durante o Bacharelato em Engenharia de Produção Animal foi também na área da aquacultura, tendo tido experiência com o maneio de douradas desde a reprodução até à engorda. A ictiologia, a aquacultura e a aquariofilia como hobbie foram sempre uma paixão para o autor.

Os peixes são uma importante fonte alimentar para o homem, são alvo de actividades recreativas como a pesca desportiva ou a aquarofília. Os peixes de água doce representam também uma parte importante da biodiversidade e as diversas espécies devem ser estudadas e protegidas, pois em termos ecológicos são uma das bases da cadeia alimentar. Segundo a base de dados Fishbase.org existem em Angola, cerca de 258 espécies de peixes de água doce. Este livro tem informação sobre as mais representativas.

www.sitiodolivro.pt

1.º GUIA SOBRE OS PEIXES DE ÁGUA DOCE DE ANGOLA

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MARCO ARRUDA, 38 anos, nascido em Torres Novas, Portugal, em 1980. A residir actualmente em Luanda, Angola. Trabalha como docente de Biologia, no Colégio Angolano de Talatona, exerce a actividade de docente há 5 anos. Em Portugal trabalhou na Divisão de Ambiente e Desenvolvimento Sustentável do Município de Santarém de 2008 a 2011, no âmbito dos projectos que envolvem o Rio Alviela, projectos de Educação Ambiental e participou em diversos estudos de monitorização e inventariação da fauna piscícola de algumas bacias hidrográficas do Norte e Centro de Portugal, e foi co-autor de algumas publicações em colaboração com a equipa do Laboratório de Genética Evolutiva do ISPA.

Este livro surge como forma de divulgar e chamar a atenção para a classe de vertebrados que apresenta maior diversidade, ou seja, a Classe dos peixes. Sabe-se hoje que existem mais de 20 500 espécies de peixes, sendo que cerca de 41,2% dos peixes são dulçaquícolas, ou seja habitam “águas doces” (Cohen 1970 in Holcik 1989).

1.º GUIA SOBRE OS PEIXES DE ÁGUA DOCE DE ANGOLA Marco Arruda


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1.ยบ Guia sobre os peixes de รกgua doce de Angola

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Marco Arruda


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título: 1.º

Guia sobre os peixes de água doce de Angola Arruda (marco_arruda1980@hotmail.com) edição gráfica: Edições ex-Libris® (Chancela Sítio do Livro) autor: Marco

Ângela Espinha Paulo S. Resende

grafismo da capa:

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paginação:

1.ª edição, Lisboa fevereiro, 2019 isbn:

978­‑989-8867-41-4 444120/18

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depósito legal:

© Marco António Alexandre Arruda

Todos os direitos de propriedade reservados, em conformidade com a legislação vigente. A reprodução, a digitalização ou a divulgação, por qualquer meio, não autorizadas, de partes do conteúdo desta obra ou do seu todo constituem delito penal e estão sujeitas às sanções previstas na Lei. publicação e comercialização

www.sitiodolivro.pt publicar@sitiodolivro.pt (+351) 211 932 500

NOTA: Por opção do autor, a obra não segue as regras do Acordo Ortográfico.


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Em homenagem ao meu pai, que faleceu a dia 18 de Outubro de 2018, durante o processo de edição deste livro... Adeus pai, estarás sempre comigo.


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Indice Agradecimentos 9 Prefácio 11 Introdução 13 17

Listagem de espécies de peixes de água doce presentes em Angola

21

1. Género Alestes (=Brycinus)

29

28. Género Gobius

111

2. Género Amphilius

34

29. Género Haplochromis

112

37

30. Género Hemichromis

115

38

31. Género Hemigrammocharax

3. Género Anaspidoglanis 4. Género Aphyosemion 5. Género Aplocheilichthys 6. Género Arius 7. Género Awaous 8. Género Barbus

41

(=Nannocharax) 120

44

32. Género Hepsetus

124

47

33. Género Heterobranchus

126

48

34. Género Heteromormyrus

128

71

35. Género Hippopotamyrus

129

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9. Bostrychus

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Hidrografia

73

36. Género Hydrocynus

132

11. Género Chetia

76

37. Género Kneria

134

12. Género Chilochromis

78

38. Género Labeo

137

13. Género Channallabes

79

39. Género Labeobarbus

144

14. Género Chiloglanis

80

40. Género Lutjanus

145

15. Género Chrysichthys

83

41. Género Malapterurus

146

16. Género Citharichthys

87

42. Género Marcusenius

148

17. Género Clariallabes

88

43. Género Mastacembelus

152

18. Género Clarias

89

44. Género Megalops

154

19. Género Doumea

95

45. Género Mesobola

156

20. Género Ctenopoma

96

46. Género Micralestes

158

21. Género Dormitator

99

47. Género Micropanchax

162

22. Género Congocharax

101

48. Género Microphis

163

23. Género Dundocharax

102

49. Género Mormyrus

164

24. Género Enneacampus

103

50. Género Mugil

166

25. Género Epiplatys

105

51. Género Nematogobius

168

26. Género Erpetoichthys

107

52. Género Polydactylus

170

27. Género Ethmalosa

109

53. Género Odaxothrissa

174

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10. Género Campylomormyrus


176

71. Género Porogobius

210

55. Género Oreochromis

177

72. Género Protopterus

211

56. Género Parailia

185

73. Género Pseudocrenilabrus

212

57. Género Parakneria

186

74. Género Raiamas

216

58. Género Paramormyrops

187

75. Género Rhabdalestes

218

59. Género Parauchenoglanis

190

76. Género Sargochromis

219

60. Género Pareutropius

191

77. Género Sarotherodon

220

61. Género Pellonula

193

78. Género Schilbe

223

62. Género Petrocephalus

194

79. Género Serranochromis

224

63. Género Pharyngochromis 64. Género Phenacogrammus 65. Género Phractura 66. Género Plataplochilus 67. Género Platyclarias 68. Género Pollimyrus 69. Género Polypterus

196

80. Género Synodontis

227

199

81. Género Thoracochromis

232

201

82. Género Tilapia

239

203

83. Género Varicorhinus

241

204

84. Género Xenomystus

247

205

85. Género Xenomystus nigri

251

206

86. Género Zaireichthys

252

208

87. Género Periophthalmus

253

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70. Género Pomadasys

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54. Género Opsaridium

Nota do Autor

255

Bibliografia

262

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Agradecimentos

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A realização deste livro só foi possível com a colaboração de um conjunto amplo de pessoas, às quais quero agradecer sinceramente: À minha esposa, e minha melhor amiga, Teresa Divauka José Arruda, tenho de agradecer todo o apoio que deu, encorajando-me na realização deste projecto, e em todas as pequenas, grandes coisas do dia a dia em que sinto o seu apoio e carinho; Aos meus pais Amândio Augusto Arruda e Isabel da Silva Alexandre e demais familiares, por sempre me terem apoiado nas minhas decisões, por me terem sempre deixado seguir o meu caminho e pelo amor, carinho e incentivo que sempre me deram, permitindo que desde criança tivesse contacto com a Natureza nas nossas idas à pesca, na procura de pequenos animais na praia, a observação de ninhos de aves com o meu pai no bosque perto de casa e o terem-me motivado a ver documentários sobre vida selvagem e a oferta de livros de ciências, sobre animais e ecologia; Aos meus padrinhos de Baptismo, saudoso Martins e Lícinia Martins, e de Casamento, José Ferreira e Teresa Ferreira, Gino Madaleno, Madalena Pedro, obrigado por estarem sempre presentes; Um agradecimento especial também a toda a minha família Angolana, à família José Quiala. Gostaria também de agradecer à Escola Superior de Tecnologia do Mar e Escola Superior Agrária de Santarém, em particular, a todos os professores, pela formação proporcionada e pelo que me enriqueceram em termos humanos durante a minha formação. Destaco também a Doutora Carla Sousa Santos, por ter aceite dar uma opinião sobre este livro e pela disponibilidade demonstrada na revisão final do mesmo, estendendo os agradecimentos à Doutora Joana Robalo e restante equipa do Laboratório de Genética Evolutiva do ISPA – Instituto Universitário de Ciências Sociais, Psicológicas e da Vida, lembrando o saudoso Doutor Vítor Almada que foi para mim um exemplo e inspiração; 9


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A todos os meus amigos, que sempre me deram apoio, em especial, ao Marco AurĂŠlio, Mauro Alexandre, Nelson Alberto, Eduardo Mendes, Francisco Mendes, Rui Martins, Baltar Martins, Williams Jimezes, Domicel, Helena, Cathelyne, Francisco Silva, entre outros amigos e colegas de trabalho, ou com quem trabalhei, o meu obrigado pela vossa amizade.

