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AVICULTURA EM ALERTA Influenza Aviária preocupa avicultores brasileiros

“Nós estamos com a avicultura brasileira em alerta máximo. As últimas notícias dão conta que a enfermidade está próxima às fronteiras do país, algo em torno de 180 quilômetros”. Essa é a declaração de Nélio Hand, diretor-executivo da Associação dos Avicultores do Estado do Espírito Santo (Aves), se referido à influenza aviária, que tem se alastrado por países da América do Sul.

Tanta preocupação tem motivo. Afinal, o Brasil é o maior exportador de frango do mundo, com uma produção anual estimada em 14,5 milhões de toneladas, segundo dados da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA). Desse total, 4,8 milhões de toneladas ganharam o mundo, em 2022. E a presença da influenza aviária nas proximidades do território brasileiro assusta os avicultores. Até o fechamento desta reportagem, no final de março, a doença não havia sido identificada no Brasil.

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Em 2023, já foram confirmados casos na Argentina e no Uruguai. E a doença está presente também na Bolívia, Peru, Colômbia, Venezuela, Chile e Equador. “Aqueles avicultores que estão mais ao Sul do Brasil estão mais apreensivos e as autoridades estão tomando as devidas providências para evitar a entrada da influenza aviária no país e fechando o cerco, mas o setor já vem se prevenindo desde o segundo semestre do ano passado, redobrando a segurança, alertando os avicultores para que fechem as granjas para acesso de pessoas estranhas e veículos de fora para que a produção não tenha contato com aves silvestres migratóriasprincipais transmissoras da enfermidade”, explica Hand.

O Brasil nunca registrou influenza aviária em seu território. A doença, também conhecida como gripe aviária, é considerada de alto risco para aves quando causada por subtipos de vírus altamente patogênicos. Nestes casos, caracteriza-se como uma doença grave, de notificação obrigatória aos órgãos oficiais nacionais e internacionais de controle de saúde animal, acarretando em barreira sanitária para a comercialização de produtos avícolas no mercado interno e externo e em enorme prejuízo econômico para a avicultura comercial.

ESPÍRITO SANTO - O Instituto de Defesa Agropecuária e Florestal do Espírito Santo (Idaf) uniu esforços com o Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) e com a Aves, para a adoção de medidas preventivas para evitar a entrada da influenza aviária no Estado.

Além de todo o trabalho de fiscalização das condições de biosseguridade das granjas, também está acontecendo o atendimento das notificações. O Idaf executa, em coordenação com todos os órgãos de defesa sanitária do Brasil, o plano de vigilância ativa preconizado pelo Mapa. Nesse plano, o instituto coleta amostras de aves em vários municípios e envia para análise no Laboratório Federal de Defesa Agropecuária (LFDA-SP). Apenas no segundo semestre de 2022, foram coletadas 585 amostras.

Os secretários de Agricultura, Pecuária e Abastecimento de sete

Nélio Hand - Diretor-executivo da Associação dos Avicultores do Estado do Espírito Santo (Aves)

Estados participantes do Consórcio de Integração Sul e Sudeste (Cosud) – Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, São Paulo, Rio de Janeiro, Espirito Santo e Minas Gerais –, estiveram reunidos na cidade do Rio de Janeiro, no início de março, para elaborar um documento com medidas de prevenção à influenza aviária de alta patogenicidade no território nacional.

Eles pedem a criação de um comitê de crise, com a participação do Mapa e dos representantes dos Órgãos Executores de Sanidade Agropecuária nos Estados (OESAs), para estabelecer as estratégias conjuntas, provendo os Estados com recursos financeiros suficientes para a detecção precoce e a resposta rápida em caso de ocorrência de foco de influenza aviária. Os sete Estados que assinaram o documento concentram mais de 90% das aves comerciais do país.

PROTEÇÃO - De acordo com a ABPA, a primeira linha de defesa contra a influenza aviária é seguir as medidas de biosseguridade nas granjas impostas pela Instrução Normativa nº 56, de 4 de dezembro de 2007, do Mapa, visando limitar a exposição aos riscos de entrada do vírus, principalmente, o contato com aves silvestres.

Entre as orientações práticas aos produtores estão: usar roupas e calçados limpos ao entrar nos núcleos; desinfecção de veículos e materiais que acessem a granja; após viagens ao exterior, a pessoa deve cumprir o período obrigatório de quarentena de 14 dias sem visitas as instalações; evitar o contato dos animais das granjas com outras aves, especialmente aves silvestres e verificar rotineiramente a integridade das telas e cercas dos aviários.

