António Jorge Silva, Duarte Belo, Pedro Tropa, «Lugares de Sophia»

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Lugares de Sophia Sophia’s Places

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António Jorge Silva Duarte Belo Pedro Tropa LUGARES DE SOPHIA SOPHIA’S PLACES textos [texts]

Federico Bertolazzi José Manuel dos Santos

D O C U M E N TA CENTRO NACIONAL DE CULTURA

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Este livro foi publicado por ocasião da exposição Lugares de Sophia de António Jorge Silva, Duarte Belo e Pedro Tropa, com curadoria de Federico Bertolazzi e José Manuel dos Santos, realizada no Centro Cultural de Lagos entre 14 de Setembro e 26 de Outubro, na ala sul do Claustro do antigo Convento do Carmo, actual Parada de Cavalaria do Quartel do Carmo entre 12 de Novembro e 27 de Dezembro de 2019 e na Biblioteca Municipal de Loulé entre 21 de Março e 9 de Maio de 2020.

This book was published as part of the exhibition Lugares de Sophia [Sophia's Places] by António Jorge Silva, Duarte Belo and Pedro Tropa, curated by Federico Bertolazzi and José Manuel dos Santos, held at the Centro Cultural de Lagos from 14 September to 26 October, in the south wing of the Cloister at the old Convent of Carmo, now the Parada de Cavalaria do Quartel do Carmo, from 12 November to 27 December 2019 and at the Biblioteca Municipal de Loulé from 21 March to 9 May 2020.

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SUMÁRIO [CONTENTS]

Outras verdades, Federico Bertolazzi ...............................

Olhar, olhares, José Manuel dos Santos ..........................

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ANTÓNIO JORGE SILVA

Metade da minha alma é feita de maresia [Half of my soul is made of mist from the sea] ................

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DUARTE BELO

Para Sophia [For Sophia] .....................................................

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PEDRO TROPA

Nenhuma coisa é construída em pedra [Nothing is set in stone]

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Other truths, Federico Bertolazzi ....................................

Gaze, gazes, José Manuel dos Santos ..................................

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Notas biográficas [Biographical notes]...................................

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Outras verdades Federico Bertolazzi

O poeta é aquele que vive com as coisas, que está atento ao Real, que sabe que as coisas existem. […] A visão do poeta é original, limpa de intermediários, pura, viva e descobridora.

Sophia de Mello Breyner Andresen

Para Sophia de Mello Breyner Andresen a poesia sempre principiou na concretude do real. A sua atenção, concentrada nas coisas, almeja o desvelamento da verdade primordial do ser no seio do aparecer, num processo de nomeação exacta no qual a beleza e a verdade coincidem. É este, como ela própria diz, o «estar-ser-inicial», o brilho que, no rolar da vida, suspende o tempo, ou, sempre com palavras de Sophia, o «instante que surpreende e fita e enfrenta a eternidade».

Assim, o poeta cria o domínio da «terrível pureza», domínio em que não há lugar para a mentira, e a verdade reina e impõe o seu clarão.

Neste processo, os lugares são o manancial da poesia; neles o declinar da vastidão ou do detalhe faz-se linguagem. A praia, o mar, o bosque, a floresta, a cidade, a casa, o quarto, a mesa são ditos com a voz que lhes pertence, num gesto de depuração extrema.

No corpo da paisagem Sophia experiencia o encontro entre imanência e transcendência, e o «amor pelas coisas visíveis» torna-se sinal do sagrado, erguendo-se em canto.

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Na procura da descrição desse domínio, em que objectividade e subjectividade constantemente se fundem, nasceu o convite aos fotógrafos António Jorge Silva, Duarte Belo e Pedro Tropa, para que os seus olhares se viessem medir com os lugares de Sophia, e para que, através destes outros artistas, se pudessem revelar outras vertentes que, partindo da observação, reverberassem outras verdades.