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Prefácio

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A ictiofauna de água doce encontra-se actualmente entre os grupos taxonómicos com maior risco de extinção à escala global. São inúmeros os factores de ameaça que as espécies enfrentam, muitas vezes com impacto simultâneo e cumulativo, e que se traduzem geralmente no incremento da mortalidade, redução do recrutamento, fragmentação das populações, perda de diversidade genética, e aumento da pressão por competição e predação. Mitigar o efeito destes factores de ameaça de forma a preservar espécies nativas que, em muitos casos, são fruto de percursos evolutivos com milhões de anos, é urgente e só se conseguirá fomentando algo que em muitos países ainda é escasso: a informação. De facto, a preservação dos recursos naturais depende fundamentalmente do nível de conhecimento que temos sobre a biologia, ecologia e distribuição das espécies, devendo esse conhecimento estar acessível a todos. Assim sendo, este livro reveste-se de uma enorme importância no que diz respeito à disseminação do conhecimento acerca de ictiofauna de água doce de Angola e, sobretudo, será um importante instrumento de sensibilização ambiental para a conservação de tão valioso património natural. É fundamental não esquecer que só se preserva o que se conhece… Carla Sousa Santos Bióloga Investigadora MARE-ISPA (Portugal)

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Introdução

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Este livro surge como forma de divulgar informação sobre a classe de vertebrados que apresenta maior diversidade na Terra, que são os peixes. Sabe-se hoje que existem no Mundo mais de 24 000 espécies de peixes, sendo que 41,2% dos peixes são dulçaquícolas, ou seja habitam “águas doces” (Cohen 1970 e Holcik 1989). Muitas das espécies de água doce poderão desaparecer antes de serem descobertas pela ciência, devido à pesca excessiva, à poluição e à construção de barreiras artificiais (barragens, açudes) nos rios provocando um decréscimo acentuado nas espécies de peixes migratórios ou nas espécies mais sensíveis, sendo este um fenómeno Mundial que urge conter. Este livro serve também de divulgação ao público em geral e futuros especialistas em ictiologia ou interessados por biologia e ecologia em geral, acerca da enorme diversidade de peixes de água doce de Angola. Trata-se de um grupo taxonómico pouco estudado e que, segundo registos históricos e estudos realizados mais recentemente (compilados na base de dados Fishbase.org), deverá incluir cerca de 258 espécies distribuídas pelo território Angolano. A variedade de espécies de peixes existentes nos rios, lagos e outros cursos de água de Angola é extremamente alta, e várias espécies poderão estar por descobrir. A história de Angola foi profundamente influenciada por conflitos armados, iniciados com a Guerra de Independência de Angola, também conhecida como Luta Armada de Libertação Nacional, que foi um conflito armado entre as forças independentistas de Angola — UPA/FNLA, MPLA e, a partir de 1966, a UNITA — e as Forças Armadas de Portugal. Mais tarde e até recentemente o País foi assolado por uma Guerra Civil, com um conflito armado que teve início em 1975 e continuou, com alguns intervalos, até 2002. Os diversos conflitos armados acabaram por afectar populações humanas e fizeram diminuir drasticamente as populações de vários animais que eram comuns em Angola. No entanto, os cursos de água foram menos afectados e a guerra provocou até uma redução do esforço de pesca nas águas interiores, em resultado da fuga 13


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das populações para as grandes cidades (especialmente Luanda), na procura de locais mais seguros, o que causou um êxodo rural e a desertificação do interior. Sendo assim, no interior de Angola, a densidade populacional passou a ser muito reduzida, e muitas espécies de peixes acabaram por proliferar enquanto outras classes animais eram caçadas para alimentação humana. A guerra impediu também os estudos sobre a biodiversidade, a sua monitorização e protecção por parte de especialistas em biologia e ecologia, pelo que até recentemente poucos estudos de inventariação de fauna e mais propriamente da ictiofauna foram feitos. Recentemente criaram-se condições para a participação de investigadores em vários estudos sobre a biodiversidade Angolana, através de esforços promovidos pelo Ministérios do Ambiente, Instituto Nacional de Investigação Pesqueira (INIP), protocolos com Universidades Sul Africanas tais como, o Instituto Sul-Africano para a Biodiversidade Aquática de Grahamstown, Universidades Angolanas, Portuguesas e outras. No entanto, a situação das populações de várias espécies é ainda pouco conhecida, e as espécies aquáticas pela sua especificidade são ainda menos conhecidas e estudadas. Demasiadas vezes os peixes são estudados apenas numa óptica da sua importância como fonte alimentar para o homem, no entanto são um importante recurso biológico e possuem elevada importância sócio-económica, sendo alvo de actividades recreativas como a pesca desportiva ou a aquarofilia. Os peixes de água doce representam uma parte importante da biodiversidade e as diversas espécies devem ser estudadas e protegidas, pois em termos ecológicos são uma parte importante da cadeia alimentar, servindo de alimento a diversos mamíferos, aves (como as garças, diversas aves de rapina, pelicanos…) e répteis (crocodilos, cobras, algumas espécies de tartarugas).

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1.º Guia sobre os peixes de água doce de Angola Fotografia 1: crânio de crocodilo; Fotografia 2: pelicanos e outras aves aquáticas na foz do rio Cuanza (Kwanza); Fotografia 3: Garças reais e plantas infestantes, jacintos de água; Fotografia 4: Cegonha-Bico-de-Sela (Ephippiorhynchus senegalensis) e abutre das palmeiras (Gypohierax angolensis) próximo da foz do rio Cuanza.

1. Prefácio:

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A ictiofauna de água doce encontra-se actualmente entre os grupos taxonómicos com maior risco de extinção à escala global. São inúmeros os factores de ameaça que as espécies enfrentam, muitas vezes com impacto simultâneo e cumulativo, e que se traduzem geralmente no incremento da mortalidade, redução do recrutamento, fragmentação das populações, perda de diversidade genética, e aumento da pressão por competição e predação. Mitigar o efeito destes factores de ameaça de forma a preservar espécies nativas que, em muitos casos, são fruto de percursos evolutivos com milhões de anos, é urgente e só se conseguirá fomentando algo que em muitos países ainda é escasso: a informação. De facto, a preservação dos recursos naturais depende fundamentalmente do nível de conhecimento que temos sobre \ a biologia, ecologia e distribuição das espécies, devendo esse conhecimento estar acessível a todos. Assim sendo, este livro reveste-se de uma enorme importância no que diz respeito à Fonte: arquivo pessoal. disseminação do conhecimento acerca de ictiofauna de água doce de Angola e, sobretudo, será um importante instrumento de sensibilização ambiental paraa avariedade conservação deetão valioso Como já foi referido, em Angola, de peixes a sua distripatrimónio natural. É fundamental não esquecer que só se buição são pouco conhecidas, daí a necessidade e importância de efecpreserva o que se conhece… tuar um maior número de levantamentos e estudos para a obtenção de dados sobre a ictiofauna. É igualmente necessário conhecer a situação Carla Sousa Santos das pescas nas águas interiores, ter em conta a preservação dasBióloga espéInvestigadora MARE-ISPA (Portugal) cies de peixes no planeamento da construção de novas barragens e outras infraestruturas num País em acelerado desenvolvimento, e ter alguma compreensão acerca dos potenciais impactos sobre as mesmas nas bacias hidrográficas Angolanas, uma vez que várias barragens são planeadas podendo não ter em conta a interrupção do ciclo natural de migração de várias espécies de peixes, o que também afecta directamente o abastecimento de pescado das comunidades humanas e pode 11 15


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levar à extinção de variadas espécies. Só no rio Kwanza existem as barragens hidroeléctricas de Capanda, de Laúca (recentemente terminada) e de Cambambe (que beneficia de obras de modernização), sendo que o Governo de Angola tem ainda em vista a edificação de mais cinco projectos hidroeléctricos, inseridos no programa nacional de aproveitamento das potencialidades do curso médio do rio Kwanza. A aquacultura está a ter forte implementação em Angola, havendo já diversas unidades aquícolas nomeadamente de piscicultura, onde os exemplares utilizados para reprodução e engorda deveriam ser de espécies ou sub-espécies de tilápia e outros peixes já existentes no País, para que a diversidade genética nos cursos de água se mantenha, mesmo que ocorram fugas de exemplares de cativeiro. Os aquariofilistas que possuam espécies de peixes tropicais e de água fria provenientes de outros Países, deverão ter o cuidado de não fazerem introduções de espécies exóticas que poderão ser potencialmente invasoras com capacidade predadora ou de disseminação de doenças novas nos cursos de água, o que teria graves implicações para a sobrevivência das espécies nativas. Os rios, lagos e pequenos cursos de água de Angola são muito ricos em peixe e as populações reconhecem grande parte das espécies, dando-lhes nomes tradicionais em línguas nacionais. Como base para a elaboração deste livro, foi feito um levantamento bibliográfico sobre a biodiversidade piscícola, e recolhidos alguns exemplares durante as viagens realizadas por diversas Provincias do País, que permitiram igualmente a recolha de fotos de vários cursos de água, artes de pesca e algumas espécies de peixes. Ao longo deste livro, que poderá servir de guia de campo, serão referidas não só as espécies consideradas desportivas, mas também as mais populares em termos alimentares, que se comercializam frescas, salgadas e secas e as espécies com potencial para a aquarofília.

