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UM POUCO DE CADA RAMO DA FAMÍLIA

ENRICO,

casado com Anna, imigrou com 3 filhos nascidos na Itália, Ardillia, Umberto e Amilcare. No Brasil nasceram Hermínia e Arthur (vide diagrama genealógico anexo).

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Depois de alguns anos morando em Jundiaí, empreendedor que era, Enrico instalou fábrica de cadeiras e de outros artefatos de madeira próximo à Estação Ferroviária, na Vila Arens. Com a depressão econômica causada pelo início da 2ª Grande Guerra Mundial, os problemas econômicos mostraram-se intransponíveis, determinando o fechamento da fábrica (1940) sendo que Amilcare, sucessor de Enrico, foi trabalhar na indústria de seu primo Guido, que também enfrentava dificuldades oriundas da depressão, levando sua experiência valiosa para ajudar o seu parente na superação das agruras dessa época. Boa parte dos outros irmãos se mudou para S. Paulo.

Amilcare, cultor das artes e da música, foi um dos fundadores da Banda Italo-Brasileira, que tinha sede na av. Dr. Cavalcanti, tendo participado da corporação musical durante muitos anos, como diretor e músico, pois tocava magistralmente bombardino. A reunião para fundar a Banda aconteceu em 1918, na casa de seu pai Enrico.

É interessante observar que os vários ramos da família Pellicciari nutriam verdadeira devoção pelas artes cênicas, pela música lírica e pela poesia. Isto é fácil de constatar pelos nomes que escolheram para alguns filhos - Romeu, Julieta, Radamés, Yago, Lady, Favorita, Cássio, Desdêmona, Hamleto, entre outros. São títulos e nomes relacionados a operetas, a personagens de Shakespeare, a óperas de Verdi e de Puccinni, etc. O apelo musical foi sempre intenso entre eles, sendo que Ada, uma das netas de Enrico (filha de Amilcare/Emília), tornou-se exímia pianista da Sociedade Jundiahyense de Cultura Artística e do Cine Teatro República, apresentando-se regularmente também no teatro Polytheama (décadas de 1930/40). No tempo do cinema mudo, as apresentações dos filmes eram acompanhadas, ao vivo, por pianistas talentosos, entre os quais a jovem Ada Pellicciari.

Destaque esportivo internacional neste ramo da família foi Romeu Pellicciari, filho de Umberto, que iniciou carreira futebolística jogando no São João Futebol Clube, transferindo-se posteriormente para o Palestra Itália e, após, para o Fluminense (Rio de Janeiro), sendo convocado a defender a seleção brasileira que disputou a Copa do Mundo de 1938, na França, na qualidade de titular absoluto, ao lado de Leônidas da Silva e de outros craques brasileiros. Disputou todas as partidas e fez 3 gols na competição, sendo o Brasil classificado em 3º lugar.

SPERANDIO,

imigrou aos 29 anos de idade, já casado com Rosa Braghiroli, trazendo os filhos Guido e Antonietta, nascidos na Itália, transportados pelo “vapor” Attivitá (chegada a Santos em 27/10/1895). Em Jundiaí a prole aumentou em mais 10 filhos (vide diagrama genealógico anexo), sendo que a família fixou residência no bairro da Ponte São João, reduto de inúmeras outras famílias italianas, a exemplo dos bairros vizinhos da Colônia e do Caxambu. Além de participar profissionalmente da Banda Militar, Sperandio teve algumas experiências como empregado braçal, logo após a chegada a Jundiaí, inclusive numa fábrica de cadeiras que usava métodos rudimentares de produção. Entretanto, não demorou muito para estabelecer-se como industrial, instalando fábrica de móveis à rua do Bosque (atualmente Oswaldo Cruz), que rapidamente alcançou níveis de produção impressionantes para a época, pois introduziu a fabricação em série na “linha de produção”, especialmente de cadeiras e de mesas, ainda na década de 1910, fato inusitado para a época. Constituiu-se no primeiro complexo industrial a produzir cadeiras em série na América do Sul.

