capítulo 1

capítulo 1

A transposição da internet e dos meios digitais na comunicação em massa é cada vez mais uma realidade recorrente, e com isso, a evolução dos formatos comuns televisivos e radiofônicos se aliaram cada vez mais com a tecnologia. O exemplo prático é a transformação digital dos programas de entrevista de rádio em podcasts, e o fator explorado neste projeto: a transformação digital das séries televisivas em webséries. Aronchi, em seu reverenciado livro “Gêneros e Formatos na Televisão Brasileira” , define o formato das séries como um formato, além de surgido e muito difundido no exterior, com um caráter multinacional intrínseco, além de uma possibilidade de estabilidade, graças aos anos que elas podem durar, e do seu poder de ser revisitada várias vezes, mesmo anos depois de seus lançamentos:

O caráter multinacional dos produtos de televisão mostra-se claramente nesse gênero, [...] As séries podem sobreviver anos e ser exibidas em qualquer país sem nenhuma modificação além da legendagem ou dublagem. Em algumas delas, nem mesmo o nome é traduzido. [...] Se a técnica de produção das séries não exige do público o acompanhamento permanente, como nas novelas, ela prende o telespectador até o último minuto do capítulo. (ARONCHI, 2015)

No Brasil, também segundo Aronchi no mesmo livro, o formato de narrativa seriada foi mais difundido (e obteve mais investimento) no formato de novelas ou de minisséries, estas nascendo principalmente “de programas testados e aprovados pelo público” (ARONCHI, 2015). Com uma duração menor, tanto em relação à periodicidade quanto à narrativa, surgem as webséries, aliando o formato prático de um seriado com a presença de um futuro tecnológico e envolvido na internet. Doc Comparato, roteirista renomado, em sua obra “Da Criação Ao Roteiro” , define:

Nas webséries, a duração de uma história é menor: poucos minutos. Uma trama nessa plataforma que tenha mais do que oito minutos dificilmente alcançará o sucesso desejado. [...] É preciso condensar porque hoje a atenção do público está cada vez mais pulverizada, uma pessoa faz mil coisas ao mesmo tempo. (COMPARATO, p.69, 2018)

O autor também faz uma relação implícita dessa diminuição do tempo hábil da arte com o conceito de Sociedade Líquida (desenvolvida pelo teórico polonês Zygmunt Bauman, que define a modernidade como uma dissolução das funções base, atribuídas principalmente à autoridade e tradição, e sua relativização, dando lugar ao ceticismo, provisoriedade, incerteza e instantaneidade), e identifica uma “necessidade de comunicação rápida”:

Na sociedade líquida a educação precisa ser abrangente, dando os meios para a captação do

conhecimento em qualquer área, pois tudo está a disposição de quem aprende a pesquisar em fontes confiáveis. O processo de aprendizado acontece de forma horizontal: tudo ao mesmo tempo agora. [...] Além disso, o espectador se torna a cada dia mais emissor, fazendo filminhos de sua família e do seu cotidiano e postando sua vida para o público composto de amigos e conhecidos da internet. (COMPARATO, p.70, 2018)

A websérie seria então, aliada a essa rapidez, um seriado de tempo dramático cada vez mais curto. A definição que Comparato dá é de “[...] um ambiente online virtual atualizado de forma seriada, disponível por demanda e com ligações dramáticas entre os episódios. ” (COMPARATO, p.516, 2018), e com isso também define questões específicas sobre sua estrutura. Segundo Comparato, por sua duração menor, a quantidade de personagens também diminui, e adquirem possibilidades de serem protagonistas em potencial, “proporcionando linhas de execução alternativas dentro de uma amplíssima história” (COMPARATO, p.516, 2018). Para ele:

O telespectador/participante deve retirar prazer das justaposições contínuas, das intersecções de diferentes vidas e da apresentação de um mesmo acontecimento em múltiplas perspectivas, inclusive com mudança do gênero dramático. [...] Uma websérie não deve ser uma simples dramaturgia padrão, mas um acorde pleno que fornece a sensação de que a 32