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Para 2023, cautela!

Especialistas apontam tendências para inflação, dólar e juros nos próximos meses

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Aeconomia neste novo ano começa com incerteza influenciando as previsões de câmbio e juros para 2023.

Especialistas afirmam que, diante da estimativa de inflação e dólar em alta para os próximos meses, o momento é de cautela para as empresas, com o objetivo de preservar a saúde financeira dos seus negócios.

“A transição de governos com pensamentos diferentes sobre as medidas econômicas sempre traz incerteza e impacta diretamente sobre os indicadores do mercado – taxa de inflação, dólar e juros”, explica a eco - nomista Célia Ribeiro, coordenadora do curso de Economia da Universidade Católica de Santos (UniSantos).

Diante desse cenário, o contabilista Carlos Bispo, consultor especialista no segmento de postos de combustíveis, recomenda cautela nos investimentos que não tragam absoluta certeza de incremento de lucros ou de caixa para a operação.

“O principal desafio do empresário neste momento é cuidar muito bem do gestão controlada e atenta, um endividamento para manter capital de giro”, afirma ele.

“No caso da revenda, deve-se esperar por grandes desafios, principalmente nos aspectos econômicos internos e externos que devem onerar o caixa fortemente, tanto com o (possível) término do campo de redução dos tributos nos preços dos combustíveis, quanto à disponibilidade de ofertas de produtos no mercado internacional, com olhar mais atento ao diesel”, completa Bispo.

“Qualquer estimativa sobre preços (dos combustíveis) é arriscar um palpite que pode ou não se confirmar, muito diferente de anos anteriores”, diz o especialista. “Acredito que nos últimos dois anos durante a pandemia, o revendedor evolui muito no campo das finanças, quase que obrigado a buscar fontes de recursos para manter o equilíbrio financeiro do capital de giro na sua empresa.”

A economista Célia Ribeiro concorda. “O preço da gasolina é uma das grandes incógnitas para 2023. Independente da política de desoneração do Governo (Federal), os preços dependem do cenário internacional. Hoje a crise do combustível envolve um desarranjo entre a oferta e a demanda por petróleo. A oferta mundial de petróleo, diante de uma incerteza para a resolução na Guerra da Ucrânia, reforça o desequilíbrio com uma demanda por com - bustível que continuar a aumentar com uma oferta ainda restrita. No Brasil, o preço médio da gasolina pode subir, e todos devem se preparar para possíveis ajustes”, afirma ela.

“Voltaremos a lidar com preços de compras de combustíveis altos.

Além dos aspectos internos relacionados aos tributos, ainda estaremos expostos ao PPI (Preço de Paridade Internacional), com isso poderemos voltar ao patamar de preços do primeiro semestre de 2022, o que impactará não somente a sociedade e inflação, mas também será um momento de tensão para os revendedores que deverão buscar recursos para investir na reposição e financiamento de combustível na sua operação, ou seja, aumentará significativamente a necessidade de capital”, alerta Bispo.

Indicadores em 2023

“O ano de 2023 ainda traz alguns números que preocupam o mercado:

1- DÓLAR - O dólar continua em alta frente ao real. O mercado de dólar está trabalhando apenas no curto prazo e está sensível às ações do novo governo. A alta da moeda norte-americana aliada ao cenário político, com declarações de vários ministros e mesmo depois do pacote fiscal do ministro Fernando Haddad, sempre assusta o mercado financeiro. A política cambial é importante para as decisões de importadores e exportadores, pois interfere diretamente em suas políticas de preços.

2- INFLAÇÃO – previsão do IPCA (Índice de Preço ao Consumidor Ampliado , segundo o FOCUS, para 2023 de 5,0 % ante 5,7% em 2022. Ou seja, a inflação continua elevada.

3- TAXA DE JUROS – Em dezembro a FOCUS alterou a estimativa da taxa SELIC para o final de 2023 para 11,75%, ante 11,50% na semana anterior. Em 2022 a taxa básica da economia foi mantida em 13,75%."

Célia Ribeiro, coordenadora do curso de Economia da UniSantos

“Minha recomendação ao revendedor é muito clara: O mercado de combustíveis exigirá muito mais do empresário da revenda, esteja preparado e foque naquilo que você realmente tem controle, que é a sua gestão! Tendo em mente sempre que "caixa é rei" portanto, trate-o como algo nobre.

- Elaborar um planejamento de operação com diversos cenários para fontes de receitas. Quanto maior as fontes, menor a dependência apenas dos combustíveis. Logo, ideal focar no ticket médio.

- Elaborar um bom planejamento financeiro com olhar nas fontes de financiamento, política de crédito e uma excelente gestão do capital de giro.

- Cuidar da Margem de Contribuição da Operação em Combustível, Agregados, Loja de Conveniências e Serviços. Lembrando ao revendedor que o que paga as contas é a margem e não o preço, portanto, se profissionalize no processo de precificação e pratique o indicador do ponto de equilíbrio.