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Olhar, olhares José Manuel dos Santos

Para falarmos do que vemos, é bom vermos do que falamos. No nosso olhar, há sempre, suspensas como acrobatas numa linha esticada sobre a arena do mundo, palavras que o querem dizer. Falar do que vemos é dar às palavras o movimento do olhar que olha o passo persistente e perigoso que percorre e prolonga o arame.

Se, para falarmos de «Lugares de Sophia», fizéssemos do lugar-comum uma facilidade ou uma felicidade, diríamos que esta exposição mostra três olhares — um de cada fotógrafo — sobre uma vida e uma obra onde os lugares estão presentes e vivos como personagens com forma e figura, corpo e alma. Mas a verdade é outra e ausenta-se desse lugar-comum: os olhares de que esta exposição se faz são mais do que três e são menos fixos e focados do que o lugar-comum diria.

Cada um dos três fotógrafos tem mais olhares no seu olhar do que o olhar desse próprio olhar — e o encontro de todos eles nesta exposição dá-nos uma multiplicação e não uma soma. Eles implicam-se e explicam-se uns nos outros, multiplicam-se uns pelos outros, intensificam-se, acrescentam-se, aumentam-se, abrem-se, desdobram-se, conluiam-se e concluem-se uns aos outros, reflectindo as suas visões volúveis e veementes num espelho sem superfície e ecoando as suas vozes visuais e votivas num túnel sem saída.

Cada um dos fotógrafos não olha apenas os lugares da vida e da obra de Sophia com um olhar único e fitado. Cada um deles olha esses lugares com o seu olhar e olha também, neles, o olhar de Sophia a olhá-los. Cada um deles dá ao seu olhar uma mobilidade, uma mutação, uma metamor-

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fose, uma multiplicidade, uma mitificação. Cada um deles duplica a fidelidade à seta do seu pensamento, da sua pulsão e da sua perícia com uma outra fidelidade ao alvo do seu propósito, do seu programa, da sua posse.

Movendo assim as peças nas casas do tabuleiro onde o xadrez dos olhares se joga e faz xeque-mate ao rei da escuridão («fotografar» significa escrever a luz), estes artistas ousaram as imagens com a imaginação delas («E aquilo que nem sequer ousáramos sonhar / Era o verdadeiro»). E, com essas imagens imaginadas, criaram imaginários, utopias, distopias e heterotopias (diria Foucault), lugares onde o espaço é um heterónimo de si-mesmo!

Para Sophia, os seus lugares eram a dúvida feita certeza, o universo tornado próximo, a distância transformada em vizinhança. Eram a desmesura feita medida, o infinito tornado reconhecível, a força transformada em frémito. Eram a claridade feita clamor, a transcendência tornada imanência e a eternidade transformada em iminência. Por isso, nascia deles «espanto e prodígio», «êxtase e pânico».

Nos lugares de Sophia, há vento, mar, sol, lua, noite, dia, terra, fogo, tempestade, aurora, poente, casa. Há cores, brilhos, sombras, transparências, opacidades, consistências, cristalizações, frescuras, securas, rouquidões, estabilidades, variações. Há desvios, despedidas, ausências, pesos, levezas, proliferações, unidades, fundamentos. Há «o brilho do visível frente a frente».

E mesmo a casa, quando está certa, é um lugar onde o universo mora com ela, acendendo o seu fervor e o seu «Magnificat». Descreve-se em «A Casa do Mar»: «Mas quem do quarto central avança para a varanda e vê, de frente, a praia, o céu, a areia, a luz e o ar, reconhece que nada ali é acaso mas sim fundamento, que este é um lugar de exaltação e espanto onde o real emerge e mostra seu rosto e sua evidência. // […] No subir e descer da vaga, o universo ordena seu tumulto e seu sorriso e, ao longo das areias luzidias, maresias e brumas sobem como um incenso de celebração. // E tudo parece intacto e total como se ali fosse o lugar que preserva em si a força nua do primeiro dia criado.»

