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2.5 A MULTIPROGRAMAÇÃO

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APÊNDICES

APÊNDICES

______Após a rádio Totem, inúmeras outras emissoras de rádio surgiram no ambiente online, sejam elas "rádios online" ou "rádios online virtuais" seguindo a classificação de Souza (2002), a presença do rádio na internet e forma como ele se integrou à tecnologia mostra mais uma vez a sua força e permanência. Mesmo que ainda esteja se discutindo a digitalização do rádio no modelo hertziano no país, o rádio já é digital na internet desde que essa possibilidade passou a existir. No presente, a circulação do conteúdo das rádios não estão mais restritas aos aparelhos de rádios, a rádio circula pela internet com linguagens interativas e é capaz de proporcionar ao seu público experiências diferentes de conteúdo.

A evolução e abertura do rádio para o ambiente da internet, além de ser uma mudança promissora, que trouxe sobrevida ao veículo, possibilitou que o rádio assumisse novos papeis, seja como mídia ou como mensagem. Nesse sentido, além da melhoria técnica, Pinheiro (2009) ressalta que trata-se da democratização de acesso às novas tendências da comunicação, deixando de lado o proselitismo político, resultando em consequências sociais, políticas e econômicas positivas em nossa sociedade.

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2.5 A multiprogramação

Para falar de multiprogramação no rádio, é preciso antes entender como esse recurso foi debatido e estudado na televisão. Isto, pois, a televisão está em um momento de digitalização mais avançado do que o rádio atualmente.

A multiprogramação e a interatividade são assuntos tratados no Brasil desde a década de 90 como dos recursos mais atrativos da tecnologia da televisão digital (CARDOSO, 2012). Porém, a digitalização da televisão brasileira iniciou-se somente em 2007, de forma gradativa. Ao invés de importar um modelo pronto, o Brasil preferiu se inspirar no sistema japonês, ISDB-T para desenvolver um sistema próprio de televisão digital aberta. Entre outros recursos, o padrão brasileiro é capaz de oferecer alta definição de imagem, sinal sem interferências ou ruídos, grade de programação e sinopse dos programas na tela da TV, além da multiprogramação, que consiste na transmissão de mais de um programa utilizando o mesmo canal de transmissão (TAVARES, 2017).

“possibilita a transmissão de programações distintas em um mesmo canal de TV digital aberta. Ou seja, no mesmo horário, o telespectador pode assistir a diferentes programas em um único canal” (MULTIPROGRAMAÇÃO, 2009, não paginado. apud. OLIVEIRA FILHO, 2021).

No entanto, em meados de 2010, a tecnologia da multiprogramação gerou um debate entre as grandes emissoras de televisão aberta. A TV Cultura de São Paulo se apressou em realizar testes usando o recurso de multiprogramação, o que levou a TV Globo, SBT e Record TV a se manifestarem contrárias a tecnologia. O argumento das emissoras era de que a disponibilização de múltiplos sinais com programações distintas pulverizaria a sua audiência, dificultando a venda de espaço publicitário ao passo que o custo de produção televisiva, seja para o canal principal ou para os adicionais seriam os mesmos. Ou seja, na visão das emissoras o custo de produção iria aumentar sendo que as receitas das emissoras iriam se manter ou diminuir.

Embora também tenha havido manifestações favoráveis ao recurso, como os da TV Cultura, da RedeTV! e do Grupo Bandeirantes de Comunicação, o impasse levou a ABERT - Associação Brasileira das Emissoras de Rádio e Televisão, a emitir um posicionamento alegando ser contra a multiprogramação naquele momento, pois as emissoras de televisão aberta deveriam priorizar a transmissão em alta definição. Cabe ressaltar que a ABERT se referia à questão operacional envolvida, tendo em vista que até então as emissoras que quisessem utilizar da multiprogramação poderiam transmitir até quatro programações distintas em canais de definição padrão, enquanto as que optassem pela transmissão em alta definição poderia transmitir um único canal pois os recursos eram incompatíveis.

_____Depois de vários pedidos de regulamentação pela TV Cultura, a utilização da multiprogramação na televisão aberta digital foi autorizada, porém restringindo a autorização a canais educativos e proibindo a publicidade. (Diário do Grande ABC, 2009). O recurso atualmente é utilizado apenas em emissoras públicas, devido à regulamentação atual e por resistência de parte das emissoras, conforme afirma Oliveira Filho (2021). No estado de São Paulo apenas quatro emissoras públicas federais e a TV Cultura fazem uso desse recurso.

A TV Cultura, paralelamente, tem sido a única emissora não federal a ter a liberdade de experimentar a nova tecnologia graças a ousadia e o reflexo de sua tradição e relevância histórica nacional como televisão pública voltada à produção e veiculação de conteúdos educativos, culturais, infantis, jornalísticos e de entretenimento amplamente reconhecidos e premiados nacional e internacionalmente (CARDOSO, 2012).

