Jornal Fala Favela_05 (Juventudes em Movimento)

Foto: Hector Santos

Edição 05 / Rio de Janeiro / Complexo do Alemão / Março 2019 / Distribuição Gratuita

Pesquisa sobre cidadania e direitos no Complexo do Alemão começa em março Pág. 3

Projeto Juventudes em Movimentovaitrabalharcom metodologia capaz de revelar a efetividade dos direitos humanos no território

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Um pouco sobre o perfil e anseios da equipe envolvida no projeto

Olá, pessoal.

Estamos de volta!

Depois de um bom período ausente, reaparecemos. E esse retorno está ligado às nossas preocupações em falar de comunicação, de fato, comunitária. O jornal Fala Favela é resultado de uma oficina de Jornalismo Comunitário com jovens do Conjunto de Favelas do Alemão no início de 2013. Sua concepção, formulação e realização foi parte de um dos eixos do projeto Adubando Raízes Locais. A ideia foi pensar em estratégias de comunicação com estudantes do ensino médio do Colégio Estadual Tim Lopes e do CIEP Theóphilo de Souza Pinto na Nova Brasília. O impresso estava voltado a temas que rodeavam o cotidiano da favela, trazia reflexões importantes e caracterizavam pontos de vistas de jovens produtores de informação.

Na ocasião, tivemos nomes de peso no processo formativo como Claudius Ceccon, ilustrador e diretor do CECIP (Centro de Criação de Imagem Popular), Nailton Agostinho, o pessoal da TV Tagarela e Carolina Noury, uma das profissionais responsáveis pela oficina de diagramação e planejamento gráfico.

Hoje continuamos com a mesma pegada: pôr em cena a reflexão, a potência e a diversidade que pulsam aqui. Valorizar a memória, a identidade e criar vínculo com a localidade. E como não poderia deixar de ser envolver as (os) jovens por meio do projeto Juventudes em Movimento que tem vários desafios, dentre os quais: fortalecer e ampliar o engajamento cidadão de jovens que vivem no Complexo do Alemão.

Divirtam-se!

Ricardo De Moura

Foto: David Amen

Os conteúdos aqui apresentados são institucionais e têm a intenção de aproximar o Juventudes em Movimento dos(as) moradores(as), organizações, lideranças, jovens e adultos, para que sejam estimulados a buscar mais informações e consequentemente mais trocas com os saberes locais, elaborando conhecimentos dialógicos como instrumento de luta para a melhoria da qualidade de vida no conjunto de favelas do Alemão.

CARTOGRAFIA DE AFETOS POTENCIALIZA PROCESSO SELETIVO Por Ricardo De Moura

O que fazer para intervir na realidade do Conjunto de Favelas do Alemão? Essa pergunta nos acompanha há algum tempo e também nos traz as inquietações diante das experiências que acumulamos nas disputas diárias de dizer cidade. Uma forma de responder a pergunta acima tem sido pôr o projeto Juventudes em Movimento, literalmente, na rua.

TABULEIRO: Formação de um plano de composição. Uma jogada deve deixar uma marca no tabuleiro e performar um dizer junto a essa marca. A partir de uma jogada inicial, cada nova jogada é provocada por afetações das jogadas anteriores e das constelações, laços e tramas que vão se formando. O tabuleiro então faz-se como uma cartografia de afetos que espacializam e temporizam conexões, disjunções, rasuras e sobreposições, relações de proximidades, distâncias e intensidades entre as jogadas.

O Juventudes em Movimento é uma parceria Raízes/Ibase e iniciou no final de outubro de 2018 com o processo de inscrição e seleção. Foi um total de FRAGMENTOS: 44 jovens inscritos qualquer tipo para 13 vagas oferde matéria de tadas. Para a seleexpressão; enção, consideramos: contros, garimser jovem, ter entre pos, memórias, 15 e 26 anos, morar criadas pelos no Complexo do oficineiros a fim Alemão, além da de constituir a questão de gênero matéria bruta a quanto à diversiser agenciada dade e quantidade no momento e o aspecto étni“tabuleiro”. Poco-racial. E como dem ter diversos parte fundamental formatos: imado processo seletigens, textos, foJovem empolgada fazendo sua jogada no “tabuleiro vivo” que gerou o jogo vo elaboramos um tografias, falas, jogo como forma de inovação desses processos e tam- gestos, objetos, vídeos, sons, gente, bicho, planta, e bém como modo de dizer, afetar e ser afetado por expe- o que vier. riências múltiplas.

Esse jogo é uma adaptação do Caosgrafia formulado pelo Grupo de Pesquisa Modernidade e Cultura (GPMC/UFRJ).

PALAVRÓRIO: Apresentação geral do processo.

ENROSCO: Sequências de exercícios curtos, livremente adaptados de técnicas teatrais, para ativar a atenção e um estado de presença que visa mobilizar os corpos e o corpo coletivo a potencializarem-se enquanto máquinas expressivas que maquinam(-se) (n)o jogo.