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No poema «Cidade», o protesto de Sophia atira-se ao que lhe impede, nega e desmente o universo: «Cidade, rumor e vaivém sem paz das ruas, / Ó vida suja, hostil, inutilmente gasta, / Saber que existe o mar e as praias nuas, / Montanhas sem nome e planícies mais vastas / Que o mais vasto desejo, / E eu estou em ti fechada e apenas vejo / Os muros e as paredes, e não vejo / Nem o crescer do mar, nem o mudar das luas.» E noutro poema, «Tejo», o louvor é dirigido ao lugar de onde o universo se vê: «Aqui e além em Lisboa — quando vamos / Com pressa ou distraídos pelas ruas / Ao virar da esquina de súbito avistamos / Irisado o Tejo: / Então se tornam / Leve o nosso corpo e a alma alada». É isto que as fotografias dos três fotógrafos mostram nos lugares tocados e trocados pelas imagens deles. Estas fotografias dão, no centenário do nascimento de Sophia, um voucher para uma estada nos lugares dela que agora são nossos. Elas são uma ficção de verdades repostas, sobrepostas, opostas. Estas fotografias estão cheias de perenidades, de premeditações, de prenúncios, de adivinhações, de vaticínios. E de verbos visuais conjugados nos seus vários tempos e modos. Elas são selfies tiradas com o universo.

As palavras que os três artistas dão às suas obras são mais um índice do que um mote, mais uma inscrição do que uma legenda, mais um destino do que um discurso. António Jorge Silva escolheu um verso de Sophia que fala da alma e da maresia da sua metade. As suas fotografias têm a geometria da casa, a arquitectura da água e a petrologia da rocha, que o interior impõe ao seu exterior. Aqui, a vertical é a humilhação da horizontal. Pedro Tropa fez seu um verso dela que diz a construção como promessa da destruição. No claro e no escuro das suas imagens, o edifício coincide com a sua ruína e o mundo é uma mão atravessada por uma escrita (Mallarmé disse que «o mundo é feito para acabar num belo livro»).

Duarte Belo guarda a memória do único encontro que teve com ela. Foi em Tomar, no convento ainda cheio de vértices e vultos templários — e dessa memória faz um fio de Ariadne num labirinto de lugares iluminados pela luz e pela sombra das cores. Nesta sua colecção de imagens, é

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como se o singular encontro com Sophia fosse prolongado e levado àquilo que no mundo o olhar dela tocou com o arco tenso e intenso da sua atenção.

Nas obras do primeiro, o mar é uma força que é uma forma que é uma figura. E a casa é disso o flagrante fantasma. Nas do segundo, tudo nos fala de um tempo transformado em espaço, de um espírito tornado corpo, do logos tornado eikon, da physis na sua aletheia. Nas obras do terceiro, há um dicionário de imagens-topoi, no qual passam, em sinal de sorte ou de desgraça, as sombras de Pascoaes e de Pessoa, o Mestre da Comunhão e o Mestre da Excomunhão.

A todas as obras destes artistas se pode dar aquela dignidade, de que Proust fala em «À Sombra das Raparigas em Flor», quando a fotografia «cessa de ser uma reprodução do real e nos mostra as coisas que não existem mais». É preciso acrescentar: Que não existem mais, mesmo quando existem! E assim a fotografia é sempre vida passada e memória futura, sendo seu o tempo do vestígio que se faz aura, da perda que se faz ganho, da derrota que se faz vitória.

Há no mapa desta exposição caminhos que se dividem, estradas que divergem, ruas que convergem, vias que se reencontram. Quando o nosso olhar leva as fotografias a andarem umas para as outras, vemos acordes e desacordos, lentidões e velocidades, acelerações e travagens, direitos e avessos, versos e reversos.