A migração do rádio analógico para o modelo digital hertziano ainda está alguns passos atrás do processo de digitalização da televisão, como mencionamos

no item 2.3. Atualmente, a ANATEL - Agência Nacional de Telecomunicações, está conduzindo a migração de emissoras de rádio AM para o espectro FM e posteriormente será dado início a migração do FM analógico para o FM digital. No entanto, já temos algumas informações sobre como será esse processo de digitalização e alguns recursos.

Com a migração da TV analógica (VHF)⁷ para a TV digital (UHF)⁸, a tendência é que o rádio passe a abranger a maior parte da frequência VHF, que pertencia à TV analógica. Pela proposta da agência, os canais 5 e 6 da TV analógica devem ser disponibilizados para o rádio FM. A expectativa é que o processo de digitalização do rádio seja concluído de forma mais rápida do que o processo de digitalização da televisão e que além do aumento na qualidade sonora, novos recursos sejam disponibilizados, como por exemplo a multiprogramação.

A tecnologia digital possibilitará para a rádio novos meios de comunicação com o ouvinte. Principalmente em relação à multiprogramação, interatividade e maior qualidade de transmissão. A expectativa para a rádio digital é que o processo de transição do atual sistema analógico para o digital seja mais veloz que a popularização da TV Digital. (...) de acordo com o Ministério das Comunicações, será possível escutar uma estação de FM com qualidade de CD e escutar uma estação AM com qualidade de FM. Cada emissora terá quatro canais à disposição para suas programações. (AQUINO, 2007)

Contudo, se o processo de digitalização para o modelo digital hertziano ainda no estágio inicial, no ambiente online as emissoras já contam com recursos como os esperados no processo hertziano. Exemplo disso é a possibilidade de interação com a audiência em tempo real, a disponibilização da grade de programas e sinopses e até mesmo a geração de sinais de áudio distintos em um processo parecido com a multiprogramação, em que é possível gerar uma programação para um ouvinte diferente da programação que se gera para outro com base na localização desses ouvintes ou ainda gerar sinais de estações musicais segmentadas por ritmos e permitir que o ouvinte escolha qual dos sinais da emissora irá consumir.

______Exemplo de emissora que utiliza esse recurso é a rádio Metropolitana FM de São Paulo. Além de transmitir online a programação irradiada pelo dial, a emissora

7. VHF é a sigla para o termo inglês Very High Frequency (Frequência Muito Alta) que designa a faixa de radiofrequências de 30 a 300 MHz. Este tipo de sinal é utilizado para transmissão de rádio FM, utilizando a frequência entre 88-108 MHz e foi o primeiro método de transmissão televisiva” .(ELSYS, 2015) 8. UHF é a sigla para o termo inglês Ultra High Frequency (Frequência Ultra Alta), e designa a faixa de radiofrequências de 300 MHz até 3 GHz. É ela a responsável pelos sinais de televisão atuais (canais 14 ao 83)” . (ELSYS, 2015)

também gera e disponibiliza outros canais de áudio na internet, como o Metropolitana Pop, Metropolitana Sertanejo e Metropolitana MPB, que contam com vinhetas e chamadas e executa musicas que, inclusive, não fazem parte da plástica da Metropolitana offline (METROPOLITANA, 2022). Pela definição de Souza (2002), apresentada anteriormente, a emissora pode ser considerada como uma rádio online, pois transmite pela internet o mesmo sinal irradiado fisicamente na região de sua concessão, porém também pode ser classificada como rádio online virtual ao considerarmos os canais segmentados por estilo musical disponibilizados exclusivamente na internet. Ou seja, trata-se de uma emissora que recebe mais de uma classificação do tipo de rádio, além de aproveitar-se do ambiente online para testar e operacionalizar recursos que o rádio hertziano ainda não dispõe.

Estamos experienciando um novo tempo no universo da comunicação radiofônica. Nesse sentido, o entrecruzamento das possibilidades ofertadas pelo digital suscita os mais diversos debates. Entre eles, a questão do conteúdo se sobressai pelo fato de se tratar, de um todo imprescindível às inovações comunicacionais, que não pode ser separado dos avanços tecnológicos. (PINHEIRO, 2009).

Assim como faz a Metropolitana FM na internet, para disponibilizar ao ouvinte a possibilidade de escolha da programação musical que será executada, a PANDO irá gerar múltiplos sinais de transmissão de áudio, que também farão a execução musical segmentada por fatores como estilo musical ou outras características que as musicas tenham em comum. A diferença é que os canais de áudio da Pando não cumprirão o mesmo papel dos canais de áudio da Metropolitana FM de serem uma alternativa à programação regular, mas sim parte da programação como um todo, tendo em vista que se comportarão de forma paralela e interligada e se e apresentarão à audiência como sendo parte de uma única emissora.

Além da transmissão ininterrupta dos canais de áudio destinados à execução musical e de programas musicais, também desenvolvemos um canal de conteúdo para transmissão de programas não musicais e alguns formatos específicos serão disponibilizados para que a audiência faça o download ou streaming no momento em que preferir. Essa disponibilização de conteúdo compreende tanto alguns formatos que serão transmitidos ao vivo no canal de conteúdo quanto formatos desenvolvidos especificamente para o consumo sob demanda, como veremos nos próximos capítulos.

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