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Mulher-Maravilha
Diana de Temíscira: dos Quadrinhos para as Mídias
por VICS (@wondrvics), com colaboração de JOÃO DICKER (@joaodickerqs), STEPHANIE TORRES (@steetorr)
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A super-heroína Mulher-Maravilha é uma das personagens femininas mais importante e conhecida de todos os tempos. Criada em 1941, a heroína da DC Comics completou 75 anos de existência nos quadrinhos em dezembro de 2016, mesmo ano em que ganhou sua primeira adaptação cinematográfica.
Ao longo de todos os seus anos de vida, a essência de uma das personagens mais icônicas dos quadrinhos foi transformada, traída, transgredida, refeita e edificada ao longo das mais variadas representações nos quadrinhos, na televisão, nas animações, nos games, e agora, no cinema. Independente de qualquer afirmação história ou de juízos de valor, a personagem já nasceu com um contexto mais interessante do que seus colegas de editora, sendo um reflexo do que seu criador e do mundo em que ele estava inserido compreendiam na época.

A Frente de seu Tempo
Criada pelo psicólogo e suposto inventor do polígrafo William Moulton Marston, a Mulher- -Maravilha chegou aos quadrinhos em uma época onde a grande maioria dos heróis protagonistas das HQs eram homens. Na DC, reinavam o Batman e Superman, enquanto o Capitão América e Tocha Humana eram um dos grandes trunfos da Marvel (então Timely Comics).
Inicialmente, Marston trabalhava como psicólogo consultor da DC Comics, ajudando os editores da época, Max Gaines e Sheldon Mayer, nas decisões editoriais que agradassem o público mais adulto. Naquele período, os quadrinhos de super-heróis receberam árduas críticas devido a violência existente em seus desenhos e suas narrativas, sempre entrelaçadas ao combate nazista. Assim, Marston conseguiu convencer Gaines e Mayer de que a solução para aliviar o tom das histórias contadas nos gibis era a criação de uma super-heroína. Para ele, era necessária a existência de uma personagem que vencesse os seus adversários não somente por meio da força física e de superpoderes, mas também explorando do amor e da humanidade interior.
O psicólogo era uma figura folclórica a parte e com pensamentos muito a frente de seu tempo, vivendo com duas mulheres: sua esposa, Elizabeth Holloway Marston, e uma ex-aluna de quando era professora, Olive Byrne. A vida dentro daquela casa não poderia ser mais plural e aberta, com Marston tendo tido filhos com ambas as mulheres. As duas, inclusive, tinham envolvimento direto no Movimento Sufragista e no Movimento pelo Controle da Natalidade, existentes na época.

A edição #1 da revista da Mulher Maravilha
Apaixonado por mulheres guerreiras e empoderadas, o escritor se inspirou na luta do que chamava “as novas mulheres”, aquelas libertas, fortalecidas e independentes, aquelas que, de acordo com o autor, foram responsáveis pelo crescimento do poder feminino.
Em fevereiro de 1941, Marston entregou um roteiro datilografado à Mayer, intitulado “Suprema, a Mulher-Maravilha”. Depois de ler à narrativa, e mesmo que discordando de algumas representações feitas pelo escritor ou de sua origem extremamente fantasiosa, o editor bateu o martelado permitindo a publicação da revista com uma única alteração: ele cortaria o “Suprema”, chamando a personagem de Mulher- -Maravilha.
Assim, os meses seguintes foram de inúmeras conversas, esboços e tentativas de colocar no papel todo o imaginário da personagem que Marston havia apresentado. O autor manteve pulso firme em suas exigências de que a heroína conservasse o “significado-subjacente de um grande movimento que estava em curso, o da escalada do poder feminino”. Por isso, exigia que toda essa representação estivesse presente na maneira de se portar, na constituição física, nas vestes e nos poderes de Diana.
Apresentando a Mulher-Maravilha
Com uma história fantasiosa que envolvia origens relacionadas à mitologia grega, a personagem foi apresentada ao público em All Star Comics nº 8, no outono de 1941. Estabelecendo a origem da personagem como uma guerreira amazona que vivia em uma ilha paradisíaca afastada do mundo violento e podre dos homens, Diana era filha de Hipólita, a rainha amazona.
