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De mãos dadas com a pesquisa científica e extensão

Amaricultura em Santa Catarina começou em meados da década de 80 e surgiu como alternativa aos pescadores artesanais que buscavam melhorar as suas rendas. Na época, o nascimento da atividade possibilitou o desenvolvimento de pesquisas em uma atuação conjunta da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e a Associação de Crédito e Assistência Pesqueira de Santa Catarina (Acarpesc) - que mais de uma década depois e após e a fusão com outras empresas, deu origem a empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina (Epagri).

“Através de ações de pesquisas e de difusão de conhecimento, iniciou-se o trabalho em uma escala experimental, mas já com os pescadores artesanais. E os produtores viram que era uma atividade rentável naquela época e bastante interessante”, conta André Luís Tortato Novaes, engenheiro agrônomo e gerente do Centro de Desenvolvimento em Aquicultura e Pesca (Cedap) da Epagri.

Conforme Novaes, no início houve resistência dos pescadores porque as ostras e mexilhões eram encontrados nos costões e, até então, o raciocínio era: para que cultivar se é possível a extração? Mas os cultivos foram implantados e a primeira safra foi registrada em 1990. A partir dessa década, o setor produtivo, a UFSC, a Epagri e também a Universidade do Vale do Itajaí (Univali) demonstraram interesse em regularizar a atividade, só que ainda não haviam instrumentos legais. Só então a partir de 2003 que passaram a ser publicados os instrumentos legais que orientavam o processo de autorização para a aquicultura marinha e a obtenção do licenciamento ambiental.

Já em 2007, o plano foi aprovado pela então Seap - que juntou essas informações e tramitou processos na Marinha do Brasil, no IBAMA e na Superintendência de Patrimônio da União (SPU) buscando obter as autorizações para que a secretária pudesse ceder às suas áreas ao maricultores. As análises pelos diferentes órgãos foram finalizadas em 2011 e as primeiras áreas foram cedidas.

Entretanto, mesmo com esse processo de regularização, o ordenamento da atividade no Estado não estava completo, pois havia problemas de áreas cedidas, de fiscalização, de uso etc. Então, foi feito um acordo de cooperação técnica entre a Epagri, a Secretaria de Agricultura, da Pesca e do Desenvolvimento Rural de Santa Catarina e o Mapa. No acordo, a Epagri ficou responsável, através do serviço de extensão, pelo trabalho em campo. Então, nos municípios, foi formada uma comissão local que reunia os maricultores e outras entidades para levantamento das necessidades das áreas aquícolas de cada região. Depois desses levantamentos, um relatório técnico completo foi encaminhado ao ministério e junto com o relatório, foi organizado um banco de dados.

Pesquisa e extensão

Sempre de mãos dadas com a academia, as ações da Epagri, com atuação fundamental na regularização das áreas aquícolas do Estado, acontecem em duas frentes: pesquisa científica e extensão.

Everton Della Giustina, engenheiro agrônomo e coordenador estadual do Programa Aquicultura na área de Extensão da Epagri destaca que a empresa atende pescadores e maricultores em todos os municípios litorâneos que possuem a atividade da maricultura. “Além disso, contamos com o apoio dos centros de treinamento para capacitação dos maricultores, técnicos e outros profissionais”. Entre os principais trabalhos desenvolvidos está a atuação para o fortalecimento das instâncias representativas do setor, o associativismo e as formas de organização dos maricultores.

O acesso ao crédito e o levantamento estatístico da maricultura são outros trabalhos realizados no Estado, assim como a difusão de tecnologias através de cursos, em visitas e outras metodologias de extensão focadas principalmente nos sistemas de produção, gestão

Pesquisa e produção no laboratório de formas jovens da UFSC

A partir do momento em que a malacocultura começou a se desenvolver em Santa Catarina, cresceu a demanda por formas jovens das principais espécies de produção. Foi então que o Laboratório de Moluscos Marinhos da Universidade Federal de Santa Catarina (LMM/UFSC), que funciona com um cronograma de pesquisa e produção e existe desde a década de 90, passou a ter também uma atuação fundamental.

Inicialmente, o LMM surgiu como proposta de fixação aos pescadores do litoral catarinense. A intenção era de trabalhar com a malacocultura em uma época onde não havia muita informação a respeito das espécies. “Então, tivemos a oportunidade de testar com a Crassostrea gigas e deu muito certo: nos desenvolvemos e outras espécies vieram para serem pesquisadas da atividade e o beneficiamento dos produtos. O incentivo ao comércio legal de moluscos também é desenvolvido.

Já na área social, as ações da Epagri possibilitaram o projeto Jovens do Mar, que trabalha com a metodologia da pedagogia da alternância no qual o jovem permanece um tempo na Epagri e um período na sua atividade ou na sua propriedade.

A microalga serve como alimento em todas as etapas de produção. “O setor de microalgas é essencial e sem ele, nada vai para frente”, conta Carlos Gomes e produzidas”, conta Carlos Gomes, técnico de laboratório de moluscos da UFSC.

Atualmente, o LMM trabalha com geração de formas jovens centralizada em três espécies: ostra do Pacifico (Crassostrea gigas), a ostra do Mangue (C. rhizophorae) também conhecida como ostra nativa, produções da vieira (Nodipecten nodosus) e do mexilhão Perna perna

Hoje em dia, a maioria dos produtores de ostras adquirem sementes em tamanho grande o suficiente para ficar retidas em uma malha de 1,5 milímetro

“Temos a fazenda marinha na própria UFSC para manter os reprodutores no ambiente, depois são transferidos para a maturação e crescem os gametas e vão para a desova. É todo um ciclo”, completa Julio Cacho, professor do Curso Técnico em Recursos Pesqueiros do Instituto Federal de Educação Ciência e Tecnologia (IFRN/MACAU).

É na fase de sementes que os produtores passam a adquirir os animais no laboratório para então, transferi-los aos seus sistemas de cultivo. Como regra, todas as sementes produzidas são anunciadas nos meios de comunicação oficiais para que os produtores saibam de suas disponibilidades. Hoje, mais de 90% das sementes produzidas no LMM são comercializadas aos produtores catarinenses. Em 2020, só de gigas, foram entregues cerca de 30 milhões de sementes. Já em 2021, foram quase 38 milhões de sementes e, em 2022, 56 milhões.

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