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Entrevistando a autora

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Nesta conversa, Maria José de Melo conta detalhes sobre o seu processo criativo, sua vida pessoal e profissional. Acompanheabaixo:

Oquesãoaspalavraspravocê?

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Um amontoado de vogais e consoantes que podem ganhar vida, morte, alegria ou tristeza nas mãos de um escritor. A palavra escrita tem o poder imenso de criar e recriar história, fatos, objetos e informações, fontes para a transformação da humanidade.

Como é a sua rotina de escrita? Você escreve pela manhã, tarde ou noite? Descreva.

Escrevoemtodososhorários.Embora,aminhaescritasejade lua (risos). Tenho hiperfoco, quando fixo a escrita em algo específico, vivo em função do objeto investigado, daí vieram as minhas obras… TCC da graduação, dissertação de mestrado, o livro de Amora, etc. Escrevo sem limites de horários, sendo assim, a escrita é muito concentrada, profunda e rápida. E em alguns casos cheguei ao ponto de umesgotamentoquandootextofoiconcluído.

Você tem algum ritual ou local para escrever? Bebe ou come algo enquanto escreve?

Gosto de escrever em casa, no meu quarto, principalmente. Quando tenho uma inspiração ótima, independente do lugar, se tiver caderno, caneta ou folha, por perto, escrevo. Bebo muita água quando escrevo. Não pode faltar uma boa música (do repertório do meu hiperfoco). Acredito ser um ritual bem antigo,precisodemúsicaparaescrever.

Escrevetodososdias?

Não.Aminhaescritaacontecedeformabemconcentradaem dias específicos. Mesmo tendo diários, não escrevo nele todos os dias. Quando a inspiração vem… escrevo sem freio. Eu não gosto de forçar a escrita. Se estiver concentrada em venda, ficareifocadasónisso.Comigoéassim.

Você tem dificuldade para se concentrar?

É difícil para você escrever? Possui muitos bloqueioscriativos?Comolidacomeles?

Acredito que o meu problema é escrever demais (risos).Tenho dificuldade para parar de escrever quando tô empolgada. Resumir algo, é um verdadeiro drama. Tenho alta habilidade emescrita(científicaouliterária).Quandofinalizoumaescrita pesada(polêmicaoudramática),ficoesgotada.Atéaparecer um novo hiperfoco, se surgir, acaba-se o mundo e eu lá escrevendonovamente.

Sobreoquevocêmaisgostadeescrever?

Depende do meu hiperfoco. Por muito tempo, a Geografia predominava como assunto preferido. Agora, estou escrevendo mais em gêneros literários, mas mesmo assim, a geografiasemprepresente,deoutraforma,claro.Osassuntos escritos precisam ter conexão comigo (com o meu mundo — chamado agreste, terra, campo, luta, resistência e memórias…).Gostodefalarsobreoquevivonaprática.

Quando foi que você olhou para si mesma e disse: “é isso mesmo que quero fazer, sereiescritora”?

Desde criança queria ser escritora. Mesmo sem nenhum contato ou informações diretas sobre a profissão. Em 2021, com a escrita da carta-manifesto (envolvendo o contexto da violência sexual), acredito que surgiu a escritora criativa. Caramba! Coloquei a dor em um papel, não me importei com as consequências da revelação. A preocupação maior era o valor (em sentimento e dor) que o texto representava para a personagemprincipal,eumesma.

Quem te inspira? O que te inspira? Onde vocêbuscacriatividade?

A vida vivida (tarimbada como os pernambucanos falam) é a minha grande inspiração para ser uma escritora. É importante manter sempre o contato com pessoas que gostam do nosso trabalho. Ler bons livros, apreciar a arte, ter acesso à informação e possuir um repertório de conhecimento sobre o indivíduo, mundo, sociedade e natureza. Sempre é bom ir descobrindo coisas novas. A criatividade é como uma semente,precisaserplantadaemterrafértil.

