A Revista do Gestor Escolar
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A educação é estimulada, como um dos seus pilares, através de densas e constantes reflexões. Se pautarmos as nossas observações a partir de acontecimentos e experiências que vivemos nos últimos anos, todo o processo educacional foi convocado – de forma urgente e abrupta – a (re)pensar toda a sua estrutura com a eclosão da pandemia mundial que nos afetou drasticamente. E, se por um lado, a pandemia antecipou (e intensificou) reflexões sobre os rumos da educação, por outro lado, neste momento de pós-pandemia, outras demandas surgiram para reorganizar algumas possibilidades ante dilemas tão complexos e heterogêneos.
Na esteira das reflexões e análises que abarcam as demandas atuais com o intuito de traçar rotas para alcançar uma educação que contemple as diversidades e necessidades do futuro, a 28ª edição da Bett Brasil, que ocorreu presencialmente
entre os dias 9 e 12 de maio de 2023, em São Paulo, foi um encontro significativo em prol da educação. Agregando temáticas transversais, os diversos profissionais que atuam em variadas áreas da educação acompanharam a programação oficial do evento, como também conheceram as propostas de soluções práticas das marcas expositoras.
Tendo como norte o macrotema “Educação e Trabalho para Novos Futuros”, todo o Congresso Bett foi guiado por seis eixos centrais em suas atividades: Currículo; Tecnologia; Avaliação; Desenvolvimento de Educadores; Aprendizagem; e Diversidade. A programação também disponibilizou conteúdos especiais para a educação superior e para a gestão escolar.
Nesta edição de junho/julho da Direcional Escolas, que marca o fechamento do pri-
meiro semestre de 2023, trouxemos alguns destaques, debates e inovações que permearam os quatro dias da Bett Brasil, o maior evento de educação e tecnologia da América Latina. Além dessa cobertura, você também encontra em nosso site e em nosso perfil do Instagram, postagens especiais sobre palestras ministradas e soluções de expositores apresentadas.
Boa leitura e boas férias de julho!
Rafa Pinheiro Jornalista Responsável
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Coluna - Christian Coelho
Mudanças no mercado educacional
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Coluna - Ademar Celedônio
A linha tênue entre otimismo x medo: como o uso da inteligência artificial pode, sim, ser benéfico na educação
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Coluna - João Martins e Lucilla Pimentel
A escola e a necessária presença de valores universais
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Coluna - Célio Müller
Contrato de serviços educacionais: burocracia ou necessidade?
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Cobertura Bett Brasil 2023
O maior encontro entre educação e tecnologia fortaleceu o diálogo com o público
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Dica: Metodologias Ativas
Participação ativa em sala de aula
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Dica: Saúde Mental
Cuidado na escola
Estamos em um novo momento, com todas as características de um planeta que passou por um grande cataclismo, como o que acontece depois de uma grande guerra.
Um montante maior de pessoas instáveis, recessão e mudanças de prioridade são características dessa era pós-pandemia.
O mercado educacional também é influenciado pela situação atual, com pessoas mais intransigentes e com dificuldades econômicas. Além disso, a profissionalização da concorrência advinda da entrada de grandes players já iniciou a transformação da educação no país.
A consolidação do mercado educacional no Brasil terá diferentes impactos na qualidade da educação e no acesso a ela.
O lado positivo está associado à entrada de grandes investimentos em infraestrutura, tecnologia e inovação no setor. Porém, a rápida concentração do mercado de escolas regulares levará ao monopólio de algumas empresas, como ocorreu no ensino superior, o que pode prejudicar a diversidade e qualidade da oferta educacional.
Essa mudança tem ocorrido em ondas, a primeira com a entrada de escolas
premium com valores estratosféricos visando se tornarem referências no mercado. Depois, o surgimento de uma grande quantidade de escolas low cost com bom custo x benefício e, por último, o início da consolidação das escolas de educação infantil.
A nova modalidade, que está ainda em teste, é a incubadora de instituições de ensino. Os players se associam às escolas, organizam as questões financeiras e fiscais, e as auxiliam a crescerem, já com a prerrogativa de serem vendidas quando alcançarem os objetivos predeterminados.
O desafio para os mantenedores que participarem desse novo modelo é conviver com um sócio com um viés mais mercantilista durante alguns anos e que, possivelmente, não comunga com as suas ideias.
O que fazer mediante esse cenário?
Com as mesmas estratégias das grandes corporações (política de preços competitivos, investimento em infraestrutura e tecnologia), nossas escolas conseguirão apenas empatar o jogo.
É necessário focar nos diferenciais que são mais difíceis de serem replicados, como a instituição possuir uma mantenedora referência, com personalidade e alma, e uma proposta pedagógica
construída ao longo de muitos anos e inúmeras reuniões de planejamento.
Diante desse contexto, é importante que a direção apareça nas redes sociais, envie áudios e vídeos pela agenda eletrônica, participe das festas e reuniões de pais e, ocasionalmente, esteja no portão.
Divulgar o seu diferencial começa de dentro para fora. O professor é o maior formador de opinião da escola, por isso precisa compreender e estar com os diferenciais na ponta da língua, principalmente no período de rematrículas.
