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NOTAs eCumêNiCAs

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PeNÚlTimA PAlAvRA

PeNÚlTimA PAlAvRA

Divulgação Novolhar em sua visita ao Reino unido, de 16 a 19 de setembro, o papa bento xvi só poderá ser visto pelos ingleses que pagarem ingressos de 25 Libras para ver um dos dois eventos públicos programados para a visita.

Divulgação Novolhar

Dignidade

“O PãO COmPARTilHADO eNTRe CRisTãOs NãO é só um ReCuRsO mATeRiAl, seNãO TAmbém um ReCONHeCimeNTO DA DigNiDADe.”

ROWAN WILLIAMS, Arcebispo de Cantuária, ao apresentar o tema principal da 11ª Assembleia da Federação Luterana Mundial, reunida em Stuttgart, Alemanha, em julho.

Perdão

A 11ª Assembleia da federação luterana mundial (flm) realizou uma celebração na qual pediu perdão a Deus e aos IrMÃOS MEnOnItAS de tradição anabatista pela perseguição de que foram vítimas no século 16. Anabatistas foram executados por seguidores do reformador martim lutero.

Por quê?

“se CATóliCOs e luTeRANOs PODem AlimeNTAR JuNTOs AQueles Que PAssAm fOme, POR Que NãO PODem AlimeNTARse uNiDOs NA mesA DO seNHOR?”

BISPO MARK S. HANSON, presidente da Federação Luterana Mundial (FLM)

Tráfico de pessoas

Na Tanzânia, mães entregam suas filhas a amigos e amigas que prometem educá-las, vesti-las e alimentá-las. Depois, obrigam essas crianças a assistir filmes pornográficos para que se inteirem da indústria do sexo e com eles aprendam a se prostituir. Por fim, são mandadas a outros países.

Relato da reverenda ELITHA MOy, da Igreja Evangélica do Zimbábue, na Assembleia da Federação Luterana Mundial na Alemanha em julho.

Novo presidente

O bispo da igreja luterana na Jordânia e Terra santa, MunIb A. YOunAn, 59 anos, é o novo presidente da federação luterana mundial (flm). ele sucederá o bispo mark Hanson, da igreja evangélica luterana dos estados unidos.

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Roubo santo

A cidade de Povoa, no México, ocupa o primeiro lugar na lista do turismo religioso no país, mas também é a região mais prejudicada pelo saque da arte sacra. Depois do narcotráfico, esse é o segundo item que mais ganhos gera aos infratores. Apenas 10% das peças roubadas ou furtadas são recuperadas pela polícia.

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Femicídio

“MuItAS MuLhErES IngrESSArAM nOS hOSpItAIS cOM EvIdêncIA dE vIOLêncIA SExuAL, MAS AO fALEcEr ApArEcE nO AtEStAdO dE óbItO MOrtE pOr pArAdA cArdIOrrESpIrAtórIA Ou OutrA cAuSA, tOrnAndO InvISívEL A vIOLêncIA quE gErOu O quAdrO trAuMátIcO.”

Relatório do primeiro semestre do 2010 do Observatório de Femicídios na Argentina.

Fé e política

“um DOs gRANDes DesAfiOs PARA Os PAíses DemOCRATiCAmeNTe mODeRNOs CONsisTe em APORTAR CONHeCimeNTOs De ORigem ReligiOsA e imPulsOs PROveNieNTes DA fé AO PROCessO De DeCisãO POlíTiCA.”

Wolfgang Schäuble, ministro da economia da República federal da Alemanha, na abertura da 11ª Assembleia da federação luterana mundial (flm), reunida em stuttgart, em julho.

Divulgação Novolhar

DiCA CulTuRAl Lesado medular

Você sabe o que é um lesado medular? É alguém que sofreu, por exemplo, um acidente de carro ou moto, levou um tiro ou teve uma queda e ficou com uma lesão nas estruturas medulares, interrompendo a passagem de estímulos nervosos através da medula. A lesão pode ser completa ou incompleta. É completa quando há paralisia, perda de todas as modalidades sensitivas abaixo da lesão e alteração do controle urinário e fecal. E incompleta quando há algum movimento voluntário ou sensação abaixo do nível da lesão. A medula também pode ser lesada por causas não-traumáticas, como hemorragias, tumores e infecções por vírus.

Estudos epidemiológicos realizados nos Estados Unidos apontam como principal causa de lesões medulares os acidentes automobilísticos, responsáveis por cerca de 44% dos casos, seguidos de agressões (24%), quedas (22%), lesões associadas a atividades esportivas (8%) e outras causas (2%).

