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por Denise de Souza

100 edição 25

Os 20 são os novos 40...

por Denise de Souza*

Em um mundo onde tudo se faz para parecer mais jovem, viril e saudável, não há uma inversão de ordem numeral neste título? Não! Quando passamos a refletir sobre em que ponto estávamos em nossas vidas, há exatos 20 anos, é inevitável que um filme gigante passe por nós. O ano era 2002, e eu, estudante de jornalismo e já profissional da escrita, me via em um mundo de consumo marcado, em São Paulo, pelas inesquecíveis feirinhas do Mercado Mundo Mix (que originou o evento multicultural que chegou até Portugal). Nas idas e vindas ao Paraguai, onde eu comprava bolsas de pelinho, produtos de tecnologia, perfumes doces de irritar o nariz e os olhos, muito produto de plástico, neon e neoprene.

As pessoas brincavam com cores, ouviam ‘New Kids On The Block’ e os programas dominicais já demostravam que o ‘Fast Fashion’ estava aí para ficar. Então houve uma ‘explosão’ dos magazines denominados por ‘âncora’ nos shoppings centers. Não que eles fossem uma novidade, afinal não havia empreendimento que não tivesse uma ou mais megalojas a ocuparem os seus longínquos corredores. Essas super operações vinham com muita sede e uma capacidade de compra incomparável à do varejista tradicional, o que fez com que muitos analistas achassem que este seria o fim das marcas com lojas em formatos pequenos.

Mas, como tudo nessa vida se adapta, os donos das lojas menores iam ganhando e fidelizando os seus clientes com o princípio da exclusividade, do atendimento personalizado, com aquela pitadinha de interesse na vida do seu consumidor. Eles tomavam nota do seu nome, data de aniversário (sempre tinha um cartãozinho ou aquele voucher de um desconto ou um presente para retirada próximo à sua virada de idade). Enfim, era um comércio cuidadoso, que sabia a cara e os hábitos do seu cliente pelo relacionamento que eles estabeleciam.

E O QUE MUDOU PARA OS DIAS ATUAIS?

O comércio segue sabendo quem é você, mas de uma forma sem pedir permissão, como que em um ‘Big Brother’ captado pelo microfone do seu celular e em uma ‘varredura’ em suas mídias sociais, hábitos de compra dentre outros recursos que, a princípio, parecem muito simpáticos, mas são um grande perigo da invasão da sua privacidade. Você não precisa mais escrever sobre você, mas o ‘sistema’ capta as suas impressões, gostos e preferências.

Fiquemos atentos, porque o que percebemos que vem ocorrendo nesses últimos 20 anos é que com a sagacidade de buscar a nossa personalização, o mundo ficou chato e com excesso de informação. Dizem nos conhecer, mas se há uma falha no sistema, a única recordação do dia do nosso aniversário, é a boa e velha caderneta e a memória daqueles que realmente se importam e se relacionam conosco.

Afinal, de 20 para 40 anos, muita coisa pode acontecer. Tomara que nenhum de nós perca, e nem o varejo também, nossa própria essência do relacionamento, do olho no olho, da anotação, da memorização. Porque isso é um dom e um carisma que sempre vai ligar aquele que tem interesse em ofertar com quem busca comprar. Quarenta é um número mágico, é um número bíblico, representa um ciclo completo. Que possamos passar essa maioridade do comércio das máquinas, sem perder o vigor dos nossos vinte anos.

“O comércio segue sabendo quem é você, mas de uma forma sem pedir permissão, como que em um ‘Big Brother’ captado pelo microfone do seu celular e em uma ‘varredura’ em suas mídias sociais, hábitos de compra dentre outros recursos”

DENISE DE SOUZA é fundadora do Grupo Expanshopping, que integra mais de 500 profissionais sêniores de expansão, marketing e gestão de shoppings e varejo, e diretora da DS Realty Prospecção & Expansão