Além de Sophia e da sua obra vivida, o que há de comum nas fotografias que se apresentam nesta exposição é aquilo que ela descreve numa das suas «Histórias da Terra e do Mar»: «Da ordem e do silêncio do universo erguia-se uma infinita liberdade. Ela respirava essa liberdade que era a lei da sua vida, o alimento do seu ser. // A paz que a cercava era aberta e transparente. // A forma das coisas era uma grafia, uma escrita.

Uma escrita que ela não entendia mas reconhecia.»

Como ela, com ela, nós reconhecemos estas imagens, assim elas fossem escritas com a grafia do nosso olhar.

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AntĂłnio Jorge Silva Metade da minha alma ĂŠ feita de maresia [Half of my soul is made of mist from the sea] 2019

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pp. 18-33 impressão em jacto de tinta sobre papel fine art [inkjet printing on fine art paper] dimensões variáveis [variable dimensions] pp. 36-39 vídeo cor [colour video], 1’45”

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Duarte Belo Para Sophia [For Sophia] 2019

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Estive com Sophia de Mello Breyner Andresen uma única vez, no dia 10 de Junho de 1991, em Tomar, junto ao Convento de Cristo. Decorriam na altura as comemorações do Dia de Portugal. A imagem que recordo com vivacidade foi a do seu caminhar no jardim, a isolar-se da multidão e a sentar-se a olhar o horizonte, talvez um infinito imaginário. Que lugares povoariam, naquele momento, o seu pensamento?

Vinte e oito anos passaram sobre essa data. Tudo mudou. Percorro alguns dos lugares que foram tocados por si. Procuro, talvez, uma imagem simples para dialogar com a complexidade velada da sua poesia. Como se com as imagens pudesse criar um chão sólido para ouvir a sua voz.

I only met Sophia de Mello Breyner Andresen once, on 10 June 1991, near the Convent of Christ in Tomar. The Portugal Day celebrations were taking place at the time. My most enduring memory of her is seeing her walk through the garden, moving away from the crowd and sitting down to gaze at the horizon, as if letting her imagination wander into the infinite distance.

Where did her thoughts take her at that moment?

Twenty eight years have passed since that day. Everything has changed.

I walk through some of the places she touched. It’s as if I’m looking for a simple image to interact with the subtle complexity of her poetry. As if images would allow me to construct a solid ground from which to hear her voice.

Duarte Belo, 2019

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pp. 44-67 provas impressas a jato de tinta sobre papel e provas em papel analĂłgico [inkjet prints on paper and analogue photography prints] dimensĂľes variĂĄveis [variable dimensions]

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Pedro Tropa Nenhuma coisa ĂŠ construĂ­da em pedra [Nothing is set in stone] 2019

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pp. 71-83 provas de brometo de prata sobre papel baritado [gelatin silver print on baryta paper] 60 Ă— 40 cm

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Other truths Federico Bertolazzi

A poet is someone who lives with things, who is attentive to the Real, who knows that things exist. [...] The poet’s vision is original, free of intermediaries, pure, alive and exploratory.

Sophia de Mello Breyner Andresen

For Sophia de Mello Breyner Andresen, poetry has always been rooted in the concreteness of the real. By turning her attention to things, she aims to unveil the primordial truth of being in a context of appearing, in a process of precise naming in which beauty and truth become one.

As she herself states, it is this “initial being”, this brilliance which, as our lives unfold, suspends time, or, in Sophia’s words again, the “instant which astonishes, challenges and braves eternity”.

The poet thus creates the realm of “terrifying purity”, in which there is no place for lies and truth reigns, imposing its brilliance.

In this process, places are the source of poetry; in them, the ebb of vastness or detail becomes language. Beaches, seas, woods, forests, cities, homes, rooms, tables are described in the voice which belongs to them, in an act of extreme purification.

In the body of the landscape, Sophia experiences the confluence of immanence and transcendence, and “love of visible things” becomes a sign of the sacred, rising up as a song.

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In an attempt to describe this realm, in which objectivity and subjectivity constantly merge, photographers António Jorge Silva, Duarte Belo and Pedro Tropa were invited to encounter Sophia’s places with their own eyes, allowing new aspects to be revealed and other truths to be echoed by their observations.