Existe em Novo Hamburgo (RS) uma associação civil filantrópica que presta assistência a portadores de deficiência medular: a LEME. Foi fundada por um grupo de lesados medulares em novembro de 2002. Conta hoje com mais de 80 associados. Entre seus objetivos está a reabilitação na vida social e no mercado de trabalho, a promoção de atividades culturais, recreativas e educacionais e a criação de um banco de dados dos lesados medulares do Rio Grande do Sul. Conheça mais sobre a LEME visitando o site www.leme.org.br.

visite o site da leme e conheça este trabalho

A reinvenção da família

A fAmíliA muDOu. O iDeAl ROmâNTiCO DO CAsAl APAixONADO Que CAsA, Tem filHOs e vive feliz PARA semPRe é CADA vez meNOs COmum. COmO TuDO NA viDA, Os CAsAmeNTOs eNfReNTAm CRises, mODifiCAm-se, TeRmiNAm e ReCOmeçAm, CONsTiTuiNDO NOvOs NÚCleOs fAmiliARes. se, POR um lADO, esse COmPORTAmeNTO PODe TeR eNfRAQueCiDO A “InStItuIçÃO” fAMíLIA, POR OuTRO, PeRmiTe RelAções muiTO mAis AfeTivAs e geNuíNAs. COmPARADO A um PACieNTe, A fAmíliA Tem AlgumAs DOeNçAs gRAves, mAs esTá sObReviveNDO e PROCuRANDO um JeiTO De se ReiNveNTAR.

Joseph Hoban por Vera Nunes

Para a psicóloga Silvana Henzel, a família está menos rígida, mais flexível, em busca de mais equilíbrio afetivo, “tentando romper com a cultura instituída de manter um casamento a qualquer preço, mesmo que seja o da infelicidade ou aniquilamento de ideais pessoais”, observa. Para ela, o “paciente” família não está num estado grave. “Ele tem cura, apesar de não estar firme e forte nos moldes idealizados e contados em algumas histórias infantis”, ressalta a também psicanalista pela Sigmund Freud Associação Psicanalítica de Porto Alegre. Silvana acredita, porém, que, diante da possibilidade mais aceita de dissolução do casamento, as pessoas estejam menos tolerantes em relação ao que é real. “O risco é ficar buscando um ideal narcísico inalcançável de felicidade, não conseguindo lidar com maturidade com os problemas inerentes à vida em comum com o outro, que é diferente de si”, alerta.

Essa é também a preocupação da psicanalista Marlene Araújo, da Sociedade Psicanalítica de Porto Alegre (SPPA), que alerta para a banalização do casamento, como de vários outros valores na sociedade atual. “É a banalização de tudo, da família, da individualidade, dos princípios éticos e morais, da sexualidade. Não há limites”, observa. No seu entender, o problema não está na dissolução de um casamento, mas, sim, na forma como os casais lidam com isso. Psiquiatra e psicanalista de adultos, crianças e adolescentes há cerca de 40 anos, Marlene está acostumada a receber em seu consultório, inicialmente, a criança que está apresentando algum problema e depois tratar o casal que não consegue resolver uma situação, e isso acaba refletindo na família.

rEtrAtO dO cEnSO – Diante desse quadro, num olhar mais amplo, percebem-se mudanças significativas na composição familiar. A assistente social, professora e pesquisadora >>

vinculada ao Curso de Serviço Social da Unisinos, Rosângela Barbiani, apoia-se em dados censitários para apontar alguns sinalizadores dessas mudanças: a diminuição da fecundidade e mortalidade; o aumento da longevidade dos idosos; a diminuição do número de crianças e adolescentes; as mudanças nos padrões de relacionamento entre os membros da família; o papel da mulher dentro e fora do espaço doméstico e os novos arranjos familiares – famílias monoparentais, por exemplo. Segundo ela, em virtude dessas mudanças, a família nuclear tradicional está cedendo lugar à família ampliada ou extensa, isto é, aquela formada por diferentes tipos de membros e gerações. “Sintetizando, a nova família, que anteriormente era definida pela obrigação, é hoje definida pelo afeto, ou seja, relações de consanguinidade sendo substituídas pelas relações afetivas e amorosas”, analisa.

Exemplo de arranjo familiar desse novo perfil social, o administrador Carlos Alexandre Ribeiro, 36 anos, recorre à sua família de origem e à escola para educar e dar suporte – financeiro e afetivo – ao filho Marcelo, de cinco anos. Após a separação da mãe de Marcelo e a obtenção de sua guarda definitiva, Alexandre viu-se como responsável pelo futuro do filho. “Mas isso só foi possível com o apoio das irmãs na escola onde ele estuda e da minha mãe”, adianta, lembrando que o menino hoje tem bolsa integral no colégio e plano de saúde pago pela avó. “Foi um dos primeiros presentes que ele ganhou quando nasceu”, recorda. A irmã de Alexandre também passou a apoiar nas tarefas, como buscar Marcelo no colégio, dar banho e comida quando o pai não consegue. “Mas, nos finais de semana e sempre que posso, eu assumo todas as responsabilidades com meu filho. Brigo por ele no colégio, vou a reuniões, levo no parque, faço comida. Agora somos eu e ele. Dependemos um do outro”, sintetiza.