CHRISTIAN ROCHA COELHO
Formado em comunicação, especialista em andragogia e neuropsicologia. Diretor do Grupo Rabbit Educação. www.rabbitmkt.com.br
Em passagem pelo Brasil em maio último, Sam Altman, CEO da empresa que criou o ChatGPT, deu algumas declarações que me chamaram atenção. Na primeira, ele defende a criação de uma regulação internacional para a Inteligência Artificial e, em outra, menciona que, com o surgimento das IAs generativas, “empregos vão desaparecer”.
Sobre a primeira declaração, é difícil imaginar algum progresso nesse sentido, uma vez que até hoje a maioria dos países do mundo nem conseguiu regular as redes sociais. Porém, vejo como positiva a sua preocupação. Também em maio, o Google lançou o Bard, que provavelmente será o maior concorrente do ChatGPT. A comunidade europeia e o Brasil ainda não foram contemplados, provavelmente porque ainda estão discutindo neste momento regulações sobre a IA. Sobre a questão do desaparecimento de empregos, de fato, isso deve ocorrer, mas outros serão criados, não na mesma quantidade e nem para as mesmas pessoas. Por isso, uma melhor preparação para as gerações futuras é, sobretudo, importante, e aí entra o papel fundamental da escola.
O uso de ferramentas de IA na educação pode ser definido como um tema sensível para muitos educadores. Medos e incertezas acerca dessa tecnologia pautam as conversas nos corredores escolares. A Inteligência Artificial tem se mostrado uma ferramenta promissora na transformação da educação e seus resultados podem ser surpreendentes. Mas como permitir que todos esses impactos ocorram em sala de aula em meio a tantas dúvidas?
Tendo em vista a rapidez com que as novas ferramentas de IA têm chegado ao conhecimento da sociedade, são compreensíveis os questionamentos que pairam sobre como uma plataforma como o ChatGPT ainda pode ser benéfica para o desenvolvimento do pensamento crítico dos alunos. Dito isso, o ponto-chave para a resolução dessas questões talvez seja pararmos de focar tanto nas hipóteses do que pode acontecer, e começarmos a olhar mais para o que já está se manifestando frente aos nossos olhos.
É fundamental que estejamos abertos a compreender que a Inteligência Artificial não deve ser motivo de temor, mas, sim, uma oportunidade de aprendizado e desenvolvimento. Por isso, educadores, alunos e a sociedade em geral precisam ter curiosidade para aprender a utilizar essa tecnologia, com o intuito de extrair seus benefícios aplicados em processos educacionais. Afinal, o papel do professor, com ou sem auxílio da IA, segue sendo justamente esse: guiar, conduzir e estimular os alunos a trabalharem seu pensamento crítico a partir de orientações para o uso dessas plataformas.
Nosso compromisso enquanto educadores é fomentar o processo de ensino e aprendizagem, e promover aos estudantes espaços seguros de conversa, pesquisa e conhecimento. Em um exercício que costumo dar em minhas palestras, produzo uma pergunta que contém 4 imagens, sendo 3 delas inspiradas em uma obra de Picasso, e criadas por uma plataforma de Inteligência Artificial, e 1 delas é a obra original. Peço para as pessoas opinarem sobre qual acreditam ser a do artista. Este tipo de interação é somente uma amostra do que pode ser aplicado como tarefa a
alunos em uma aula de artes, por exemplo. Alguns colegas professores me falaram que usam o ChatGPT para que os alunos analisem e questionem as respostas dadas pela ferramenta e, logo após, expressem as suas próprias opiniões.
Dado o papel do professor, trago também uma reflexão sobre as ferramentas de IA: elas existem e são alimentadas a partir de dados, conhecimentos e teses já existentes. Essas informações possuem um criador original, e esse criador precisa ser um humano que usufrua de todas suas habilidades críticas e intelectuais para produzir conteúdos complexos. Sem dúvidas, a Inteligência Artificial aprende conforme utilizada, e é ágil, mas não é crítica como um humano. Portanto, para continuar cumprindo seu papel de sintetizar e formatar informações, qualquer ferramenta de IA sempre precisará de indivíduos para continuar aprendendo e evoluindo, e os alunos que estamos formando hoje serão essas pessoas, pois um dia se tornarão professores, pesquisadores, desenvolvedores e estarão presentes nas mais diversas profissões.
O futuro da educação está intrinsecamente ligado à IA e um olhar otimista nos permite explorar todo o potencial dessa ferramenta, buscando uma aprendizagem mais eficiente para todos os alunos e educadores. Este texto foi escrito por um humano.
Nos dias atuais é importante reconhecer o tanto que as ideias do filósofo Edgar Morin são complexas e esclarecedoras, graças a sua indescritível capacidade de relacionar saberes. Graças também a sua história pessoal e à cultura que possui, tornando-o um grande sábio do século XX e destas décadas do século XXI. Em seu livro “É hora de mudarmos de via: lições do coronavírus” (2020), como em várias entrevistas, desde o início da pandemia provocada pela Covid-19, Morin assinala o tanto que precisamos aprender a viver e a conviver com as condições existenciais inesperadas/imprevisíveis das quais o ser humano não escapa.