Entretanto, a paz existente na ilha é interrompida quando o capitão Steve Trevor cai de avião na terra das guerreiras, trazendo a notícia de que uma guerra alastrava o mundo humano. Em uma missão de salvação para ajudar os combatentes americanos, Hipólita decreta que a vencedora de um torneio de lutas seria a amazona escolhida a adentrar a guerra e colocar um fim a destruição e violência do homem. Quando Diana consagrasse campeã, sua mãe lhe costura um uniforme vermelho, azul e branco, antes que a personagem deixasse a Ilha Paraíso para combater o fascismo por meio da representação do feminismo.

Diana, filha da Rainha Hipólita, uma deusa gregra, na Ilha do Paraíso
Marston a partir de então passou a descrever a personagem como modelo do poder feminino e um ícone da ideologia feminista que buscava a igualdade de direitos entre homens e mulheres. Entretanto, as investidas ideológicas do autor por meio dos quadrinhos acabaram não sendo tão efetivas uma vez que, em 1942, a personagem adentrou na Sociedade da Justiça, então formada somente por personagens masculinos, na edição de All Star Comics nº11. O problema é que o triunfo que deveria representar foi transformado em uma decisão editorial medonha: Diana havia sido nomeada a secretária da equipe.
Roteirizada por Gardner Fox, e não por Marston, a passagem da personagem na Sociedade da Justiça rendeu episódios medonhos para a heroína. O criador de Diana passou meses brigando com os editores para que eles compreendessem a necessidade de continuidade na representação do movimento feminista em sua Era Progressista. Depois de muita reclamação, Marston conseguiu permissão para reescrever os roteiros e as participações da personagen, criando subtramas em que a mesma convocava boicotes, comícios e greves enquanto civil, e salva o mundo enquanto heroína.
As representações da personagem como uma mulher e uma heroína destemida, forte e socialmente ativa perduraram até o final da década de 40, quando, em 1947, William Moulton Marston faleceu. A partir de então, a DC Comics acabou repaginando a heroína mais famosa de todos os tempos, tentando adequá-la as regras que foram impostas com o Comics Code Autorithy.
A Era de Prata
A era de prata, período que compreende as histórias dos anos 50 até meados dos anos 70, foi um uma das eras em que todos os personagens de quadrinhos foram mais modificados. Tais transformações foram causadas devido ao Comics Code Auhotity, um código estipulado nos Estados Unidos e que visava controlar e censurar o conteúdo publicado nas HQs, uma vez que as críticas referentes a violência, ao vocabulário e ao sexo presente as histórias, tornavam os quadrinhos produtos que contribuíam para a delinquência juvenil.
O código foi responsável por revitalizar o mercado, já que os quadrinhos que trabalhavam temáticas mais pulp, como as histórias de terror, as ficções científicas e as narrativas de gangster, foram as que mais sofreram repressão. Com isso, os gibis de super heróis passaram a dominar o mercado mainstream, mas também sendo obrigados se adequarem editorialmente as mudanças impostas.
Essas exigências desagradaram muitos fãs da época que, não gostaram de ver personagens que sempre existiram em ambientações soturnas e temáticas mais violentas e maduras, como o Batman, serem transformados em heróis mais caricatos e infantis.
A Mulher Maravilha da Era de Prata passou a conter histórias enredos mais românticos e sensíveis, desconstruindo um pouco da imagem de guerreira amazona libertadora e engajada socialmente. Com isso, a indústria de quadrinhos caminhou para um período em que os avanços tecnológicos e o advento da televisão reduziram drasticamente o número de vendas de gibis, fazendo com que as gigantes empresas do ramo enfrentassem uma crise financeira profunda.
A partir da existência da televisão e de suas novas possibilidades narrativas, as editoras passaram a considerar a realização de produtos audiovisuais que dessem vida a seus personagens consagrados nos quadrinhos. O Super-Homem, por exemplo, chegou as telas americanas na série As Aventuras do Superman, em 1952, ficando no ar até 58. Batman estrearia em 1966 e perduraria até 1968. Com isso, o momento para uma adaptação das aventuras de Diana estava chegando, criando a expectativa para uma série de TV que trouxesse vida a Mulher-Maravilha.