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1.º Guia sobre os peixes de água doce de Angola

Hidrografia

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Angola ocupa uma superfície de aproximadamente 1 247 000 Km2, do Norte ao Sul, de Este a Oeste. Este País apresenta uma grande diver1. Prefácio: sidade de condições edafo-climáticas, que favorecem o surgimento de diversos habitats, desde rios aos lagos,encontra-se com condiçõesactualmente e dimensões A ictiofauna de os água doce entre os grupos taxonómicos com maior risco de extinção de à muito diferentes, explicando a existência da grande diversidade escala global. São inúmeros os factores de ameaça que as peixes identificada em Angola. espécies enfrentam, muitas vezes com impacto simultâneo A maioria dos rios angolanos nasce nas terras altas do planalto cene cumulativo, e que se traduzem geralmente no incremento tral mortalidade, e corre em quatro direcções da redução do diferentes: recrutamento, fragmentação das –– Para Norte, a imensagenética, bacia do Zaire (ou Congo), populações, perdapartilhando de diversidade e aumento da pressãocorrem por competição Mitigar os afluentes edepredação. grandes rios, como oo efeito Cuango,destes Cuílo, factoresCaluango, de ameaça deLuachimo, forma aChiumbe preservar espécies nativas Chicapa, e Cassai; que, em muitos casos, são fruto de percursos evolutivos com –– Para a Costa Atlântica correm o M’Bridge, Lodge, Dande, Bengo, milhões de anos, é urgente e só se conseguirá fomentando Cuanza (o maiorpaíses rio inteiramente no território de Angola), algo que em muitos ainda é escasso: a informação. Queve Cuvo), Catumbela, Caporolo, Bentiaba Curoca, a De facto, a (ou preservação dos recursos naturais e depende fundamentalmente de conhecimento temos norte e a oestedodonível planalto; e o Cunene a Sulque e Oeste dassobre terras a biologia, ecologia e distribuição das espécies, devendo esse altas da Huíla; conhecimento estar acessível a todos. Assim sendo, este livro –– Directamente para Sul, em direcção ao Lago Etosha no deserto reveste-se de uma enorme importância no que diz respeito à do Kalahari, correm rios de menor caudal, ou mesmo de de caudal disseminação do conhecimento acerca de ictiofauna água leste da baciaserá do Cunene, como o rioinstrumento Cariango; doce detemporário, Angola e,asobretudo, um importante de sensibilização ambiental para a conservação detodos tão valioso –– No quadrante sudeste do território de Angola, os rios património natural. É fundamental não esquecer que só se correm na direcção sudeste formando a orla ocidental da preserva o que se conhece… grande bacia do Zambeze. Pela sua importância devemos mencionar os rios Cubango, Cuito, Cuando, Luiana, Lungué-Bungo, CarlaeSousa Santos Bióloga e o próprio Zambeze. Os rios que cortam o planalto são em Investigadora MARE-ISPA (Portugal) geral de pequeno volume e fraco declive no seu troço inicial. Contudo, ganham volume e declive depois de atravessarem as montanhas criando vales apertados antes de atingirem o litoral, sendo comuns as cataratas e os rápidos, antes de atingirem o seu troço terminal.

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Fonte: arquivo pessoal.

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Fotografia 5 e 6 - Rápidos do rio Cuanza (ou Kwanza) e Quedas de água de Kalandula, no rio Lucala.

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As florestas ripícolas ou de galeria (muxitos) são muito comuns na maioria dos rios do planalto. Já nas planícies costeiras, onde as águas se juntam em maior quantidade, os rios espraiam-se geralmente por terrenos baixos, onde predominam os palmares, árvores com lianas, e uma grande diversidade vegetal.

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Fotografia 7 e 8 - Florestas ripícolas ou florestas galeria, no rio Cuanza.

Fonte: arquivo pessoal.

Fotografia 9 e 10 - Mangais próximo de Luanda.

Fonte: arquivo pessoal.

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1.º Guia sobre os peixes de água doce de Angola

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Os mangais são típicos dos estuários dos rios, habitat cuja salinidade varia de acordo com a maré cheia e maré baixa, mas onde predomina a água salgada. maioria dos rios do Sul do País não são próprios para a navegação 1. APrefácio: com embarcações de grande calado, apresentando na sua maioria elevado e queda de altitude, sendo que muitos deles têm A declive ictiofauna debrusca água doce encontra-se actualmente entre os grupos taxonómicos com maior risco de extinção à volume insignificante de água na época do cacimbo (na estação seca escala global. São inúmeros os factores de ameaça que as o rio Cunene chega a desaparecer, ficando apenas alguns pegos ou espécies enfrentam, muitas vezes com impacto simultâneo pequenos charcos), e são torrenciais na época das chuvas. e cumulativo, e que se traduzem geralmente no incremento No Norte do País existe uma rede fluvial,fragmentação alimentada por uma da mortalidade, redução do maior recrutamento, das maior precipitação anual, estes rios genética, na sua maioreparte de regime populações, perda desendo diversidade aumento da pressão porsituando-se competição e predação. Mitigar efeito destes permanente, na região Norte e Centro os oprincipais rios em factores ameaça preservar espécies termos dede caudal. Devidodeaoforma rápido a declive, a maioria dos riosnativas angolaque, em muitos casos, são fruto de percursos evolutivos com nos oferecem um potencial muito grande para aproveitamento hidroemilhões de anos, é urgente e só se conseguirá fomentando léctrico, queem começa a serpaíses aproveitado. algo que muitos ainda é escasso: a informação. referido, a maioria rios em naturais Angola sãodepende ricos em De Como facto,já afoi preservação dos dos recursos fundamentalmente do nível de conhecimento sobre peixe, e são as diferentes condições encontradas que num temos território tão a biologia, ecologia e distribuição das espécies, devendo esse vasto e diversificado que permitem também uma grande diversidade. conhecimento estar acessível a todos. Assim sendo, este livro Por norma, a pesca ainda é realizada por pescadores artesanais e o pesreveste-se de uma enorme importância no que diz respeito à cado é consumido no entanto, o Estado Angolanode tem disdisseminação dolocalmente, conhecimento acerca de ictiofauna água ponibilizado embarcações e artes de pesca pescadores de várias locadoce de Angola e, sobretudo, será uma importante instrumento de sensibilização ambiental para a conservação de tão valioso lidades, permitindo gradualmente maiores capturas. património natural. É fundamental não esquecer que só se preserva o 11 que conhece… Fotografia e 12 se - Artes de pesca nos rápidos do Cuanza e pescador no rio Lucala.

Fonte: arquivo pessoal.

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Carla Sousa Santos

Bióloga Investigadora MARE-ISPA (Portugal)


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Fonte: arquivo pessoal.

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Fotografia 13 - Pescador em piroga, canoa artesanal, na lagoa do Panguila.

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1.º Guia sobre os peixes de água doce de Angola

Listagem de espécies de peixes de água doce presentes em Angola 1 – Listagem de espécies de peixes de Angola. 1. Tabela Prefácio:

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Ordem Família Espécie Categoria Nome comum nativo Characiformes Alestidaede água Brycinus ansorgii A ictiofauna doce encontra-se actualmente Characiformes Alestidae Brycinus humilis nativo de extinção à entre os grupos taxonómicos com maior risco Characiformes Alestidae Brycinus imberi Spot-tail que as escala global. São inúmeros os factores nativo de ameaça Characiformes enfrentam, Alestidae Brycinus kingsleyae nativo simultâneo espécies muitas vezes com impacto lateralis geralmente nativo no Striped robber eCharaciformes cumulativo,Alestidae e que seBrycinus traduzem incremento Characiformes Alestidae Brycinus macrolepidotus nativo True big-scale tetra da mortalidade, redução do recrutamento, fragmentação das Siluriformes Amphiliidae lentiginosus nativos populações, perda de Amphilius diversidade Amphilius uranoscopusgenética, e aumento da pressão competiçãoAnaspidoglanis e predação. Mitigar Siluriformes por Claroteidae macrostomus nativo o efeito Flatnose destes catfish factores de ameaça deAphyosemion forma australe a preservar espécies Cyprinodontiformes Nothobranchiidae nativo Lyretail nativas panchax que, em muitos casos, são frutoescherichi de percursos com Cyprinodontiformes Nothobranchiidae Aphyosemion nativo evolutivos Escherich’s killi milhões de anos, e sóhutereaui se conseguirá fomentando Cyprinodontiformes Poeciliidaeé urgente Aplocheilichthys nativo Meshscaled topminnow algo que em muitos países ainda é escasso: a informação. Cyprinodontiformes Aplocheilichthys Striped topminnow De facto, a Poeciliidae preservação dos katangae recursos nativo naturais depende Cyprinodontiformes Poeciliidae Aplocheilichthys luluae nativo Lulua River lampeye fundamentalmente do nível de conhecimento que temos sobre Poeciliidae Aplocheilichthys macrurus nativo Big tailed lampeye aCyprinodontiformes biologia, ecologia e distribuição das espécies, devendo esse Cyprinodontiformes Poeciliidae Aplocheilichthys mediolateralis endémico conhecimento estar acessível a todos. Assim sendo, este livro Cyprinodontiformes Poeciliidae Aplocheilichthys myaposae nativo Natal topminnow reveste-se de uma enorme importância no que diz respeito à Cyprinodontiformes Poeciliidae Aplocheilichthys nigrolateralis endémico disseminação do conhecimento acerca de ictiofauna de água Cyprinodontiformes Poeciliidae Aplocheilichthys spilauchen nativo Banded lampeye doce de Angola será um importante instrumento Siluriformes Ariidaee, sobretudo, Arius latiscutatus nativo Rough-head sea de sensibilização ambiental para a conservação decatfish tão valioso Siluriformes Ariidae Arius parkii nativo Guinean património natural. É fundamental não esquecer que sea sócatfish se Perciformes Gobiidae Awaous lateristriga nativo West African preserva o que se conhece… freshwater goby Cypriniformes Cyprinidae Barbus afrovernayi nativo Spottail barb Carla Sousa Santos Cypriniformes Cyprinidae Barbus ansorgii nativo Bióloga Cypriniformes Cyprinidae Barbus argenteus nativo Rosefin barb Investigadora MARE-ISPA (Portugal) Cypriniformes Cyprinidae Barbus barnardi nativo Blackback barb Cypriniformes Cyprinidae Barbus barotseensis nativo Barbus barb Cypriniformes Cyprinidae Barbus bifrenatus nativo Hyphen barb Cypriniformes Cyprinidae Barbus breviceps nativo Shorthead barb Cypriniformes Cyprinidae Barbus brevidorsalis nativo Dwarf barb Cypriniformes Cyprinidae Barbus brevilateralis endémico Cypriniformes Cyprinidae Barbus caudosignatus nativo Cypriniformes Cyprinidae Barbus chicapaensis endémico