Assim o projeto Juventudes em Movimento entrou definitivamente em ação. E com ele, vários desafios dentre os quais o de fortalecer e ampliar o engajamento cidadão de jovens que vivem no Complexo do Alemão. Sabemos que esse engajamento das juventudes pode ajudar a mudar estruturas de exclusão social e condições de desigualdades, além de potencializar iniciativas de ativismo cidadão.

PROJETO SOBRE ATIVISMO E DEFESA DE DIREITOS CHEGA NO CPX Um levantamento inédito sobre indicadores de cidadania e direitos humanos começa a ser feito no Complexo do Alemão na primeira quinzena do mês de março. Os dados apurados deverão ampliar o conhecimento sobre a realidade local e potencializar a participação de moradoras e moradores na discussão de políticas públicas. A ideia é fazer com que a própria população identifique suas demandas sociais mais urgentes.

Trata-se da primeira etapa do projeto Juventudes em Movimento, uma iniciativa do Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas (Ibase), realizado em parceria com o Instituto Raízes em Movimento, com o financiamento do IDRC (International Development Research Centre) – uma organização canadense que apoia o tema da juventude em iniciativas por todo o mundo. Iniciado no final de 2018, o projeto tem como objetivo principal identificar as condições de vida e os direitos de cidadania nas 13 favelas do Complexo do Alemão.

A pesquisa será feita em diferentes pontos do Alemão, sempre por meio de questionários, e realizado por 20 jovens residentes na região, seguindo a Metodologia Incid. Esse é um método de pesquisa-ação

criado pelo Ibase e que analisa os direitos humanos a partir da efetividade da cidadania presente em um dado território. Especificamente no Complexo do Alemão, o uso do Incid como método de pesquisa permitirá avaliar e, ao mesmo tempo, fortalecer o engajamento de mulheres e homens que vivem em um território notadamente reconhecido pela exclusão, pela desigualdade social, pela segregação, pelo racismo e pela violência. A intenção é pensar as(os) jovens no contexto mais amplo em que vivem, por isso a pesquisa será realizada com moradoras e moradores de todo o Complexo do Alemão, identificando o estado dos direitos humanos para todas e todos que vivem ali (veja quadro a seguir).

“Em termos de resultados, queremos que os jovens que moram no Complexo do Alemão sintam que possuem argumentos qualificados pelos dados produzidos, para enfrentar e romper diversas condições de desigualdade e violência. Esperamos que essas mesmas pessoas sejam capazes de propor as mudanças necessárias para alterar essa situação. Serão esses homens e mulheres os investigadores, formuladores e porta-vozes dessa iniciativa. Aplicamos o rigor técnico de pesquisa no local aliado ao exercício da cidadania de quem está na ponta das atividades” – ressalta a diretora adjunta do Ibase, Rita Corrêa Brandão.

JOVENS NA LINHA DE FRENTE

Ao longo de duas semanas, 13 jovens moradoras(es) locais estarão espalhadas(os) por pontos estratégicos do Complexo do Alemão. De camisa lilás ou branca, identificados por crachás, são elas(es) que irão abordar a população local e pedir que respondam a algumas perguntas do questionário de pesquisa. “É muito importante que as pessoas falem sobre o que vivem na favela. É uma oportunidade única para que as necessidades do Complexo do Alemão sejam apontadas por quem vive o dia-a-dia da localidade” – aponta Renata Codagan, coordenadora técnica do projeto pelo Ibase. Responder o questionário vai levar cerca de 30 minutos e o preenchimento vai ser feito pela(o) pesquisadora(or).

O projeto prevê, além da pesquisa, rodas de diálogo, e seminários temáticos com discussões sobre a participação das juventudes e seus processos de engajamento, sobre as questões de gênero nas relações e nas instituições e sobre as formas e os usos das tecnologias de informação e comunicação (TICs) no Complexo do Alemão. Outros encontros, mais gerais, serão voltados ao debate de dados e indicadores de cidadania apurados na pesquisa participativa, com iniciativas e ações das organizações existentes no Alemão, levando assim a uma ampla discussão sobre o que foi apontado em termos de efetivação ou violações de direitos. Outra finalidade é consolidar com essas organizações e iniciativas locais uma Rede de Cidadania Ativa do Alemão e criar um Fórum amplo de discussão e, com base em reflexões e demandas coletivas, montar um Plano de Ação com o máximo de engajamento possível.

“Acreditamos também que o resultado da pesquisa e as ações do projeto serão estratégias importantes para ampliar o engajamento das juventudes e para uma maior mobilização da sociedade civil do Complexo do Alemão.

Juntas e organizadas, diferentes iniciativas poderão lutar pela garantia e efetivação de direitos humanos e pela ampliação dos espaços democráticos – não apenas nas treze favelas que compõem o Complexo do Alemão mas na cidade onde vivem e incidem”– explica Rita Corrêa Brandão.