MOdELOS SExuAIS – Os laços afetivos e a presença dos modelos feminino e masculino são fundamentais na construção dos referenciais infantis, adverte a psicanalista Marlene Araújo. Ela ressalta que ainda não há pesquisas – nem no Brasil, tampouco no exterior – para saber qual o dano psicológico na criança que não possui esses modelos. A adoção de crianças por casais homossexuais, em sua opinião, ainda precisa ser melhor estudada. “Politicamente, é correto e resolve a questão do abandono, mas pode criar outros problemas”, acredita, acrescentando que o modelo de casa-lar, com a figura do “pai” e da “mãe”, ainda é a melhor alternativa. A opinião é oposta à da médica psicanalista e doutora em Antropologia Social Elizabeth Zambrano. “Se esses dois pais ou duas mães não disserem à criança que a geraram, não vejo problema nenhum. A criança tem todas as condições de entender. É só não ter mentiras e segredos”, ressalta, acrescentando que a criança deve aprender a respeitar, conviver e aceitar as diferenças desde pequena.

Palestrante do II Congresso de Direito de Família do Mercosul, promovido pelo Instituto Brasileiro de Direito de Família/RS, em agosto, Elizabeth debateu o papel do Estado a partir dessas mudanças sociais. Ela diz que o Estado auxilia às vezes e outras vezes atrapalha essa caminhada. “Auxilia quando protege os direitos

de casais homossexuais, como previdência social ou herança, e atrapalha quando não protege os vínculos entre pais sociais e filhos do companheiro(a) nas famílias recompostas, ou deixa sem proteção as crianças adotadas por apenas um dos parceiros de um casal homossexual. Quando o Estado acompanha as mudanças sociais, mesmo que seja por meio da jurisprudência, aí ele está cumprindo o seu papel de proteção do cidadão conforme prega a Constituição Federal, sem preconceito de qualquer espécie”, afirma.

Mas se o Estado vem, muitas vezes, a reboque das mudanças sociais, também a mídia serve para reforçar ou não o status quo. Não é de agora que as novelas ou outros programas abordam questões cotidianas. “A mídia funciona de duas formas: ou evidencia o que já está acontecendo ou facilita, e muitas vezes dificulta, uma discussão mais arejada sobre determinados assuntos, mas ela não inventa a mudança, e sim a repercute”, complementa a antropóloga. Para a professora da Unisinos, Rosângela Barbiani, existe uma crise no mundo e em suas instituições, representantes de autoridade e poder, e por consequência também na família. “As mudanças na sociedade do capital afetam direta e profundamente a família contemporânea. Antigamente, a família poderia ser considerada, ela própria, uma ‘unidade de produção’ encarregando-se da produção de seus meios de vida. Atualmente, nossa inscrição de cidadania depende de nossa posição enquanto consumidores, isto é, os indivíduos incluem-se na sociedade à medida que estão inseridos no mercado”, afirma.

unIdAdE dE cOnSuMO – Nesse cenário, diz ela, os valores de referência são “o individualismo; a competição, o ter sobre o ser, ficando a família fragilizada porque acaba também se transformando em ‘unidade de renda e de consumo’”, explica. Conforme Rosângela, “a família passa a ter que prover as demandas de consumo ao invés das necessidades sociais de seus membros. Um exemplo claro dessa inversão de valores é o fato de as crianças e os adolescentes exigirem dos pais cada vez mais a satisfação de seus desejos materiais, como se nessa ação estivessem representados o afeto, o amor, a estima pelos filhos”, afirma, sintetizando: “uma família feliz é uma família que consome e não mais a que partilha”.

Mas, mesmo fragilizada, a família ainda desempenha funções fundamentais. Silvana Henzel busca a definição no dicionário, onde nos sinônimos de família aparece a palavra raiz. “Família é isso: é o que nos dá segurança diante das adversidades da vida, é o que nos nutre primeiro no sentido concreto do autoconservativo orgânico e simultaneamente no sentido emocional. É o esteio onde aprendemos a construir laços de afeto, onde nos constituímos enquanto sujeitos singulares e onde aprendemos a viver em um contexto social”, sintetiza. N

VERA NUNES é jornalista em Porto Alegre (RS)

Em nome da família, amém

PARA um RelACiONAmeNTO bem-suCeDiDO, é PReCisO Que O CAsAl ACeiTe A exisTêNCiA De mAus mOmeNTOs ATRAvés DA AcEItAçÃO AtEntA De Que A DOR é iNeviTável e fAz PARTe DO viveR.

por Roseli Kühnrich de Oliveira

S. Bruney

As famílias já não são as mesmas. As novas formas de ser família exigem a disposição de olhar não apenas para o passado. Famílias iniciavam com um homem e uma mulher. Hoje, não necessariamente. Em vários países, o casamento entre pessoas do mesmo sexo está sendo legalizado. As dificuldades em família aparecem até mesmo nas culturas mais conservadoras, em que mulheres são condenadas ao apedrejamento por ter adulterado.

Gangues de jovens de classe média mostram as limitações do comprometimento familiar. Filhos dão ordens aos pais numa realidade impensável há poucos anos. A “tirania kids” é facilmente observada em shopping centers, onde pais confusos e também sem limites não conseguem distinguir o necessário frente ao real desejo de aceitação.

É difícil pensar e escrever sobre a família hoje. Novas configurações familiares, competição entre os cônjuges, interferência das famílias de origem, do trabalho, da mídia, crises nos casamentos... Então, de que família estamos falando? Qual a sua definição de família? Podemos comparar famílias nucleares, poligâmicas, recasadas, matriarcais ou extensas?