A Mudança de Mídia
O ano de 1975 foi um importante marco para a personagem. No dia 7 de novembro, o canal norte-americano ABC estreava o primeiro capítulo da série Wonder Woman. A produção televisiva, estrelada por Lynda Carter, foi a terceira tentativa em transpor a personagem para a televisão.
O primeiro episódio da série, no entanto, foi um telefilme feito, junto a outro episódio de duas horas. Nesse enredo, o ano é 1942. Durante a Segunda Guerra Mundial, o piloto norte-americano Steve Trevor (Lyle Waggoner) sofre um acidente, caindo na Ilha do Paraíso, localizada no Triângulo das Bermudas. Encontrado por Diana, a Amazona cuida do piloto até que ele se sinta melhor em retornar para o seu mundo. Para esta aventura, a Rainha Hipólita (Cloris Leachman) cria um torneio grego para selecionar uma Amazona que acompanhará Trevor nessa viagem, proibindo sua filha, a Princesa Diana, de participar do evento. Disfarçada, Diana ganha o torneio e o direito de partir com Steve, recebendo de sua mãe o icônico traje de Mulher Maravilha e todos os seus apetrechos, como o Bracelete, a Tiara e o Laço da Verdade.
Assim que os dois chegam ao Mundos dos Homens, voando no Jato Invisível, Diana deixa Steve em um hospital de Washington, capital dos Estados Unidos, deparando-se, logo em seguida, com um roubo, no qual ela ajuda a deter os bandidos. Vestida de Mulher Maravilha, Diana fica famosa e desenvolve o alter ego de Diana Prince, secretária de Steve Trevor. Com a polvorosa dos nazistas, a maior parte dos vilões apresentados na primeira temporada são agentes duplos ou generais da Alemanha Nazista. A série também gerou a icônica transformação de Diana em Mulher-Maravilha, onde Lynda Carter dava um giro e suas roupas de civis eram transformadas em seu uniforme.

Lynda Carter trajando o icônico uniforme. "Wonder Woman" estreou na televisão em 1975
Embora os treze primeiros episódios de Wonder Woman tenham alcançado clamor do público e sólidos números de audiência, a produção foi cancelada pela ABC. Tendo em vista que sua narrativa era de época, passando-se na Segunda Guerra Mundial, o canal via que isso acabava limitando a sua história, além de ser demasiada cara para produzir. Insatisfeito, Jerry Lieder, o então presidente da Warner Bros. Television, empresa que é até hoje detém os direitos de produção da Mulher Maravilha, acertou com o canal CBS para renovar a série para sua segunda temporada, trazendo Diana para os anos de 1970.
A segunda temporada do programa estreou com grandes mudanças criativas. Não só Diana estava nos dias atuais após retornar da Ilha do Paraíso, onde ficou por 35 anos, mas agora ela era uma agente do governo e, em um dos maiores choques, Steve Trevor estava morto. O motivo da morte da personagem nunca foi revelado, embora o ator tivesse permanecido na série, agora como Steve Trevor Jr., único filho da personagem.
No encargo programático da CBS e agora com uma temporada de 22 episódios, Wonder Woman passou a ter uma influência maior das séries policiais, que começavam a fazer enorme sucesso no canal. A produção também continuou com a política de "sem matar" da Mulher Maravilha, que era uma consequência do Código Hays – uma série de regras de censura para produções audiovisuais estabelecida em 1930.
A série, no entanto, durou apenas três temporada, quando foi cancelada mais uma vez. Embora a produção tenha sofrido uma segunda grande modificação no início do terceiro ano, afim de estabelecer uma linguagem mais jovem, como dar à sequência inicial um visual mais disco, e ter a Mulher Maravilha relocada para Los Angeles e um novo departamento, a série não conseguiu segurar a audiência, encerrando sua exibição em aberto. Wonder Woman então foi substituída por O Incrível Hulk, e Lynda Carter seguiu em carreira musical.