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Gaze, gazes José Manuel dos Santos

In order to talk about what we see, it is important to see what we are talking about. In our gaze, there are always words suspended like acrobats on a tightrope stretched above the arena of the world. To speak of what we see is to lend words the motion of the gaze which observes the persistent, dangerous treading and extending of the rope.

If, when speaking of ‘Lugares de Sophia’, we were to adopt an easy, convenient commonplace, we would say that the exhibition displays three gazes — one from each photographer — capturing a life and a body of work in which places are present and alive as characters with form and figure, body and soul. Yet the truth diverges from this commonplace: the gazes which make up this exhibition are more numerous and less fixed and focused than the commonplace would hold.

Each of the three photographers holds more gazes in their gaze than the gaze of their own gaze — and the confluence of all of these in the exhibition represents a multiplication rather than a sum total. They imply and explain one another, they multiply, intensify, add, grow, open, unfold, collude and complete each other, reflecting their intense, shifting visions on a surfaceless mirror, echoing their visual, votive voices in a dead-end tunnel.

The photographers do not merely explore the places in Sophia’s life and work from a single, fixed gaze. They each observe these places with their own gaze, seeing in them Sophia’s gaze staring back at them. Each of them offers mobility, mutability, metamorphosis, multiplicity, mythification to that gaze. Each replicates the loyalty to the arrow of her thought, her drive and her skill, with another loyalty to the target of her purpose, her agenda, her ownership.

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And thus the artists move the pieces around the squares of the chessboard where the game of the gazes plays out, checkmating the king of darkness (“to photograph” is to write in light), daring images with their imagination (“And what we hadn’t even dared to dream / Was true”).

With these imagined images, they have created imaginary worlds, utopias, dystopias and heterotopias (as Foucault would say), places in which space is heteronym of itself!

For Sophia, her places represented doubt transformed into certainty, the universe brought closer, distance reduced to proximity. They were excess made moderate, the infinite made recognisable, strength converted into quivers. They were clarity made into clamour, transcendence becoming immanence and eternity transformed into imminence. And thus they conjured “surprise and wonder”, “ecstasy and panic”.

Sophia’s places contain wind, sea, sun, moon, night, day, land, fire, storm, dawn, sunset, and home. There is colour, light, shadow, transparency, opacity, texture, crystallisation, freshness, dryness, hoarseness, stability, and variation. There are diversions, farewells, absences, weights, lightness, proliferations, units, and reasons. There is “the glare of the visible before your eyes”.

And even the house, when certain, is a place in which the universe also lives, kindling her fervour and her ‘Magnificat’. This is described in ‘A Casa do Mar’ [The Seaside House]: “Anyone who walks from the centre room to the veranda and sees before them the beach, the sky, the sand, the light and the air realises that nothing is there by chance but rather by reason, that this is a place of exaltation and astonishment where reality emerges and shows its face and its evidence. // […] In the rise and fall of the waves, the universe orders its tumult and its smile, and, along the shiny sandy beaches, mists from the sea and fog rise up like incense at a ceremony. // And everything seems intact and complete, as if it was the place which preserved within it the naked power of the first day ever created.”

In the poem ‘Cidade’ [City], Sophia’s protest focuses on what the universe prevents, denies and contradicts: “City, ceaseless noise and bus-

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tle of the streets / O dirty, hostile, futilely spent life / In the knowledge of the sea and virgin beaches / Nameless mountains and vaster planes / I crave the vastest space / And I am here within you and all I see / The walls and confines, and I cannot see / Neither the rise of the sea, nor the phases of the moon”. And in another poem, ‘Tejo’ [Tagus], her praise is aimed at the place from which the universe can be seen: “Here and there as we walk Lisbon’s streets / In a hurry or lost in thought / Turning the corner we suddenly see / The shimmering blues of the Tagus / And our body becomes light / Our soul is winged”.

