3 minute read

Acontecimentos da infância que refletem na vida adulta

De acordo com o médico especializado em homeopatia Andrei Moreira, todos trazemos dentro de nós uma criança ferida pelas circunstâncias que vivemos no ambiente familiar, pelas posturas de falta ou de excesso dos pais e responsáveis diretos; pelos abusos sofridos ou negligências experimentadas, bem como pelos contextos familiares a que fomos submetidos.

“Para sobreviver a esse contexto potencialmente lesivo, ameaçador ou traumático, desenvolvemos defesas psicológicas, reatividades emocionais e padrões de comportamento que vão sendo automatizados e de nirão a maneira de nos relacionarmos na vida adulta, conosco mesmos, e em todas as relações. Essas defesas cam ativas a vida toda e podem ser amenizadas quando a pessoa mergulha em sua história e começa um processo de autoconhecimento, integração das experiências, ressignicação e liberação emocional, permitindo a consciência das necessidades pessoais, o desenvolvimento da autonomia da vida adulta e a construção de novos modelos relacionais. Nesse processo, é fundamental que a parte adulta que existe em nós assuma o comando, acolha a parte infantil, vulnerável e fragilizada, ofertando-lhe carinhosamente o que ela necessita e se tornando o seu próprio pai e a sua própria mãe, o que também libera a pessoa para olhar para os pais com mais leveza e liberdade de amar”, disse.

Sobre pais e lhos poderem ser amigos e os riscos ou benefícios disso, o especialista contou que pais e lhos são muito mais que amigos, pois os pais são referências e modelos no processo do desenvolvimento dos lhos.

“A ordem familiar ocupa um papel fundamental que não deve ser invertido. A inversão de ordem tem graves consequências, conforme demonstra a constelação familiar. Quando os lhos veem os pais em nível de igualdade, tendem a não respeitá-los como autoridade e a se atribuírem papéis que não lhes competem, por amor cego. Frequentemente vemos lhos no meio da relação de casal dos pais, tomando partido nas questões e temas que só dizem respeito ao homem e à mulher ou se comportando como pais dos pais, na fantasia de “salvação”, cura ou educação dos pais. Isso leva os lhos a perderem a referência de segurança, a se sobrecarregarem com posturas de cuidado, o que os deixa indisponíveis para a própria vida, muitas vezes”, disse.

No entanto, conforme Andrei, quando os pais ocupam o seu lugar na ordem familiar e liberam os lhos para suas próprias vidas, conectados com afetividade, orientação, suporte

“Perdão é libertação pessoal quando deixamos o lugar de vítimas e passamos ao de autores da nossa própria história. Não temos poder sobre os acontecimentos, mas podemos mudar a narrativa e seus efeitos, pela mudança da interpretação e da postura interior. Isso não signi ca negar as dores e feridas interiores, mas assumir a autonomia do autocuidado e se ofertar, agora, aquilo que se necessita, o que tem um forte efeito liberador.” e estímulos adequados a cada fase da vida, os lhos uem com mais leveza, dinamismo e segurança para seus próprios destinos, conquistas e realizações na vida.

Segundo Andrei, o amadurecimento emocional, o passar do tempo e as novas vivências – como se tornar pai e mãe, por exemplo – também permitem ampliar a consciência sobre o que foi vivido, perceber as exigências infantis que ainda estão ativas em nossos corações e ter uma noção mais adequada do que verdadeiramente necessitamos.

“Para que os pais façam isso, precisam estar no seu lugar, na ordem com os seus próprios pais, o que requer, na maioria das vezes, cuidar das suas raízes – conexão com a força dos seus pais e sistemas –, através da honra e da gratidão, e acolher a sua própria criança interior ferida.”

No caso dos lhos e pais que precisam passar por um processo de perdão, o especialista falou que isso é possível ressigni cando o olhar para as circunstâncias e vivências.

“Os pais também trazem uma criança interior ferida, com suas defesas, reatividades e, muitas vezes, não estão livres para ofertar aos lhos aquilo que estes queriam ou precisavam. Compreender e decidir dar a si mesmo o que se precisa é libertador. Mais importante que o perdão é a reconciliação. Esta representa uma percepção interior do essencial, uma postura de respeito e gratidão pela vida e uma profunda conexão de honra e força com os pais e tudo que eles representam”, naliza.

Andrei Moreira é diretor voluntário da ONG Fraternidade sem Fronteiras, membro da Associação Médico-Espírita de Minas Gerais (AmeMG), da qual foi presidente de 2007 a 2019, e preceptor do Internato em Atenção Integral à Saúde da Faculdade de Medicina da Universidade de Alfenas, campus Belo Horizonte, no período de 2008 a 2012. É autor dos livros: “Atitude – re exões e posturas que trazem paz”; “Reconciliação: consigo mesmo, com a família, com Deus”; Cura e autocura: uma visão médico espírita” e “Homossexualidade sob a ótica do espírito imortal”.