Tentativas Precedentes
Anteriormente à série Wonder Woman, houveram duas tentativas de levar Diana para as telinhas. A primeira, em 1967, aproveitava do gigantesco sucesso da série de TV Batman, estrelado pelo recém falecido Adam West. O produtor do programa, William Dozer, encomendou um script para um piloto, sendo reescrito por Stanley Ralph Ross, também envolvido com Batman.
A série, intitulada Who's Afraid of Diana Prince? ("Quem Está com Medo de Diana Prince?", em tradução literal), nunca chegou a ser produzida. Em um vídeo curto do piloto, feito para ser apresentado de teste aos canais, mostravam duas atrizes fazendo o papel de Mulher Maravilha: uma como a heroína, e outra como Diana Prince. Esta última era interpretada por Linda Harrison, que pouco tempo depois incorporou a personagem Nova, nos dois primeiros filmes da franquia Planeta dos Macacos.
Na porção do vídeo, divulgado na internet como um easteregg da carreira de Linda, Hipólita (Maudie Prickett), a mãe de Diana, clamava que ela se sentia envergonhada por Diana não estar casada. Embora bastante correspondente aos valores da década de 1960, um completo erro para a mitologia da Mulher Maravilha (e para todas as mulheres).

Cathy Lee Crosby interpretou a Mulher Marailha em um telefilme de 1974. No filme, ela não trajava o uniforme clássico e nem tinha superpoderes
A segunda tentativa chegou a ser exibida na televisão. Inicialmente imaginada para ser uma série, a ABC produziu um filme para a TV chamado Wonder Woman, sendo exibido em 1974. A ideia era exibir o "piloto" para ver a resposta do público, antes de dar início a uma temporada completa.
A produção, no entanto, foi um fiasco. Interpretada por Cathy Lee Crosby, a Mulher Maravilha do telefilme não usava o uniforme icônico da personagem (e sim uma espécie de vestido-austronauta-futurístico sobre uma legging), não possuía nenhuma habilidade super-humana (embora andasse por aí com uma vara de atletismo como arma), e era loira.
Com a audiência "não maravilhosa", a ABC repensou o formato, estreando, no ano seguinte, a série Wonder Woman estrelada por Lynda Carter. O telefilme de Cathy está hoje disponível na loja online da Warner Bros. como Video On Demand (Vídeo por Demanda).
Aventuras do Superboy
Quando Smallville – As Aventuras do Superboy estreou na grade da The WB, posteriormente The CW, e começou a montar a sua própria versão da Liga da Justiça, Diana era uma das personagens cotadas para fazer aparição em Pequenópolis. Unindo- -se aos personagens já estabelecidos pela série, como Oliver Queen, o Arqueiro Verde (Justin Hartley), e Arthur "AC" Curry, o Aquaman (Alan Ritchson), a Mulher Maravilha nunca chegou a visitar Clark Kent (Tom Welling).
O projeto para a aparição da personagem teve que ser cancelada devido, na mesma época, Joss Whedon estar tentando produzir o primeiro filme com a heroína. Devido a embargo da personagem, a produção de Smallville teve que se contentar em apenas fazer uma breve citação de sua existência, na décima e última temporada da série. No episódio, Chloe Sullivan (Allison Mack), melhor amiga de Clark, conta que se deparou com uma "mulher maravilhosa" durante suas buscas por outros seres poderosos.

Ainda que não tenha aparecido em Smallville, Diana participou dos quadrinhos da série, lançados após o fim da produção
Smallville, no entanto, contou com a participação de Lynda Carter. Na sexta temporada, a atriz fez uma breve participação como a mãe de Chloe.
Ela é um Avião
Em 2005, o diretor Joss Whedon, responsável por "Os Vingadores" (2012) e toda a elaboração do Universo Cinematográfico da Marvel, escreveu um roteiro para um filme de Mulher Maravilha. O projeto, que também seria dirigido por Whedon, levou alguns anos para ser finalizado e nunca chegou a ser produzido, levando o diretor a ir buscar emprego na Marvel.
A ideia inicial do filme era mostrar Diana nos tempos modernos, e contar um pouco de sua origem. Com o script nunca aprovado, o filme foi engavetado. Porém, 11 anos depois, no início do mês de junho de 2017, o roteiro vazou na internet, causando ultraje entre as pessoas.