SINAIS CLÍNICOS - Uma das formas de prevenção está na observação das aves no dia a dia nas granjas, por isso, é importante que o produtor esteja atento aos sinais clínicos apresentados pelos animais. “Tosse, espirro, bico aberto, dificuldade respiratória e secreção nasal; inchaço da cabeça; torcicolo; andar cambaleante; depressão intensa; diarreia aquosa esverdeada ou branca e desidratação; mortalidade alta e súbita com ou sem sinais clínicos; queda de postura, produção de ovos deformados e com casca fina; queda no consumo de água e alimento e cristas e barbelas arroxeadas são sinais de alerta para a doença”, explica Hand. Outros fatores de risco que contribuem para a transmissão da in - fluenza aviária são a globalização e o comércio internacional, mercados e feiras de vendas de aves vivas, falhas de biosseguridade nas granjas e as criações de aves para consumo próprio, que acabam estando mais desprotegidas.

NOTIFICAÇÃO - No Espírito Santo, os casos suspeitos ou a identificação de mortes anormais, devem ser notificadas obrigatoria¬mente ao Idaf. A comunicação pode ser feita por qualquer pessoa, pelo sistema e-sisbravet, por telefone ou e-mail de qualquer unidade do Idaf, ou pessoalmente. Em caso de identificação de aves doentes, ou, alta mortalidade de aves, não se deve tocar nas aves, para evitar o contato com a doença.

MORTE - A Organização Mundial da Saúde (OMS) confirmou a primeira morte por gripe aviária no mundo: uma mulher, de 56 anos, moradora da província de Guangdong, na China. Ela começou a apresentar sintomas em 22 de fevereiro. No dia 3 de março, ela precisou ser hospitalizada em razão de uma pneumonia grave e morreu no dia 16 do mesmo mês. No dia 27 do mesmo mês, o governo chinês confirmou que a paciente foi infectada pelo vírus H3N8, causador da gripe aviária.

Integração lavoura-pecuária acumula níveis superiores de carbono no solo

Estudo registrou taxas anuais de acumulação do elemento de 0,9 tonelada por hectare

Uma pesquisa da Embrapa Arroz e Feijão (GO) estimou a taxa de acúmulo de carbono em solo de cerrado considerando sistema de integração lavoura e pecuária (ILP) comparado ao sistema de sucessão de cultura de grãos (soja-milho), tanto em plantio direto quanto em plantio convencional. O resultado aponta para um incremento de carbono retido no solo em ILP, ao longo de 20 anos, projetados para o período entre 2019 e 2039.

A projeção do acúmulo de carbono foi estipulada para o perfil de solo até a profundidade de 30 centímetros e o resultado é que os maiores valores de carbono acumulado foram para os sistemas em ILP, em plantio direto, sendo que dois arranjos (ILP1 e ILP2) apresentaram taxa de acúmulo de carbono no solo entre 0,60 e 0,90 toneladas por hectare ao ano.

Isso representa um aumento em mais de três vezes de carbono retido no solo, quando comparado aos mais altos desempenhos dos sistemas de sucessão entre soja e milho, que alcançaram taxa de acumulo de carbono no solo em torno de 0,11 e 0,21 tonelada por hectare ao ano em plantio direto.

TRABALHO - O estudo valeu-se da série histórica de dados de plantio e manejo de área em ILP na Fazenda Capivara, pertencente à Embrapa e localizada em Santo Antônio de Goiás (GO). O banco de informações de manejo registrado desde 1990 abasteceu um modelo, conhecido por CQESTR, que simula o comportamento de carbono em solo de lavouras e é utilizado para projetar como diferentes práticas de manejo afetam a dinâmica do carbono.

No trabalho, dois sistemas em ILP foram simulados dentro do CQESTR e repetidos ao longo do tempo de avaliação. O primeiro (ILP1) incluiu o cultivo do milho na safra de verão seguido de quatro anos e meio de pastagem de braquiária. O segundo (ILP2) foi de soja na safra de verão, sucedida por pousio (descanso do solo) no primeiro ano, com posterior semeadura de arroz de terras altas, seguida de pousio novamente no segundo ano; e em sequência o plantio de milho com, por fim, três anos e meio de pastagem de braquiária. Em relação à sucessão de culturas (soja-milho), foram consideradas alternâncias de cultivos anuais no verão, assim como com períodos de pousio; ou ainda sucessões entre as duas culturas (safra e safrinha).

