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SECOVI ENTREVISTA

Hoje o Secovi Entrevista conversa com Milena Matos, síndica do Condomínio Residencial Verde Sul, no bairro Shopping Park. Milena é uma síndica apaixonada por servir, que encara como missão seu cargo como síndica e leva com muito amor e carinho a função. Por isso, vamos conhecer um pouco mais dos desafios vividos e inovações provocadas por uma sindica que administra o condomínio sob um aspecto mais humanizado.

Secovi Entrevista: Milena, há quanto tempo você é síndica e o que te motivou a aceitar esse cargo?

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Milena: Sou síndica desde 2017. Tudo começou quando eu me mudei para o condomínio. Teve a primeira reunião com a construtora e fiquei com medo de entrar alguém e eu não gostar da forma da pessoa administrar. Eu temia que a taxa do condomínio fosse muito alta e, com isso, eu resolvi me candidatar à síndica. Na época, um rapaz também se candidatou e a gente empatou nos votos. Então acharam por bem colocar o rapaz como síndico e eu como subsíndica só porque eu sou mulher, o que não fazia sentido já que os votos foram os mesmos, mas eu aceitei e seguimos. Depois de quatro meses, esse rapaz não aguentou a pressão do cargo e renunciou. Foi fei- ta uma nova eleição e eu entrei como síndica e, desde então, estou à frente do condomínio.

S.E.: Você tem encontrado ajuda para exercer a função?

M.: Eu conto com uma administradora de condomínio que me ajuda na parte de RH, cobrança, contabilidade e assessoria jurídica.

S.E.: E como tem sido para você a experiência como síndica?

M.: É desafiador, às vezes afrontador, às vezes é perigoso. Quando passa pela cabeça deixar a sindicância é por questão do perigo, porque a gente fica muito exposta. As pessoas não conseguem separar a função do lado pessoal e isso causa insegurança. Mas eu gosto bastante de lidar com pessoas, gosto dos desafios.

Aqui é um condomínio em um bairro simples, então o desafio financeiro é grande. Cada conquista é muito importante, com um orçamento apertado que a gente se vira. Manter o lugar onde eu moro organizado, limpo, evoluindo e crescendo é extremamente satisfatório. Acompanhar o desenvolvimento das pessoas é também muito bom.

Além disso, eu tenho um projeto aqui no condomínio de doação de roupas e de móveis: pego de um e dou para o outro, também arrecadamos cestas básicas. Fizemos um projeto muito bonito na pandemia, arrecadamos cestas básicas e levamos para as pessoas carentes. Então essa função me proporciona ajudar muitas pessoas, como estou em evidência, eu uso isso para tentar ajudar muita gente.

S.E.: O trabalho social que você comenta é feito somente dentro do condomínio, entre os moradores? Como surgiu essa ideia?

M.: Sim. De morador para morador. Quando algum morador fala: “Olha Milena chegou uma prima minha ou um amigo que está precisando.” A gente vai e ajuda também. Minha inspiração é Jesus, porque ele deixou-nos o legado de servir. No último encontro Dele antes da sua morte, Ele fez a última ceia e nessa ocasião Ele lavou os pés de todos os discípulos e deu o exemplo de que a gente seria servo. A ideia vem daí. É o cuidar de pessoas. Gosto de fazer isso, é desafiador, vai além de simplesmente uma função de síndico.

Eu gosto, por exemplo, quando alguém fala para mim: “Milena, eu tenho uma cama que não quero mais.” Eu falo para guardar no salão de festa e é incrível como que, em poucos dias, alguém aparece dizendo que o filho está sem cama e aí fazemos essa logística. Não é só alimento, já foi feito com geladeira, móveis, armários, tudo o que você pensar a gente tenta ajudar. Tenho um rapaz que faz o frete para mim, ele já sabe e faz até mais barato. A ideia vem desse legado, de servir, ajudar e socorrer. Quando alguém está desempregado e não consegue pagar o condomínio, a gente entende, liga na administradora para tirar os juros. Faço contatos, quando alguém divulga vaga de emprego eu mando na lista de transmissão, dizendo da vaga e falando para enviar o currículo. Fora isso, eu ainda tenho uma parceria muito boa com o pessoal do postinho de saúde do bairro, o qual vem aqui no condomínio sempre que preciso da assistente social. Ela vem e vê se tem alguma criança com maus tratos ou com alguma observação para gente ficar alerta.

S.E.: Como os moradores têm abraçado a ideia? Toda a comunidade tem se envolvido ou existe resistência?