Whedon, que também havia sido responsável pelas séries "Buffy, a Caça-Vampiros" (1997-2003), a cultuada "Firefly" (2002) e o co-roteiro de "Toy Story" (1995), havia escrito uma história bastante polêmica. Marcado como "sexista", a primeira frase faz referência a um "Ela", logo sendo revelado que, na verdade, "ela" é um avião.
Os primeiros momentos do filme diriam respeito unicamente a Steve Trevor, que no filme possuiria uma moral um tanto duvidosa e um grande rancor para com Diana. Por sua vez, Diana seria constantemente objetificada pelo sexo masculino, sendo, até mesmo, chamada de "v*dia".
A polêmica ressoou até mesmo em Patty Jenkins, responsável pela direção de "Mulher-Maravilha" (2017). A diretora comentou que "não há sentido algum em comparar o que foi feito agora com o que poderia ter sido feito anteriormente", referindo-se ao script de Joss, que agora está envolvido com o Universo Expandido da DC (UEDC).
O diretor irá dirigir o vindouro filme da Batgirl, além de estar responsável pelas filmagens adicionais de "Liga da Justiça", filme que estreia em novembro de 2017 e é dirigido por Zack Snyder, que se afastou da produção após uma tragédia familiar. Whedon também está sendo creditado como um dos responsáveis pela arquitetação do futuro do UEDC.
Quase Liga da Justiça
Um ano após a Marvel Studios dar o pontapé em seu próprio Universo Extendido Cinematográfico, com "Homem de Ferro" (2008), a DC deu início à produção de "Justice League: Mortal". O filme seria dirigido pelo incomparável George Miller, responsável pela franquia Mad Max, e traria, pela primeira vez na história, toda a Liga da Justiça reunida.
De todas as produções da DC que acabaram sendo canceladas, este foi o filme que chegou mais perto de ser filmado, tendo reunido todo o seu elenco para uma foto épica pouco tempo antes do início das filmagens. A película contava com D. J. Cotrona como o Super-Homem, Armie Hammer (que hoje é constantemente relacionado a rumores de que será um dos Lanternas Verdes no vindouro filme d'A Tropa dos Lanternas Verde e Liga da Justiça) como Batman, Adam Brody como o Flash, Commom como o Lanterna Verde, Santiago Cabrera como Aquaman e Hugh Keays-Byrne como O Caçador Marciano, Ajax. Justice League Mortal ainda teria sua própria Mulher Maravilha, que ficou a encargo da atriz Megan Cale.

Uma das raras fotos do elenco e diretor do cancelado Justice League Mortal reunido. No centro, loira, Megan Gayle, que viria a interpretar a Mulher Maravilha
A ideia do filme era um tanto polêmica. A Warner Bros. queria que a película fosse toda filmada através do processo de captura de movimentos, que resultou no bem recebido Beowulf (2007), gerando um orçamento de US$ 200 milhões para a produção. Enquanto isso, a história seria envolta na fúria de Batman com os meta-humanos, levando-o a construir um exército de robôs para ficarem no lugar dos membros da Liga da Justiça. Seu plano dá errado, e ele acaba criando em uma Legião do Mal de Inteligências Artificias, precisando da ajuda da Liga para detê-los.
Com a Greve dos Roteiristas de 2008, a Warner precisou dar um pause na produção, vendo que o roteiro precisava de ser aperfeiçoada e a greve não deixava ninguém trabalhar. Com o seu fim, o estúdio retornou a produção do filme, agora indo para o Canadá.
O filme, no entanto, foi cancelado logo depois. Um documentário sobre a turbulenta produção dofilme, com filmagens exclusivas da pré-produção e todas as artes conceituais que foram usadas para projetar o filme, foi anunciado para 2016, mas nunca chegou a ser lançado. Pôster de divulgações foram liberados ainda em 2015.
De Volta à TV?
Sem ver a luz do dia desde o fim de Wonder Woman, em 1975, a Mulher Maravilha continuou sem sorte. Agora no século 21, no final de sua primeira década, dois novos projetos prometiam dar vida para a heroína.