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Espécie Barbus chiumbeensis Barbus collarti Barbus dorsolineatus Barbus ensis Barbus eutaenia Barbus evansi Barbus fasciolatus Barbus girardi Barbus greenwoodi Barbus gulielmi Barbus haasianus Barbus holotaenia Barbus hulstaerti Barbus jubbi Barbus kerstenii Barbus kessleri Barbus lineomaculatus Barbus lucius Barbus machadoi Barbus mattozi Barbus mediosquamatus Barbus miolepis Barbus mocoensis Barbus multilineatus Barbus musumbi Barbus nanningsi Barbus paludinosus Barbus petchkovskyi Barbus poechii Barbus radiatus aurantiacus Barbus rhinophorus Barbus rocadasi Barbus roussellei Barbus roylii Barbus thamalakanensis Barbus trimaculatus Barbus trispilomimus Barbus unitaeniatus Barbus wellmani Bostrychus africanus Campylomormyrus alces

Categoria nativo nativo endémico nativo nativo endémico nativo endémico endémico endémico nativo nativo questionável nativo nativo nativo nativo nativo nativo nativo nativo nativo endémico nativo nativo nativo nativo nativo nativo nativo nativo nativo nativo nativo nativo nativo nativo nativo nativo nativo nativo

Nome comum Cunene barb Orangefin barb African banded barb Sickle barb Spotscale barb Butterfly barb Redspot barb Gillbar barb Line-spotted barb Papermouth Zigzag barb Copperstripe barb Straightfin barb Dashtail barb Thamalakane barb Threespot barb Slender barb

ew

Família Cyprinidae Cyprinidae Cyprinidae Cyprinidae Cyprinidae Cyprinidae Cyprinidae Cyprinidae Cyprinidae Cyprinidae Cyprinidae Cyprinidae Cyprinidae Cyprinidae Cyprinidae Cyprinidae Cyprinidae Cyprinidae Cyprinidae Cyprinidae Cyprinidae Cyprinidae Cyprinidae Cyprinidae Cyprinidae Cyprinidae Cyprinidae Cyprinidae Cyprinidae Cyprinidae Cyprinidae Cyprinidae Cyprinidae Cyprinidae Cyprinidae Cyprinidae Cyprinidae Cyprinidae Cyprinidae Eleotridae Mormyridae

Pr e

vi

Ordem Cypriniformes Cypriniformes Cypriniformes Cypriniformes Cypriniformes Cypriniformes Cypriniformes Cypriniformes Cypriniformes Cypriniformes Cypriniformes Cypriniformes Cypriniformes Cypriniformes Cypriniformes Cypriniformes Cypriniformes Cypriniformes Cypriniformes Cypriniformes Cypriniformes Cypriniformes Cypriniformes Cypriniformes Cypriniformes Cypriniformes Cypriniformes Cypriniformes Cypriniformes Cypriniformes Cypriniformes Cypriniformes Cypriniformes Cypriniformes Cypriniformes Cypriniformes Cypriniformes Cypriniformes Cypriniformes Perciformes Osteoglossiformes

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1.º Guia sobre os peixes de água doce de Angola Ordem Osteoglossiformes Osteoglossiformes Osteoglossiformes Osteoglossiformes Osteoglossiformes Perciformes

Família Mormyridae Mormyridae Mormyridae Mormyridae Mormyridae Polynemidae

Nome comum Polydactylus Barbudo gigante A ictiofauna de água doce encontra-se actualmente endémico happy à Perciformes Cichlidae Chetia gracilis entre os grupos taxonómicos com maior risco deSlender extinção Perciformes Cichlidae Chetia welwitschi nativo Angolan happy as escala global. São inúmeros os factores de ameaça que Perciformes Cichlidae Chilochromis duponti nativo espécies enfrentam, muitas vezes com impacto simultâneo Siluriformes Clariidae Channallabes apus nativo Eel catfish e cumulativo, e que se traduzem geralmente no incremento Siluriformes Mochokidae Chiloglanis angolensis nativo da mortalidade, reduçãoChiloglanis do recrutamento, fragmentação das Siluriformes Mochokidae fasciatus nativo Okavango populações, perda de diversidade genética, e aumento suckermouth da pressão competiçãoChiloglanis e predação. Mitigar destes Siluriformes por Mochokidae lukugae nativo o efeito factores formaneumanni a preservar espécies nativas Siluriformes de ameaça Mochokidae deChiloglanis nativo Neumann’s suckermouth com que, em muitos casos, são fruto de percursos evolutivos Siluriformes Mochokidae Chiloglanis sardinhai nativo milhões de anos, é urgente e só se conseguirá fomentando Siluriformes Claroteidae Chrysichthys ansorgii endémico algo que em muitos países ainda é escasso: a informação. Siluriformes Claroteidae Chrysichthys auratus nativo De facto, a preservação dos recursos naturais depende Siluriformes Claroteidae Chrysichthys bocagii nativo fundamentalmente do nível de conhecimento que temos sobre Siluriformes Claroteidae Chrysichthys nigrodigitatus nativo Bagrid catfish aSiluriformes biologia, ecologia e distribuição das espécies, devendo esse Claroteidae Chrysichthys walkeri nativo conhecimento estar acessível a todos. Assim sendo, este livro Pleuronectiformes Paralichthyidae Citharichthys stampflii nativo Smooth flounder reveste-se de uma enorme importância no que diz respeito à Siluriformes Clariidae Clariallabes heterocephalus endémico disseminação do conhecimento acerca denativo ictiofauna de água Siluriformes Clariidae Clarias angolensis doce de Angola e, sobretudo, será um importante instrumento Siluriformes Clariidae Clarias gariepinus nativo North African catfish de sensibilização para a conservação tão valioso Siluriformes Clariidae ambiental Clarias ngamensis nativo deBlunt-toothed património natural. É fundamental não esquecerAfrican quecatfish só se Siluriformes Clariidae Clarias nigromarmoratus endémico preserva o que se conhece… Siluriformes Clariidae Clarias stappersii nativo Blotched catfish Siluriformes Clariidae Clarias theodorae nativo Snake catfish Carla Sousa Santos Siluriformes Amphiliidae Doumea angolensis endémico Bióloga Perciformes Anabantidae Ctenopoma multispine nativo Manyspined Investigadora MARE-ISPA (Portugal) ctenopoma Perciformes Anabantidae Ctenopoma nigropannosum nativo Twospot climbing perch Perciformes Eleotridae Dormitator lebretonis nativo Characiformes Citharinidae Congocharax spilotaenia nativo Characiformes Citharinidae Dundocharax bidentatus endémico Perciformes Eleotridae Eleotris senegalensis nativo Perciformes Eleotridae Eleotris vittata nativo Syngnathiformes Syngnathidae Enneacampus ansorgii nativo

Categoria nativo nativo nativo questionável nativo nativo

Pr e

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1. Prefácio:

Espécie Campylomormyrus cassaicus Campylomormyrus curvirostris Campylomormyrus elephas Campylomormyrus luapulaensis Campylomormyrus tshokwe Polydactylus quadrifilis

11 23


Ordem Família Espécie Cyprinodontiformes Nothobranchiidae Epiplatys singa Polypteriformes Polypteridae Erpetoichthys calabaricus

Categoria nativo nativo

Clupeiformes Osteoglossiformes

Clupeidae Mormyridae

nativo endémico

Nome comum Reedfish Peixe-corda Bonga shad

Perciformes Perciformes Perciformes Perciformes Perciformes Perciformes Perciformes Characiformes

nativo endémico endémico nativo nativo nativo nativo endémico

Rock goby Jewelfish Banded jewel cichlid Banded jewelfish

Characiformes Siluriformes Osteoglossiformes Osteoglossiformes Osteoglossiformes Osteoglossiformes Characiformes Gonorynchiformes Gonorynchiformes Gonorynchiformes Gonorynchiformes Gonorynchiformes Cypriniformes Cypriniformes Cypriniformes Cypriniformes