Obviamente, cada uma tem suas características, mas todas apresentam as dificuldades naturais de seres humanos que vivem em comunidade. Contudo, filmes de histórias de amor atuais criam a ilusão de que é possível viver um “relacionamento perfeito”, o que torna ainda mais difícil lidar com os problemas diários.

Aceitar que relacionamentos incluam sofrimento é o segredo, segundo um estudo publicado na Revista de Terapia de Casal e de Família, nos Estados Unidos. Contudo, em geral, o valor que é dado à atitude pró-ativa e ao triunfo sobre a adversidade cria um ambiente em que o sofrimento é visto como um sintoma da derrota pessoal. Assim, perpetua-se o mito de que com esforço e força de vontade tudo se resolve.

Segundo os pesquisadores, para alcançar um relacionamento bemsucedido, é preciso que o casal aceite a existência de “maus momentos” através da “aceitação atenta” de que algum tipo de dor é inevitável e faz parte do viver. Em resumo, parar de lutar contra o que não se pode mudar, enfocando o que há de bom, valorizando o que o casal ou família já conseguiu até aquele momento.

Relacionamentos não “dão certo” a priori. O casamento e a família vão se adaptando, conforme as pessoas vivem e se modificam. A noção de que somos seres vivos e em movimento existencial e dialético é fundamental para permitir aos casais e famílias os erros que podem conduzir aos acertos e ajustes de convivência, com todos os atritos e alegrias que esse arranjo produz.

Em muitas culturas, ainda hoje as pessoas casam e mantêm casamentos arranjados. Em outras, casais que se escolheram se separam, e há pessoas que, mesmo ainda se amando, rompem a relação. Por quê? Pode ser que o afeto de um não chegue ao coração do outro. Existem bloqueios nessa estrada da comunicação dos sentimentos. As circunstâncias externas têm seu

peso e influência, como também a biografia de cada um, a forma como cada pessoa aprendeu a expressar ou não suas emoções.

O amor não é apenas o sentimento. Ama-se alguém ou a si mesmo: existe um destinatário das ações amorosas. Sem dúvida, a atração física e/ou intelectual molda parte do encantamento que aproxima as pessoas. Mas isso não é necessariamente amor. Esse se traduz em atitudes. Afinal, até um bebê demonstra seu amor afagando o rosto materno.

Mais do que uma atração ou sentimento, manter o casamento requer uma permanente construção e disposição de viver todos os momentos, bons e maus. É artesanal, não mágico. Um dos maiores desafios dos tempos modernos é ensinar comprometimento a pessoas que lidam com um mundo descartável, onde a evolução das tecnologias torna-as obsoletas e rapidamente substituíveis.

Visitei uma exposição fotográfica este ano em Lisboa, projeto da Anistia Internacional (1000familias.com). O fotógrafo Uwe Ommer percorreu, durante quatro anos, cinco continentes retratando famílias, no intuito de compor um grande álbum. Nessa extensa família, somos todos humanos e habitamos o mesmo planeta, diz a apresentação da amostra.

Confesso que me emocionei ao ver as fotos. Pessoas que, retratadas, espelham no olhar o anseio de ser aceitas, amadas. Pessoas que se ligam de uma forma concreta por DNA e/ou por afeição, por laços visíveis ou invisíveis, funcionais ou disfuncionais.

Apesar das diferenças de culturas, crenças e hábitos, o conceito de família permanece e há de sobreviver, embora de maneira diferenciada dos modelos que herdamos. N

ROSELI KÜHNRICH DE OLIVEIRA é psicóloga em Porto Alegre (RS)

A conciliação é a melhor saída

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por Solange Magali Schwambach

Mudanças sensíveis ocorreram nos meios familiares e inspiram interpretação dos juízes sobre as leis, e a própria modificação das leis. Assim, houve evolução legal desde o Código Civil de 1916, primeiro com a Lei do Divórcio nº 6515, de 1977, depois com o advento da Constituição Federal de 1988. Esta passou a reconhecer a união estável e a comunidade formada por qualquer dos pais e seus descendentes, igualdade de direitos e deveres do homem e da mulher, igualdade dos filhos, havidos ou não do casamento, ou por adoção, garantindo a todos os mesmos direitos e deveres. O Novo Código Civil, que já vinha sendo discutido há décadas, pouco trouxe de mudança, adaptou a lei civil à Constituição e passou a valer a partir de janeiro de 2002. Mais recentemente, veio a Lei Maria da Penha, que traz mecanismos para coibir a violência doméstica e familiar; por derradeiro, a nova Lei do Divórcio, surgiu para facilitar o divórcio consensual.

Para atender ao grande número de demandas na área familiar, foram criadas as Varas de Família, para atender demandas dessa matéria e são especializadas em disputas familiares. A especialização possibilita que o Julgador se dedique a essa espécie de processo e estará mais preparado para julgar o caso concreto, no intuito específico de melhor atender a comunidade. Quais são os tipos de casos? Todas as questões familiares que merecem a chancela do Judiciário. Quando inexiste consenso entre as partes, as demandas são encaminhadas às Varas de Família, tais como separações, divórcios, dissolução de uniões estáveis, fixação de alimentos, execuções de alimentos, revisões das verbas alimentares (majoração ou redução), >>

brIgA: Ainda existe uma cultura forte do litígio

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interdições, disputas pela guarda dos filhos, investigações de paternidade, dentre outras controvérsias.