A primeira era Wonder Woman, que após ser rejeitada pelas maiores redes de canais, foi selecionada pela NBC para ganhar um episódio-teste. Estrelada por Adrianne Palicki, a série não passou pelo piloto de aprovação, sendo cancelada e engavetada. Enquanto Adrianne encontrava um novo emprego na ABC, como a Harpia/Bobby, em MARVEL's Agents of S.H.I.E.L.D., o episódio piloto vazou na internet pouco após o seu cancelamento. .
Nesta "reinvenção", Diana possuía três alter-egos. O primeiro deles era como a famosa Mulher Maravilha, heroína que combatia o crime e as forças do mal. O segundo era Diana Themyscira, empresária e dona-fundadora das Themyscira Industries, e que o mundo inteiro sabia ser a identidade "real" da Maravilha.
A personagem ainda assumia a identidade de Diana Prince, uma solitária mulher "do mundo real", um alter-ego que Diana sempre usava quando precisava de uma folga de sua vida corrida e de sucesso. Com o seu vazamento, o episódio foi mal recebido pela crítica e pelo público, sendo marcado como um "embaraço".

Adrianne Palicki como a heroína, nas gravações do piloto da série Wonder Woman
A segunda tentativa contemporânea, ao contrário do unaired da NBC, nunca saiu da pré-produção. Amazon, projeto da The CW, que dava os primeiros passos para estabelecer o seu império de super-heróis da DC, exploraria as origens da heroína, tendo Temíscira como seu pano de fundo.
O projeto foi iniciado em 2013, quando um primeiro script foi feito, tendo sido reescrito duas vezes, ainda em 2013 e 2014. Na época, o canal acelerou a produção de "The Flash", para que a série pudesse tomar o espaço que inicialmente seria de Amazon.
No início de 2014, o projeto foi oficialmente engavetado, "sem planos para revisita-lo no futuro". Mais tarde, uma pista foi data por Geoff Johns, que no ano passado foi anunciado como co-chefe da DC Films e responsável pelo estabelecimento do futuro da UEDC, após a má-recepção de "Batman vs Superman: A Origem da Justiça" (2016). Na época, o produtor contou que a Mulher Maravilha poderia vir a ser vista em Arrow, uma vez que Amazon se passaria no mesmo universo.
A tal aparição, no entanto, nunca aconteceu, e Diana continuou no freezer.
Diana Animada
Em contra partida à falta de sucesso em transpor Diana mais uma vez para a TV (ou fazer sua estreia nos cinemas), a personagem tem tido um bom sucesso entre os filmes animados e os desenhos. Ao longo dos anos, a Mulher Maravilha já foi vista em 16 filmes animados, entre eles o homônio Mulher Maravilha (2009), Liga da Justiça: Crise nas Duas Terras (2010),Liga da Justiça vs. Os Jovens Titãs (2016) e LEGO Batman: O Filme (2017).

O filme animado Mulher Maravilha foi lançado em 2009
A Amazona também já foi vista em várias séries animadas, como Liga da Justiça (2001-2004) e Liga da Justiça: Sem Limites (2004-2006), além de Super Amigos (1973-86).
Na televisão animada, Diana pode ser assistida em Justice League Action, da Cartoon Network. O desenho animada estreou em dezembro de 2016, com 52 episódios programados para a sua primeira temporada.
O Alvorecer da Justiça
Com todas as tentativas de levar Diana de volta a TV, o mundo parecia nunca mais ter a chance de se (re)apaixonar pela personagem. Porém, com o início do Universo Cinematográfico da DC, com "O Homem de Aço" (2013), as chances de a Mulher Maravilha voltar a ser adaptada aumentaram.
O sucesso moderado do filme estrelado por Henry Cavill no traje do icônico Super-Homem animou a Warner Bros. e a DC em montar, pela primeira vez na história, a Liga da Justiça. O primeiro passo pela essa empreitada ambiciosa foi Batman vs Superman: A Origem da Justiça.
Lançado em 2016, o filme dirigido pelo visionário (e pouco compreendido/amado) Zack Snyder, também diretor de O Homem de Aço, trouxe um duelo sem precedentes entre o Super-Homem e o Batman. Interpretado por Ben Affleck, o Morcego foi reapresentado em uma roupagem baseada na versão mais velha de Bruce Wayne, vigilante de Gotham City há mais de 20 anos. A película também deu a oportunidade de outros membros de Liga fazerem uma aparição, como o Aquaman (Jason Momoa), o Flash (Ezra Miller) e o Ciborgue (Ray Fisher), que serão os heróis dessa primeira geração da Liga da Justiça.