Gobiidae Cichlidae Cichlidae Cichlidae Cichlidae Cichlidae Cichlidae Citharinidae (Distichodontidae) Citharinidae (Distichodontidae) Citharinidae (Distichodontidae) Citharinidae (Distichodontidae) Citharinidae (Distichodontidae) Hepsetidae Clariidae Mormyridae Mormyridae Mormyridae Mormyridae Alestidae Kneriidae Kneriidae Kneriidae Kneriidae Kneriidae Cyprinidae Cyprinidae Cyprinidae Cyprinidae

Cypriniformes Cypriniformes Cypriniformes

Cyprinidae Cyprinidae Cyprinidae

Characiformes

Hemigrammocharax endémico lineostriatus Hemigrammocharax machadoi nativo

Hemigrammocharax multifasciatus Hemigrammocharax wittei

nativo

Multibar citharine

nativo

Hepsetus odoe Heterobranchus longifilis Heteromormyrus pauciradiatus Hippopotamyrus ansorgii Hippopotamyrus discorhynchus Hippopotamyrus pappenheimi Hydrocynus vittatus Kneria angolensis Kneria ansorgii Kneria maydelli Kneria polli Kneria sjolandersi Labeo annectens Labeo ansorgii Labeo lukulae Labeo lunatus

nativo nativo endémico endémico nativo endémico nativo endémico endémico nativo nativo endémico nativo nativo nativo nativo

Labeo macrostoma Labeo nasus Labeo ruddi

nativo nativo nativo

Kafue pike Vundu Slender stonebasher Zambezi parrotfish Tiger fish Cunene kneria Western shellear Cunene labeo Red-spot mudsucker Upper Zambezi labeo Silver labeo

Dwarf citharine

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Characiformes

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Characiformes

Ethmalosa fimbriata Gnathonemus barbatus (=Campylomormyrus barbatus) Gobius paganellus Haplochromis humilis Haplochromis multiocellatus Hemichromis angolensis Hemichromis bimaculatus Hemichromis elongatus Hemichromis fasciatus Hemigrammocharax angolensis

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Characiformes

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1.º Guia sobre os peixes de água doce de Angola Ordem Cypriniformes Cypriniformes

Família Cyprinidae Cyprinidae

Espécie Labeo simpsoni Labeobarbus codringtonii

Categoria nativo nativo

Nome comum Upper Zambezi yellowfish Perciformes Lutjanidae Lutjanus dentatus nativo African brown snapper Siluriformes Malapteruridae Malapterurus beninensis nativo Siluriformes Malapteruridae Malapterurus gossei nativo A ictiofauna de água doce encontra-se actualmente Osteoglossiformes Mormyridae Marcusenius altisambesi nativo entre os grupos taxonómicos com maior risco de extinção à Osteoglossiformes Mormyridae Marcusenius cuangoanus endémico escala global. São inúmeros os factores endémico de ameaça que as Osteoglossiformes Mormyridae Marcusenius dundoensis espécies enfrentam, muitas vezes com impacto simultâneo Osteoglossiformes Mormyridae Marcusenius macrolepidotus nativo e cumulativo, e que seangolensis traduzem geralmente no incremento Osteoglossiformes Mormyridae moorii nativo da mortalidade, reduçãoMarcusenius do recrutamento, fragmentação das Osteoglossiformes Mormyridae ntemensisgenética, nativo e aumento populações, perda de Marcusenius diversidade da Synbranchiformes ansorgii Mitigar nativo o efeito pressão por Mastacembelidae competiçãoMastacembelus e predação. destes Elopiformes de ameaça Megalopidae deMegalops atlanticus nativo Tarpão/Tarpon factores forma a preservar espécies nativas nativo River sardine com Cypriniformes Cyprinidae Mesobola brevianalis que, em muitos casos, são fruto de percursos evolutivos Characiformes Alestidae Micralestes acutidens nativo Sharptooth tetra milhões de anos, é urgente e só se conseguirá fomentando Characiformes Alestidae Micralestes argyrotaenia endémico algo que em muitos países ainda é escasso: a informação. Characiformes Alestidae Micralestes humilis nativo De facto, a preservação dos recursos naturais depende Cyprinodontiformes Poeciliidae Micropanchax johnstoni nativo Johnston’s fundamentalmente do nível de conhecimento que temos topminnow sobre aSyngnathiformes biologia, ecologia das espécies, esse Syngnathidaee distribuição Microphis brachyurus aculeatus nativo devendo conhecimento estar acessível a todos. Osteoglossiformes Mormyridae Mormyrus caballus caballusAssim nativo sendo, este livro Osteoglossiformes de Mormyridae Mormyrus lacerda bottlenoseà reveste-se uma enorme importância nonativo que dizWestern respeito mormyrid disseminação do conhecimento acerca de ictiofauna de água Mugiliformes Mugilidae Mugil cephalus nativo Fataça doce de Angola e, sobretudo, será um importante instrumento Characiformes Citharinidae Nannocharax nativo de sensibilização ambiental para a conservação de tão valioso (=Hemigrammocharax) património natural. É fundamental não esquecer que só se fasciolaris Characiformes Citharinidae Nannocharax macropterus nativo Broad-barred preserva o que se conhece… citharine Characiformes Citharinidae Nannocharax parvus nativo Carla Sousa Santos Characiformes Citharinidae Nannocharax procatopus nativo Bióloga Perciformes Gobiidae Nematogobius ansorgii nativo Investigadora MARE-ISPA (Portugal) Perciformes Gobiidae Nematogobius maindroni nativo Clupeiformes Clupeidae Odaxothrissa ansorgii nativo Ansorge’s fangtooth Clupeiformes Clupeidae Odaxothrissa losera nativo Losera fangtooth nativo Barred minnow Cypriniformes Cyprinidae Opsaridium zambezense Perciformes Cichlidae Oreochromis andersonii nativo Three spotted tilapia Perciformes Cichlidae Oreochromis angolensis endémica Perciformes Cichlidae Oreochromis lepidurus nativo

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1. Prefácio:

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Família Cichlidae Cichlidae Cichlidae Cichlidae

Espécie Oreochromis macrochir Oreochromis mossambicus Oreochromis schwebischi Orthochromis machadoi

Categoria nativo introduzido nativo nativo

Siluriformes Gonorynchiformes Gonorynchiformes Gonorynchiformes Gonorynchiformes Osteoglossiformes Siluriformes Siluriformes Clupeiformes

Schilbeidae Kneriidae Kneriidae Kneriidae Kneriidae Mormyridae Claroteidae Schilbeidae Clupeidae

Parailia occidentalis Parakneria fortuita Parakneria ladigesi Parakneria marmorata Parakneria vilhenae Paramormyrops jacksoni Parauchenoglanis ngamensis Pareutropius debauwi Pellonula leonensis

nativo endémica endémica endémica nativo endémica nativo nativo nativo

Clupeiformes

Clupeidae

Pellonula vorax

nativo

Osteoglossiformes

Mormyridae

nativo

Osteoglossiformes Osteoglossiformes Osteoglossiformes Perciformes Characiformes Siluriformes Cyprinodontiformes Siluriformes Osteoglossiformes Osteoglossiformes Polypteriformes Perciformes Perciformes Clupeiformes

Mormyridae Mormyridae Mormyridae Cichlidae Alestidae Amphiliidae Poeciliidae Clariidae Mormyridae Mormyridae Polypteridae Haemulidae Gobiidae Clupeidae

Petrocephalus catostoma catostoma Petrocephalus cunganus Petrocephalus hutereaui Petrocephalus simus Pharyngochromis darlingi Phenacogrammus ansorgii Phractura macrura Plataplochilus cabindae Platyclarias machadoi Pollimyrus brevis Pollimyrus castelnaui Polypterus ornatipinnis Pomadasys jubelini Porogobius schlegelii Potamothrissa acutirostris

Nome comum Longfin tilapia Mozambique tilapia Cunene dwarf happy kneria do Cubango Ghost stonebasher Zambezi grunter African glass catfish Smalltoothed pellonula Bigtoothed pellonula Churchill

nativo nativo nativo nativo nativo endémico nativo endémico nativo nativo nativo nativo nativo Não confirmado nativo

Ciclídeo do Zambeze Dwarf stonebasher Ornate bichir Sompat grunt Sharpnosed sawtooth

nativo nativo nativo

Peixe pulmonado Slender lungfish

nativo

Southern mouthbrooder

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Ordem Perciformes Perciformes Perciformes Perciformes

Lepidosireniformes Protopteridae

Lepidosireniformes Protopteridae Lepidosireniformes Protopteridae Perciformes Cichlidae Perciformes

Cichlidae

Cypriniformes

Cyprinidae

Protopterus aethiopicus mesmaekersi Protopterus annectens brieni Protopterus dolloi Pseudocrenilabrus philander dispersus Pseudocrenilabrus philander philander Raiamas ansorgii

