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“A identidade franciscana deverá transparecer nas nossas escolhas e prioridades”

DO MINISTRO PROVINCIAL

“A identidade franciscana deverá transparecer nas nossas escolhas e prioridades”

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“Quem cuida com carinho de outra pessoa se importa com alguém que nem conheceria. Quem abre o coração e ama de verdade se doa simplesmente por humanidade, se coloca no lugar do outro, sente empatia”.

Com esse trecho da música de Nando Reis que Frei Gustavo Medella citou na abertura da Festa da Penha deste ano e, como se diz no mundo da internet, virou “meme”, inicio a mensagem das Comunicações de maio. Sob a proteção de Maria, vivamos este tempo com a firme disposição de cuidar e servir, amar, doar-se e promover a empatia.

I - Reuniões e planejamento

Dias atrás, em visita a uma das Fraternidades, ouvi de um irmão aquele chiste que aponta uma das características da nossa forma de planejar as atividades: “No fim dos tempos, quando Jesus voltar, pode ser que não nos encontre unidos, mas, com certeza, vai nos encontrar reunidos”.

Os primeiros meses do primeiro ano pós-Capítulo foram ocupados por reuniões diversas: encontros das Frentes de Evangelização, Capítulos Locais, reuniões com lideranças e colaboradores leigos, algumas presenciais, outras virtuais, muitas reuniões. Ainda que pareçam enfadonhas ou resultem cansativas, a importância das reuniões nasce da certeza de que o resultado de qualquer iniciativa será frutuoso se vier precedido de planejamento. Ainda bem que já vai longe o tempo da improvisação, do jeitinho; ainda bem que já não nos contentamos com o “sempre foi feito assim”, pensamento altamente danoso a qualquer passo pretendido. Reunir, rever, planejar é preciso, sobretudo nestes novos tempos que se avizinham. Por isso, ao projetar as atividades, lance-

Conventinho de Lages passa por reformas

mos mão de uma acurada análise dos dias atuais; de modo atento, ouçamos o que a realidade nos diz e o que o Espírito nos inspira.

Vivemos a expectativa de retomada das atividades integralmente presenciais nos mais diferentes serviços. A pandemia realçou a fragilidade e a brevidade da vida e, ao mesmo tempo, deu destaque à importância do cuidado, da convivência, da proximidade, do afeto, entre outros valores. A realidade à nossa volta, olhada sob o ponto de vista da organização da sociedade, está repleta de sinais de intolerância, agressividade, adversi-

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dade e medo. O empobrecimento e a precariedade do mundo do trabalho apontam flagrante desequilíbrio. Desequilíbrio escancarado na forma como os povos tradicionais estão sofrendo as consequências da sanha dos poderosos e seu descuido com a fecundidade da nossa Mãe Terra. No âmbito eclesial e na Vida Consagrada a dimensão profética, imprescindível para eficácia da missão da Igreja, quase não é notada ou, quando apareda experiência de Clara e Francisco que se fundamenta na reverência ao Deus Criador e fraterna convivência com as criaturas. A dedicação ao irmão e à irmã, sobretudo aquele descartado pela lógica da exploração e do lucro, somada à decisão de “estar feliz entre os pobres” será eloquente sinal da contribuição franciscana para a constituição de um tempo novo que nascerá sob a égide da esperança e da alegria, da justiça e da paz.

Dom Frei Mário Marquez, O.F.M.Cap, bispo diocesano de Joaçaba

ce, se mostra padecente e anêmica.

Nossos planos e projetos, sejam os planos pastorais ou estratégicos, sejam os Projetos Fraternos ou Pessoais de Vida e Missão, não poderão desconhecer a realidade que nos desafia e, mais que isso, cobra de nós coerência e opções claras. A identidade franciscana deverá transparecer nas nossas escolhas e prioridades. Para além dos ritos litúrgicos, que merecem toda nossa atenção e dedicação, nossa forma de evangelizar deverá partir II - Animação Vocacional

Por ocasião da Assembleia do Serviço de Animação Vocacional (SAV) me dirigi aos irmãos reunidos em Rondinha e, agora, partilho com todos os demais irmãos algumas motivações para o cumprimento de uma das prioridades elencadas pelo Capítulo de 2021:

“Consolidar a Animação Vocacional como responsabilidade permanente de cada frade, Fraternidade e Frentes de Evangelização”, foi assim que o Capítulo Provincial traduziu o anseio dos irmãos reunidos em Agudos em novembro passado e colocou, mais uma vez, a Animação Vocacional como prioridade na definição da missão da Fraternidade.

Ao escolher o verbo “consolidar”, o Capítulo considerou o fecundo caminho já percorrido. Da mesma maneira, quando a prioridade destaca a expressão “responsabilidade permanente” indica a importância da constância e envolvimento criativo de todos nesta tarefa.