"Batman vs Superman" também deu ao mundo o que já se esperava há quase 40 anos. Diana fazia seu majestoso retorno para o mundo live-action, agora no corpo da israelita Gal Gadot, que era conhecida pela grande público por seu papel como Gisele Yashar, em três filmes da franquia Velozes & Furiosos. Nesta nova versão, a Princesa de Temíscira havia se aposentado há 100 anos, após perder a fé na humanidade.
No filme de Zack Snyder, Diana possui uma armadura mais cromada, e mais acabada devido o passar do tempo. As cores, extremamente opacas, marcam a lembrança do que um dia foi a Mulher Maravilha, animada em estar no Mundo dos Homens e acabar com a "a Guerra para acabar com todas as Guerras".
Mulher-Maravilha
Foram necessários 75 anos de história para que a Mulher Maravilha pudesse ganhar o seu próprio filme, de uma vez por todas. A película é o resultado de um trabalho árduo da Warner Bros./DC em estabelecer o seu próprio Universo Cinematográfico, em resposta ao gigantesco sucesso do Universo Cinematoráfico da Marvel (o UCM,ou MCU em inglês).
Dirigido por Patty Jenkins, Mulher-Maravilha chegou às telonas estabelecendo recordes e sendo um marco para os filmes de heróis com protagonistas femininas no geral. Lançado em 2017, o filme é estrelado por Gal Gadot como a Mulher Maravilha.
Nessa visão, Patty apresenta ao mundo a Ilha do Paraíso, estabelecendo os primeiros anos de vida de Diana, filha de Hipólita (Connie Nielsen). A princesa, a única criança da ilha de mulheres e superprotegida pela rainha, está constantemente tentando ter o mesmo treinamento de uma Amazona. Quando finalmente consegue, é sua tia Antíope (Robin Wright) que fica responsável pelo seu treinamento, afim de torná-la a "melhor Amazona já vista", extrapolando até mesmo os dotes de sua tia, a maior guerreira até então.
Quando o jovem Steve Trevor (Chris Pine) cai na Ilha, após um acidente fugindo das tropas da Alemanha Nazista durante a Segunda Guerra Mundial, Diana parte junto a ele para o Mundo dos Homens, afim de derrotar Ares e acabar com a Guerra. A Amazona, no entanto, parece um tanto ingênua para Steve, que não acredita em toda a história do Deus da Guerra estar por trás do horror que presenciou.

Como Amazona, na Ilha do Paraíso/Temíscira, Diana (Gal Gadot) impõe o escudo e a espada Matadora de Deuses. No lado direito, está sua mãe Hipólita (Connie Nielsen) e sua tia Antíope (Robin Wright), respectivamente a Rainha e a General das Amazonas
É no meio do horror humano que Diana encontra a sua verdadeira vocação. Disposta a ajudar todos aqueles que não pode se defender sozinho, a princesa adota o manto de Mulher-Maravilha, mostrando força inabalável, enquanto os homens tentam contê- -la a ver que não é possível derrotar a força Nazista. Diana, filha de Hipólita, não está para brincadeiras. O longa se transformou em um sucesso de bilheteria instantâneo, arrecadando US$ 223 milhões mundialmente em seu primeiro fim de semana, com um orçamento de US$ 149 milhões. Batendo todos os filmes da Marvel já lançados e tornando-se o filmede super-herói mais bem avaliado pelos críticos no Rotten Tomatoes, um agregador de críticas especializada, o filme levou apenas três semanas para ser o segundo melhor desempenho da história da DC, ficando atrás apenas de Batman: O Cavaleiro das Trevas. Mulher-Maravilha também colocou a diretora Patty Jenkins no topo da lista de melhor estreia em filmes dirigidos por mulheres.