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nativo


1.º Guia sobre os peixes de água doce de Angola Ordem Família Espécie Categoria Nome comum nativo Okavango robber Characiformes Alestidae Rhabdalestes maunensis Perciformes Cichlidae Sargochromis carlottae nativo Rainbow happy Perciformes Cichlidae Sargochromis codringtonii nativo Green happy Perciformes Cichlidae Sargochromis coulteri nativo Cunene happy Perciformes Cichlidae Sargochromis giardi nativo Pink happy Perciformes Cichlidae Sargochromis thysi endémico A ictiofauna doce encontra-se actualmente Perciformes Cichlidae de água Sarotherodon nigripinnis dolloi nativo Siluriformes Schilbeidae Schilbe angolensis entre os grupos taxonómicos com maior endémico risco de extinção à Siluriformes global. Schilbeidae Schilbe bocagii escala São inúmeros os= ansorgii factores endémico de ameaça que as Siluriformes Schilbeidae Schilbe mystus nativo Peixe gato manteiga espécies enfrentam, muitas vezes com impacto simultâneo angusticeps nativo no Thinface cichlid ePerciformes cumulativo,Cichlidae e que seSerranochromis traduzem geralmente incremento Perciformes Cichlidae Serranochromis macrocephalus nativo Purpleface da mortalidade, redução do recrutamento, fragmentação das largemouth populações, perda de diversidade genética, e aumento da Perciformes Cichlidae Serranochromis robustus jallae nativo Nembwe pressão por competição e predação. Mitigar o efeito destes Perciformes Cichlidae Serranochromis thumbergi nativo Brownspot factores de ameaça de forma a preservar espécies nativas largemouth Siluriformes Mochokidae Synodontis cuangoana nativo evolutivos que, em muitos casos, são fruto de percursos com Siluriformes de anos, Mochokidae Synodontiselaessoei endémico fomentando milhões é urgente só se conseguirá Siluriformes Synodontisainda leopardinaé escasso: nativo a informação. Sinodonte leopardo algo que emMochokidae muitos países Siluriformes Synodontis macropunctata De facto, aMochokidae preservação dos recursos nativo naturais depende Siluriformes Mochokidae Synodontis macrostigma nativo Largespot fundamentalmente do nível de conhecimento que temos squeaker sobre Mochokidae Synodontis nigromaculata nativo Blackspotted aSiluriformes biologia, ecologia e distribuição das espécies, devendo esse squeaker conhecimento estar acessível a todos. Assim sendo, este livro Siluriformes Mochokidae Synodontis vanderwaali nativo reveste-se de uma enorme importância no que diz respeito Siluriformes Mochokidae Synodontis woosnami nativo Upper Zambezi à squeaker disseminação do conhecimento acerca de ictiofauna de água Perciformes Cichlidae Thoracochromis albolabris nativo Thicklipped happy doce de Angola e, sobretudo, será um importante instrumento Perciformes Cichlidaeambiental Thoracochromis nativo deNamib de sensibilização para buysi a conservação tãohappy valioso Perciformes Cichlidae É fundamental Thoracochromis lucullae endémico que só se património natural. não esquecer Perciformes Cichlidae Thoracochromis schwetzi nativo preserva o que se conhece… Perciformes Cichlidae Tilapia cabrae nativo Perciformes Cichlidae Tilapia guineensis nativo Tilapia da Guiné Carla Sousa Santos Perciformes Cichlidae Tilapia rendalli nativo Redbreast Bióloga tilapia Perciformes Cichlidae Tilapia ruweti nativo Okavango tilapia Investigadora MARE-ISPA (Portugal) Perciformes Cichlidae Tilapia sparrmanii nativo Tilapia listada Perciformes Cichlidae Tilapia tholloni nativo Cypriniformes Cyprinidae Varicorhinus ansorgii endémico Cypriniformes Cyprinidae Varicorhinus clarkeae endémico Cypriniformes Cyprinidae Varicorhinus ensifer endémico Cypriniformes Cyprinidae Varicorhinus latirostris nativo Cypriniformes Cyprinidae Varicorhinus sandersi nativo Cypriniformes Cyprinidae Varicorhinus steindachneri nativo

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1. Prefácio:

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Ordem Cypriniformes Cypriniformes Osteoglossiformes Siluriformes

Família Cyprinidae Cyprinidae Notopteridae Amphiliidae

Espécie Varicorhinus stenostoma Varicorhinus varicostoma Xenomystus nigri Zaireichthys dorae

Categoria nativo nativo nativo endémico

Nome comum Peixe faca Chobe sand catlet

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Nota 1: Uma espécie endémica é aquela espécie animal ou vegetal que ocorre somente em uma determinada área ou região geográfica. Nota 2: Espécie nativa ou autóctone é a que é nativa ou natural de um determinado ecossistema ou região. Nota 3: Espécie introduzida ou exótica é uma espécie de organismo que vive fora da sua área de distribuição nativa e que foi acidental ou intencionalmente inserida em um meio. Fonte: Fishbase.org

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1.º Guia sobre os peixes de água doce de Angola

1.

Género Brycinus

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A este género pertencem pelo menos seis espécies presentes em Angola: Alestes humilis agora denominado Brycinus humilis, Alestes 1. Prefácio: ansorgii agora Brycinus ansorgii, Brycinus imberi, Brycinus kingsleyae, Brycinus lateralis, Brycinus macrolepidotus e possivelmente poderá A ictiofauna de água doce encontra-se actualmente entre os grupos taxonómicos com maior risco de extinção à existir o Brycinus affinis (espécie Africana) e há a possibilidade de ocorescala global. São inúmeros os factores de ameaça que as rência de uma espécie introduzida, o Hyphessobrycon anisitsi (Tetra espécies enfrentam, muitas vezes com impacto simultâneo Buenos Aires), consoante exemplares supostamente capturados em e cumulativo, e que se traduzem geralmente no incremento pequenas lagoas nos arredores Luanda, onde fragmentação também são enconda mortalidade, redução do de recrutamento, das trados vários exemplares género Guppy,genética, que a população de Luanda populações, perda dedodiversidade e aumento da pressão por competição e predação. Mitigar o efeito destes captura e vende para aquarofília. factores de ameaça de forma a preservar espécies nativas que,Fotografia em muitos casos, são fruto de percursos evolutivos com 14 - Brycinus sp., capturado por aquarofilistas no rio Cuanza. milhões de anos, é urgente e só se conseguirá fomentando algo que em muitos países ainda é escasso: a informação. De facto, a preservação dos recursos naturais depende fundamentalmente do nível de conhecimento que temos sobre a biologia, ecologia e distribuição das espécies, devendo esse conhecimento estar acessível a todos. Assim sendo, este livro reveste-se de uma enorme importância no que diz respeito à disseminação do conhecimento acerca de ictiofauna de água doce de Angola e, sobretudo, será um importante instrumento de sensibilização ambiental para a conservação de tão valioso património natural. É fundamental não esquecer que só se preserva o quepessoal. se conhece… Fonte: Arquivo Carla Sousa Santos

O “African Brass Tetra” sem nome comum em português ouBióloga lingua Investigadora MARE-ISPA (Portugal) nativa, talvez por ser de pequeno tamanho e de pouca relevância para os pescadores, em algumas regiões de Angola quase todos os pequenos peixes são denominados cabuenha ou possuem outro qualquer nome tradicional e são consumidos secos e salgados. Os “tetras” africanos são peixes que têm como características gerais a cor de prata iridescente, corpo alongado com grandes escamas e uma barbatana caudal bifurcada. Têm um ponto mais escuro na base da barbatana 11 29


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caudal e o corpo pode ter tons variados: azulados, amarelados, etc. Brycinus é um género de peixes da família Alestidae. Como outros “Characiformes africanos”, eles são chamados de tetras, sendo que a estas espécies há aquarofilistas que dão o nome de tetras ladrões devido aos seus hábitos “atrevidos” e por serem carnívoros. Existem exemplares mantidos como peixes de aquário, e nas suas exigências assemelham-se aos tetras sul-americanos, mas ao contrário destes, os Brycinus não são adequados para acompanhar peixes delicados ou mais pequenos, pois os outros peixes podem ser mordidos nas barbatanas, e por isso devem ser mantido com cíclidos pequenos e companheiros similares, mais robustos. Os Brycinus ansorgii (Boulenger, 1905) atingem dimensões de cerca de 27 cm. A sua distribuição geográfica em Angola ocorre nos rios Cuanza e Lucala (há evidências da sua existência em rios de Países fronteiriços com Angola, no entanto há pouca informação sobre esta espécie). Os Brycinus humilis (Boulenger, 1905) atingem pequenas dimensões, chegando a cerca de 7 cm. A sua distribuição geográfica em África ocorre quase exclusivamente em Angola nos rios Cuanza, Cubango, Cunene, e em rios do sistema Okavango, no entanto este peixe também ocorre na bacia hidrográfica do rio Congo. Fotografia 15 - Brycinus humilis (Boulenger, 1905).