Todos, a começar por cada um de nós. Desta maneira, ao saudar os irmãos Animadores Vocacionais Locais agradeço por terem aceitado a indicação e a nomeação para serem, a partir de cada Casa e em todas as Frentes de Evangelização, os guardiães e promotores desta prioridade. Antes de ser um anúncio para os outros o “Evangelho Vocacional”, seja um convite para que cada um de nós, para que cada Fraternidade da Província, deixe-se revigorar a partir da alegria que um dia nos fez sonhar com a fraternidade, com a promoção da justiça, da paz e do bem. Por isso, entre os mandatos do Capítulo está a proposição: “Cada Fraternidade, uma nova vocação”. Notem, na frase tem a expressão “nova vocação”, afinal nossas Casas já reúnem os irmãos chamados a viver o Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo. Este vocacionados somos nós mesmos. Por isso, vale a insistência: o testemunho alegre da própria vocação continua a ser a mais eficiente maneira de gestar novos irmãos.

Ao falar em novos irmãos, recorro à mensagem que o Ministro Geral, Frei Massimo Fusarelli, enviou à Assembleia da nossa Conferência, ocorrida em São Paulo (SP) no mês de março: “A proposta tem a ver com a constatação da diminuição numérica dos Frades na Ordem (nomeadamente nos países ocidentais): ler essa situação como oportunidade: uma vez que nos tornamos ‘menores’, abracemos a chance de viver a ‘minoritas’ de um modo novo... Nosso futuro não depende apenas do número, mas da qualidade e da autenticidade de nossa vida segundo o Evangelho”.

Será fecunda a Animação Vocacional que, levando em conta a proposição do Ministro, ajudar os irmãos da Fraternidade a viver a minoridade. Os que vierem ter conosco, desde as primeiras conversas, saibam e reconheçam que a nossa forma de vida se fundamenta no desejo de estar no mundo como menores. Certamente, este será o critério mais lúcido no acolhimento das novas vocações.

III - Visita Fraterna

Antes da Semana Santa, foi possível realizar visitas às Fraternidades do Oeste de Santa Catarina e Sudoeste do Paraná. Foram sete dias de estrada, oito Fraternidades visitadas e quatro conversas com Ordinários Locais. Os muitos quilômetros percorridos apresentaram a pujança do agronegócio na região em que nossas Fraternidades estão inseridas, com seus incontáveis silos à beira das estradas, com campos de soja e milho que vão juntando campinas e várzeas e promovem admiração e espanto. A verdejante paisagem, contudo, não consegue esconder os efeitos nocivos decorrentes da exploração desmedida dos recursos da terra e da escolha por um modelo de desenvolvimento que produz enriquecimento de uma pequena porção, concentração de pessoas nas cidades, inchaço das periferias, degradação das matas e mananciais, entre outros desastres.

Apenas os antigos registros vão identificar povoações nascentes instaladas junto aos rios ou pontos de pouso dos tropeiros. Hoje, as cidades onde temos casas têm a marca da urbanização com seus progressos, possibilidades e debilidades. Concórdia, com 75.600 habitantes (IBGE 2021), e Pato Branco, com quase 85.000 (IBGE 2021), são sinais evidentes deste novo tempo.

Tempo novo que supõe, mais que isso, exige novos olhares e novas escolhas. A substituição do trabalho autônomo das pequenas propriedades rurais pela adesão a sistemas de integração de produção de proteína animal, gerou um trabalhador sem direitos e, em seguida, contribuiu para o esvaziamento das comunidades do interior. É desconcertante constatar que Xaxim, com quase 30 mil habitantes (IBGE 2021), possui áreas periféricas comandadas por traficantes e já há relatos de assalto à mão armada no centro da cidade em plena luz do dia. Nem mesmo Coronel Freitas ou Luzerna estão isentas desta nova ordem. DO MINISTRO PROVINCIAL

A bela Matriz de Curitibanos

Nossas casas

Nas Fraternidades, revigoradas pelo Capítulo celebrado em novembro, os irmãos vão se conhecendo, tomando pé da missão, vislumbrando projetos a partir dos apelos da realidade e dos pendores de cada um. Já se vive uma atmosfera de “pós-pandemia”, com todos os questionamentos que esse período histórico fez e fará nascer. A participação efetiva dos fiéis nas celebrações, a retomada dos projetos

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de formação e catequese, a organização das festas e promoções, das quais, em grande medida, dependem o sustento da missão, vão ocupando as reuniões e reflexões das Fraternidades.

À exceção do Conventinho de Lages, que passa por obras e adaptações, todas as demais Casas estão muito bem-dispostas e cuidadas; isso ofe-

Diante da nova configuração dos Regionais e da periodicidade mais alargada das reuniões, as Fraternidades geograficamente mais próximas foram convidadas a planejar visitas mais regulares, ajuda mútua nalgumas atividades e até planejamento de projetos comuns. A distribuição das Fraternidades em Regionais é uma marca da Província. O fortalecimento deste instrumento poderá viabilizar a efetiva realização das propostas do Capítulo, sobretudo aquela que assinala o jeito sinodal de organizar a vida e a missão dos irmãos.

rece aos irmãos segurança e conforto. A evitar: o risco da acomodação e a transformação do quarto/casa numa ilha segura, protegida e afastada da realidade.