Com sede em Ottawa, no Canadá, o IDRC financia pesquisas para promover o crescimento, reduzir a pobreza e gerar mudanças positivas em grande escala. A instituição é parceira histórica do Ibase no tema de juventudes e já financiou os estudos “Juventude Brasileira e democracia: participação, esferas e políticas públicas”, em 2004; “Juventude e integração sul-americana: caracterização de situações tipo e organizações juvenis”, 2007; e “Juventudes sul-americanas: diálogos para a construção da democracia regional”, em 2008 – todos realizados em parceria com o Instituto Polis, de São Paulo.

COM UM “BONDE” DESSE VAMOS LONGE

O primeiro passo em qualquer projeto que estejamos envolvidos é de fato o mais importante, pois envolve uma série de determinações empíricas, ao mesmo tempo que te provoca sensações emocionantes. Abrem-se ali as brechas do inesperado, do novo, do que ainda pode ser construído. É dessa forma que devemos encarar o caminhar do projeto Juventudes em Movimento, tendo como alvo a mobilização das juventudes e boa parte da sociedade civil organizada além de fortalecer o tecido social no Complexo do Alemão.

Não é fácil chegar ao topo da montanha, um dos principais fatores nesse caso é nunca estar sozinho e desamparado estruturalmente. Da mesma maneira o “Juventudes em Movimento” vai encarar este desafio e, por isso, conta com um grupo de pessoas valiosas, com características marcantes, profissionais experientes no terceiro setor, em projetos sociais, pesquisas e, o principal, familiarizados com as temáticas propostas nesse trabalho.

Esse já é um trecho vencido, um ganho, fruto desta parceria entre o Ibase e Raízes em Movimento que fortifica ainda mais os músculos para essa travessia entre o desejo e a realização. Cada um(a) envolvido(a) já se percebe como parte do outro para avançar em cada ação prevista. Nada vai desandar nesse projeto, afinal o que baliza o sucesso é a unidade formada a partir das interações sociais individuais na esteira dos conhecimentos distintos, mas que se complementam e criam novas possibilidades de transformação sociopolítica. E aqui tem muito disso.

A caminhada será longa, mas juntos(as) chegaremos ao ponto de chegada, que também pode ser o de partida para novas aventuras, culminância desta primeira andada. Sejamos firmes para irmos longe.

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Crônica O que falar de um time de jovens engajados e prontos para descobrir o novo? Que turma maravilhosa de ter junto nessa empreitada na qual diferenças só fortalecem os laços. É incrível se conectar com esse grupo, moradores(as) do Complexo do Alemão, alguns(mas) já bem atuantes no território ou em outros espaços desenvolvendo ações.

Esse é mais um ponto a favor do projeto. São jovens carregados de potenciais que trazem uma força intensa e provocam em direção à igualdade. Uma parceria necessária para o aprendizado mútuo.

AZARacão -

Duas amigas após sair da universidade: - Olha amiga que filé!

- É mesmo. Ele tá te olhando.

Dois rapazes, de moto, se aproximam.

- me dá o celular – um deles “pede”.

As meninas ficam empolgadas.

- Viu, num disse. Ele tá pedindo seu número.

Margô começa a mexer nos cabelos numa forma típica de quem quer dá bola para a Azaração. O rapaz insiste.

- O celular – fala baixinho,

“A experiência de participar da brincadeira [do jogo] foi muito incrível e muito rica, por mais que sejamos de realidades distintas, éramos conectados por vivências semelhantes”.

- Adriano Grego jovem participante do projeto

mas com gesto enorme.

Margô pergunta:

Você quer meu número? Um dos rapazes

responde. Quero seu celular porra!

Isso é um assalto garota.

As meninas.

- Aí meu deus. Peraí tá moço.

Margô revira toda a bolsa,

mas não encontra o celular.

- Anda logo garota. Rapaz mete a mão na bolsa de Margô.

Sua amiga se desespera.

- Anda amigaaa acha logo seu Smartphone de última geração.

- Putaquepariu garota você é toda enrolada...encontra logo esse smartphone...

O ladrão sobe na garupa da moto e o piloto dá partida. As duas amigas, ainda descompensadas, reviram toda a bolsa. De

repente...

- Ei menino! Achei! Achei! Achei!

Aos gritos!

O Ladrão volta, agradece a gentileza e dá um

beijo de despedida em Margô.

- Ricardo de Moura -

O teleférico no Complexo do Alemão está parado desde setembro de 2016, são quase três anos sem nenhuma atenção ou manutenção, muito menos previsão de retornar ao funcionamento normal. Portanto um “elefante branco”. Isso significa mais de R$ 250 milhões desperdiçados, mais um ato violento por parte do Estado, violando a dignidade e os direitos dos(as) cidadão(ãs). - David Amen -

INSTITUTO RAÍZES EM MOVIMENTO End.: Avenida Central, 68 Complexo do Alemão - RJ Tel.: 21 2260-3998

JORNAL FALA FAVELA

IBASE End.: Rua Senador Dantas, 40 Cinelândia - Centro - RJ Tel.: 21 3083-1517

Distribuição Gratuita

Realização

Editor: Ricardo de Moura Projeto Gráfico e ilustrações: David Amen Colaboradores(as): Alan Brum, Joice Cristh, Hector Santos e Renato Tutsis Tiragem: 2000 exemplares

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