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Revista Oxente! - 5ª Edição

A EMOÇÃO VIVA DA BANDIDA

Por Nayara Melo e Glayson Costa

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Famílias reunidas nas calçadas. Crianças brincando. Ruas decoradas já em clima de carnaval. Mais ao fim da rua o som das marchinhas carnavalesca se mistura às vozes que, cantando em um mesmo ritmo, continuam atraindo atenção do público que assistia um grupo de foliões passando pelas tradicionais ruas Pires de Castro, Coelho de Rezende e 24 de janeiro.

O tênis, meia, short curto, camiseta e pochete usados naquele janeiro de 1988, somada a uma alegria contagiante que atraia multidões por onde passavam ainda estão guardadas na memória de Último Coelho, um dos fundadores do pequeno grupo que era composto inicialmente por quatro amigos (três deles irmãos) e outros conhecidos. A alegria contagiante foi se espalhando até se tornar um dos maiores e mais tradicionais blocos de carnaval de Teresina, a Banda Bandida. O nome que surgiu de maneira quase que aleatória em uma das conversas do grupo de amigos em uma das mesas do bar Fundo de Quintal e rapidamente caiu na boca do povo.

“A gente tinha apenas uns instrumentos de sopro e se concentrava no Fundo de Quintal. Como sempre fazíamos eventos que atraíam muitas pessoas e na época não estava acontecendo os desfiles de Carnaval, eu junto com os meus irmãos, Galba e Ivaldo, e com um amigo, o Leal Filho, organizamos com a intenção de fazer alguma coisa diferente. Percebemos que muitas pessoas nos acompanharam e nos sábados seguintes a adesão se tornou maior”, disse.

Arquivo Pessoal Último Coelho

Nessas mais de três décadas de história o endereço permaneceu o mesmo. Com início no último sábado do ano e indo até o sábado de Zé Pereira, o movimento surgiu como uma alternativa àqueles apaixonados pelo calor humano, e que entre a cerveja e o pó de maisena, não deixaram as tradicionais marchinhas de carnaval caírem no esquecimento.

A prévia carnavalesca começou como brincadeira e passou a percorrer as ruas de Teresina, espalhando alegria e diversão para multidões de todos os cantos da cidade e até mesmo de quem vinha de fora do Piauí. O bloco é responsável por formar vários casais que se conheceram na folia e amizades que perduram até hoje.

“São muitas amizades, foram muitos namoros e histórias engraçadas. Existem pessoas que se conheceram aqui e que estão juntas até hoje”, continuou Último Coelho.

Músicos de todas as idades subiam em cima de caminhões de som para tocar instrumentos de sopro que, de forma coordenada, davam vida às músicas, como “Cabeleira do Zezé”, “Abre Alas” e tantos outros clássicos que marcaram gerações, e que ficaram eternizadas na memória do policial civil José Augusto de Sousa Júnior e de tantos outros foliões. A preparação do sábado festivo de José Augusto começava já nas primeiras horas do dia, espalhando confetes e bebendo uma cerveja gelada enquanto esperava ansiosamente pelo pôr do sol, momento em que encontraria os seus amigos. Enquanto colocava o isopor com gelo e cerveja dentro carro, na companhia da sua namorada, escutava as marchinhas de carnaval para aquecer e ir entrando no clima.

Arquivo Pessoal Último Coelho

“Como eu chegava cedo para achar uma boa vaga de estacionamento, já deixava o isopor dentro do carro. Levava copos de plástico e levava o meu isopor para perto de onde os meus amigos e a minha namorada estavam”, contou. Ao fim da tarde, os caminhões, ao som dos instrumentos, começavam a percorrer as ruas, atraindo ainda mais pessoas para a pequena multidão, que aos poucos, iniciavam o percurso com um sorriso no rosto. Mas como nem tudo são flores, na memória de Augusto, lembranças de uma das noites de folia na Rua 24 de Janeiro em que percebeu que havia perdido o seu celular ou na verdade o celular havia encontrado outro dono sem ele perceber.

“Meus amigos estavam do outro lado da rua, próximo ao colégio Dom Barreto. Nessa noite eu cheguei um pouco tarde e meus amigos já estavam lá. Quando eu tentei atravessar a multidão, coloquei meu celular no bolso, mas quando cheguei perto dos meus amigos percebi que o meu celular já não estava comigo. E como eu já estava lá mesmo não deixei me abalar e continuei na folia” lembrou José Augusto.

Arquivo Pessoal Último Coelho

A prévia carnavalesca que um dia foi composto por várias pessoas hoje se mantém distante das ruas pela falta de patrocínio. Vivendo com incerteza e sem saber como vai continuar a organização do evento após a pandemia, ficam na memória os bons momentos vividos por Augusto no bloquinho e lembranças de 2020, quando estava de plantão no seu trabalho e não pôde registrar presença no evento que frequentava desde 2014.

O crescimento da cidade e a falta de segurança manteve o principal atrativo, que era o público, distante do palco principal. Novos blocos foram surgindo em outros cantos da cidade e assim criou-se um concorrente invisível para a Banda Bandida, que hoje voltou a ser realizada de forma reduzida, após dois anos de pandemia, e persistindo como pequenos grupos de foliões que, somados ao som de uma boa música, se recusam deixar a folia acabar e ainda levam muita diversão por onde passam.◢

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