A importação de móveis, em geral, era dispendiosa e insuficiente naquela época, bem como a fabricação no Brasil se apresentava bastante precária. A privilegiada mente criativa de Sperandio gerou o desenvolvimento de máquinas por ele próprio concebidas e produzidas artesanalmente, montadas em estrutura de madeira e movidas, inicialmente, por esteiras ativadas por um eixo proveniente de uma “roda d’água”, que girava impulsionada pela correnteza do caudaloso Rio Guapeva, o qual passava nos fundos do terreno da fábrica. Posteriormente, a energia da fábrica passou a ser fornecida por uma “locomotiva” inglesa estacionária, alimentada pelo vapor da queima de restos de madeira descartados da produção (vide página 38).

Sua esposa, Rosa, teve presença fundamental na produção de cadeiras, pois chefiava a importante sessão de empalhamento, composta exclusivamente por mulheres. No ano de 1914, com mais de 100 empregados, a indústria de Sperandio alcançou repercussão internacional, tendo recebido prêmios na Itália, onde exibiu seus produtos mais expressivos na Feira Industrial de Gênova.

A dinâmica da “Grande Fábrica de Cadeiras, Tornearia e Marcenaria Sperandio Pellicciari” foi altamente beneficiada pela rede ferroviária do Estado de S. Paulo, que passava por Jundiaí, facilitando a distribuição dos produtos pelo interior Paulista e outros Estados vizinhos.

A energia gerada por usinas hidrelétricas chegou à fábrica da rua Oswaldo Cruz, de forma estável, somente na década de 1940, quando Sperandio já havia transmitido o comando desta unidade a seu filho Ângelo, que se concentrou na fabricação de variados tipos de berços. Nesta ocasião, ocorreu a troca da “locomotiva” estacionária por um transformador de recepção de energia elétrica, disponível na rede elétrica junto à rua municipal.

O outro filho, Guido, também vocacionado a industrial, preferiu instalar-se no bairro de Vila Arens (1930), depois de passar longos anos pelo aprendizado de seu pai, dedican-

do-se à fabricação quase exclusiva de cadeiras, tornando-se o maior produtor da América Latina deste artefato de madeira. Apesar do forte abalo que sofreu durante a 2ª guerra mundial (1939-1945), Guido conseguiu superar a depressão econômica deste período recessivo, com muita determinação e tenacidade, voltando a produzir em grande escala logo após o fim da 2ª guerra mundial, atingindo picos de 36.000 cadeiras por mês no final da década de 1940 e começo de 1950, quando participavam do empreendimento quase 1.000 empregados diretos e indiretos, incluindo as filiais jundiaienses implantadas nas cidades de S. Pedro e Andradina. A fábrica de Guido, com sede na Vila Arens, que detinha uma das chaminés construídas em tijolos mais altas e imponentes da cidade, teve sequência com seu filho Casélio, sendo que Romeu trilhou outros caminhos como empresário moveleiro. O 3º filho homem do casal Rosa/Sperandio, chamado Vailan, também industrial do ramo de madeira, dedicou-se à fabricação de produtos específicos utilizados no setor de alimentos. As outras filhas de Sperandio chamavam-se Maria, Ernestina, Linda e Eufélia (vide quadro genealógico ao final). Família de músicos, no começo da década de 1920, Sperandio estimulou o filho Ângelo a aperfeiçoar os estudos de violino na Europa, já que apresentava habilidade excepcional nesse clássico instrumento, desde a sua juventude. Recomendado pelo seu professor brasileiro, Ângelo foi admitido no Conservatoire Royal de Musique, em Bruxelas, na Bélgica, onde além de frequentar cursos regulares, participou de orquestras de Câmara e Sinfônicas, apresentando-se em teatros importantes da Europa, inclusive em Paris. Formou-se nessa Academia em 1928, retornando a Jundiaí, onde se apresentava regularmente como concertista no magnífico teatro Polytheama, orgulho dos jundiaienses.