A mudança na lei do divórcio veio para agilizar o processo de divórcio consensual, pois, a partir de agora, casais que queiram se divorciar estão liberados do cumprimento prévio da separação judicial por mais de um ano ou de comprovada separação de fato por mais de dois anos, como previa a Constituição. As regras, portanto, só valem para casais que concordarem com o divórcio e que não possuam filhos menores de idade.

Na prática, para se divorciar em um cartório judicial, era necessário um primeiro processo para conseguir a separação e um segundo para se divorciar. Agora só será necessária a etapa do divórcio. Além de reduzir a interferência do Estado na vida privada dos cidadãos, a medida acarretará economia de recursos técnicos e financeiros para o Judiciário e para os indivíduos que pretendem se divorciar, uma vez que não serão necessários os dois processos.

Mas existe chance de conciliação? Há possibilidade de reconciliação. Para tanto, é importante que o advogado tenha o compromisso moral de, antes de encaminhar os processos a litígio, tentar encaminhar as partes para a reconciliação e/ou conciliação, não esquecendo da necessária interdisciplinaridade do direito com a psicologia no encaminhamento dos casais para a terapia familiar, que em muitas situações tem ajudado significativamente os casais a entender o difícil momento da ruptura conjugal.

Sabe-se que as congregações religiosas têm prestado apoio às famílias em crise conjugal, trazendo serenidade e alívio àqueles entes familiares que experimentam a angústia e a dor, buscando na palavra de Deus força para ultrapassar as dificuldades e manter o equilíbrio pessoal e familiar.

Ainda que o casal não se reconcilie, deve buscar o equilíbrio da relação para juntos amadurecerem para uma separação consensual e não da família, porque mesmo separados continuarão sendo pais dos filhos para sempre, mudando a condição de marido e mulher, e não de pais e filhos, pois não existem ex-pai nem ex-mãe.

Infelizmente, ainda existe uma cultura forte do litígio, ou seja, para que o casal se separe, os dois devem “brigar”, quando, na verdade, o casal deveria amadurecer as diferenças em busca de uma separação consensual, cuja solução é mais saudável não somente para o casal, mas para toda a rede familiar.

Superada essa fase de tentativa de harmonização das relações, existem situações que pedem o ajuizamento de litígios, especialmente quando adentramos muitas vezes na seara da má-fé e do prejuízo material. Porém, quanto a isso, não há que se perder de vista que o maior prejuízo enfrentado pela família ainda é o incomensurável prejuízo imaterial da ruptura conjugal, que não tem preço. N

SOLANGE MAGALI SCHWAMBACH é advogada em Novo Hamburgo (RS)

Quem deve educar?

fAmíliA e esCOlA sãO COmPlemeNTARes NA fORmAçãO DA CRiANçA e DO JOvem. AmbAs Têm em COmum O ObJeTivO DA EducAçÃO dO fILhOALunO, mAs AO mesmO TemPO POssuem PAPéis DifeReNCiADOs.

por Delci Knebelkamp Arnold

No advento da era moderna, a família e a escola, assim como outras instituições sociais, sofrem mudanças. É preciso entender que família e escola são instituições que surgiram no interior de relações de poder e de saber diante do aceleramento das mudanças econômicas, do crescimento demográfico, do aumento da necessidade de cuidados por parte dos indivíduos e da população. Especificamente, a família se forma a partir da necessidade moderna de tutorar, regrar e educar a criança. Ela reorganiza sua estrutura e, aos poucos, começa a aparecer um certo borramento de

fronteiras entre o que cabe à família e à escola. Percebe-se que a família já não dá mais conta dos desafios da modernidade e tenta delegar à escola a função de desenvolver o caráter, a disciplina e o conhecimento do sujeito que precisa fazer a “passagem do estado da infância ao do adulto”, conforme afirma Philippe Ariès em “A história social da criança e da família”.

As duas instituições, família e escola, aparecem como responsáveis pela formação dessas crianças para que sejam preparados para viver nesta nova sociedade. Para isso, a função da família passa a ser a de amar e zelar pelo bem-estar da criança, enquanto a escola se encarrega de educar, ensinar e formar essa criança. Assim, instala-se a aliança entre elas. As funções estão determinadas para cada instituição, e as tarefas se complementam.

Com o transcorrer do tempo e as transformações decorrentes das descobertas científicas e tecnológicas, passa-se, aos poucos, a outro modo de pensar, de viver, de se relacionar, de acreditar, de consumir. E as crises se intensificam. Muitas também acontecem na relação família-escola.

Um elemento de crise é a mudança de valores colocados na afetividade e no amor, inicialmente presentes na família nuclear moderna, mas que perderam força nos dias atuais. Família e escola procuram desenvolver, desde o início da modernidade, uma formação capaz de tornar o cidadão cuidado e educado, considerando os ideais da época. No entanto, o modo de vida atual acelerado e instantâneo faz com que o movimento do cuidado se transforme em abandono e solidão e o do educado passe a ser problema para instâncias de controle jurídico.