A realidade, inclusive, deverá ser norteadora na configuração do Projeto Fraterno de Vida e Missão. Houve insistência para que os irmãos se dedicassem à reflexão e elaboração, tanto do Projeto Fraterno (PFVM) como do Projeto Pessoal de Vida e Missão (PPVM). Com os Ordinários Locais

Há sincera gratidão na consideração da presença das Fraternidades nas Igrejas Particulares. Em cada uma das Dioceses visitadas temos duas casas. Em Joaçaba (SC): Concórdia e Luzerna; Lages (SC): Conventinho e Curitibanos; Xaxim e Coronel Freitas na Diocese de Chapecó (SC) e na de Francisco Beltrão (PR): Chopinzinho e Pato Branco. É verdade que nesses lugares as Fraternidades já foram mais numerosas, mas mesmo assim, nós, franciscanos, estamos entre os grupos majoritários nas diferentes Igrejas das regiões visitadas: nenhum dos bispos conta com clero local suficiente e as diferentes famílias religiosas não vivem momentos vocacionais tão vigorosos. Além disso, nem o Oeste de Santa Catarina nem o Sudoeste do Paraná estão entre as regiões que atraem Ministros Ordenados em busca de incardinação.

A constituição das Fraternidades não tem como critério fundamental a suplência do clero a serviço das Igrejas Locais. Entretanto, a Fraternidade Provincial escolheu como forma privilegiada de evangelização o serviço às Paróquias. Diante disso, em todas as visitas foi apresentada a seguinte questão: Como poderemos melhor servir à Igreja que nos acolhe?

Redimensionamento

O alerta deixado pelo último triênio, quando foram entregues dez Casas e assumidas outras duas, mostra a necessidade do contínuo redimensionamento da nossa vida e missão. A entrega de paróquias, considerando ser a Frente que concentra maior número de irmãos, surge como remédio diante da fragilidade dos nossos quadros. Entretanto, devemos estar atentos, afinal há doses de medicação que, ao invés de curar, podem

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agudizar a doença. Das conversas com as Fraternidades, restou claro que não podemos aguardar o final do triênio para definir a situação das nossas presenças nas Dioceses de Joaçaba, Chapecó, Lages e Francisco Beltrão. Os irmãos foram convidados a promover uma reflexão nesta direção; primeiro entre si, a partir das Fraternidades e, em seguida, com os responsáveis nas Dioceses e, claro, com a mediação do Secretariado da Evangelização.

Merece destaque a definição da presença na Diocese de Joaçaba. Tradicionalmente, estamos presentes em Luzerna e Concórdia com Fraternidades dedicadas ao apostolado paroquial. A possibilidade real de avanço no processo de beatificação de Frei Bruno deve inaugurar um novo modo de atuação naquela região. Com certo atraso, o Santuário Frei Galvão foi entregue ao nosso cuidado, em Guaratinguetá (SP). Assim como no Vale do Paraíba, também no do Peixe a promoção da devoção ao Santo e Beato franciscanos exigirá engajamento dos seus irmãos de hábito. Vamos esperar que surjam demandas que nos atropelem ou já não é o momento de apontar alguma direção, desenhar um projeto e dar encaminhamento?

IV – Convites

O mês de Maio vai nos proporcionar momentos destacadamente fecundos. A reunião dos Guardiães, em Agudos, vai apontar a importância dos orçamentos de cada Casa e vai dar orientações a fim de que os irmãos que servem às Fraternidades possam promover a administração e o uso dos bens como sinais visíveis da nossa forma de vida. Os Encontros Regionais, cuja nova modalidade ainda está sendo estabelecida, são espaços de formação permanente, animação da vida fraterna e partilha da missão nas diferentes regiões onde a Província está presente, por isso, haja esforço de cada um para não ficar de fora.

Nossa Fraternidade se alegra com os irmãos que, tendo terminado o período da formação, estão sendo ordenados. Já celebramos as ordenações presbiterais de Frei Jefferson Max Nunes Maciel, em Araucária (PR), e Frei Jhones Lucas Martins, em Macatuba (SP). No primeiro final de semana de maio será a vez de Frei Josemberg Cardozo Aranha, em Duque de Caxias (RJ), e, em seguida, de Frei Junior Mendes, no dia 14, em Santo Amaro da Imperatriz (SC). Logo no início de junho teremos a ordenação de Frei Alan Leal de Mattos, em Petrópolis (RJ). Além de rezar na intenção dos futuros presbíteros, os irmãos são convidados a fazerem-se presentes, sobretudo os irmãos das Fraternidades mais próximas dos locais onde se darão as celebrações. Afinal, antes de ser uma decisão pessoal, o ministério ordenado é dom da Fraternidade a serviço da missão. Além disso, as

celebrações das ordenações sempre servem de espaço de animação e revigoramento vocacional.

A alegria do Senhor Ressuscitado seja sempre nossa força.

Paz e Bem!

José do Patrocínio é o Padroeiro de Coronel Freitas

Frei Paulo Roberto Pereira