Nas nossas experiências cotidianas, nas relações que estabelecemos, somos continuamente impulsionados a dividir, somar, em todas as situações colocadas a prova quando precisamos levar em consideração a opinião e posição dos outros com os quais convivemos. No ambiente escolar, social por natureza, não é diferente e essas experiências são potencializadas. Cabe a nós, educadores, mediar e provocar uma diversidade de situações que ajudem o educando a sair do seu mundo egocentrado e olhar para o desejo, a vontade e a relação com os outros.
O valor do humano deveria ser para os educadores o ponto de partida para todos os planejamentos e projetos que envolvem as relações, a vida real e a convivência no ambiente escolar. Bem sabemos que não há respostas prontas e definitivas, mas é preciso rever e resgatar o nosso humanismo. O que temos feito dele, como nós o assumimos, individual e coletivamente? Como temos enfrentado a incapacidade humana de pensar e vencer o inesperado e as contradições que aparecem?
Na sociedade regida pela tecnologia, pelo imediatismo e pelas relações virtuais, muitas
vezes envoltas na superficialidade, parece que o olhar atento, a escuta e o cuidar do outro ficou em segundo e terceiro planos.
Neste período pós-pandêmico, tem se falado muito na presença de situações socioemocionais nas escolas, bem como em ações humanitárias. Contudo, falar destas ações significa que não basta que elas sejam solidárias. No dizer de Morin (2011), é preciso que elas se complementem na fraternidade, sejam interdependentes, religadas ao pensamento complexo e em valores. No entanto, notamos a presença de valores que nem sempre são válidos para todos, que esbarram nos interesses e vontades pessoais. Precisamos nos atentar aos valores que vão de encontro ao individualismo e que necessitam de espaços de trocas e de demonstração de afetos. Ter em mente que valores não se aprendem com discursos, mas com ações!
Diante do exposto, como o ambiente escolar pode ser mais acolhedor, mais solidário e fraterno? Como, coerentemente, ser mais inclusivo? Como lidar com as diferenças, com os distintos ritmos nesse espaço? São algumas perguntas para a nossa reflexão, análise e ação cotidianas.
Em meio a uma sociedade repleta de sérias questões sociais, econômicas, éticas, ambientais e que influenciam a formação das nossas crianças e adolescentes, precisamos encontrar nas escolas um local seguro para a presença dos valores, expressos nas atitudes que queremos reforçar na vida dos nossos educandos.
A equipe gestora, ao assumir um trabalho integrado, cuja característica básica seja a coparticipação, a corresponsabilidade, a fidelidade entre seus membros, necessita ter como objetivo a união para que possam promover o pensar / transformar / sustentar o corpo docente e o dos colaboradores, para torná-los reflexivos, críticos e com-
prometidos. É a partir desse movimento de confiança, humildade e partilha que será possível criar metas mais realistas para atuar numa gestão de crise de valores, colocando o foco de atenção nos personagens principais do cenário escolar: o professor e o aluno. Considerar prioritariamente os docentes é abrir espaço para que na sua formação ele atinja a criança e o adolescente. Em serviço, dar possibilidade para a heteroformação: isto é, reconhecer o espaço coletivo aberto para a tomada de consciência de aprender e se aperfeiçoar com seus colegas; ter oportunidade de expor seus estudos, suas pesquisas, ampliar trocas de experiências e buscar novas estratégias, explorando sua criatividade.
Acreditamos que a escola, enquanto espaço de ricas mediações, necessita voltar seu olhar para planejar a dimensão das interações, do olhar solidário/fraterno e da resiliência no seu dia a dia.
Estamos em tempos de profunda cegueira e insensibilidade ante o outro. E a escola não pode fazer parte destas situações que nos afastam das verdadeiras relações humanas. É preciso que ela estabeleça uma cultura da paz interna entre seus pares, ficar atenta e reagir frente às perdas de valores que ocorrem no emaranhado das circunstâncias vividas no coletivo escolar.
PROF. DR. JOÃO CARLOS MARTINS
Doutor em Psicologia da Educação, Mestre em Educação, Sociólogo, Historiador, Administrador Escolar, Psicopedagogo, Educador e Gestor. Atualmente Diretor Executivo da Rede de Educação Missionárias Servas do Espírito Santo.
LUCILLA DA SILVEIRA LEITE PIMENTEL
Mestre em Filosofia da Educação e Mestre em Comunicação e Cultura Midiática. Psicopedagoga, Assessora em Educação, Membro-sócio do Instituto Juan Drogrett e Membro da JCM Consultoria em Educação.
Oprincipal documento de caráter não pedagógico que sustenta o vínculo jurídico entre a escola e a família é o contrato firmado no ato da matrícula. A importância estratégica desse instrumento é pouco percebida, pois muitos gestores erroneamente o enxergam como simples tramitação burocrática e desperdiçam o melhor momento para prevenir os problemas da instituição.