Diante dessa discussão levanta-se a questão da responsabilidade pela formação da criança e do jovem. De forma objetiva, pode-se dizer que é na relação afetiva e no estabelecimento de vínculos que a criança vai se tornando pessoa. E ela precisa de referenciais adultos, como o pai, a mãe, o professor, a professora, para ser orientada de forma convincente e firme. O professor passa a ser também modelo de autoridade, principalmente se considerarmos que a figura do pai sai de cena, em parte quando a criança entra na escola e pelas diferentes constituições familiares atuais em que a figura masculina não se faz mais tão presente.

Podem-se lembrar também aqui as mudanças nos relacionamentos e que exercem grande influência sobre o modo como vivem as famílias. Não há mais um modelo de família. Crianças de várias constelações familiares, nucleares ou não, reúnem-se todos os dias na escola, cada um com seu jeito, sua história.

Neste contexto, muitos chegam à escola sem as capacidades interpessoais desenvolvidas, não compreendem os processos de uma solução e o prazer imediato é o que importa, não reconhecem hierarquias e gostam de fazer apenas o que lhes agrada. Esses fatores podem ocasionar a falta de limites, o individualismo e a violência.

Existem também os sujeitos que fazem parte da geração da solidão. Um exemplo são aqueles que processam o isolamento através do uso de fones de ouvido. Têm o domínio das tecnologias, mas sua aprendizagem, informal e formal, é extremamente superficial. Enfim, esses filhos-alunos se apresentam como sendo muito carentes. Carentes de aprendizagem interpessoal e de conhecimento, necessitando ser acolhidos pela família e pela escola nesses aspectos.

Diante desse quadro, cabe dizer que família e escola são complementares na formação da criança e do jovem. Ambas têm em comum o objetivo da educação do filho-aluno, mas ao mesmo tempo possuem papéis diferenciados e distintos. O que precisa ser praticado entre família e escola é uma relação compartilhada. N

Heriberto Herrera

cOMuM: família e escola são responsáveis pela formação das crianças para viver em sociedade

DELCI KNEBELKAMP ARNOLD é professora no Instituto de Educação Ivoti e no Instituto Superior de Educação Ivoti em Ivoti (RS)

Pornografia e sexualidade

PARA A sOCiólOgA gAil DiNes, Os filmes ACessADOs NA iNTeRNeT POR ADOlesCeNTes sãO ResPONsáveis PelO AumeNTO DA vIOLêncIA SExuAL CONTRA mulHeRes e CRiANçAs.

por João Artur Müller da Silva

Odomínio para pornografia na internet foi aprovado pela junta diretiva da ICANN durante conferência em Bruxelas, na Bélgica, noticiou o site da revista Veja, na seção Vida Digital, em 25 de junho. A ICANN – cuja sigla significa Corporação da Internet para Atribuição de Nomes e Números – é responsável pela coordenação global do sistema de identificadores exclusivos da internet.

Em fins de junho, a socióloga Gail Dines, americana, lançou um livro nos Estados Unidos com uma forte crítica à indústria do entretenimento adulto. Seu livro – Pornland – How porn has hijacked our sexuality (Terra do Pornô – Como a pornografia tem desviado a nossa sexualidade) – apresenta a tese de que os filmes acessados livremente na internet por adolescentes são responsáveis pelo aumento de casos de violência sexual contra mulheres e crianças.

Em entrevista publicada no dia 8 de julho no site da revista Época – no Blog Mulher –, a socióloga americana Gail Dines afirma com convicção que algumas “pesquisas mostram que entre 40% e 80% dos homens que baixam pornografia infantil da internet acabarão se envolvendo em algum tipo de abuso contra menores. Os estudos definitivamente sugerem que há uma ligação”.

Para ela, a indústria do entretenimento adulto vende uma imagem de sexualidade em que a mulher é sempre submissa ao homem e em que o menosprezo pela mulher é evidente e motivador de cenas picantes. “O que significa para um menino que ainda está desenvolvendo sua sexualidade ver esse tipo de pornografia?”, pergunta Dines.

Que resposta têm os pais e as mães quando descobrem que seus filhos adolescentes estão visitando sites pornográficos? Que tipo de conversa desenvolvem educadores com seus alunos e alunas quando o tema surge em sala de aula ou em conversas informais? Quantos de nós estão preparados para conversar sobre esse tema tão polêmico, tão difícil, com nossos filhos adolescentes?

Para a socióloga Gail Dines, quanto “mais erotizamos essas imagens, mais dizemos aos homens que é dessa maneira que eles devem tratar as mulheres, que eles devem achar isso excitante. E os garotos vão construir suas identidades sexuais em torno dessas imagens”. Como podemos perceber, ela está preocupada com as relações entre homens e mulheres, que podem vir a ser violentas e agressivas a partir da formação na adolescência. E a sexualidade a ser exercida na vida adulta pode sofrer com a visibilização precoce de filmes pornográficos por qualquer jovem na internet.

