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CRÔNICA REVISTA ESCRIBAS ATIVISMO NA ESCRITA

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Walter Js Coutinho

Lembro-me que, durante a adolescência, eu me portava como um rebelde na internet, me sentindo como um paladino ativista, sempre pronto para dar a resposta mais emblemática e digna de vários likes para aqueles que replicavam os meus argumentos. Geralmente é nessa época que estamos construindo nosso senso crítico e nos permitimos nos mostrar indignados com certas coisas que abalam o nosso cotidiano.

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Eu sempre busquei não cair na ignorância, no ceticismo, nem me enclausurar em uma bolha de pensamento. Mudei de opiniões mais vezes do que se pode contar, mas dificilmente vi a mesma predisposição nas outras pessoas. Isso me cansou. Sinto que esgotei toda minha cota argumentando com internautas incapazes de renunciar às suas posições ideológicas. Já estava ficando cheio de embarcar naquele looping infinito de discussões que não levavam a lugar algum e só "vencia" aquele que comentava por último, como um ringue em que perde aquele que cansa mais rápido.

Hoje ainda vejo muita coisa que me deixa indignado, reproduções de narrativas absurdas, manipulações em massa, mas não encontro energia, nem interesse mais em querer me enfiar em um debate direto. Acho que esse sentimento me transformou em um sujeito mais estoico. A maturidade me ensinou coisas que, há um tempo, eu consideraria puro pessimismo. Já não tento mais remediar aquilo que está quebrado.

Não. Hoje despejo na escrita minha angústia por ver um mundo tão poluído, tão confuso, tão doente, tão desigual, tão incoerente.

Essa condição de utilizar a escrita como válvula de escape pode até parecer algo pessoal, mas sinto também que, ao menos nos parágrafos que construo, estou contribuindo para moldar uma geração melhor no futuro. Acredito que escrever possa, sim, ser um ato político. Quem irá ler? O que o texto provocará no leitor? Quais as chances de fazê-lo enxergar o mundo como eu? Existem aí muitas variáveis, mas não há como questionar o poder de dissuasão de um bom texto.

Deixo claro que a minha maior intenção ao escrever não é fazer política, nem levantar bandeiras ou defender causas sociais que julgo mesmo serem importantes, mas um autor inevitavelmente escreve sobre aquilo que acredita.

E no que eu acredito? Não contarei. Meus livros te mostrarão, de um jeito que nenhum argumento talvez seja capaz de mostrar.

Walterjscoutinho

Escritorfluminensede23anos,apaixonado poranimes,livrosefilmesenvolventesque inspiramosseusromances.Suaprimeirae maiorobraéatrilogiadefantasiamedieval "Rostwood", a qual já se encontra na iminênciadeestrearoseu2ºvolume.

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