It is this that the photographs by the three photographers show of the places touched and exchanged for images of them. On the centenary of Sophia’s birth, these photographs offer a voucher for a stay at the places which were hers and which can now be ours. They represent a fiction of recovered, overlaid, opposing truths. The photographs are full of permanence, premeditation, omens, divinations, and predictions. Of visual verbs conjugated in their various tenses and modes. They are selfies taken with the universe.

The words attributed by the three artists to their works are more of a sign than a slogan, more of an inscription than a caption, more of a destination than a statement. António Jorge Silva chose a verse by Sophia which speaks of the soul and of the mist from the sea forming part of it.

His photographs adopt the geometry of the house, the architecture of water and the petrology of rock, which the interior imposes upon the exterior. Here, vertical lines are a humiliation of the horizontal. Pedro Tropa opts for one of the poet’s verses which describes construction as the promise of destruction. In the chiaroscuro of his images, buildings overlap with their ruins and the world is a hand covered in script (Mallarmé said that “Everything in the world exists in order to end up as a book”). Duarte Belo recalls the one time he met the poet. It was in Tomar, at a convent still full of vertices and figures of Templars — and from that memory he took Ariadne’s thread through a labyrinth of places illuminated by the light and shadow of colours. In his collection of images, it is as if his sin-

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gle encounter with Sophia were extended and carried to everything in the world that her gaze touched with the (in)tense bow of her attention.

In the work of António Jorge Silva, the sea is a force which is a form which is a figure. And the house is the flagrant phantom of this. In Pedro Tropa’s work, everything speaks of time transformed into space, spirit converted into body, logos made eikon, physis in its aletheia. In Duarte Belo’s work, a dictionary of images — topoi — is used, in which the shadows of Pascoaes and Pessoa, the Master of Communion and the Master of Excommunication, pass as a sign of luck or misfortune.

All of the works by the three artists are characterised by the virtue mentioned by Proust in ‘In the Shadow of Young Girls in Flower’, whereby photography “ceases to be a reproduction of reality and shows us things that no longer exist”. It is important to add: which no longer exist, even when they do! Photography is thus always past life and future memory, and to it belongs the time of traces transformed into aura, loss converted into gain, and defeat made into victory.

On the map of this exhibition, paths split off, roads diverge, streets converge, lanes reconnect. When our gaze brings photographs together, we see agreements and disputes, slowing and speeding, acceleration and braking, front and back, obverse and reverse.

As well as Sophia and her lived work, what links the photographs on display in this exhibition is that which she describes in one of her ‘Histórias da Terra e do Mar’ [Stories of Land and Sea]: “From the order and silence of the universe arose an infinite freedom. She breathed in that freedom, which governed her life and fuelled her being. // The peace surrounding her was open and transparent. // The shape of things was writing and script. A script she didn’t understand, but which she recognised”.

Like her, with her, we recognise these images, as if they had been written in the script of our gaze.

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NOTAS BIOGRÁFICAS [BIOGRAPHICAL NOTES]

António Jorge Silva Leiria, 1965 António Jorge Silva vive e trabalha em Lisboa, é artista e fotógrafo.

Tem o curso avançado de Fotografia do Ar.Co. Profissionalmente, faz fotografia documental de arte, para museus, galerias e artistas.

Na sua prática fotográfica de autor interessa-se fundamentalmente por explorar relações de intimidade entre indivíduo e lugar.

António Jorge Silva lives and works in Lisbon as an artist and photographer.

He completed the advanced course in Photography at Ar.Co. In his professional life, he produces documentary photography for art museums, galleries and artists. In his artistic photography, he largely seeks to explore relationships of intimacy between individuals and places.

Duarte Belo Lisboa, 1968 Formação em arquitectura. Desde 1986 que trabalha no levantamento fotográfico sistemático da paisagem, formas de povoamento e arquitecturas em Portugal. Este trabalho deu origem a um arquivo fotográfico de cerca de 1 650 000 fotografias.