M.: Nem todo mundo se envolve. Tem pessoas que só entram e saem, só vêm para dormir, por que têm a vida muito corrida. Mas existem aquelas pessoas que se envolvem, que ajudam e se sensibilizam. Resistência mesmo, eu nunca tive. Ninguém que se levantou contra, mesmo em um condomínio pequeno, com apenas 88 apartamentos. Nem todos participam, mesmo assim tem uma boa aceitação, pois sempre que comunico alguma coisa, nunca fico de mãos vazias. Não existiu nenhuma vez em que pedi para ajudar uma família e não apareceu nenhuma ajuda, muito pelo contrário, às vezes a pessoa que nunca contribui, quando tem algum móvel que vai trocar, ela me fala para eu achar alguém para doar.

S.E.:

M.: Olha, houve um caso aqui ano passado que repercutiu muito e me abalou bastante. Uma família passou por uma situação pessoal muito complicada na qual, inclusive, veio polícia, foi feito denúncia, saiu até na TV. Fiquei apavorada. Foi uma experiência terrível, mas fui conversar com a vítima. É constrangedor, é ruim, a energia fica muito ruim, a gente fica muito exposto, porque não tem como não se envolver. Tem que estar lá, tem que explicar, tem que abrir câmeras. A polícia interroga, então o síndico acaba se envolvendo. Se o casal briga, sou obrigada a chamar a polícia para evitar um feminicídio e todo mundo sabe que foi a síndica que chamou a polícia. Querendo ou não, a gente está à frente, então tudo o que acontece é reportado a mim e pela minha função eu tenho que resolver e, com isso, acabo ficando exposta.

M.: A dificuldade que tenho encontrado é a questão financeira. Aqui, a taxa do condomínio é a menor que existe e sempre prezei por isso. Acredito que se a taxa for acessível as pessoas irão pagar com mais facilidade. A taxa de juros é a menor possível do mercado. A gente só ajuíza uma cobrança quando a pessoa não tem o menor interesse de pagar, isso para que seja justo com os adimplentes. Uso como estratégia uma vez por ano um feirão de negociação. Principalmente no final do ano, quando as pessoas recebem o 13°, assim como tenho o 13° para pagar aos funcionários. Nesse feirão, eu tiro os juros e facilito o parcelamento. Minha inadimplência também não é alta, está em torno de 15%, é uma inadimplência sustentável e sempre que alguém precisa de algum acordo, somos bem flexíveis para que as pessoas paguem e fiquem em dia. Mas como a taxa do condomínio é bem baixa e é a mesma há mais de cinco anos, o condomínio precisa refazer a pintura externa dos blocos, mas para isso, precisa de muito dinheiro e a receita mensal é pequena. Esse é meu maior desafio hoje, achar uma maneira de pintar os blocos, mas eu acho que vou encontrar uma solução. Fora isso, o condomínio já anda sozinho. Sempre tem um problema ou outro, na maioria dos casos é quando inquilinos novos chegam e dão um certo trabalho até se adaptarem ao ritmo do condomínio. Até a pessoa se enquadrar nas regras leva um tempo, é necessário ter paciência.

S.E.: E o condomínio realiza coleta seletiva? Ou alguma outra ação de sustentabilidade?

M.: Na verdade, sim. Fui eu que trouxe a coleta seletiva para o bairro. Não tinha coleta seletiva nessa região e fomos o primeiro condomínio a fazer essa mudança. Entrei em contato com o pessoal do DMAE e fizemos um projeto muito bonito sobra a coleta seletiva. Perto de nós existem mais seis condomínios e todos aderiram. Às vezes, temos algumas dificuldades na mistura de lixo, aí a gente vai e conversa. Tem também alguns coletores individuais que a gente abre para eles. O pessoal já criou a cultura de deixar separado, claro que não é perfeito, que não é todo mundo, não é todo dia que dá certo, mas existe a separação, temos essa visão da questão ambiental.

S.E.: Em qual aspecto você acredita que porque se eu tivesse esse dinheiro, já teria feito muita coisa. Como a pessoa tem uma receita dessa e não tem uma ideia, uma inovação? Assim, aqui no condomínio eu faço uma ação para o dia das crianças, trago pula pula, ofereço lanche, sem nenhum custo adicional. Todas as crianças do condomínio podem participar, não são muitas, mas elas podem trazer um priminho de fora. No dia das mães, eu dou uma lembrancinha para cada mãe. Eu tento aproximar as pessoas o máximo que consigo, para que elas possam se conhecer. Eu faço divulgação do trabalho dos outros, apoio quando uma pessoa diz que vai fazer marmita para vender, ajudo a indicar até para as pessoas fora do condomínio. Eu tenho o interesse de que as pessoas cresçam financeiramente e evoluam, eu acho que se outros condomínios tivessem essa visão seria muito bom, acho que Uberlândia daria um salto gigante.

S.E.: Agora, olhando para trás e observando tudo o que comentou, tudo que já viveu à frente do condomínio, como você resume sua experiência como síndica?