- Prever investimentos apenas após o segundo semestre de 2023. Aguardar a confirmação das incertezas.

Siga um plano consistente e acompanhe a gestão de perto."

Àfrente da Federação Nacional do Comércio de Combustíveis e de Lubrificantes (Fecombustíveis) desde o ano passado, o empresário James Thorp Neto tem se destacado na presidência da entidade pelo diálogo que mantém não só com os órgãos do Poder Público, mas também com a revenda e os demais públicos de interesse do setor.

Em entrevista à Revista Postos & Serviços, o presidente da Fecombustíveis fala sobre os principais desafios para o setor em 2023 e afirma que a luta pela reformulação da TFCA e a continuidade da desoneração dos combustíveis são possibi - lidades concretas neste novo ano.

Postos & Serviços –Como está a agenda da Fecombustíveis para 2023? Quais as principais pautas da federação para este ano e como vão atuar para executá-las?

James Thorp Neto – Já começamos o ano com uma pauta intensa. Estivemos reunidos com as lideranças das três maiores distribuidoras do País e com representantes da Brasilcom (Federação Nacional das Distribuidoras de Combustíveis, Gás Natural e Bicombustíveis) para fortalecermos o diálogo e conhecermos os pontos de vista deles para 2023. Nosso intuito é entender e visualizar os desafios que teremos pela frente. É sabido que nossos desafios começaram dia 1º de janeiro, com o impasse na questão da desoneração do combustível. Prorrogaram no dia 1º, mas a publicação no Diário Oficial só aconteceu ao longo do dia 2, com muita turbulência, com distribuidores já repassando de imediato (com oneração), pois tinham recebido os produtos com carga tributária ‘normalizada’. Foi um desafio logo no início do ano.

Postos & Serviços – E deu tudo certo? Quais os próximos passos?

James - A desoneração foi prorrogada, a gente sabe que teremos outro momento de diálogo e conseguir que essa desoneração permaneça será um grande desafio. Todos nós na Fecombustíveis defendemos que seja mantida a desoneração do combustível, pois isso impacta positivamente tanto para a população como para os postos. Outro desafio é concluir algo tratado há mais de 10 anos. Houve uma evolução, mas esperamos que em 2023 seja concluída a reformulação do TCFA (Taxa de Controle e Fiscalização Ambiental), para que possamos ter uma taxa mais justa, com a cobrança mais equilibrada, e não fazendo com que um posto que fatura mais de R$ 12 milhões/ ano pague igual a uma dis- tribuidora e refinaria, como acontece hoje. Eu acho que é um grande desafio que acompanharemos neste ano. A verdade é que hoje vivemos num mercado tão dinâmico! Além dessas pautas que já são realidade, sabemos que teremos que encarar os desafios conforme eles forem aparecendo e a gente sabe que não serão poucos.

Postos & Serviços –Existe alguma previsão sobre a reformulação da TCFA?

James - Após a posse dos novos parlamentares, o projeto vai passar por uma última comissão (na Câmara dos Deputados) antes de ir para o Senado. Acreditamos na possibilidade de resolver isso ainda neste ano e, em até oito meses, acredito que tenhamos uma definição para compartilhar com a revenda.

Postos & Serviços – E quais serão as principais pautas da Fecombustíveis na ANP para 2023? Como o sr. analisa a atuação da agência no ano passado e como ela deve seguir neste ano? Acredita em novas mudanças regulatórias?

James - Estamos atentos e temos nos reunindo com representantes da agência. Temos pautas importantes pendentes e que daremos continuidade, como a questão do marcador de biodiesel na Região Norte, e o descompressor diesel marítimo, que temos total interesse que haja pois isso causa uma concorrência desleal. Estamos atentos para que seja resolvido, pois é um pleito antigo nosso. Sabemos que a ANP vem tentando fazer um acompanhamento online dos preços junto às Secretarias estaduais da Fazenda. A gente é favorável, mas isso não pode gerar mais uma obrigação e custos para os postos (caso tenham que ficar enviando os dados de preços eletronicamente). Além disso, vivemos em um país de dimensões continentais, então sabemos que existem postos em regiões com dificuldade de acesso à internet, então como eles iriam alimentar esse sistema diariamente.

Postos & Serviços –

Dentre as principais lutas do setor, está a aprovação de regras mais rígidas contra o devedor contumaz, o combate à sonegação fiscal e a reforma tributária? Como a federação pretende retomar essas discussões? Já há um direcionamento neste sentido?

James – São nossas prioridades a Reforma Tributária e a questão do devedor contumaz. Projetos como o PLP 164/2022, apresentado em substituição ao PLS 284/2017, são importantes para garantirmos uma concorrência mais leal no mercado.

Postos & Serviços – O crescimento do número de carros elétricos/ híbridos tem ocorrido em todo o Brasil. Como a federação analisa esse avanço?

James – A recomendação é que os postos fiquem atentos, pois as mudanças acontecem de forma muito rápida.