Para se ter uma ideia, a inexistência de um contrato regularmente assinado dificulta a cobrança regular de mensalidades. Pois, mesmo que se comprove que o aluno frequentou as aulas, não se consegue demonstrar o compromisso financeiro pelos pais nos valores requeridos pela tesouraria. E é grande o número de famílias que protelam a entrega até o início das aulas, transformando a escola numa devedora dos serviços sem a necessária contrapartida do pagamento.
O contrato de prestação de serviços educacionais, quando redigido adequadamente, carrega condições de alta segurança jurídica para o estabelecimento educacional, prevendo regras formalmente aceitas pelos pais e que podem ser usadas durante o ano letivo para evitar e resolver as mais diversas questões. Não é apenas a questão da inadimplência que pode ser prevenida, há variadas cláusulas que constituem benefícios ao mantenedor, como: a descrição da responsabili-
dade das partes, as sanções contratuais, as obrigações assumidas pela família, o formato de comunicação, o uso de sistemas de ensino e serviços agregados, e a permissão de uso de imagem e tratamento de dados, que atualmente são imprescindíveis em razão da Lei 13.709/2018 – Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais (LGPD).
Aliás, os fundamentos legais do contrato educacional começam com a Constituição Federal ao dispor a educação como um direito social e a liberdade à iniciativa privada. Mas as aplicações mais comuns nos tribunais estão na Lei 9.870/1999 (Lei das Mensalidades Escolares) e na Lei 8.078/1990 (Código de Defesa do Consumidor). Conforme o nível escolar e a faixa de público a serem atendidos podem haver regras específicas, e cada estado possui também normas locais aplicáveis às suas respectivas instituições.
Quando estruturamos a documentação de matrícula para cada escola, observamos sempre o histórico de problemas até então havidos, para que cada cláusula seja pensada para preveni-los, e assim evoluindo com as atualizações legislativas a cada ano. Pois, lembrando a famosa frase de JK, “não temos compromisso com o erro”.
De uma maneira geral, estabelecer limites contratuais para os serviços prestados pelas escolas é essencial, com
a transparência necessária das condições oferecidas para que o gestor tenha comprovação formal de que os pais do aluno estão de acordo com todas as características do serviço.
Cuidado com a velha fórmula do “copia e cola”, pois a internet oferece um estoque quase infindável de textos e documentos. Neste caso, é uma grande imprudência tentar aproveitar regras que não foram feitas para as necessidades próprias da escola e que podem estar desatualizadas e conflitantes. Cada colégio atende públicos diferentes, e as normas também evoluem, assim como o entendimento dos tribunais.
Boas aulas e sucesso!
Advogado especializado em direito educacional, sócio-fundador do escritório Müller Martin Advogados, autor do “Guia Jurídico do Mantenedor Educacional” e presta assessoria jurídica para instituições de todo o Brasil. contato@mullermartin.com.br
O evento, que ocorreu em São Paulo, reafirmou o seu propósito em olhar para as necessidades atuais das escolas, além de refletir sobre questões que ecoarão no futuro. Com recorde de público, a Bett Brasil deste ano reuniu fórum de gestores, palestras inspiradoras, debates e mais de 270 marcas expositoras
Considerado o maior encontro de educação e tecnologia da América Latina, a 28ª edição da Bett Brasil, que ocorreu entre os dias 9 e 12 de maio no Transamerica Expo Center, em São Paulo, recebeu um público recorde de 35 mil pessoas em quatro dias de evento. Com o intuito de fortalecer o diálogo e promover reflexões sobre temáticas que atravessam o cotidiano das escolas, quem visitou esta edição pôde se conectar às últimas novidades de inovações e soluções para o ensino, com destaque para os recursos de Inteligência Artificial e práticas para o cuidado da saúde mental de alunos e professores.
Claudia Valério, diretora da Bett Brasil, destaca que a edição 2023 do evento traduziu o potencial do setor da educação e o seu contínuo crescimento. “Este ano, a Bett Brasil estava maior em termos de metragem, mais rica e diversa na oferta de conteúdo e mais movimentada do que a última edição. Percebemos que o mercado educacional veio em peso, com soluções para as questões que estão sendo debatidas hoje, como ChatGPT e Inteligência Artificial, e isto estava refletido no evento, com inúmeras soluções propostas pelos expositores e nas novidades que eles estavam trazendo para todo o ecossistema educacional”, afirmou.
A expansão desta edição do evento foi notória: mais de 270 marcas expositoras nacionais e internacionais ofereceram atividades e experiências ao público visitan-
te (com demonstração de produtos, serviços e soluções inovadoras), entre elas, 21 edtechs (startups voltadas para a educação); mais de 200 palestrantes nacionais e internacionais; 6.000 congressistas; 9 auditórios que abordaram temas importantes e transversais da educação. “Esta edição também marcou dois lançamentos importantes da Bett Brasil: o programa de reuniões Bett Conect@ e o Ahead by Bett, um evento paralelo focado no Ensino Superior e profissionalizante. Além disso, o Bett Startups, espaço dedicado às edtechs, com painéis de conteúdo e uma agenda de pitchs reversos para escolas e investidores”, complementou Claudia Valério durante a cerimônia de abertura.