Qual o seu maior medo no ramo da literatura?

Que ela um dia se acabe. Tô brincando (risos). Bom, acredito que seja: “não ser lido por ninguém”! Você escreve algo e essa escrita é totalmente gratuita e mesmo assim, ninguém lê. Caramba, aí é para quebrar qualquer escritor. Não ser lido é pior do que não vender um livro. O mercado da forma que funciona não favorece o escritor iniciante, então, complica o acessoaosespaçosquedeveriamserdemocratizados.

Qual a sua zona de conforto na escrita?

Poesia,conto,crônicas…?

Prosa longa, bem loga! (risos). Narrativa ou científica. A poesia em versos é algo que vem de dentro da alma, ela chega ligeiramente sem agonias. A prosa longa é dramática demais. Preciso chorar dias seguidos para escrever umas 300 páginas (risos). Se o assunto for do meu interesse, tenho facilidadedeescreveremprosaoupoesia.

Comoasuafamílialidacomofatodevocê serescritora?

Desde pequena faço escolhas fora do “normal”! Então, eles até me largaram um pouco, e viram que não tem jeito. Não adianta, não seguirei o mesmo caminho de Severina. Sou teimosa assumida. Eles, no fundo, não entendem o caminho. Digo o seguinte: nenhum mestre ou escritor renomado teve vida fácil. A carreira é estreita mesmo. Dizia o grande mestre, GuimarãesRosa,“viverémuitoperigoso”.

Comovocêgostariadeservistopelosseus leitores?

Uma escritora de alma regionalista que ama a sua terra, primeiramente, e que não deu as costas para o povo brasileiro. Uma defensora das causas sociais de seu tempo. Que defende os seus ideais com toda a força que possui no peito e alma. Apesar dos pesares, segue acreditando na transformaçãodasociedade.

Como é você quando o assunto é leitura?

Você lê muito ou pouco? Quais foram as suasprimeirasexperiênciascomlivros?

Sou do tipo que saio devorando livros, claro, assuntos específicos do meu hiperfoco. Vai variando entre literatura, geografia e marxismo. Na literatura, a escrita de João Cabral de Melo Neto, Guimarães Rosa e Euclides da Cunha, me captou profundamente. Josué de Castro e Ab’Saber me fizeram perceber que sou geógrafa, desde sempre. Marx e Engels…, possibilitaram entender a nossa sociedade de forma dialética…

Vocêescrevepelocomputadorouàmão?

Escrevo nos dois. Às vezes, as melhores sínteses são escritas nos meus cadernos (tenho um caderno para cada coisa). A lapidaçãosempreérealizadanocomputador.

Oquevocêdetestanomundoliterário?

Do modismo que valoriza o superficial e que acha o profundo como algo ultrapassado. Eu não sigo tendência de forma nenhuma. Então, isso se aplica à literatura também. Para nos provocar profundamente, acredito que seja necessário mergulhar em obras mais densas e complexas. A definição sobrequalquercoisaexigeumestudoapuradoeminucioso.

Como você vê a sua carreira na escrita daquia5anos?

Todo escritor quer ser reconhecido nacionalmente e quem sabe internacionalmente. Quem não quer? Eu quero. Comigo, não existe esse negócio de escrever por distração. Ser escritora é uma profissão. Quero um prêmio nacional na literatura,sim!Queroserumaescritora,reconhecidapelomeu trabalho. Se João não conseguiu, bom, acredito que ele seguiuoutrocaminho,diferentedomeu.

Deixeaquialgumpensamento:

A literatura é manifestação humana, sendo produzida por palavras de diversas formas. Ela é muitas vezes comprometimento com o nosso povo que luta, chora e ri. A vida é sofrida demais. Uma hora, podemos estar no chão, sem forças para se levantar, e em outro momento estamos no topo. E por hora, precisamos dizer o que idealizamos, sentimos e tudo aquilo que queremos para nós quanto indivíduo,eparaahumanidade.

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