Fonte: https://www.theaquariumwiki.com/wiki/Alestes_humilis (imagem livre, autor anónimo)

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1.º Guia sobre os peixes de água doce de Angola

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Brycinus imberi (Peters, 1852), atingem pequenas dimensões, chegando a cerca de 7 cm. A sua distribuição geográfica em África ocorre no rio Mono, no Togo, no rio Nipoué, na Libéria Amplamente distribuído na bacia hidrográfica do rio Congo. Também no Zambeze médio e infe1. Prefácio: rior, no rio Wami na Tanzânia e no rio Pongolo na África do Sul. Existe também nos Lagos Malawi, Rukwa, Rufiji encontra-se e Ruvuma, na costa ocidental A ictiofauna de água doce actualmente entre os grupos taxonómicos com maior risco de extinção à existe no rio Cuanza e no rio Nyanga. Existe também nos afluentes do escala global. São inúmeros os factores de ameaça que as lago Tanganhica, lago Kariba, e ainda no rio Cunene. espécies enfrentam, muitas vezes com impacto simultâneo e cumulativo, e que se traduzem geralmente no incremento Fotografia 16 – Brycinus imberi (Peters, 1852). da mortalidade, redução do recrutamento, fragmentação das populações, perda de diversidade genética, e aumento da pressão por competição e predação. Mitigar o efeito destes factores de ameaça de forma a preservar espécies nativas que, em muitos casos, são fruto de percursos evolutivos com milhões de anos, é urgente e só se conseguirá fomentando algo que em muitos países ainda é escasso: a informação. De facto, a preservação dos recursos naturais depende fundamentalmente do nível de conhecimento que temos sobre a biologia, ecologia e distribuição das espécies, devendo esse conhecimento estar acessível a todos. Assim sendo, este livro reveste-se de uma enorme importância no quede diz à Fonte: https://www.gbif.org/occurrence/1230410648 (Fotos Rogerrespeito Bills; disseminação do conhecimento acerca de ictiofauna de água Warren Aken. The South African Institute for Aquatic Biodiversity). doce de Angola e, sobretudo, será um importante instrumento de sensibilização ambiental para a conservação de tão valioso património natural. fundamental não esquecer que só Fotografia 17 - Brycinus É imberi, foi utilizado para ilustrar selos da República do se preserva Burundi.o que se conhece…

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Carla Sousa Santos

Bióloga Investigadora MARE-ISPA (Portugal)


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Brycinus kingsleyae (Günther, 1896), pequeno peixe chegando a cerca de 16 ou 17 cm. A sua distribuição geográfica em África ocorre no rio Sanaga nos Camarões, no rio Chiloango em Angola estando também amplamente distribuído na bacia hidrográfica do rio Congo. Este peixe pode ser encontrado à venda nas ruas e em lojas de animais em Luanda, como peixe ornamental, podendo ser confundido com uma espécie exótica, o Tetra Buenos Aires (Hyphessobrycon anisitsi).

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Fotografia 18 - Brycinus kingsleyae (Günther, 1896).

Fonte: https://jscutler.wordpress.com/gabon-fieldwork/makokou-2014/. (Fotografia de S. Lavoue.)

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Fotografia 19 - Hyphessobrycon anisitsi, ou Tetra Buenos Aires, espécie Sul Americana, que é vendida por aquarofilistas em lojas e nas ruas de Luanda, sendo que o Brycinus kingsleyae também pode ser encontrado e facilmente confundido, embora possuam diferenças em termos das escamas maiores e o corpo mais alongado no Brycinus.

Fonte: Arquivo pessoal.

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1.º Guia sobre os peixes de água doce de Angola

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As restantes espécies possuem algumas semelhanças, diferindo nas dimensões máximas e colorações. A sua alimentação é constituida maioritariamente por invertebrados aquáticos. 1. Prefácio: Não há trabalhos suficientes ou estudos especificos de conservação ou A estudos biológicos sobre as várias espécies de “tetras” ictiofauna desuficientes água doce encontra-se actualmente entre os grupos taxonómicos com maior risco de extinção à em Angola, por isso não se conhecem todas as ameaças, e há dados escala global. São inúmeros os factores de ameaça que as insuficientes sobre a sua abundância. espécies enfrentam, muitas vezes com impacto simultâneo e cumulativo, e que se traduzem geralmente no incremento Fotografia 20 - Brycinus lateralis (Boulenger, 1900). da mortalidade, redução do recrutamento, fragmentação das populações, perda de diversidade genética, e aumento da pressão por competição e predação. Mitigar o efeito destes factores de ameaça de forma a preservar espécies nativas que, em muitos casos, são fruto de percursos evolutivos com milhões de anos, é urgente e só se conseguirá fomentando algo que em muitos países ainda é escasso: a informação. De facto, a preservação dos recursos naturais depende fundamentalmente do nível de conhecimento que temos sobre a biologia, ecologia e distribuição das espécies, devendo esse conhecimento estar acessível a todos. Assim 2.0 sendo, Fonte: créditos cedidos por Creative Commons Attribution Generic.este Foto-livro grafia dos artigos de The South African Institute for Aquatic Biodiversity. reveste-se de uma enorme importância no que diz respeito à disseminação do conhecimento acerca de ictiofauna de água doce de Angola e, sobretudo, será um importante instrumento Fotografia 21 e 22 - Brycinus macrolepidotus (Valenciennes, 1850) talvez pela de sensibilização ambiental a conservação de tão foi valioso sua importância como espécie alvopara de pesca e utilização em aquarofilia, património natural. É fundamental não esquecer que só se utilizado até para ilustrar selos da República do Gabão e da Republica Centro preserva quetambém se conhece… Africana,oonde existe esta espécie. Carla Sousa Santos

Bióloga Investigadora MARE-ISPA (Portugal)

A palavra macrolepidotus refere-se ao maior tamanho das escamas desta espécie em relação às outras espécies do mesmo Género. 11 33


2.

Género Amphilius

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Os peixes do género Amphilius são adaptados a habitats rochosos e de fluxo rápido (Skelton, 1986). Possuem um corpo relativamente alongado, com uma cabeça curta e larga, e três pares de barbilhos. Os olhos são pequenos e distantes entre si, localizando-se dorsalmente. A barbatana caudal é bifurcada. As adaptações morfológicas para o habitat de águas com corrente e substrato rochoso, incluem barbatanas peitorais e pélvicas expandidas com um primeiro raio mais grosso, possui corpo deprimido, e bexiga de natação reduzida (Skelton 1986; Walsh et al., 2000). As grandes barbatanas pélvicas formam, em conjunto com o corpo, um disco de sucção fraco que permite que os peixes se agarrem às rochas (Jackson 1961b). Em Angola existem pelo menos duas espécies deste género: a espécie Amphilius lentiginosus (Trewavas, 1936), e o Amphilius uranoscopus (Pfeffer, 1889). Os Amphilius lentiginosus são peixes pequenos que chegam até cerca de 12 cm. A sua Biologia é pouco conhecida apesar desta espécie ser capturada para consumo tendo nome comum para a população que o chama de Kakolokotu. Amphilius lentiginosus, é uma espécie demersal (relativo às espécies que, apesar de terem capacidade de natação, vivem no fundo). O seu habitat preferido não é totalmente conhecido, mas parece preferir pequenos rios e riachos com fundo rochoso, ocorre nas cabeceiras dos rios, em zonas com alguma corrente e oxigenação (Berra 2001; Roberts 2003). A dieta destes peixes parece consistir predominantemente de insectos aquáticos bentónicos (Marriott et al., 1997; Skelton 2001; Walsh et al., 2000). Distribuição: em Angola conhecem-se capturas no Monte do Moco (bacia do rio Cuvo), há indicios da sua existência na bacia hidrográfica do rio Congo conhecida pelas drenagens do rio Kasai (rios Tchimenji (Tributário do rio Chiumbe) e Luachimo e o Kwango, no entanto a taxonomia desta espécie precisa ser revista já que as populações de 34


1.º Guia sobre os peixes de água doce de Angola

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diversos rios poderão ser geneticamente diferentes ou até espécies diferentes aparentadas. Os dados são escassos, portanto, pesquisas mais abrangentes são necessárias para confirmar a verdadeira extensão da sua distribuição. Estatuto de ameaça: Insuficientemente conhecido 1. Prefácio: (DD) e sem protecção. potenciais: artesanal (por exemplo de diamanAAmeaças ictiofauna de mineração água doce encontra-se actualmente entre os grupos taxonómicos com maior risco de extinção à tes) muito intensiva é uma ameaça muito importante em pequenos rios escala global. São inúmeros os factores de ameaça que as na região de Kasai. A extracção de areia do leito dos rios provoca arrasespécies enfrentam, muitas vezes com impacto simultâneo tamento de particulas e sedimentação com consequente aumento da e cumulativo, e que se traduzem geralmente no incremento turbidez afectando redução esta espécie. da mortalidade, do recrutamento, fragmentação das populações, perda de diversidade genética, e aumento da Fotografia - Amphilius lentiginosus (Trewavas, 1936). pressão por23 competição e predação. Mitigar o efeito destes factores de ameaça de forma a preservar espécies nativas que, em muitos casos, são fruto de percursos evolutivos com milhões de anos, é urgente e só se conseguirá fomentando algo que em muitos países ainda é escasso: a informação. De facto, a preservação dos recursos naturais depende fundamentalmente do nível de conhecimento que temos sobre a biologia, ecologia e distribuição das espécies, devendo esse Fonte: Ilustração reproduzida a partir de 1967 Contribution à la faune ichthyoconhecimento estar acessível a todos. Assim sendo, este livro logique de l’Angola. Diamang Publ. Cult., nr. 75:381 p. (imagem livre, autor da reveste-se de uma ilustração Teugels, Guyenorme já falecido).importância no que diz respeito à disseminação do conhecimento acerca de ictiofauna de água doce de Angola e, sobretudo, será um importante instrumento Fotografia 24 - Amphilius sp. Peixe para do género Amphilius, de umade espécie de sensibilização ambiental a conservação tão valioso semelhantenatural. ao Amphilius mantidonão por um aquarofilistaque que só se património É lentiginosus, fundamental esquecer recriou o habitat caracteristico adequado a este género. preserva o que se conhece…

Fonte: Foto captada a partir de vídeo.

