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Intensificação: um caminho inevitável

Em um contexto geral, a pecuária brasileira é caracterizada por apresentar baixos índices produtivos e, consequentemente, baixos resultados econômicos quando comparado com outras opções de uso da terra. Isso não é surpresa para ninguém, pois já vem sendo apresentado em relatórios publicados por diversas instituições que fazem levantamentos estatísticos deste setor a bastante tempo.

O último relatório publicado pela ABIEC (Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes) mostra que, apesar do aumento do peso de carcaça dos animais abatidos e de uma redução na idade de abate de machos, a nossa produtividade nacional ainda está próxima dos 60 kg de carcaça/hectare/ano. Número ainda muito aquém do nosso real potencial, como mostram alguns projetos em fazendas comerciais produzindo mais de 100 @/hectare/ano.

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Em muitas regiões do país a pecuária ainda é uma atividade executada sob baixo nível gerencial, em que os indicadores técnicos e econômicos inerentes a cada sistema de produção são inadequadamente mensurados ou não se mensura nada. Parte dessa cultura, se deve, ao fato de muitos pecuaristas trazerem consigo uma ideia de crescimento horizontal do negócio. Isso foi interessante até a década de 90, porque as terras se valorizavam muito e era uma maneira do pecuarista proteger seu patrimônio contra as altas taxas de inflação, investindo em ativos reais como a terra e gado. Acontece que, o jogo virou após a estabilização da moeda com o plano real.

Situações de investimento que ocorreram no passado, como a aquisição de terras em regiões de fronteira devido às perspectivas de valorização patrimonial espe- rada, hoje já não ocorrem da mesma forma. A taxa de valorização do imóvel diminuiu, e por isso, as vezes se torna necessário intensificar a produção para justificar o capital imobilizado nos bens. Além do mais, os custos de produção da pecuária têm aumentado em proporção superior à receita e à inflação. E a reposição tem aumentado significativamente, reduzindo a relação de troca bezerro: boi gordo ou garrote: boi gordo.

Essas condições têm pressionado os pecuaristas a melhorarem o sistema produtivo, devido à forte participação do ágio nos custos de produção da recria e engorda. Situações como esta foram tema de um trabalho de longo prazo (de 1910 a 1986) avaliando a evolução da situação econômica da agricultura americana e tomando como base os termos de troca do setor, a evolução da produtividade e o poder de compra do produtor americano. Este trabalho mostrou que, enquanto os termos de troca reduziram quase duas vezes, a produtividade da agricultura triplicou, o que influenciou para aumentar o poder de compra mais que 50%.

Isso ocorre porque o produtor se vê em uma situação em que é obrigado a adotar tecnologias para aumentar sua escala de produção diluindo seus custos fixos e, consequentemente, para manter o padrão de vida e lucratividades ou aumentá-las. É nítido que a pecuária vem perdendo espaço no campo. A baixa produtividade individual (GMD ou litros de leite/cab/dia) e por área (@/ hectare/ano ou litros/hectare/ano) e os altos custos da pecuária tradicional transformou a atividade em um negócio para poucos.

Diante disso, é necessário que o produtor abandone a posição tradicional de pecuarista sitiante para assumir o papel de empresário visando a verticalização do seu sistema de produção para garantir o lucro na atividade. Infelizmente, devido à sua cultura tradicionalmente extrativista em relação à pecuária, muitas vezes o produtor demonstra bastante interesse e é facilmente convencido a utilizar sistemas de produção animal baseados apenas na fertilidade natural dos solos e na reciclagem de nutrientes promovida pela rotação dos animais nas pastagens.

Também se acredita, desde a formação universitária, na ideia de que solos com restrições severas e/ou com baixa fertilidade natural são indicados para pecuária. Esses conceitos sobre baixas exigências nutricionais levam produtores e técnicos a alimentarem expectativas de obtenção de resultados satisfatórios, rápidos e de baixo custo, a partir de pastagens estabelecidas em solos pobres. Desde a década de 70 trabalhos vem sendo feitos por vários técnicos, pesquisadores e instituições mostrando o alto potencial produtivo das forrageiras tropicais.

Muitos técnicos e produtores rurais assimilaram bem os sistemas intensivos de produção animal a pasto, no entanto, ainda existe muita resistência e questionamento sobre a viabilidade técnica e econômica da intensificação desse sistema de produção pecuário. A baixa produtividade animal a pasto é resultado de uma série de fatores que combinados levam à degradação das pastagens, entre esses fatores podemos destacar: a escolha de cultivares não adaptados às condições edafoclimáticas da região, práticas inadequadas de plantio, a falta de correção e/ou adubação dos solos, o manejo do pastejo incorreto, a infestação de plantas invasoras, o ataque frequente ou severo de pragas de pastagens, entre outros.

Dentre todos esses fatores, a baixa fertilidade dos solos brasileiros ou a não reposição adequada de nutrientes via fertilizantes destacam-se como os principais fatores para a degradação das pastagens como já mostrado em vários trabalhos desde a década de

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deixar claro que qualquer estratégia adotada dentro do sistema que impacte positivamente a produtividade da fazenda, é considerado uma ação de intensificação.

É mais comum a divulgação de trabalhos sobre intensificação pecuária com o uso de insumos, como suplementação nutricional estratégica, correção e adubação de pastagens, irrigação de pastagens e protocolos sanitários. No entanto, também contribui para a intensificação ações como, o manejo do pastejo, manejo reprodutivo e o melhoramento genético animal. Devido às diversas condições que temos no país, é necessário entender que cada estratégia de intensificação deve ser adequada às condições sociais, ambientais, operacionais, mercadológi- cas e de logísticas de cada local. Cada caso deve ser diagnosticado e estudado para adotar o melhor caminho para a intensificação do projeto.

Os dados que apresentarei abaixo são de um projeto que desenvolve a atividade de ciclo completo (cria, recria e engorda) de animais da raça Nelore no agreste sergipano e mostra um comparativo entre os resultados alcançados no ano de 2021 e 2022. São três propriedades que trabalham de forma integrada e estão situadas nos munícipios de Simão Dias e Lagarto. A precipitação média histórica de Lagarto é de 1.120 mm e a temperatura média anual é de 24,5°C na série histórica de 1961 a 1990, segundo dados do INMET

Esses resultados estão sendo alcançados por meio de um conjunto de ações realizadas em vários setores, como: manejo do pastejo visando alto desempenho animal e otimização da forragem produzida; programa de monitoramento e controle de pragas e plantas invasoras; melhor apartação de lotes visando a máxima uniformização; ajuste da suplementação do rebanho conforme as condições do ano; sanidade sempre em dia; avaliação de animais para reprodução; adequações de infraestrutura e gestão zootécnica.

Por fim, é importante ressaltarmos que a pecuáriaassim como qualquer outro negócio - demanda planejamento de longo, médio e curto prazo. Trabalhar com estes três níveis de planejamento durante a execução de um projeto é fundamental para garantir a sobrevivência nesta atividade, pois assim, é possível avaliar tecnicamente e economicamente qualquer adoção de tecnologia e/ ou investimento, executar cada etapa operacional no momento correto e mitigar os riscos inerentes à atividade.