Sobre a próxima edição, ela antecipa que em 2024 o evento deve ser ainda maior em função desta demanda por soluções que vêm sendo apresentadas e, consequentemente, buscadas por toda a comunidade escolar. “Para o próximo ano, temos uma novidade: o evento muda de casa, até porque chegamos à capacidade máxima do atual local, o que confirma o potencial do setor da educação. Em função disso, a Bett Brasil
passará a ser realizada no Expo Center Norte, de 23 a 26 de abril de 2024”, revela a diretora do evento.
Tendo como eixo norteador o tema “Educação e Trabalho para Novos Futuros”, a programação de conteúdo do Congresso Bett Brasil foi composta por seis macrotemas: currículo, tecnologia, avaliação, desenvolvimento de educadores, aprendizagem e diversidade. No Ahead By Bett, voltado para a educação superior, os macrotemas foram empregabilidade, hibridismo, inovação, formação inicial e curricularização da extensão. A agenda de conteúdo foi dividida em 9 auditórios com a realização do Congresso Bett Brasil, Fórum de Gestores, Workshops e o Ahead By Bett. Além de programações diversas nos estandes das marcas expositoras e na arena startups.
Segundo Adriana Martinelli, diretora de conteúdo da Bett Brasil, a curadoria dos temas foi pautada sobre o momento atual do pós-pandemia e do contexto das escolas e realidade educacional brasileira. “Com isso, assuntos como diversidade, saúde mental, empregabilidade e tecnologias foram todos abordados nesta edição. Aliado a isso, uma das características mais importantes enfatizadas foi a possibilidade de interação, nas sessões com o Roda de Conversa, onde jornalistas moderaram os painéis, com a participação de especialistas para aprofundar os temas.
Da mesma forma, o auditório Aquário, onde as cadeiras ficaram dispostas de forma circular para que o público participasse ativamente, inclusive com congressistas subindo ao palco para debater o tema específico proposto de cada sessão”.
Reforçando a importância do diálogo para refletir sobre as demandas que surgem na educação contemporânea, bem como as possibilidades que se abrem para (re)pensar trajetos para o futuro, Adriana destaca que, para a próxima edição, os conteúdos também serão trabalhados em um diálogo aberto e democrático. “Para 2024, vamos manter esses formatos de diálogo e auditórios para ampliar as possibilidades dos debates e de temas, sempre envolvendo as pautas da educação para todos, seja pública, privada, de todas as etapas de ensino, assim como profissional”, afirmou.
A tecnologia, de uma forma geral, é um assunto comum nos ambientes escolares. Em novembro de 2022, observamos um crescimento exponencial de debates sobre a Inteligência Artificial, sobretudo a partir da popularização do ChatGPT. Embora não seja um conceito novo, afinal a Inteligência Artificial foi criada na década de 1950 como um campo da ciência da computação que busca criar máquinas inteligentes, o que difere é a ideia de IA Generativa, que começou a ganhar destaque desde 2021. A IA Generativa é uma técnica de aprendizado de máquina para criação de novos conteúdos escritos, visuais e auditivos a partir de prompts ou dados existentes. Ou seja, a tecnologia trabalha a partir de banco de dados e pode prever padrões, fornecendo respostas rápidas e precisas, o que, na prática, podemos visualizar com a popularização do ChatGPT.
Para adentrar na discussão, um painel especial realizado pela Microsoft, parceira global da Bett, reuniu especialistas que discutiram as diversas formas possíveis de integrar a Inteligência Artificial no currículo escolar. “A Inteligência Artificial é disruptiva, não permite mais que as coisas sejam feitas como antes. É preciso transformar. Não dá mais para fazer as coisas do mesmo jeito, é preciso olhar para essas ferramentas e soluções”, enfatizou Vera Cabral, diretora da Microsoft e moderadora do painel. “Os grandes avanços
tecnológicos impactaram a educação de forma disruptiva. De certo modo, nós já utilizamos a Inteligência Artificial. Com a IA Generativa, nós demos um passo maior. É importante que todas as soluções tecnológicas sejam incorporadas na realidade das escolas”, completa.
Durante o encontro, Silvia Scuracchio, diretora pedagógica e head de inovação da Escola Bosque, apresentou os cases de sucesso da escola em relação à aplicação da tecnologia. A unidade utiliza IA em diferentes plataformas que funcionam como aceleradores de aprendizagem. Ela citou como exemplos os programas de leitura avançada, o treinador de discursos, a fluência em leitura, o gerador de imagens, entre outros. “Temos várias soluções que deixam o aprendizado mais fluido, por exemplo, o Speaker Coach, que é um software de Inteligência Artificial que avalia entonação, ritmo, refinamento e dificuldade de palavras, contribuindo diretamente no aperfeiçoamento da escrita e da fala em público. Assim como as tecnologias facilitam o nosso dia a dia, elas podem facilitar também o ensino”, destacou. Durante a sua fala, a diretora ressaltou que a IA pode ser utilizada para otimizar o tempo, personalizar o ensino, melhorar a eficiência de operações básicas e gerar dados para tomada de decisões mais assertivas.