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Carla Sousa Santos

Bióloga Investigadora MARE-ISPA (Portugal)


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Amphilius uranoscopus, é um peixe que alcança cerca de 20 cm, de distribuição ampla na África Central e Oriental até ao sistema Mkuze na África do Sul ocorrendo na sub-bacia hidrográfica do Alto Congo, bem como do Zambeze e Okavango, e a oeste em vários rios de Angola. Prefere águas claras e correntes em habitats rochosos. Amphilius uranoscopus, alimenta-se de insectos levados pela corrente e outros organismos pequenos em superfícies rochosas. A sua reprodução ocorre na época das chuvas. Os jovens são facilmente confundidos com girinos. Estes peixes são predados por outros peixes maiores.

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Fotografia 25 e 26 - Amphilius sp. possivelmente Amphilius uranoscopus capturado no rio Cuanza.

Nota: Amphilius sp. possivelmente Amphilius uranoscopus capturado no rio Cuanza por pescadores, estando à venda para consumo num restaurante de Calumbo, próximo de Luanda. Na foto é bem visivel a cabeça larga e achatada, com olhos localizados dorsalmente. Na realidade até terminar este livro não consegui uma identificação definitiva e em que eu tivesse a certeza absoluta da espécie em questão, no entanto pelas ilustrações de Amphilius uranoscopus vistas online e excluindo todas as espécies de bagres referenciadas para Angola e para o rio Cuanza, penso que será a tentativa de identificação mais correcta. Fonte: Arquivo pessoal.

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1.º Guia sobre os peixes de água doce de Angola

3.

Género Anaspidoglanis

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O Flatnose catfish ou em tradução directa do inglês para português: ”peixe-gato de nariz espalmado”, Anaspidoglanis macrostomus (Pelle1. Prefácio: grin, 1909), é uma espécie de bagre ou peixe-gato da família Claroteidae encontrado em rios de nos água Camarões, República Democrática do Congo, A ictiofauna doce encontra-se actualmente entre os grupos taxonómicos com maior risco de extinção à República do Congo, Gabão e no rio Chiloango em Angola, podendo escala global. São inúmeros os factores de ameaça que as existir noutros rios da bacia hidrográfica do rio Congo. espécies enfrentam, muitas vezes com impacto simultâneo Os juvenis são quase polifagos (polifagia é a capacidade de ingee cumulativo, e que se traduzem geralmente no incremento rir uma ampla variedade de do fontes alimentares, ou seja, omnívoro) da mortalidade, redução recrutamento, fragmentação dase tendem a preferir pequenos riachos e lagos em zonaseinundadas populações, perda de diversidade genética, aumento(Matda pressão porA dieta competição e predação. o efeito thes, 1964). dos adultos consiste emMitigar pequenos peixes,destes crustáfactores de de ameaça ceos e larvas insectos de forma a preservar espécies nativas que, em muitos casos, são fruto de percursos evolutivos com Possuem um corpo relativamente alongado, com uma cabeça curta milhões de anos, é urgente e só se conseguirá fomentando larga, que apresenta vários barbilhos, sendo que um dos barbilhos é espealgo em muitos países ainda é escasso: a informação. cialmente Os olhos são recursos pequenos. Anaturais barbatanadepende caudal é De facto,desenvolvido. a preservação dos fundamentalmente do comprimento nível de conhecimento bifurcada. Cresce até um de 24 cm. que temos sobre a biologia, ecologia e distribuição das É um peixe activo durante o crepúsculo espécies, e à noite. devendo esse conhecimento estar acessível a todos. Assim sendo, este livro As principais ameaças que afetam negativamente esta espécie dimireveste-se de uma enorme importância no que diz respeito à nuindo a sua população no seu habitat incluem desflorestação, corte disseminação do conhecimento acerca de ictiofauna de água de madeira ou conversão de terras florestais em agrícolas, mineração doce de Angola e, sobretudo, será um importante instrumento de sensibilização ambiental para a conservação de tão de ouro e construção de barragens. Embora existam ameaças,valioso não se património natural. É fundamental não esquecer que só verifica uma diminuição da sua população de forma dramática. Não se há preserva o que se conhece… medidas de conservação para ajudar a conservar a espécie. Carla Sousa Santos

Bióloga Fotografia 27 e 28 - Anaspidoglanis macrostomus (Pellegrin, 1909). Investigadora MARE-ISPA (Portugal)

Fonte: fotos e créditos cedidos por Jonathan (Jon) Armbruster, 12 de Dezembro de 2011.

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4.

Género Aphyosemion

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Ao género Aphyosemion pertencem duas espécies nativas de Angola, o Killi Cauda de Lira ou Lyretail panchax, Aphyosemion australe (Rachow, 1921) e Escherich’s killi, Aphyosemion escherichi (Ahl, 1924), são duas espécies de peixes que em aquarofilia têm a designação de “Killifish”. Killifish são peixes da familia Aplocheilidae, Cyprinodontidae, Fundulidae, Nothobranchiidae, Profundulidae, Rivulidae e Valenciidae, incluindo ao todo cerca de 1270 espécies diferentes de killifish, sendo que todas estas espécies são comercializadas para fins ornamentais, havendo até associações de aquarofilistas especializadas nestas espécies. Killifish é derivado do holandês palavra “Kilde”, que significa riacho, poça. O seu nome relativo ao seu habitat, uma vez que vivem em águas efémeras, ou seja, em cursos de água ou charcos temporários, sendo que os ovos da maioria dos killifish pode sobreviver períodos de desidratação parcial. Muitas das espécies ficam em estado de diapausa, uma vez que os ovos não sobreviveriam mais do que algumas semanas se totalmente submersos na água. A espécie Aphyosemion australe, atinge o tamanho máximo de até 6 centímetros. Os machos são mais coloridos, com barbatanas mais alongadas, e um pouco maiores. A sua alimentação é omnívora, sendo que no seu ambiente natural alimenta-se de vermes, crustáceos e insectos. Em cativeiro aceitará alimentos secos e vivos sem dificuldades. Possui dimorfismo sexual distinguindo-se muito bem os machos das fêmeas, os machos são maiores e apresentam cores mais vibrantes do que as fêmeas, além de apresentar barbatana anal maior e pontiaguda, as fêmeas apresentam barbatana anal arredondada. É um peixe muito utilizado em aquarofília que é vendido em todo o Mundo, a captura em meio natural deverá ser controlada, mas a sua criação em cativeiro poderá ser realizada mesmo artesanalmente para posterior venda. É a espécie de Killi mais difundido entre aquaristas de todo o mundo devido à facilidade de criação e reprodução. 38


1.º Guia sobre os peixes de água doce de Angola

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Extremamente pacífico, pode ser mantido em aquário comunitário, desde que este possua refúgios e contenha espécies de peixes do mesmo porte e igualmente pacíficas. Os machos são territorialistas entre si. 1. Prefácio: Naturalmente esta espécie encontra-se distribuida por vários Países de África. Países: Angola, e Congo. A ictiofauna de Gabão, água Camarões doce encontra-se actualmente entre os grupos taxonómicos com maior risco de extinção à escala global. São inúmeros os factores de ameaça que as Fotografia 29 e 30 - Aphyosemion australe (Rachow, 1921). espécies enfrentam, muitas vezes com impacto simultâneo e cumulativo, e que se traduzem geralmente no incremento da mortalidade, redução do recrutamento, fragmentação das populações, perda de diversidade genética, e aumento da pressão por competição e predação. Mitigar o efeito destes factores de ameaça de forma a preservar espécies nativas que, em muitos casos, são fruto de percursos evolutivos com milhões de anos, é urgente e só se conseguirá fomentando algoFonte: quehttps://sv.wikipedia.org/wiki/Aphyosemion#/media/File:Aphyosemion_ em muitos países ainda é escasso: a informação. De australe_wild_type.jpg. facto, a preservação dos recursos naturais depende Autora: Violaine fundamentalmente do nível de conhecimento que temos sobre a biologia, ecologia e distribuição das espécies, devendo esse conhecimento estar acessível a todos. Assim sendo, este livro Fotografia 31 – Aphyosemion escherichi (Ahl, 1924). reveste-se de uma enorme importância no que diz respeito à disseminação do conhecimento acerca de ictiofauna de água doce de Angola e, sobretudo, será um importante instrumento de sensibilização ambiental para a conservação de tão valioso património natural. É fundamental não esquecer que só se preserva o que se conhece… Fonte: foto créditos cedidos por Eduard Pürzl, CC licensing.

Carla Sousa Santos

Bióloga Investigadora MARE-ISPA (Portugal)

A outra espécie de peixe do género Aphyosemion presente em Angola, o Aphyosemion escherichi (Ahl, 1924) é uma espécie semelhante à anterior, e que pode atingir no máximo 5 cm. Habita em pântanos e pequenos cursos de água, pode ser encontrado em zonas pouco profundas, normalmente junto às margens. Distribuição geográfica, encontram-se em África: Gabão, República Democrática do Congo e Angola (bacia hidrográfica do rio Congo e em cursos 11 39


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