M.: Olha, o apoio do Secovi é fundamental. Inclusive quando fiz um curso lá, tive acesso a um advogado e com o qual entrei em contato quando tive o problema que contei há pouco, porque o meu advogado não estava podendo atender e ele me recebeu e orientou o que foi muito bom. Além disso, eu desfruto e uso o Secovimed. Até tenho outro plano de saúde, mas eu prefiro o Secovimed. Eu adoro as meninas de lá, da recepção, do jeito que me tratam, da responsabilidade. Meus funcionários também têm essa qualidade de atendimento, é uma qualidade realmente muito boa. Acho extremamente positivo o carinho e a visão que o Secovimed tem de alcançar todo mundo, de abraçar todo mundo, além de ser um valor que a gente consegue pagar. Não é algo exorbitante, igual aos planos de saúde de hoje que são muito caros e lá é muito bom porque é um valor que abraça todo mundo e não exclui aqueles de baixa renda eu acho que é um projeto fantástico. Acho que quem mais usa aqui sou eu.

S.E.: Antes de encerrarmos, tem algo mais que você gostaria de acrescentar?

O

condomínio pode servir de exemplo para outros?

M.: Eu acho que é a questão financeira. A forma financeira do jeito que a gente trabalha é muito produtivo. Eu vejo que temos um orçamento tão apertado e, mesmo assim, fazemos melhorias de três em três meses. Se todo mundo tivesse essa visão de evoluir e não apenas manter o que tem e de só pagar o que já existe. Eu estava conversando com o subsíndico de outro condomínio o qual falou que em seu condomínio há uma receita guardada de 100 mil. Eu enlouqueci,

M.: É uma experiência fantástica, desafiadora e prazerosa, porque eu gosto do exercício da função. Cada dia é um dia, eu cresço também como ser humano. Às vezes quando vem um desafio para mim, passo três dias pensando em como vou resolver para não fazer nada no calor da emoção, não distratar uma pessoa num momento de raiva, isso me ajuda muito a crescer como ser humano. A responsabilidade que hoje eu tenho com meus contatos é incrível, porque o condomínio me ensinou a ser assim. Uma coisa que falo todo dia: o condomínio não é meu, eu estou aqui para servir e levo isso para minha vida.

S.E.: E como você vê a participação do Secovi na sua função como síndica?

M.: Tenho sim. Eu sempre tive noção da responsabilidade fiscal que nós, síndicos, temos e que podemos ser processados também. Depois do curso que participei no Secovi, eu tive uma percepção ainda mais concreta disso. Então, a mensagem que eu quero deixar é para os síndicos tomarem muito cuidado com a questão financeira e que tenham no coração o desejo de servir e ajudar as pessoas. Eu sei que às vezes é difícil, é ingrato, mas que a gente não foque nisso, que possamos ajudar o máximo de pessoas possível. Use para o bem seu status e faça diferença onde você está.

Nota De Esclarecimento

Em vista de informações inverídicas divulgadas aos condomínios, o Secovi Uberlândia, vem por meio da presente nota, prestar os seguintes esclarecimentos e se posicionar.

Como é de conhecimento geral, o Secovi representa os condomínios residenciais e comerciais na cidade de Uberlândia desde 1.998, sendo o legitimado a negociar em favor da categoria, e entabular a Convenção Coletiva de Trabalho junto ao sindicato dos trabalhadores (SETH-TAP).

Ocorre que, no ano de 2022, foi surpreendido com a notícia de que outro sindicato, denominado “SINDICON” (Sindicato dos Condomínios Comerciais Residenciais e Mistos de Minas Gerais), com sede em Belo Horizonte, teria pleiteado, perante o Ministério do Trabalho e Emprego, a representação dos condomínios de Uberlândia, em substituição ao Secovi.

Em razão de tal fato e, em defesa dos condomínios, o Secovi ajuizou ação na justiça do trabalho, impugnando tal Convenção Coletiva e pleiteando o reconhecimento da representação dos condomínios de Uberlândia/MG.

Assim obteve sentença favorável, a qual decidiu pela nulidade do pedido administrativo do Sindicon, mantendo o Secovi Uberlândia como representante dos condomínios de Uberlândia/MG.

Além disso, ainda sentenciou-se pela nulidade da CCT firmada entre Sindicon e Seth-Tap (sindicato dos trabalhadores).

Ocorre que foi dado um efeito suspensivo à decisão, para manter a vigência da CCT firmada entre os sindicatos até julgamento do recurso interposto contra a sentença.

Todavia, em relação ao plano de saúde, não houve qualquer mudança.

Isso porque, a CCT prevê o pagamento pelos condomínios do PAF (plano de assistência familiar), ou outro plano de saúde com os mesmos ou superiores benefícios, aí incluído o Secovimed.

Portanto, os condomínios que fornecem, em favor dos seus funcionários, o benefício médico assistencial Secovimed, poderão manter o benefício e estarão resguardados e cumpridores da exigência prevista na norma coletiva.

Uberlândia/MG, 06 de março de 2023

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