Outro ponto enfatizado pelos palestrantes é a necessidade de ensinar os alunos sobre quais perguntas devem ser feitas para obterem melhores resultados nas buscas. Além disso, ferramentas do tipo promovem a autonomia do estudante e estimulam a curiosidade. “O conceito desenvolvido hoje pela empresa é de que não somos mais usuários, mas pilotos e copilotos. O foco é usar a Inteligência Artificial para gerar um aproveitamento de 100% em plataformas e softwares que não sabemos operar em sua totalidade”, explicou Ricardo Wagner, diretor de marketing e operações da Microsoft ao apresentar o Microsoft 365 Copilot aos presentes.
O cuidado socioemocional tem alcançado, pelo menos nos últimos anos, um espaço de destaque no interior das escolas. Em um painel dedicado ao tema, especialistas discutiram as relações entre o aumento no número de ataques violentos às escolas e a importância do diálogo, da escuta e do cuidado com a saúde mental dentro dos espaços de ensino. Telma Vinha, professora da Faculdade de Educação da Unicamp, apresentou as principais características e motivações dos agressores para cometerem tais atos. “O foco principal, ainda que não exclusivamente, é a escola. E isso pode acontecer em qualquer unidade de ensino. De alguma forma, a escola é o palco de algum episódio de sofrimento do estudante que comete esses atos”, explicou.
Para mudar essa realidade, a docente aponta como prioridade a escuta e o acolhimento, especialmente nas escolas. “Política pública não deve se resumir à segurança e à vigilância, isso não muda valores. Esse é um problema sociológico e cultural, do qual precisamos tratar com acompanhamento, mediação e dar a esses jovens o seu lugar de pertencimento. A escola pode ser promotora do bem-estar”, destacou.
Para Juliana Hampshire, psicanalista e painelista, esse cuidado deve se estender também aos professores, que se encontram, muitas vezes, sobrecarregados em tarefas e em emoções. “A escola precisa de mais tempo, especialmente para o desenvolvimento dos professores. É preciso mais tempo para ouvir, para entender, para se relacionar. A rapidez com a qual as coisas acontecem hoje não permite uma escuta ativa e dificulta a comunicação, especialmente com a juventude. É preciso trabalhar isso”.
Entendendo esse contexto e indo além de uma formação que capacite o professor para trabalhar com a aprendizagem socioemocional com os alunos, a Semente Educação lançou a Academia de Professores, voltada para o desenvolvimento pessoal e profissional dos educadores, durante a Bett Brasil 2023. Segundo o professor Eduardo Calbucci, CEO da Semente Educação e diretor-geral do Programa Semente, é fundamental que o professor
tenha habilidades socioemocionais bem desenvolvidas para poder mostrar o caminho dessa aprendizagem aos estudantes.
“Pesquisas mostram que depressão e ansiedade estão entre os principais motivos de afastamento de professores. O ensino socioemocional atua como fator preventivo, reduzindo as chances de turnover em instituições. Por isso, mais do que proporcionar formação aos educadores das escolas para aplicarem soluções socioemocionais como o Programa Semente, estamos lançando um curso totalmente focado no desenvolvimento do professor, que vai impactar positivamente sua vida pessoal e profissional”, explica Calbucci.
Com o propósito de proporcionar experiências transformadoras nas escolas, a BEĨ Educação lançou a coleção Aprendendo a lidar com dinheiro, direcionado aos anos finais do Ensino Fundamental. A partir da abordagem de práticas financeiras do cotidiano, a coleção promove a educação financeira por meio do uso da matemática aplicada na resolução de problemas reais. Elaborada pelo autor Paulo Costa, economista e doutorando
pela Universidade de Harvard, esta coleção mostra como a educação financeira pode contribuir para vencer a resistência do jovem à matemática. O material desenvolve a compreensão de conceitos da educação financeira que, integrados à matemática de forma contextualizada, estimulam os jovens a refletirem sobre a importância do tema para suas vidas, ajudando na tomada de decisões e na transformação da realidade.
O Poliedro Sistema de Ensino lançou duas soluções inéditas para a gestão escolar: as ferramentas Marketing Pro e Rotas Pedagógicas . A ferramenta Marketing Pro tem o objetivo de apoiar as Escolas Associadas no planejamento de estratégias e na produção de conteúdos de marketing para que consigam apresentar sua proposta pedagógica e se sobressair no mercado em sua região de atuação. A ferramenta foi desenvolvida pelo Poliedro por meio da sinergia entre as áreas de Inovação e Marketing. Já o Assistente de Rotas Pedagógicas tem o objetivo de auxiliar as escolas na implementação eficaz do Novo Ensino Médio, garantindo a adequação da matriz curricular das escolas, alinhada às diretrizes legais, aos objetivos pedagógicos do novo mode-
lo e à realidade da sua região, a fim de alcançar melhores resultados.
