7 minute read

7. ENTREVISTA

ENTREVISTA

Tratamento homeopático para TDAH

Advertisement

De acordo com a Associação Brasileira de Déficit de Atenção (ABDA), o Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH) é um transtorno neurobiológico, de causas genéticas, que se caracteriza por sintomas de impulsividade, desatenção e inquietude, e que aparece na infância e acompanha o indivíduo durante toda a vida adulta. Segundo dados da Organização Mundial de Saúde, cerca de 4% da população adulta mundial têm TDAH. Só no Brasil, o transtorno atinge aproximadamente 2 milhões de pessoas. Para falar sobre como o tratamento homeopático pode auxiliar no tratamento de sintomas do TDAH, nós conversamos com a terapeuta homeopata e mestre em psicologia Caroline Macedo.

Foto: Caroline Macedo/Arquivo pessoal.

REH: De maneira mais específica, qual é a definição do TDAH?

CM: É um transtorno do neurodesenvolvimento que se manifesta no cérebro e se reflete no comportamento da pessoa. Acontece uma alteração no desenvolvimento e maturação do lobo frontal que é responsável em comandar as funções executivas, que são relacionadas com a capacidade de prestar atenção e controlar os impulsos, entre outras funções. Existe o TDAH, que é o transtorno de déficit de atenção e hiperatividade; o TDA, que é déficit de atenção; e TH, que é transtorno de hiperatividade. Além disso, o TDAH pode ter características diferentes, dependendo da pessoa. Por isso, é necessário uma avaliação cuidadosa.

REH: Quais são as principais dificuldades que indivíduos com este transtorno enfrentam?

CM: Em geral, as pessoas com TDAH apresentam dificuldades em realizar planejamentos, regular os impulsos, controlar emoções, aguardar um tempo de espera, analisar e sintetizar informações, e resolver problemas. É como se importasse apenas o presente. Agem sem pensar no passado e no futuro. Outras características que podem estar presentes são o excesso de atividade em relação à idade e às exigências do entorno, problemas para focar atenção nos estímulos por tempo adequado, necessidade de satisfação imediata e dificuldade na coordenação de movimentos, além de quadros de insônia. Com isso, as consequências deste comportamento repercutem nas relações sociais e no ambiente escolar, acarretando dificuldades de aprendizagem. Quando predominam os sintomas de falta de atenção, os sintomas de impulsividade-hiperatividade não ocorrem ou são leves, o que pode ter como consequência um diagnóstico tardio, pois são crianças mais quietas, no “mundo da lua”. Também o contrário acontece. Podem predominar sintomas de hiperatividade-impulsividade sem déficit de atenção. Geralmente, como são crianças que não ficam quietas, são mais facilmente percebidas. E como colocado anteriormente, déficit de atenção e hiperatividade podem ocorrer simultaneamente.

É interessante para o profissional que está atendendo alguém com TDAH consultar o DSM-5 [Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais], onde constam todas as características do transtorno, pois podemos ter uma criança que está passando por uma situação momentânea e com isso apresenta maior impulsividade e não por isso podemos dizer que é hiperativa. É necessário um número significativo de características. Enfim, o diagnóstico é feito por médico e neuropsicólogo e muitos chegam para atendimento já com diagnóstico. O importante para nós é conhecer as características e suas diferenças para buscar a similitude nos medicamentos homeopáticos.

REH: De quais formas a Homeopatia pode ajudar no tratamento deste transtorno, evitando prejuízos acadêmicos, profissionais, psicológicos e para a vida social e afetiva do paciente?

CM: A Homeopatia vai atuar na pessoa de forma integral, restaurando o equilíbrio para a pessoa com TDAH. A medicina alopática busca tratar os sintomas que aparecem e não a sua causa. Na Homeopatia tratamos

a pessoa, e não é diferente nas pessoas com TDAH. Eu trabalho com a Homeopatia da Química Humana, que ficou popularmente conhecida como Homeopatia Detox. Então, além da história clínica, acometimentos físicos e emocionais, busco as variáveis ambientais, medicamentos e tudo o que possa ter influenciado no quadro. Muitas vezes encontramos algo que precisa ser detoxificado que veio herdado dos pais.

REH: Quais os preparados homeopáticos costumam ser indicados para indivíduos diagnosticados com TDAH e por quê?

CM: As indicações sempre são feitas de forma individual. Não existe um protocolo a seguir que seja igual de uma pessoa para outra, mas podemos pensar em alguns medicamentos que podem ter similitude com as características do transtorno, que possuem como agitação, inquietação, impulsividade ou déficit de atenção, tais como: medicamentos das aranhas (ex Tarentula hispânica), Arsenicum album, Veratrum album, Iodium, Zincum, Hyosciamus, Opium, Sulphuricum acidum, Medhorrinum, Opium, Tuberculinum,Helelborus, Agaricus, Sacharum. entre outros.