Perguntada na entrevista no site da revista Época se a pornografia tornou-se

Oliver Gruener

mais violenta do que era na década de 1970, quando feministas promoveram campanhas para denunciar a imagem de mulher-objeto que esses filmes transmitiam, ela foi bastante clara em sua resposta: “Não há comparação. Antes, o que era considerado um tipo de pornografia muito pesado, que tinha de ser comprado em lugares especiais, hoje é tido como normal. Os adolescentes podem baixar pela internet. Esse aumento da violência aconteceu porque os homens se entediaram com a pornografia disponível. O acesso a esses materiais é tão fácil, que os homens se tornaram insensíveis aos apelos do pornô. Por causa disso, a pornografia precisa continuar aumentando o nível de humilhação das mulheres para manter o interesse dos homens”.

Na entrevista com Dines, também foi perguntado se existe um tipo de pornografia saudável. Sua resposta é merecedora de reflexão. Disse ela: “Se há, eu ainda não vi. Pornografia por definição são imagens baseadas na desigualdade, na humilhação, na desumanização. Eu não consigo aceitar que qualquer imagem desse tipo seja boa para as pessoas”. Essa convicção cristalina e firme está baseada em estudos e pesquisas sobre os efeitos e as influências que a indústria do entretenimento adulto pode exercer sobre as pessoas.

E quando perguntada sobre como controlar esses efeitos negativos da exposição à pornografia, ela mais uma vez manifesta clareza e propõe que “a legislação deveria definir pornografia como uma violação dos direitos civis das mulheres. Assim, elas poderiam processar os autores desses produtos por qualquer tipo de dano físico que elas sofressem. É claro que é difícil provar que esses danos foram estimulados pela pornografia. Mas, muitas vezes, é difícil provar violações de direitos previstos pela lei. Mas isso não os invalida”.

Como vemos, a criação de domínios na internet dedicados à pornografia vai tirar ainda mais o sono de pais, mães e educadores preocupados e comprometidos com a educação de seus filhos e filhas. Será preciso empreender esforços, reflexão, diálogo, estudos e até engajamento em movimentos de combate à pornografia, pedofilia e tudo o mais que representa abuso e violência contra as pessoas. N

“A legislAçãO DeveRiA DefiNiR PORNOgRAfiA COmO umA viOlAçãO DOs DiReiTOs Civis DAs mulHeRes. Assim, elAs PODeRiAm PROCessAR Os AuTORes Desses PRODuTOs POR QuAlQueR TiPO De DANO físiCO Que elAs sOfRessem.”

JOÃO ARTUR MÜLLER DA SILVA é teólogo e editor da Editora Sinodal em São Leopoldo (RS)

A certeza da proteção

por Carlos E. M. Bock

OConselho Tutelar foi acionado pelo Disque 100. A denúncia dizia que uma menina de 12 anos estava sofrendo abuso sexual pelo padrasto. O Conselho constata a situação de violência contra a criança e decide pelo abrigamento da menina.

Ela entra no carro do Conselho Tutelar. Com os olhos cheios de lágrimas, olha pela janela na esperança de que a mãe possa impedir seu afastamento. Sozinha, acompanha aquela gente desconhecida. Para trás ficam aqueles a quem ama, seu lar, onde sofreu violência, mas é seu lugar.

A conselheira tutelar procura vaga num abrigo, faz a documentação de abrigamento, e a menina é conduzida ao lugar onde viverá pelos próximos meses até que a situação de risco seja neutralizada. A viagem até o abrigo é para ela como uma eternidade. O medo e a angústia diante do desconhecido aceleram seu batimento cardíaco.

De repente, o conselheiro anuncia que aquele prédio será seu novo lar. A menina aperta contra seu corpo frágil a sacola com seus poucos pertences. Não tem mais nada em que se segurar. O que fazer com uma criança ou adolescente nessa situação de violência?

A menina chega ao abrigo da ABEFI (Associação Beneficente Evangélica da Floresta Imperial). A educadora explica a rotina da casa e o contrato de convivência elaborado em parceria com os abrigados. Ela também informa que, no dia seguinte, ela será matriculada na escola do município.

O lar começa a cumprir sua missão, que é acolher, acalmar, proteger, dar segurança e conforto emocional. A autoestima e a segurança vão ser reconstruídas, na medida do possível, através de cinco programas: atendimento pedagógico, acompanhamento familiar, acompanhamento psicológico, integração comunitária e formação.

AbrIgO: O lar cumpre sua missão de acolher, acalmar, proteger, dar segurança e conforto emocional

EMOçÃO E cOnhEcIMEntO: Oficinas possibilitam bem-estar emocional e crescimento cognitivo

Fotos: Arquivo Lar Padilha

Para possibilitar bem-estar emocional e crescimento cognitivo, são oferecidas oficinas de dança, teatro, música, informática, esportes, capoeira e artesanato para os adolescentes. Esses participam do Grupo de Protagonismo, em que criam projetos que desenvolvem autonomia e empoderamento através de temáticas eleitas por eles, tais como: sexualidade, espiritualidade, meio ambiente, direitos da infância e afetividade.

