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Maria Pia Monda

Maria Pia Monda

Belo Horizonte/MG

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Ela não sabe nadar

Ela não sabe nadar, mas a falta de experiência não é uma boa razão para ficar longe do mar. Está muito irritada e, embora tenha um monte de estranhos ao seu redor, se sente sozinha como nunca se sentiu. Pensa que seus pais amam sua irmã muito mais do que ela e a raiva pelo que aconteceu pouco antes fortalece o seu convencimento. Estava se divertindo, tentando construir um castelo de areia. Estava feliz, até que a sua irmã decidiu se intrometer, destruindo o castelo e tirando-lhe o balde e a pá. Seus pais não fizeram nada. Come sempre, o capricho da caçula tornou-se um desejo satisfeito; como sempre, seu capricho tornou-se um protesto mal sucedido. Poderia reclamar mais forte, poderia chorar, mas o que adiantaria?

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Já muitas vezes, os pais tentaram convencê-la que eles a amam tanto quanto a sua irmã; já em várias ocasiões, disseram-lhe que eles dão mais atenção para sua irmã, porque é mais nova, porque é pequenina, enquanto ela, pelo contrário, é grande. Mas ela tem sete anos e lembra-se bem que, mesmo quando ela tinha cinco anos, como a sua irmã agora, já era considerada grande. Então, a explicação dos pais não se sustenta, porque, em teoria, se com cinco anos ela era grande, sua irmã também deveria ser. Infelizmente, ser pequeno é um direito que a maioria dos primogênitos perde no momento em que outro filho chega ou, em outras palavras, ser grande é uma responsabilidade que os primogênitos são forçados a assumir, logo quando vem outro filho. Ela não quer essa responsabilidade. Quer apenas que lhe devolvam seus brinquedos. Mas sabe que, por enquanto, é impossível, então fica em frente ao mar, gigante, azul. O azul é a cor que ela prefere, muito mais do que o rosa. Nesse azul, onde se refletem nuvens brancas como algodão-doce, replicando um céu muito mais ao seu alcance, ninguém pode deixá-la zangada. Nesse imenso azul, ela, que não é por nada grande, pode se sentir pequena como um ponto. Molha um pé e depois o outro. Antes de se mexer novamente, ela vira-se e olha para a praia, mas em troca não recebe nenhum olhar. Portanto, move outros dois passos. A água está tão fria, mas, pelo menos, não lhe nega um abraço.