
3 minute read
Entrevistando a autora
Nestaconversa,MariaGabrielaCardosocontadetalhessobre o seu processo criativo, sua vida pessoal e profissional. Acompanheabaixo:
Oquesãoaspalavraspravocê?
Advertisement
Sãoferramentasquepodemsignificartudoounada. O início, o meio, o fim. A causa de guerras, de paz, de amor. Sou totalmente delas. Preciso do diálogo. Infelizmente sou alguém muito suscetível. Já me disseram que as pessoas me “passam a conversa” facilmente. É a minha sina, o que posso fazer?
Como é a sua rotina de escrita? Você escreve pela manhã, tarde ou noite? Descreva.
Sou uma pessoa diurna. Gosto de acordar bem cedo, lá pelas 4:30 ou 5:00 da manhã. Preciso do silêncio. Se as pessoas da casa acordam às 6, acordo às 5. Regra de vida. Preciso ser a primeira a acordar. Só dou bom dia pros meus cachorros. Não gosto de conversar de manhã. Nesse horário, minha cabeça estáatodovapor.Tenhoqueaproveitar.Entretanto,comosou muito instável, estou sempre mudando meus horários e dando um“perdido”emmimmesma.
Você tem algum ritual ou local para escrever? Bebe ou come algo enquanto escreve?
Só escrevo no meu quarto, infelizmente. Ainda não tenho o meu escritório, mas vejo a necessidade disso, até mesmo pra eu conseguir me desligar do trabalho e dos estudos. Quando não aguento, corro pra casa dos meus pais ou viajo, mas sempre volto. Enfim, gosto de escrever descalça, com roupas confortáveisetomandochá.
Escrevetodososdias?
Sim, mas não literatura. Escrevo questões técnicas, o que precisoestudar,enfim...
Você tem dificuldade para se concentrar?
É difícil para você escrever? Possui muitos bloqueioscriativos?Comolidacomeles?
Tenho. Sou muito agitada, mas depois que me concentro, escrevo até mesmo com a TV ligada ou pessoas falando em volta. Quando tenho bloqueios criativos e não tenho prazos praentregar,mudoofoco.Setenho,vouquevoudequalquer jeitoquedá.
Sobreoquevocêmaisgostadeescrever?
Política, e isso já engloba tudo, como, a vida do dia a dia, a situação das pessoas, da sociedade no geral. Os sentimentos detristeza,defelicidade,etc.
Quando foi que você olhou para si mesma e disse: “é isso mesmo que quero fazer, sereiescritora”?
Após ler a biografia da Clarice Lispector, escrita pelo Benjamin Moser. Me olhei no espelho e me imaginei sendo escritora. Senti um frio na barriga muito forte, mas logo em seguida, pensei: “tá louca! Quer morar debaixo da ponte? Literatura não dá dinheiro”. Enfim, hoje em dia, ainda não vivo debaixodaponte,porissocontinuo.
Quem te inspira? O que te inspira? Onde vocêbuscacriatividade?
Tudo,masgostodoscaminhosmaisestreitosesinuosos.Gosto da loucura, da parte feia, das mentiras. Acho que é por isso que falo tanto sobre política. Gosto de entender e observar o seremseuestadomaiscru,semcivilidade,semtabus. Não que eu admire esse tipo de coisa, ou talvez sim, admire, massãoassuntosdomeuinteresse.
Qual o seu maior medo no ramo da literatura?
Não ter tanto espaço. A escrita é limitadora mesmo. A gente trabalha apenas com a imaginação, letras, páginas. Fazemos o leitor imaginar. Por isso, fui pro teatro, que já permite que você mostre, de outras formas, o que deseja. Acho que ainda mevejoproduzindoalgoproaudiovisualfuturamente.
Qual a sua zona de conforto na escrita?
Poesia,conto,crônicas…?
Nada. É tudo difícil. Se fica fácil, não quero, não faço. Sou minhapiorcarrasca.
Comoasuafamílialidacomofatodevocê serescritora?
Não ligam, não me acompanham, não me leem. Gosto assim. Em uma das minhas tentativas de fazê-los conhecer o meu trabalho, não entenderam nada. Me arrependi amargamente. Hoje em dia não tô nem aí. Não leem nem outros autores. Queroquecontinueassim.
Comovocêgostariadeservistopelosseus leitores?
Não sei se gostaria de ser “vista”, talvez apenas lida. Eles não precisamnemconheceraminhacarapálida.Queroqueleiam e falem: “pô, essa criatura fala o que pensa”. Não precisam nem concordar ou discordar de mim. Meu compromisso é semprecomoquestionamento.Só.
Como é você quando o assunto é leitura?
Você lê muito ou pouco? Quais foram as suasprimeirasexperiênciascomlivros?
Leiomuito,masaindaépouco,poispoderialermuitomais.De vezemquandoprocrastino.Noutras,ficotãoapaixonadapelo livro, que prefiro ler lentamente para que dure mais. É como fazer amor. Comecei a ler cedo, minha mãe comprava historinhas bíblicas e livros infantis. Acho que nunca os li por completo, sempre ia pra biblioteca do meu avô que tinha de tudo.
Vocêescrevepelocomputadorouàmão?
Computador, sempre. Sei que escrever à mão pode estimular ainda mais a criatividade, mas minha letra é feia, ninguém entende, muitas vezes nem eu mesma quando leio coisas muitoantigas.Issosemfalarnapraticidade,ocomputadoreo celularsaemganhandodelavada. Sorry,saudosistas.

Oquevocêdetestanomundoliterário?
Gente arrogante que gosta de se gabar só porque lê ou escuta “clássicos”; gente “palestrinha”, que adora dar explicações que ninguém pediu; cultices que só servem pra fazer a pessoa se aparecer, elitismos babacas, escritores que pedem pra fazer correção, diagramação, revisão pra eles no “favor”, como se o processo de editoração fosse simples. Enfim,muitascoisasqueultrapassamolimitedelinhas.
Como você vê a sua carreira na escrita daquia5anos?
Esperoqueeucontinuebemdistantedatalponte.
O que te fez criar o Coletivo e a Revista Escribas?
Sempre acreditei nas coisas coletivas e amo participar de grupos. Foi num desses grupos, em que eu era participante, que vi a oportunidade de juntar uma galera em prol das mesmas vontades: crescer como escritor(a). O grupo não deu certo, infelizmente. Então, criei o meu. A ideia da revista surgiuemconversascomamigos.
Deixeaquialgumpensamento:
Apenas agradeço quem está lendo a primeira edição da RevistaEscribasedeixandoalgunsminutosdoseutempopara também acompanhar a minha entrevista. Sinta-se abraçado(a).











Aldonez Pereira
"O monumento é um marco comemorativo da lembrança da primeira missa registrada no Pajeú, há 300 anos."


