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Contornando a “policrise”

Conjunção de fatores pressiona cadeia global do pescado reunida em Barcelona a buscar alternativas para reverter o declínio do consumo em grandes potências e produzir mais com menos impacto; asiáticos voltam à Seafood Expo Global e renovam otimismo de fornecedores e clientes

Apuração: Vanessa Costa | Texto: Ricardo Torres

Foi num artigo publicado no ano passado pelo jornal britânico Financial Times em que o termo apareceu para caracterizar o atual estado de coisas no mundo. “Policrise” é a síntese dos múltiplos desafios econômicos, políticos, sociais, sanitários e humanitários que vivemos e foi citada no texto assinado no ano passado por Adam Tooze, professor de história na Universidade de Yale (EUA) O nome dado por ele aos problemas do presente também esteve na boca dos visitantes da Seafood Expo Global, realizada entre 25 e 27 de abril na cidade de Barcelona

Não por acaso, esse foi exatamente o tema de uma das principais palestras do evento, conduzida pela economista global Megan Greene, colunista do mesmo jornal e professora do Instituto de Assuntos Públicos e Internacionais da Brown University. A palestra

“Navegando a Policrise Global” examinou como diferentes riscos e fatores - como a reabertura da China e o endividamento global, entre outros - marcarão o caminho da economia mundial nos próximos meses.

A indústria global do pescado se mostrou atenta à complexa conjuntura. Os sinais estavam claros desde o credenciamento. O portacredencial, feito de papelão reciclável, era o prenúncio do que os mais de 33 mil profissionais do setor veriam internamente na feira. Grande parte dos estandes apresentava estrutura em madeira de reflorestamento e as empresas se esforçaram em mostrar a adoção de compromissos ESG, além dos tradicionais certificados de sustentabilidade. Nem o pescado ofertado nos estandes ficou de fora. Através de uma parceria com o Banco de Alimentos de Barcelona, mais de 50 voluntários arrecadaram 14 toneladas de produtos para doar a comunidades vulneráveis e pessoas refugiadas.

Outra apresentação também deu a tônica de uma grande preocupação do público europeu: a diminuição do consumo de pescado na Espanha, Portugal e outros tradicionais pólos da dieta mediterrânea. “O contexto da inflação está levando os consumidores a uma mudança de hábitos onde o preço é primordial, o que afeta o consumo de produtos frescos”, explica a responsável pelos produtos do mar da Associação Espanhola de Fabricantes e Distribuidores (Aesoc), Àngels Segura. Ela trouxe um dado alarmante: as vendas de pescado na Espanha caíram 20% nos primeiros meses de 2023.

Para contornar o problema, as empresas estão buscando ofertar formatos de conveniência, reduzir o preço unitário e investir na formação do consumidor. Em um relatório apresentado por ela, nota-se o investimento global em formatos de conveniência, com aumento da oferta de porcionados, marinados e prontos para comer, ou mesmo pacotes com os ingredientes e instruções necessários para cozinhar um produto. Na feira também foi possível ver a busca das marcas por apelos infantis de consumo, com produtos licenciados e personagens lúdicos.

Já para o responsável de vendas da distribuidora espanhola Garciden, Sergio Baena, o cenário de comercialização de pescado realmente está se transformando porque os hábitos de consumo mudaram. “Como empresa, temos de satisfazer o que o consumidor está demandando: um produto saudável, sustentável, de fácil acesso e com nível de preço aceitável.”

Recuperação a pleno vapor

Houve preocupação, mas também muito otimismo. O fim da política de Covid-zero na China trouxe os asiáticos de volta ao evento, que com isso voltou a ser efetivamente global. A área de exposição chegou perto de 50 mil m2, 21% maior do que a maior edição da história deste evento. “Depois da Covid, você tem mais gente de volta à Seafood Expo, o que nos possibilita fazer mais negócios”, disse logo no primeiro dia o gerente de vendas da norueguesa Nils Sperre, Odd Abril Sperre.

Os bacalhoeiros se mostraram moderadamente otimistas. A gerente de exportações da Brødrene Sperre, Linda Honningsvag, vê uma certa instabilidade em função da desvalorização da coroa norueguesa frente ao dólar, mas ainda trabalha com boas expectativas. “Esperamos um bom ano para os nossos negócios”, diz.

Paulo Amaral, diretor da Brasmar, viu o preço da matéria-prima para a

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