A crítica também destacou o sucesso do longa, que foi apontado como o melhor filme de super- -herói desde a trilogia Batman, dirigida por Christopher Nolan. Batman Begins (2005), Batman: O Cavaleiro das Trevas (2008) e Batman: O Cavaleiro das Trevas Ressurge (2012) foram um estrondoso sucesso, arrecadando mais de US$ 2,3 bilhões em bilheteria.
A escolha da israelense Gal Gadot para interpretar a heroína foi fervorosamente criticada no início, principalmente pela falta de seus atributos mamários e o uniforme que viria a usar em Batman vs Superman. Porém, sua performance no filme de Zack Snyder acabou com qualquer dúvida, estendendo-se para o de Jenkins. Sua atuação, que foi fortemente marcada pelas expressões de ingenuidade, surpresa, incredulidade, esperança e compaixão arrebataram todos aqueles que assistiram à película. Gal, que serviu o exército e foi Miss de seu país, passa a impressão de ser a Mulher Maravilha na/da vida real.
Sobre Representação
O filme de Jenkins acerta na construção da personagem, trazendo uma Diana extremamente cativante, forte, doce, poderosa, inocente, decidida e curiosa. A identificação do público com a personagem provavelmente vem do fato de que, mesmo sendo uma semideusa superpoderosa, ela é uma pessoa complexa como qualquer ser humano.
O simples fato da existência de Diana contrapõe a crítica recorrente de que as personagens femininas não dão bilheteria. Com Mulher-Maravilha, que até o momento já conta com mais de US$ 660 milhões de arrecadação em menos de um mês em exibição, fica estabelecido que uma mulher não precisa de um protagonista masculino para existir, mesmo que as inteirações entre a personagem e Steve Trevor tenham se mostrado bastante orgânicas.
É perceptível que estamos vivendo em um mundo onde a posição de coadjuvante ou mero interesse amoroso não corresponde mais ao papel feminino na sociedade. Portanto, um filme como esse já era mais do que necessário e vinha sido cobrado pelo público. Assim como Mulher-Maravilha abriu caminho para as mulheres nos quadrinhos, espera-se agora que o seu sucesso no cinema abra precedentes para outros filmes protagonizados por heroínas e inicie uma era de mais representatividade, para que garotas do mundo todo tenham uma figura forte e destemida em quem se inspirar.

Sem o Super-Homem (Henry Cavill) devido a eventos de “Batman vs Superman: A Origem da Justiça” (2016), Diana completa a primeira formação de Liga da Justiça (2017), que também conta com o Batman (Ben Affleck), Aquaman (Jason Momoa), Flash (Ezra Miller) e Ciborgue (Ray Fisher)

Com toda a história da Mulher Maravilha nos quadrinhos, que esse ano completou 75 anos desde sua criação, toda sua dura jornada pela televisão, e o seu sucesso estreando nos cinemas pela primeira vez, a personagem mostra-se mais forte do que nunca. Empenhando o seu Laço da Verdade, utilizando seus braceletes, com a tiara na cabeça e vestindo a bandeira dos EUA, Diana tem chão pela frente.
Gal Gadot retorna para as telas de cinema no final do ano, com Liga da Justiça. Como parte da Trindade da DC, ao lado do Super-Homem e do Batman, e uma das fundadoras da Liga, Diana está empenhada em ajudar Bruce a reunir todos os meta-humanos que Lex Luthor vigiava em Batman vs Superman, ao mesmo tempo em que dá uma nova chance para a humanidade e volta a vestir o seu icônico uniforme, abandonado anos atrás. As Amazonas também retornam, em flashbacks que buscam estabelecer uma conexão com o vilão da história, o Lobo da Estepe (Ciarán Hinds), tio de vilão Darkseid.
Devido ao sucesso comercial e de crítica de Mulher-Maravilha, a produção do segundo filme já foi confirmada. Patty Jenkins retorna parao projeto, mas sem confirmação oficial de que ela irá dirigi-lo. Sabe-se, no entanto, que na vindoura película, Dianadeve fazer a sua esperada ida aos Estados Unidos, e o público deve ter um generoso vislumbre no icônico Jato Invisível.
Resta agora, aos meros mortais, não-filhos de Hipólita, esperar os próximos capítulos desta animadora e esperançosa história. Uma coisa é certa: teremos bastante Mulher Maravilha pela frente. //