A influência da intensa e vibrante vida musical européia motivou Ângelo a fundar, com colaboradores, a Sociedade Jundiahyense de Cultura Artística, na qual era o spala da orquestra, tendo no comando os maestros Passos e Biela, que levaram platéias ao devaneio, com apresentações empolgantes em Jundiaí e em outras cidades vizinhas.

Posteriormente, Ângelo integrou a orquestra e coro do prof. Comandule, sempre na qualidade de amador, pois jamais se afastou de suas atividades profissionais, empresário que foi da fábrica herdada de seu pai.

Pianistas de excepcionais qualidades, Antoninho e Joana, filhos de Vailan, encantaram a todos quanto ouviam seus recitais, além de insignes professores dessa arte musical que foram, em Jundiaí e em S. Paulo (Toninho lecionou no Colégio Dante Alighieri).

No contexto esportivo, Antonio Fernandes (que também foi vereador e Secretário do Planejamento), Miguel e Rubens, netos de Sperandio, defenderam a seleção de basquete jundiaiense por muitos anos, nas décadas de 1950 e 1960.

Em homenagem a Sperandio Pellicciari, este valoroso imigrante, a municipalidade outorgou, em 1968, o seu nome ao importante viaduto que interliga o bairro da Ponte São João ao bairro da Vila Arens, proeminentes arrabaldes que acolheram com muito

GIUSEPPE,

(que imigrou aos 28 anos de idade) e sua esposa Adelina (Adele) Borsari trouxeram consigo da Itália o filho Oreste, com 9 meses de idade, chegando a Santos após 40 dias de intrépida viagem marítima (03/09/1896), transportados pelo navio Assiduita. No Brasil, o casal de imigrantes teve mais 8 filhos.

Entusiasmado com o sucesso alcançado por Sperandio, já próspero industrial no bairro da Ponte São João, Giuseppe deixou Laranjal Paulista e transferiu-se para Jundiaí, vindo a trabalhar na fábrica de seu irmão, implantando, após alguns anos, sua própria indústria também de madeira, especializada na produção de cadeiras de salão de barbearia, artisticamente confeccionadas. Inúmeros outros artigos de madeira eram, também, produzidos na fábrica de Giuseppe.

O primogênito Oreste teve presença destacada neste ramo da família, pois além de industrial de vanguarda no setor de madeira, ao lado do pai, no campo da música dominava a clarinete com habilidade incomum, instrumento musical que o credenciou a participar tanto da Orquestra da Sociedade Jundiahyense de Cultura Artística, como especialmente da Banda Ítalo-Basileira (posteriormente denominada União Brasileira), da qual foi um dos mais importantes e dinâmicos fundadores.

Além de músico, mercê a sua dedicação e competência, tornou-se festejado maestro dessa Banda, de 1953 até 1967, projetando-a ainda mais na cidade, com constantes e aplaudidos recitais em toda a Jundiaí, inclusive nas festas populares e regionais.

Local frequente de espetáculo musical ao ar livre era o coreto localizado na parte externa dos fundos da Matriz N. Senhora do Desterro, atualmente a Catedral da cidade. Costume na época, principalmente nos fins de semana, era a concentração de jundiaienses em frente à igreja, ao redor da fonte luminosa, para o passeio descontraído dos jovens e dos solteiros, naquilo que se convencionou denominar “footing”.

Na praça localizada na parte dos fundos da Igreja, confraternizavam-se as famílias numa convivência amiga e despretensiosa, sendo frequentemente brindadas com as apresentações magistrais da Banda União Brasileira, sob a batuta segura e competente de Oreste, no coreto artístico, que era o palco adequado para tal.

Reconhecida como umas das mais notáveis bandas do Estado de S. Paulo, durante os quase 60 anos de sua existência, atendia a muitos convites para apresentações em cidades do interior, bem como na Capital do Estado, quando impressionava as plateias com performances que deslumbravam os presentes.

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