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Quadro 4- Ferramenta PESTEL
em que inúmeras marcas vendem uma falsa desconstrução, a qual cria a ilusão de pertencimento e participação, com roupas que não valorizam realmente o corpo feminino (MESQUITA, 2020). Segundo dados da Associação Brasil Plus Size – ABPS, 63% das consumidoras sentem falta de maiores opções de modelagens das roupas, sendo que 77% criticam que não há bom caimento.
Portanto, percebe-se a necessidade de um mercado com maior número de produtos do vestuário feminino que representem e exaltem as consumidoras como corpo e pessoa, desenvolvendo uma marca que alcance maior variedade de tamanhos, utilizando-se do streetwear e da alfaiataria. Além disso, diante da extensão territorial do Brasil, existem múltiplas culturas que se complementam e constroem o país, porém percebe-se a escassez de um comércio que valorize essa pluralidade brasileira. Dessa forma, decide-se também criar um negócio que tenha o propósito de enaltecer a abundância das riquezas presentes na cultura brasileira.
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4.2 ANÁLISE DO CENÁRIO DE MACROAMBIENTE
Para a criação e administração de uma empresa, é necessário o estudo de todas as ações externas que podem afetar um negócio. A partir disso, pode ser usada a ferramenta de Macroambiente, que mapeia e analisa todas as áreas que interferem e influenciam a marca e, consequentemente, seu público-alvo: a política/legal, a econômica, a sociocultural, a tecnológica e a ecológica, tendo em vista que todas elas se entrelaçam e se afetam.
Dessa forma, analisando todos os dados coletados e selecionando os mais relevantes para o negócio, foi possível a criação de um quadro (Quadro 3) dividido pela ferramenta PESTEL, possibilitando, assim, melhor visualização de todo o cenário que envolve a atual marca.
QUADRO 4- Ferramenta PESTEL.
FONTE: Acervo das autoras (2021). 9 1
4.3 ANÁLISE DO CENÁRIO MICROAMBIENTE
Ao se decidir trabalhar com a diversidade de um país tão extenso quanto o Brasil, foram encontrados alguns desafios que ultrapassam as barreiras regionais e penetram a moda brasileira, moda essa que, desde seu princípio, tem sido um reflexo do eurocentrismo, desconsiderando, por vezes, as raízes brasileiras. Um grande exemplo disso são os tamanhos e modelagens das roupas, por muitos anos baseados em mulheres altas e magras, que representam apenas uma parte da grande diversidade corporal, a qual, por si só, está longe de ter um padrão: no Brasil, cerca de 30 milhões de brasileiros são considerados obesos, de acordo com pesquisa realizada pela revista Lancet, em 2016, sendo que 63% desses consumidores sentem falta de opções de modelagens de roupas, e 77% reclamam que as peças não vestem bem em seu corpo, segundo a Associação Brasil Plus Size (ABPS, 2019).
O mesmo desafio é encontrado quando falamos de diversidade racial, ou seja, a falta de representatividade tem sido pauta nos últimos anos, contudo o caminho para a igualdade ainda é longo. Segundo matéria do jornal G1, de 2009, no São Paulo Fashion Week - SPFW, o maior evento de moda do país, o Ministério Público de São Paulo discutia com estilistas e organizadores a ideia de incluir um número mínimo de modelos negros nos desfiles, percentual este de 10%. Atualmente, a participação de modelos negros no evento está na casa dos 3% (G1, 2009).
Também no mesmo contexto, a falta de acesso à cultura estende-se para além dos desfiles,
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quando o assunto é diversidade racial, e penetra outras vertentes da sociedade. Dados do IBGE (2018) apontam que a diferença de acesso à cultura está relacionada à cor e à região do país, já que 49% dos negros moram em municípios sem cinema, por exemplo, e apenas 10% das cidades brasileiras têm exibição de filmes, atividade tão corriqueira nas cidades maiores. Esse tipo de ocorrência acaba por intensificar a desvalorização cultural no país, enraizada, na verdade, ao longo de sua história, e reforça, por extensão, a ideia de que produtos criados em território nacional são primitivos.
Essa percepção pode ser vista como falaciosa - já que o artesanato é uma das produções responsáveis por contar as histórias do país, sendo forte representação, também, da extensa biodiversidade brasileira, uma vez que há riqueza de materiais -mas ela é, sim, o retrato fiel do que ocorre. Por isso, algumas iniciativas têm sido tomadas, a fim de reverter esse quadro, como é o caso da Fundação Nacional do Índio - FUNAI9, que investiu R$25 milhões, nos últimos dois anos, em projetos de rendas nas aldeias e no fortalecimento cultural dos povos indígenas, além de criar a Campanha Abril Indígena 2021, que busca ressaltar as ações que promovem o desenvolvimento das aldeias.