O desafio desse lar, chamado Lar Padilha, é transmitir à criança e ao adolescente abrigado a certeza de proteção, segurança, cuidado emocional e comunicação com a família. Na primeira semana, os abrigados entram para o programa de retorno à família. O programa permite que eles estejam próximos do anseio maior que toma conta de uma criança ou adolescente abrigado: voltar para a família. Pois, por melhor que seja o abrigo, esse é o maior desejo dos abrigados.

A partir da acolhida e integração, as crianças e os adolescentes passam a sentir-se muito bem no dia-a-dia do lar. Logo começam a rir, a participar das atividades com prazer. O lar é aberto. O caminho para a escola é feito livremente. Depois de adaptados e havendo condições, começam a fazer visitas em casa ou para parentes próximos, com o objetivo de preparar sua volta para o convívio familiar.

Quando não há nenhuma possibilidade de retorno à família, os jovens permanecem até os 18 anos. Esses casos têm sido cada vez mais raros.

Desde que o programa de retorno à família foi instituído, o desejo das crianças e adolescentes de voltar para casa tem sido bem atendido. A volta ao abrigamento, depois de desligados por ordem judicial e com orientação do lar, tem sido baixa. Em torno de 3% precisam retornar ao abrigo porque as situações de risco se restabeleceram.

A violência que retira a criança de seu lugar e a coloca num abrigo é um tipo de violência grave, porque vai modificar para sempre um ser em formação. A lei é falha, pois afasta a vítima e não o agressor. Penso que, como cristãos, devemos aprofundar a reflexão sobre o que lemos em 1 João 3.18: “Meus filhinhos, o nosso amor não deve ser somente de palavras e de conversa. Deve ser um amor verdadeiro, que se mostra por meio de ações”. N

CARLOS E. M. BOCK é teólogo e obreiro da IECLB na Comunidade Evangélica Floresta Imperial em Novo Hamburgo (RS)

ABEFI – Associação Beneficente Evangélica da Floresta Imperial – é um serviço diaconal da Comunidade Evangélica Floresta Imperial em Novo Hamburgo (RS).

O Lar Padilha é uma unidade da ABEFI, localizado em Taquara (RS).

Disque 100 – Telefone para denúncia de violência contra crianças e adolescentes.

As crianças e os adolescentes só podem ser abrigados por decisão do Conselho Tutelar, Promotoria da Infância e Juventude e Juizado da Infância e Juventude.

Um amor possível

Os PAis, A PARTiR De si PRóPRiOs, PODem ReNOvAR suAs meNTes e COmeçAR A PRATiCAR A rAdIcALIdAdE dO AMOr PROPOsTA POR Jesus CRisTO.

por Vera Liane Petry Schoenardie

Abase sobre a qual se constrói um casamento e uma família não tem futuro se não contiver as mais profundas expressões do amor, quais sejam: o respeito, o desejo do bemestar próprio e do outro, a proteção, o exemplo saudável e a alegria pela presença do outro.

De forma distinta de outras religiões, o cristianismo tem como centro de sua mensagem o amor. O amor de um Deus relacional, que vem ao encontro de sua criação. Jesus, o Deus encarnado, veio para compreender a natureza do humano e propor a reconstrução do divino de nossa essência original.

E qual é o cerne do chamado de Jesus? A proposta do exercício de um amor radical, que começa na relação com Deus, passa pela própria pessoa e alcança os outros seres com o mesmo comprometimento. A partir de Lucas 6-32, sabemos que Jesus questiona o “mérito” de se amar somente os que nos amam, sugerindo que não há nada de especial nisso.

A medida do amor cristão é amar quem nos é “indigesto”, quem nos faz mal. Impossível, dizemos! Amar não é algo que se impõe! Como então Jesus coloca seu grande mandamento como um imperativo? Se pensarmos no amor tãosomente como uma emoção, aquele “calorzinho no peito”, somos levados a concordar que Jesus pede o impossível. Em 1 Coríntios 13.4-7, lemos:

“Quem ama é paciente e bondoso. Quem ama não é ciumento, nem orgulhoso, nem vaidoso. Quem ama não é grosseiro nem egoísta; não fica irritado, nem guarda mágoas. Quem ama não fica alegre quando alguém faz uma coisa errada, mas se alegra quan-

Benjamin Earwicker

rAdIcAL: A qualidade do amor proposto por Jesus independe de nosso estado emocional

do alguém faz o que é certo. Quem ama nunca desiste, porém suporta tudo com fé, esperança e paciência”.

Difícil, não? Mas façamos uma inversão nas palavras do texto e teremos algo assim: “Bondade e paciência são formas de amar. Ciúme, orgulho, vaidade não são amor... Egoísmo e grosseria não são amor...” Complete você mesmo a sequência.

Paulo não fala de sentimentos. Fala de traços de caráter. Fala de aspectos da personalidade humana. E então temos a chave. A impaciência, por exemplo, é um traço de caráter que eu escolho cultivar ou não. Ou a impaciência me domina (como se eu fosse uma criança, ou seja, um adulto infantil), ou eu a domino. Ser grosseiro, magoar-se por bobagens, jogar na cara do outro seu erro, com prazer arrogante e orgulhoso, são escolhas.

A qualidade de amor proposto por Jesus independe de nosso estado emocional, pois ele compreendeu

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