A federação está acompanhando, com representantes nas comissões junto ao Ministério de Minas e Energia, a possibilidade de mudanças na regulamentação quanto aos veículos elétricos e quanto à política de hidrogênio. Estamos acompanhando para termos condições de opinar e então compartilhar com os revendedores todas as mudanças que estão por vir. Particularmente, não acredito numa mudança imediata para uma eletrificação da nossa frota. Até pelas características do nosso país, acredito que um modelo com veículos híbridos é uma realidade, com ênfase no etanol. Somos um grande produtor, então acredito nessa opção. Quanto à eletrificação, os veículos ainda não têm preços acessíveis e, enquanto não houver um norte mais claro sobre o descarte das baterias desses carros, como será a manutenção, o seguro... enfim, tudo é novidade ainda. Estamos atentos, mas não acreditamos numa eletrificação em massa no momento.

Postos & Serviços – Os empresários, em geral, ainda lutam para se recuperar da crise gerada pelas restrições da pandemia. Qual a expectativa da Fecombustíveis sobre a economia brasileira este ano?

James – Eu sou uma pessoa otimista por natureza, mas isso não pode se confundir com precipitação. Eu acho que temos que analisar com calma, o revendedor deve estar sempre preparado e muito atento aos seus custos, pois sabemos que o mercado está cada vez mais competitivo e é um grande desafio para o revendedor estar capitalizado e de olho nos custos, dominar o seu negócio, para não ser surpreendido. Vivemos num cenário de inflação no mundo todo, então o ideal é não dependermos de bancos, estar capitalizado, negociar bem suas taxas de cartão de crédito, tudo que estiver ao seu alcance para reduzir custos, porque realmente é um desafio grande num mercado com margens tão apertadas, a gente ainda ter uma previsão de inflação.

Postos & Serviços – A área ambiental parece estar em destaque com o novo Governo Federal. O senhor acredita que haverá mudanças para aprovação de licenças ambientais?

James - Ainda é cedo para avaliarmos, mas acho que já estamos num segmento tão fiscalizado, tão cobrado e tão ajustado no aspecto ambiental, que eu acho difícil aparecerem novas exigências. Temos grupos de trabalho dentro da federação que têm acompanhado cada ponto de interesse da revenda – área tributária, ambiental, postos de rodovia, energias renováveis – e as mudanças que podem acontecer.

Postos & Serviços – A questão do self-service ainda divide opiniões no setor. Qual será o posicionamento da Fecombustíveis sobre isso em 2023? Quais passos serão tomados sobre esse assunto?

James – O conselho da Fecombustíveis tem um posicionamento contrário ao self-service, mas estamos preparados para voltar a discutir esse assunto a qualquer momento. Na verdade, nosso objetivo não é ser favorável ou contrário, nosso objetivo é ser justo. A federação é contra discutir o self-service no Judiciário, com liminares que autorizam o autosserviço apenas para alguns, tornando o mercado desigual. Defendo que isso seja discutido no Legislativo, pois dessa forma, qualquer mudança valerá para todos. Só dessa forma teremos um mercado justo.

Postos & Serviços –Como a federação está analisando a questão das trocas de bombas, seja pela questão da certificação como do benzeno?

James - Recentemente foi alterado o prazo (para troca de bombas).

Estamos acompanhando de perto tanto a questão da criptografia das bombas (certificação digital) quanto à questão de recuperação de vapores (RTM). Aliás, uma das vitórias que conquistamos foi unificar essas datas, prorrogando o prazo para dezembro de 2024. Vemos com bons olhos, pois teremos mais tempo para discutir o assunto e dando oportunidade para o revendedor se preparar melhor.

Postos & Serviços – E quanto ao ICMS?

James – Estamos fazendo um trabalho de divulgação nesse sentido. Acabou o congelamento dos PMPFs, voltou a ter divulgação e já estão acontecendo mudanças quinzenais nos Ato Cotepe. Queremos deixar todos cientes de que isso voltou a acontecer, para que não exista a possibilidade de a culpa recair sobre os postos. (em caso de aumento de preço nos combustíveis). Um ponto positivo, de um pleito antigo da federação que conquis- tamos recentemente, foi a questão da monofasia e alíquota ad rem (cobrança única) para o óleo diesel (biodiesel e GLP também) e a partir de 1º de abril vai estar válido, pois temos que cumprir a noventena. Isso é muito importante, principalmente para o revendedor de rodovia localizado próximo às divisas, já que vai acabar aquela concorrência desleal entre estados. Agora queremos que seja implantado da mesma forma para os outros produtos, daí teremos um equilíbrio nacional.

Postos & Serviços –Para finalizar, algum recado à revenda?

James – O objetivo maior da minha gestão é fortalecer os sindicatos e, para isso, a gente pede que os revendedores enxerguem o valor dos seus sindicatos, participem mais, pois só teremos uma revenda forte se tivermos sindicatos fortes. Então, precisamos da participação do revendedor nos sindicatos, pois assim todos estarão fortes também.