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De pai para filho

O cultivo catarinense de ostras passa por gerações familiares que usam da criatividade e da tecnologia para alavancarem suas produções

Dados do Ministério Pesca e Aquicultura revelam que cerca de 86% da produção de aquicultura marinha no Brasil atualmente é considerada pequena, sendo que 12% são produções médias e apenas 2% dos produtores grandes. Mas, apesar de serem consideradas pequenas, essas produções estão cada vez mais organizadas, bem como a cada dia mais familiar.

Um bom exemplo é a fazenda marinha Refúgio das Ostras , em Santo Antônio de Lisboa, Florianópolis (SC), que começou há 30 anos com o avô da atual proprietária, Gabriela Queiroz “Ele foi um dos pioneiros da maricultura em Santa Catarina e após parceria e pesquisas com um professor da UFSC, no meio do caminho, descobriram a ostra do pacifico”, conta.

Mais tarde, o avô de Gabriela decidiu ter a sua própria fazenda de ostras. “Eu já estava um pouco maior e comecei a ajudar ele, mas em de março de 2020, ele faleceu em plena pandemia da Covid-19 e o rancho ficou um ano fechado”, lembra. Em maio de 2021 e com a ajuda de seu marido, Douglas Queiroz, Gabriela conseguiu retomar as atividades da fazenda. De lá para cá, o estabelecimento foi crescendo no desenvolvimento de novas tecnologias para o cultivo.

Formada em engenheira de software e tecnóloga em automação industrial, Gabriela e os produtores começaram a colocar em prática as ideias e soluções que ajudassem na produção. “A gente foi vendo as dificuldades e foi tendo ideias, vendo equipamentos de alguns maricultores, como a selecionadora que a gente tem aqui e que foi ele [o marido Douglas] que produziu”, conta.

Vizinhos de produção, o Grupo Freguesia também tem uma história relacionada ao Refúgio das Ostras e às experiências do avô e do pai de Leonardo Costa, o atual proprietário “A explosão da maricultura se deu de 1993 a 1995, quando chegamos a ter mais de 2.000 mil produtores no Estado, dos quais 530 em Florianópolis. Dali para a frente as coisas começaram a acontecer”, lembra Costa. Atualmente, o Grupo Freguesia é possui a maior fazenda marinha de ostras da região e também o restaurante Freguesia Oyster Bar.

A popularização do cultivo de ostras em Santa Catarina também fez nascer a empresa familiar Portal das Ostras. Há 22 anos no mercado trabalhando com a produção de mexilhões e berbigões, atualmente são as ostras que mantêm a produção em alta em Ribeirão da Ilha, mas já se estuda a viabilidade de produção em conjunto com as algas. “No ano passado, colocamos 8 milhões de sementes, quantidade bem considerável “, conta Ariane Lopes, filha do proprietário Devaldi Lopes.

O desafio de Gabriela diante da produção era conseguir driblar as limitações físicas do dia a dia, já que os equipamentos e os demais trabalhos eram muito pesados para normalmente uma mulher executar

Além dela, a irmã Larissa, outros membros da família e demais colaboradores completam o quadro. “Conseguimos o certificado do Sistema Brasileiro de Inspeção de Produtos de Origem Animal (SISBI) no ano passado. Ou seja, já podemos vender a nossa ostra para todo o Brasil”.

Olhando para o futuro

Em 2005, o Grupo Freguesia recebeu um programa de certificação e se destacou a nível nacional. Com isso, tornou-se a primeira empresa de ostras

Ariane do Brasil a ter um certificado de qualidade na produção em mar. Já em 2015, o grupo fechou a cadeia ao montar seu próprio frigorífico com serviço de inspeção municipal. Entre as diversas atuações da empresa no ramo, também está a compra de sementes de ostras e comercializá-las pré-crescidas para outros produtores que fazem então somente a engorda. Somente com as vendas de sementes para engorda no ano de 2022 o Grupo Freguesia comercializou 200 mil dúzias.

Diferente da maioria dos produtores, Leonardo optou por trabalhar em alto mar por causa do deslocamento de colaboradores e volume de produção

Para Gabriela, o Refúgio das Ostras segue crescendo rumo ao sonho de fazer dela uma fazenda marinha de larga escala. Para isso, é preciso confeccionar equipamentos que ajudem elevar a produção e facilitem o dia a dia. “Não só para a gente, mas para também os outros maricultores. O sonho do meu avô era manter a maricultura e fazê-la crescer e, do meu ponto de vista hoje, a forma de chegar lá é introduzir tecnologias”, completa Gabriela.

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