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História de Fim de Ano
A Revista Celebrar pediu, nas redes sociais, que os leitores contassem histórias emocionantes, engraçadas, ou marcantes que aconteceram em festas de m de ano. A história selecionada foi a de Claudio R. Tavares. Con ra:
o nal de 1991, durante um curso de seis semanas que fui fazer em Curitiba, pela empresa em que trabalhava, a Embratel, conheci a Valéria, com quem estou casado. Num primeiro momento, tentei me aproximar como amigo, pois não vi muita oportunidade de ser de outra forma. E assim foi de novembro a dezembro. Nosso contato era bem pouco, por telefone ou carta, já que internet e celular eram coisas que ainda não existiam na época aqui no Brasil.
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Numa dessas conversas, ela me falou que ia passar a virada de ano dentro de um ônibus de Curitiba/PR para Tupã/SP, onde morava sua família, pois só ia ser liberada às 18h do dia 31, quando fechava a loja em que trabalhava.
Fiquei pensando naquilo, no que poderia fazer para mudar essa história. A nal, não me conformei em ter que deixar uma pessoa, de quem já gostava bastante, passar o m de ano, dentro de um ônibus, sozinha. Na época, eu residia no Rio de Janeiro, era divorciado e as três
lhas, de 14, 13 e 12 anos moravam comigo. Em torno do dia 27 de dezembro, reuni-me com elas para explicar a situação que estava vivendo. Contei que estava gostando de uma moça e o fato de ela passar o m de ano no ônibus, sozinha. Disse que gostaria de ajudar, mas só iria se elas me liberassem de passar o Ano Novo juntos. Elas iriam para a casa de praia da minha mãe em Araruama/RJ e eu iria para Curitiba. No dia três, iria buscá-las. Recebi o apoio imediato e incondicional delas, o que até me surpreendeu. Combinei com minha irmã, que ia para a casa da minha mãe com vaga no carro, para passar em casa e pegá-las para levá-las. Ficou tudo certo.
No dia 30, bem cedo antes do amanhecer, peguei o carro e a estrada rumo a Curitiba. Cheguei lá no nal da tarde; a nal são 850 quilômetros de distância.
Fui direto para o shopping em que a Valéria trabalhava. Procurei uma amiga comum que trabalhava numa loja da Praça de Alimentação e pedi para inventar uma história e chamá-la para subir até lá. Não demorou muito e ela apareceu. Tomou um susto quando me viu e perguntou o que eu estava fazendo lá.

Eu disse que tinha ido para levá-la de carro para a casa dos pais dela, que ela não iria passar o Ano Novo, sozinha, dentro de um ônibus. O primeiro questionamento foi sobre a passagem que já tinha comprado. Eu disse: se você permitir que eu te leve, me dê a passagem que vou, agora, na Rodoviária cancelar e pegar o reembolso. Ela ainda titubeou, mas concordou.
Ela morava com umas amigas e me levou para dormir na casa delas, com a condição de que dormisse sozinho e no chão da sala. Fazer o quê? Concordei e assim foi.
No dia seguinte, ela saiu para trabalhar e já deixou a mala pronta no carro. O plano era sair do trabalho às 18h e pegar direto a estrada para Tupã. Pelos cálculos que z, olhando os mapas (Não existia GPS na época), daria tempo de chegar em cima da hora para a virada.
Cheguei ao shopping às 17h30min, lanchei, comprei um lanche reforçado para ela e quei esperando no carro. Ela fechou a loja e foi me encontrar. Saímos às 18h15min. No primeiro sinal de trânsito, peguei a sacola do lanche e entreguei para ela, que cou surpresa.
Peguei a estrada e acelerei. O tempo que calculei era su ciente para chegar se andasse forte. Não foi nada prudente a viagem. Ainda bem que ela con ou em mim, pois pisei fundo. Estrada que eu não conhecia, muito sinuosa, à noite e andando acima de 120 km/h. Um pouco antes das 23h, estávamos chegando à cidade de Assis/SP e tive que parar para abastecer, pois o combustível já estava entrando na reserva. Faltavam uns cem quilômetros para chegarmos. No ritmo em que estávamos, 470 quilômetros em pouco mais de 4 horas e meia, daria para chegar.
Dei uma olhada no mapa e saímos. Passamos por Assis e o mapa dizia que teríamos que entrar na primeira rodovia à direita. A rodovia apareceu e entramos. Detalhe: não tinha placa nenhuma que garantisse que estávamos no caminho certo. Tinha só o mapa que dizia que era por ali. Após andarmos uns 10 minutos apareceu uma placa com o nome da Rodovia, se não me engano “Rodovia Manilio Gobbi”. Não devia, mas z a pergunta: é essa estrada mesmo? E ela respondeu que não era. Fizemos a volta e retornamos para a rodovia principal até encontrarmos um posto de gasolina para perguntarmos sobre a direção do nosso destino. E a resposta foi dura (rsrs). Estávamos na rodovia certa e tivemos que voltar. Com isso, o objetivo principal da viagem tinha ido por água abaixo. Não daria mais tempo de chegar à casa dela antes da meia noite.
Pegamos a estrada que era a certa e, por mais que acelerasse, o relógio estava andando muito rápido. Quando faltavam uns cinco minutos para meia noite, entramos na cidade de Quatá. A rodovia virava avenida principal dessa cidade. Já estava começando a tradicional queima de fogos da virada. Na praça principal, da Matriz, tinha bastante gente reunida e resolvi parar. Disse para ela que o objetivo era não passar a virada na estrada. “Vamos parar aqui e esperar dar meia noite”.
Descemos do carro para “esticar” o corpo e disse que ia lá atrás, no bagageiro, pegar um negócio. Ela foi comigo. Abri o bagageiro e peguei uma camisa cor de rosa. Ela olhou descon ada e perguntou o porquê da camisa. Eu disse que tinha lido uma reportagem que falava que virar o ano de rosa traria um grande amor. Ela sorriu e eu vesti a camisa. Abri um isopor, saquei um champanhe e, na mala, peguei duas taças. Ela não acreditou. Eu disse: sou prevenido. Imaginei que algo pudesse dar errado e não chegássemos a tempo. O champanhe era para uma emergência, que acabou acontecendo. Fizemos a contagem regressiva e, na hora em que explodiu o foguetório, também estouramos o nosso primeiro champanhe juntos. Servimos, brindamos e ganhei um beijo. Entramos no carro e continuamos a viagem. Em 20 minutos, chegamos à casa dela, para surpresa dos pais e parentes, ainda no meio das comemorações. Mais um detalhe: o namoro não começou nesse dia, ainda tive que suar a camisa para conquistar a moça; demorou para iniciarmos.
QUERO RESSALTAR QUE, NESTE FINAL DE ANO, ESTA HISTÓRIA VAI FAZER 25 ANOS.