Tendo como foco a criação de um material pedagógico multifacetado para as escolas, o Sistema de Ensino pH elaborou uma alternativa na qual as escolas podem optar por diferentes formas de uso do material para o 3º ano do Ensino Médio. A primeira é uma estrutura que permite uma preparação adequada ao Enem atual. Já a segunda forma de uso contempla todo o trabalho que deve ser feito a partir dos itinerários formativos (IFs), tendo como premissa que os IFs têm como papel aprofundar e ampliar os saberes. “Em primeiro lugar, é importante dizer que o material do segundo e do terceiro anos do Ensino Médio do pH é revisional. Ou seja, nós estruturamos o material em um formato no qual as escolas podem organizar a sua
grade horária para o aluno, de modo a trabalhar com aprofundamento os conteúdos”, afirma Cláudio Falcão, Diretor Executivo do Sistema Anglo e Sistema de Ensino pH. “Ao mesmo tempo, as escolas podem ter à disposição materiais no modelo dos itinerários formativos do Novo Ensino Médio com turmas organizadas a partir do interesse do aluno, levando em conta recortes específicos como os de ciências da natureza, matemática ou biomédica”, explica o diretor.
etária, além de fotos e infográficos que facilitam o entendimento das informações.
Além de ser uma ferramenta para auxiliar educadores no processo de ensino de diversas disciplinas e ajudar alunos a desenvolver habilidades matemáticas, a publicação busca estimular a criação do pensamento crítico e a formação de cidadãos capazes de consumir com inteligência e de modo consciente. Durante o evento, o jornal Tino Econômico também fez o lançamento do jogo Vida Financeira, que tem como propósito ensinar os jovens, de um jeito lúdico e divertido, a fazer boas escolhas no uso do dinheiro. Simulando uma trajetória profissional com posições que vão do estagiário a CEO de uma empresa, a iniciativa estimula que os jovens optem entre poupar, arriscar e investir. Diante dos desafios de cada rodada, quem tomar as melhores decisões vence a partida.
A fácil adaptação do material didático também é o objetivo do Sistema Anglo de Ensino, que se destaca por oferecer um material didático completo e flexível para as necessidades de cada escola, além de assessoria pedagógica com suporte permanente. “Os materiais didáticos do Anglo são elaborados por uma grande e qualificada equipe de professores-autores, que conhecem a BNCC, os editais dos principais exames e a realidade da sala de aula. Estes autores estão permanentemente ligados ao material, aprimorando-o e atualizando-o, mantendo a tradição Anglo de inovação e alta performance acadêmica”, afirma Daniel Perry, Diretor do Sistema Anglo de Ensino. “O material é, ao mesmo tempo, profundo e equilibrado, completo e pragmático”, diz Perry.
Para ajudar a promover a educação financeira e apoiar educadores na implementação desta temática nas salas de aula do país, a editora Magia de Ler, especializada em jornalismo infantojuvenil, apresentou o jornal Tino Econômico na Bett Brasil. O periódico, apoiado pelo Instituto XP, é o primeiro do Brasil sobre economia e finanças focado no público jovem. Com impressão mensal e portal de notícias com atualização diária, proporciona ao público de 13 a 17 anos – estudantes dos ensinos fundamental e médio – conteúdo contextualizado sobre finanças e economia nacional e mundial. São reportagens, entrevistas e curiosidades em uma linguagem adequada para a faixa
“O intuito do jogo é auxiliar o jovem no entendimento de como administrar o dinheiro e no aprendizado de conceitos de finanças. Em uma aula de 40 minutos, o professor consegue explicar, aplicar e finalizar o jogo de forma que o aluno entenda como é a vida fora da escola. Será mais um recurso eficiente para o educador impulsionar a aprendizagem sobre educação financeira em sala”, explica Silvia Balieiro, editora-chefe do jornal T ino Econômico.
Com foco no aprimoramento da metodologia de ensino em inglês, a Skies Learning by Red Balloon foi lançada durante o evento como uma solução personalizada para atender as necessidades das escolas e colaborar para a formação de alunos bilíngues nos mais diversos cenários. A nova solução foi desenvolvida com base em três alicerces – material didático, programa de gestão e programa de formação docente –, visto que para formar alunos bilíngues, é necessário oferecer ferramentas adequadas, um espaço favorável e seguro para a prática, além de professores atentos ao desenvolvimento dos estudantes. O grande destaque da Skies Learning é que a instituição não precisa ser bilíngue para formar um aluno bilíngue, mantendo a essência de cada escola e o seu protagonismo no ensino de inglês.
Aprendizagem colaborativa, participação ativa na construção do conhecimento, interações efetivas e engajamentos em sala de aula. Essas características, presentes cada vez mais em nossa realidade, apontam para uma reelaboração do extenso processo de ensino a fim de preparar os estudantes para as demandas atuais, bem como para as habilidades que serão necessárias no futuro. Nesse sentido, a utilização de um conjunto de metodologias ativas auxilia na readaptação do processo pedagógico diário, deslocando o saber de um padrão vertical para o estímulo de uma relação do próprio estudante com o aprendizado.