Graças a esses esforços e ao crescimento acelerado das mídias sociais durante a pandemia, o acesso à informação e a pequenos produtores tornou-se mais fácil, o que permitiu a utilização dos meios de comunicação e de estratégias de marketing, para a valorização do artesanato, de forma contemporânea. Esse fato gerou maior apreciação por parte do consumidor, que está mais exigente, sempre em busca de novidades, experiências e diversificação, atraindo, então, seu interesse por produtos que agreguem valores socioculturais para a Moda. E um dos segmentos que pode vir a se destacar neste âmbito, e
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que vem ganhando forças, é o streetwear, visto que tem se mostrado cada vez mais importante dentro da moda feminina. Marcas como Gucci e Louis Vuitton, por exemplo, comemoram seu crescimento no mercado de luxo, nos últimos dois anos, exatamente o período em que incorporaram o conceito street em suas coleções (EDITED, 2020); sendo que também vêm incorporando itens de alfaiataria a peças que se assemelham a um estilo mais casual e esportivo - encontrado, por exemplo na Adidas -, com moletons, camisetas e calças confortáveis, em seus desfiles. Tal mudança tem sido de grande agrado para o público feminino, já que, desde o advento da pandemia, o estilo de vida e de trabalho passou por transformações drásticas, e roupas confortáveis passaram a ser uma prioridade, como aponta uma pesquisa da Worth
Global Style Network – WGSN (2021). A mistura de peças confortáveis do cotidiano com outras mais elegantes, como de alfaiataria, acabou por reforçar o estilo hi-lo nos últimos anos. Dados de pesquisas indicam o crescimento do faturamento de vendas de alfaiataria on-line, que subiu 47%, nos primeiros seis meses do ano de 2020, segundo a Ebit/ Nielsen (2020), e de vestuário casual, categoria que incluiu o streetwear, que cresceu 10,3%, de 2016 para 2017, totalizando um faturamento de R$ 116,5 bilhões, de acordo com a Inteligência de Mercado (IEMI, 2019).
Sendo assim, o presente projeto busca superar alguns desses desafios, com uma moda que coloque a cultura brasileira no seu centro, incentive a valorização do artesanato e abrace a pluralidade do corpo feminino brasileiro. A partir da produção de artesanato - segmento criado pelo povo e para o povo e que tem tomado cada vez mais espaço na moda feminina, carregando fortes posicionamentos e expressões - em combinação com a al-
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4.4 SEGMENTO DE MERCADO
O segmento de mercado escolhido foi, assim, o de streetwear atrelado à alfaiataria, buscando-se propor peças versáteis, confortáveis e que ainda possam ser práticas e despojadas para a correria cotidiana. É, também, de grande relevância destacar que as peças desenvolvidas pela marca têm a proposta de, além do resgate da pluralidade cultural regional, pensar em soluções de modelagens que possam abranger maior variedade de corpos femininos brasileiros, a fim de valorizá-los e representá-los.
Para dar início à análise de possíveis concorrentes, levou-se em consideração marcas que atendessem a uma maior variedade de corpos, mediante a utilização do streetwear em conjunto com a alfaiataria, e que trouxessem a representatividade de regiões brasileiras para além das presenciadas no eixo Rio-São Paulo. Diante disso, foram escolhidas
três marcas: Dendezeiro, Isaac Silva e Ziovara. Cada uma selecionada por abranger algum aspecto dos pontos citados anteriormente como sendo o nosso segmento de mercado.
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A primeira analisada foi a Dendezeiro, marca baiana de streetwear e acessórios, que surgiu com a proposta de produzir roupas que possam vestir corpos diversos e que tragam a valorização da região Nordeste do país, representando-a. As divulgações da marca acontecem por meio do seu site
oficial e de plataformas como Instagram, Facebook, Youtube e Podcasts.
FIGURA 46- Painel referencial da marca Dendezeiro.

FONTE: Acervo das autoras (2021).
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A Isaac Silva, vinculada a acessórios, é uma marca de streetwear que leva o nome do estilista baiano seu criador e nasceu da necessidade de uma marca jovem e ativista, trazendo em suas criações referências afro-brasileiras e indígenas. Suas divulgações ocorrem por meio da loja física e do site oficial, além de redes so-
ciais como Instagram, Twitter, Facebook, WhatsApp e Newsletters.
FIGURA 47- Painel referencial da marca Isaac Silva.

FONTE: Acervo das autoras (2021).
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