Pesquisadora da Embrapa, Beáta Madari é uma das responsáveis por esse trabalho. Ela contou que esse resultado vai ao encontro de outros estudos da área e pode ser explicado pela presença da forrageira braquiária que apresenta forte enraizamento em profundidade no solo, o que além de reciclar nutrientes, ajuda a aumentar o estoque de carbono no sistema pelo aporte de biomassa radicular e também aérea em sistemas ILP.

Ainda segundo Madari, uma taxa de acúmulo de carbono de 0,9 tonelada por hectare ao ano surpreendeu os pesquisadores, pois trata-se de um valor alto levando em consideração a situação diagnosticada inicialmente nas condições da fazenda da Embrapa em Goiás, que apontou para um solo argiloso

(mais de 50% de argila) e com teor entre baixo e médio de carbono, aproximadamente 2%.

MERCADO DE CARBONO - A taxa anual de acúmulo de carbono em ILP, em plantio direto, obtida nesse trabalho, traz também novos elementos para o debate científico. De acordo com o pesquisador da Embrapa Pedro Machado, existem outros estudos que chegam a valores até maiores de captura de carbono em ILP: taxas anuais de acúmulo de até uma tonelada por hectare ao ano. Porém, segundo o cientista, são pesquisas conduzidas geralmente em pequena escala, em parcelas, e com duração de poucos anos ou safras. Nesse sentido, ele ponderou que o uso do modelo CQESTR foi um diferencial.

“Essa ferramenta de simulação foi fundamental, pois nos permitiu utilizar virtuosamente a base de dados de quase 30 anos sobre os cultivos na fazenda da Embrapa e projetar ao longo do tempo a dinâmica de acúmulo de carbono em função do preparo de solo e manejo agrícola. Com isso, podemos estender o tempo de análise sobre o efeito da ILP em relação ao sequestro de carbono e alcançar um resultado que acreditamos predizer melhor o comportamento do sistema de produção”, comentou o pesquisador.

Machado complementou que o CQESTR é um programa empregado para investigações científicas dentro e fora do Brasil, só que aqui no país foi utilizado apenas para situações em regiões tropicais do Nordeste e Sudeste e que agora foi testado e aprovado para as condições do bioma Cerrado.

Outra questão mencionada pelo pesquisador foi que o estudo, além de abrir a possibilidade de quantificar mais apuradamente o acúmulo de carbono por um sistema de produção agrícola, permite projetar o quanto de carbono será armazenado pelo solo. Nesse trabalho, por exemplo, a projeção foi estipulada para o período de 2019 a 2039.

Essa perspectiva, conforme Machado, a pesquisa é inserida como um ponto de apoio e de qualificação para o debate que vem sendo feito no Brasil sobre a regulamentação de um mercado de crédito de carbono, assim como para o estabelecimento de estratégias fundamentais para a sustentabilidade da agropecuária e para o desenvolvimento de políticas públicas nacionais.

O estudo que foi realizado é parte da tese de doutorado defendido na Universidade Federal de Goiás (UFG) pela pesquisadora Janaína de Moura Oliveira intitulado: “Carbono no solo em sistemas integrados de produção agropecuária no Cerrado e na transição Cerrado – Amazônia”. Esse trabalho contou ainda com participações do escritório da Embrapa Labex-Estados Unidos e Universidade do Arkansas (UARK), dos Estados Unidos.

SAÚDE PARA O SOLO - Na pesqui- sa realizada, o acúmulo de carbono no solo para todas as situações, seja em ILP, seja em sucessão de culturas, foi maior em plantio direto, em comparação aos sistemas de preparo convencional do solo (aração e gradagem).

Pesquisadora da Embrapa, Márcia de Melo Carvalho participou desse estudo e observou que práticas conservacionistas, como o plantio direto, que contribui para o acúmulo do carbono em relação aos sistemas convencionais, pois o não revolvimento do solo favorece maior estruturação, com a formação de agregados (pequenos torrões de solo) que “empacotam” matéria orgânica, protegendo-a da rápida decomposição. E, quanto mais matéria orgânica, mais aproxima-se de um estado de saturação do solo com carbono. Entretanto, ela comentou que, tão importante quanto a saturação do solo com carbono, é a proteção que o plantio direto proporciona ao solo.

Ela explica que a prática promove uma camada protetora do solo (palhada) contra o impacto de gotas de chuva, permitindo a infiltração da água, além da regulação da temperatura no solo. Complementarmente, ainda segundo a cientista, as práticas de manejo que resultam em acúmulo de carbono no solo melhoram a qualidade e a produtividade, por meio da adaptação a mudanças ambientais que já são uma realidade no Cerrado goiano.

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