Publicou vários livros sobre o tempo e a forma do território português, de

Duarte Belo trained as an architect.

Since 1986, he has worked systematically to document Portugal’s landscape, settlement patterns and architecture through photography.

Through this work, he has produced a photographic archive containing around 1,650,000 photographs. He has published several books on the

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que se destacam: Portugal – O Sabor da Terra (1997-1998) e Portugal – Olhares sobre o Património (2007-2008).

Trabalha igualmente sobre nomes relevantes da cultura portuguesa, como Mário Cesariny, Ruy Belo, Maria Gabriela Llansol, Alberto Carneiro ou Miguel Torga.

Leccionou temas relacionados com a fotografia e a arquitectura. É editor do blogue Cidade Infinita.

Expõe desde 1987 e participa regularmente em conferências e mesas-redondas.

temporality and form of the Portuguese landscape, including: Portugal – O Sabor da Terra (1997-1998) and Portugal – Olhares sobre o Património (2007-2008). He also produces work relating to well-known figures in Portuguese culture, such as Mário Cesariny, Ruy Belo, Maria Gabriela Llansol, Alberto Carneiro and Miguel Torga. He teaches on topics linked to photography and architecture. He is the editor of the Cidade Infinita blog. He has been exhibiting his work since 1987 and regularly participates in conferences and round table discussions.

Pedro Tropa Santarém, 1973 Pedro Tropa vive e trabalha em Lisboa, é artista e fotógrafo. Há cerca de uma década que o seu trabalho em fotografia, texto, som e desenho está fortemente ligado à sua prática enquanto montanhista. Pertence, desde 2009, ao grupo de artistas da Galeria Quadrado Azul. É professor desde 2007 e, actualmente, é o responsável do departamento de Fotografia do Ar.Co. Publicações: Sim Zut, 2016, Galeria Quadrado Azul. Os inquéritos

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Pedro Tropa lives and works in Lisbon as an artist and photographer.

For more than a decade, his photography, writing, sound and drawing work has been closely linked to his mountaineering practice. Since 2009, he has belonged to the group of artists represented by Galeria Quadrado Azul. He has been a teacher since 2007, and is currently head of the Photography department at Ar.Co. Publications: Sim Zut, 2016, Galeria Quadrado Azul. Os inquéritos

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[à fotografia e ao território], 2016, CIAJG. Singbarer Echo, 2014, Galeria Quadrado Azul. Travessia, Evidência.

O Monte Rosa, 2009, Galeria Quadrado Azul. Cahier de Cent Dessins, 2009, Galeria Quadrado Azul. Desenho, 2003, Assírio & Alvim / Fundação Carmona e Costa.

[à fotografia e ao território], 2016, CIAJG. Singbarer Echo, 2014, Galeria Quadrado Azul. Travessia, Evidência.

O Monte Rosa, 2009, Galeria Quadrado Azul. Cahier de Cent Dessins, 2009, Galeria Quadrado Azul. Desenho, 2003, Assírio & Alvim / Fundação Carmona e Costa.

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Imagens [Images] © António Jorge Silva, Duarte Belo, Pedro Tropa, 2019 Textos [Texts] © Federico Bertolazzi, José Manuel dos Santos, 2019 Centro Nacional de Cultura Rua António Maria Cardoso 68, 1200-443 Lisboa Sistema Solar Crl (Documenta) Rua Passos Manuel 67 B, 1150-258 Lisboa 1.ª edição, Setembro de 2019 [1st edition, September 2019] ISBN 978-989-8902-96-2 Tradução [Translation]: KennisTranslations (Eleanor Staniforth) Revisão [Proofreading]: Helena Roldão Depósito legal [Legal deposit]: 462601/19 Impressão e acabamento [Printing and binding]: Gráfica Maiadouro SA Rua Padre Luís Campos, 586 e 686 – Vermoim 4471-909 Maia Portugal