“As metodologias ativas são demandas necessárias, e até urgentes, na educação contemporânea”, enfatiza Cristine Soares, diretora geral do Colégio Guaiaúna e fundadora do primeiro sistema de aprendizagem focado em metodologias ativas. “No processo ativo, existe um amplo envolvimento do estudante com o objeto estudado, por meio de observação, investigação, comparação, colaboração e elaboração. Isso é a aprendizagem centrada no estudante, porque deve-se pensar em toda a jornada de conhecimentos que o aluno irá adquirir para chegar ao conceito”, afirma.
Trabalhar com as metodologias ativas, conta Cristine Soares, é um convite para repensar toda a estrutura educacional, e não apenas incorporar novas técnicas e/ou tecnologias em sala de aula. “É preciso reaprender a ser educador para esse novo educando. É preciso repensar posturas, paradigmas, condutas centralizadoras e ressignificar o seu impacto na vida dos estudantes”, diz.
A entrada de estudantes com novos/outros anseios no sistema educacional e as alterações sociais em constantes mudanças são fatores principais que evocam transformações necessárias para a atualidade – e que ecoarão no futuro. “O estudante não quer mais aprender por aprender. Se a escola não mobilizar situações de aprendizagem, cada vez mais perderá sua relevância. A escola precisa preparar os alunos para o futuro e não para o passado”, comenta Cristine Soares.
Na prática, a inserção de metodologias ativas deve ser um trabalho articulado entre o corpo docente e os pais e/ou responsáveis. A gestão escolar pode incentivar o corpo docente com estudos, formações, leituras, além de sensibilizar a docência a embarcarem nesse movimento transformador, buscando soluções e materiais que contribuam para a execução do trabalho pedagógico, indica a diretora. “O professor necessitará de recursos alinhados com as metodologias ativas, que permitam ao aluno pesquisar, criar e registrar de maneira condizente com o percurso de aprendizagem. É preciso apresentar as intenções às famílias, inserindo-os nesse processo de construção. Paciência e resiliência com os grupos resistentes, seja de pais ou professores. Apoiar o grupo nas suas tentativas e descobertas, entendendo que o erro fará parte do processo. Com tudo isso articulado, em pouco tempo a escola já notará inúmeras mudanças no ambiente escolar, especialmente no engajamento dos estudantes”, finaliza. (RP)
CRISTINE SOARES
cristine@guaiauna.com.br
Atemática da saúde mental, assim como as suas reverberações, alcançou um lugar de destaque nas discussões sobre o cotidiano escolar nos últimos anos. Em um breve retrospecto, o avanço das tecnologias em diversas camadas, as transformações sociais, a pluralidade das redes sociais que emergiram e os efeitos da pandemia de Covid-19 são alguns dos fatores que podem influenciar diretamente na saúde mental da comunidade escolar.
“As demandas de saúde mental relacionadas ao cotidiano escolar não são novas. Sempre existiram. Mas, de fato, foi a partir da década de 2000 que vimos um recrudescimento importante”, afirmam a psicóloga Anne Prado e o médico Marcos Moraes. Eles comentam que um estudo publicado em maio de 2023 no JAMA Pediatrics (principal periódico médico que aborda as questões da infância e adolescência), com dados de 41 mil crianças de 12 países, mostrou que os sintomas depressivos aumentaram 26% e os ansiosos, 10% por conta da pandemia. “Ao fazermos um recorte no universo adolescentes, que representa nossos alunos do fundamental 2 e ensino médio, a principal piora foi em relação a ansiedade, piorou 16%”, completam.
A atenção com a saúde mental possibilita, aos estudantes, uma transição fluida para a vida adulta, interferindo diretamente no bem-estar, no desenvolvimento e na autoestima do jovem em período de formação. “Resultados positivos na educação estão diretamente relacionados com o grau de equilíbrio da saúde mental das nossas crianças e adolescentes, e os resultados negativos também”, afirmam Anne e Marcos.
Nesse sentido, estreitando o olhar sobre a es-
cola, a psicóloga e o médico acreditam que a escola é um ambiente estratégico para promover saúde mental para crianças e adolescentes, sobretudo pelo longo período que os estudantes passam diariamente nas instituições. “Na nossa visão a escola deve atuar essencialmente em dois pontos. O primeiro é começar a educar sobre psicoatenção, ou seja, precisamos ensinar nossos alunos a reconhecerem suas emoções e a como gerenciá-las. O outro ponto de atuação da escola deve ser como ponte entre as famílias, os jovens e as questões de saúde mental, inclusive com troca ativa de informações sobre o aluno”, destacam.
Na prática, algumas ações podem ser desenvolvidas a fim de inserir o cuidado com a saúde mental na agenda escolar. Palestras e atividades em grupo, para a sensibilização do tema, são válidas, desde que tenha uma constância. “Não adianta falar uma vez no ano sobre saúde mental e achar que está caminhando. É preciso falar todos os meses, sobre diferentes tópicos”, reforçam. E se os alunos puderem participar desse processo, apontando temáticas de interesse, o engajamento aumenta.
“Outra ação factível é estimular que os alunos procurem ajuda, interna e externa. Se a escola for capaz de estabelecer um canal para isso, melhor ainda. Uma outra ação, mais estruturante, é implementar disciplinas de competências socioemocionais”, complementam os profissionais Anne Prado e Marcos Moraes. (RP)