Também utilizo organoterápicos, podendo utilizar o cérebro total ou apenas o lobo frontal, para estimular essa região específica. Além disso, as homeopatias dos neurotransmissores, muito utilizadas na Homeopatia Integrativa para equilibrar o organismo, como por exemplo Dopamina, Noradrenalina, Adrenalina e Acetilcolina, buscando o equilíbrio para cada momento específico e relacionados com a detoxificação a ser feita.

Para a detoxificação também não existem receitas, mas existem pesquisas que apontam por exemplo o efeito prejudicial de aditivos químicos e corantes em pessoas com TDAH, além de metais pesados no organismo, medicamentos ou drogas que os pais utilizaram ou que a própria pessoa utilizou e que pode ter relação com os sintomas.

Quanto às melhorias, vemos na pessoa como um todo: melhora do sono, melhora gradual da hiperatividade, melhora da concentração, auto-estima, etc. As melhorias acontecem no plano físico, mental, comportamental e social. Geralmente o tratamento demanda tempo, que também varia de uma pessoa para outra.

REH: O tratamento homeopático de TDAH deve ser utilizado sozinho, ou pode ser feito junto com o tratamento alopático? Por quê?

CM: Pode ser utilizado tanto sozinho, como junto com outro tratamento que a pessoa estiver fazendo, desde que os medicamentos não sejam tomados no mesmo momento. Nós, como terapeutas, não podemos interromper uma orientação médica. Ocorre com frequência de a pessoa iniciar o tratamento homeopático e o médico diminuir a dose da medicação que havia receitado, chegando a suspender.

REH: A senhora já atendeu pacientes com TDAH? Qual caso lhe chamou a atenção e mais lhe deixou satisfeita levando em consideração os resultados alcançados com o tratamento?

CM: Já atendi e atendo pessoas com TDAH e também pessoas com autismo que tem como comorbidade associada o TDAH. Não tenho como descrever qual caso me deixou mais satisfeita, pois vibro com cada avanço deles. São muito diversos e às vezes algo que

pode parecer pouco, para aquela pessoa, nas condições que ela apresentava, é um avanço muito significativo. Poder ver a melhora gradativa na qualidade de vida deles é realmente gratificante. Mas vou relatar um caso muito interessante que chamou a atenção pela rapidez dos resultados. A criança apresentava agitação, dificuldade de concentração e características relativas ao TDAH e a queixa principal era em relação ao aprendizado, pois já estava no terceiro ano e não demonstrava saber ler e escrever. Montei o plano de tratamento com as substâncias a serem detoxificadas, o que precisava equilibrar no organismo e seu medicamento constitucional, que era o Phosphoricum acidum e já no final do primeiro curso de detox começou a ler e escrever. Foi surpreendente seu avanço em tão pouco tempo. Esta criança segue em tratamento e a cada retorno seus avanços são notáveis.

REH: Há alguma recomendação para os familiares do paciente com TDAH?

CM: A recomendação que dou para todas as pessoas, não apenas aos familiares, é buscar conhecer sobre o assunto. Muitas vezes a criança com TDAH é rotulada de mal-educada, por não conseguir controlar seus impulsos, ou então rotulada pelos colegas como “burra”, por sua dificuldade em aprender. Já são muito estigmatizadas, o que acaba afetando sua autoestima. Geralmente, esses pacientes chegam não gostando de si mesmos e cada um reage de forma diferente. É interessante buscar estas reações para encontrar o melhor medicamento homeopático. Devemos entender que o paciente age desta forma porque não consegue ser de outra maneira. Seu cérebro é diferente, o que não quer dizer que não será capaz de aprender. Pode sim e existem muitas intervenções que podem ajudar concomitantemente com o tratamento homeopático. O ideal é buscar um tratamento multidisciplinar. Recomendo aos pais buscar atendimento psicopedagógico e psicológico para esta criança. A nutrição especializada também exerce papel importante na melhora.

REH: Há diferença no tratamento homeopático de TDAH de adultos em relação ao de crianças? Quais? Por quê?

CM: O tratamento homeopático do TDAH em adultos também é realizado de forma individualizada. Falamos muito de TDAH em crianças, mas as dificuldades continuam ao longo da vida. Acontece que na maioria das vezes as dificuldades são atenuadas, principalmente na concentração e impulsividade, mas estas pessoas apresentam dificuldade para organizar e controlar as tarefas e o tempo, podem ter capacidade reduzida para desenvolver um trabalho independente e sem supervisão e uma progressão mais lenta na educação e nas ocupações. Além disso, vão acumulando rótulos, o que reflete diretamente na sua autoestima e no seu valor como pessoa, dificultando suas relações interpessoais. É comum vermos pessoas adultas serem diagnosticadas com TDAH hoje em dia, pois há tempos atrás, não se dava a devida atenção ao transtorno. Muitos descobrem tardiamente e muitas vezes essa descoberta traz alívio. Começam a entender o porquê são diferentes e vão em busca de melhorar sua qualidade de vida.

This article is from: