10 minute read

Dia de Finados - 1 Coríntios 15.12-20

PRÉDICA: 1 CORÍNTIOS 15.12-20

ISAÍAS 35.1-10 MATEUS 22.23-33

DIA DE FINADOS

02 NOV 2017

Vera Maria Immich

1 Introdução Consolo e confi ança na ressurreição

Os textos propostos para Finados falam do novo, tanto em Isaías como no Evangelho de Mateus e, por fi m, na Primeira Carta à Comunidade de Corinto. Isaías aponta para a novidade de vida, sem opressão e dominação. Aos saduceus Jesus fala do cotidiano da eternidade, e Paulo precisa “convencer” a comunidade de que, assim como Jesus ressuscitou, todos também ressuscitarão. Isaías 35 é sucedido pelo capítulo 34, que relata a condenação dos opressores e das potências dominadoras. Ao povo de Deus são reservadas libertação, alegria e vida em abundância. Aos sofredores são dados força, ânimo, restauração, coragem e salvação. No texto do evangelho, encontramos uma linda explicação não somente da ressurreição, mas de como será no mundo dos ressurretos. Não será uma cópia do que vivemos aqui e do que conhecemos, mas seremos como anjos, embora não saibamos como os anjos vivem. Não devemos especular, mas confi ar. Jesus apresenta Deus aos saduceus como um Deus que defende a vida. Ele não nos criou para a morte, mas para a aliança consigo mesmo para sempre. De acordo com essa carta, a comunidade de Corinto passava por muitos problemas, erros e tinha muito a aprender. Paulo enfrenta essas questões e não foge da correção desses problemas por causa de seu cuidado paterno com seus fi lhos e fi lhas na fé. Herdamos esses preciosos ensinamentos, que até hoje nos querem admoestar e ensinar. Cartas oferecem a oportunidade do registro, e embora tenham um destinatário, sua temática universaliza-se a todos os cristãos, embora requeira cautela, atenção e sabedoria para serem aplicadas aos dias de hoje. Paulo tem que lidar com problemas concretos, com dúvidas reais de seus irmãos na fé, e ele o faz conclamando todos a Cristo e à união. As muitas fi losofi as que conviviam em Corinto acabaram diminuindo e questionando a ressurreição de Cristo e a ressurreição de seu povo.

2 Exegese

Em Corinto, algumas pessoas pensam que, depois da morte, a alma imortal continua vivendo sozinha, abandonando a matéria e o corpo, que são considerados coisas más e inferiores. Outros consideram que a morte é o fi m de tudo e que

é necessário aproveitar o presente. Paulo, então, precisa desconstruir essas convicções contrárias à fé cristã, a qual confessa que, assim como Cristo ressuscitou, também nós ressuscitaremos. Corinto era a sede da província senatorial da Acaia, centro comercial entre Ásia e Roma. A vida econômica da cidade era determinada pelo comércio, negócios fi nanceiros e produção artesanal. Sua população era diversifi cada, com forte presença romana e diversidade religiosa. A grande parte da comunidade pertencia às classes sociais menos abastadas, e, em menor número, havia pessoas integrantes da classe alta, que punham suas residências à disposição para as celebrações e ceia do Senhor. Essa comunidade viva está com uma série de problemas teológicos e de convivência, que leva à criação de partidos que se comunicam com Paulo, relatando as ocorrências da comunidade. Então Paulo escreve a carta com o objetivo de tratar essas questões, conclamando os irmãos e as irmãs para a concórdia e a união. Paulo exorta a comunidade a lembrar-se de sua fundação, para que se lembre de ser uma comunidade e evite as divisões que poderiam levá-la à situação anterior. Ele lembra que Paulo e Apolo são apenas jardineiros, cuidadores da comunidade. A comunidade é templo de Deus, e seu fundamento deve estar apenas em Cristo. No texto em questão, Paulo procura alicerçar a ressurreição dos mortos nas testemunhas da ressurreição, para as quais Jesus aparece depois de morto e ressurreto. Quem nega a ressurreição dos mortos estaria negando a ressurreição de Jesus, que é o princípio da fé cristã.

3 Meditação

A ênfase desta pregação está na ressurreição tanto de Jesus como dos membros da comunidade de Corinto e também de nossa ressurreição. No dia de Finados, esse tema recebe um destacado valor. Temos nos bancos das igrejas e nos corredores dos cemitérios de todo o país muitas pessoas com os corações cheios de saudade de entes queridos que partiram há muito tempo ou há pouco tempo. Talvez o próprio pregador ou pregadora tenham experimentado em suas vidas a dor da perda de alguém muito amado. Pode-se perguntar pela relevância da ressurreição de Jesus no processo de luto e aceitação. Assim como em Corinto, hoje também há muitas fi losofi as e crenças diferentes acerca da morte e do depois, não somente na cidade, mas também no campo. A globalização da comunicação chegou ao campo e ofereceu uma diversidade enorme de conteúdos sobre o tema, muitas vezes alheios à fé cristã. As telenovelas gostam de explorar o tema e contam com ibope elevado por pessoas em sofrimento e em busca de respostas. As cartas, ditas psicografadas, trazendo supostas mensagens dos que já partiram, trazem certo alento, e às vezes confusão, para aqueles que não têm a fé cristã alicerçada no Cristo ressurreto. Sensibilidade deve nortear a pregação e trazer para o centro da fé cristã, para a ressurreição de Cristo sem atalhos e sem desvios. Corações tristes podem ser alvo fácil para outras correntes e fi losofi as. Mas o evangelho de Cristo deve ser resposta sufi ciente para os enlutados. Convém ser

didático e explicativo, ligando os dois textos, de 1 Coríntios e do Evangelho, sem contudo explicar o mistério inexplicável que é a ressurreição. Jesus não quis que soubéssemos de detalhes de como seria, senão ele mesmo o teria dito. Devemos aceitar esse mistério e contemplá-lo através da confi ança e da fé inabalável. As mesmas perguntas que os saduceus fi zeram a Jesus, a nossa comunidade também tem e deseja ouvir algo a respeito. Jesus responde sem detalhar e sem dar explicação, mas chama a atenção deles, dizendo que não conhecem as Escrituras e nem o poder de Deus (v. 29). E conclui dizendo: serão como anjos e não casarão e nem se darão em casamento (v. 30). Não sabemos como os anjos vivem, logo essa informação é uma resposta que exige confi ança e não uma explicação detalhada de como será. Acontecerá, e isso basta. No início do capítulo 15, Paulo retoma suas pregações de maneira bem pastoral e afetiva, buscando convencer os coríntios e lembrar-lhes o que haviam crido. Ele reitera as testemunhas oculares da ressurreição, em grande número, sendo que muitos ainda vivem e outros já dormem. Ele coloca-se humildemente como o menor dos apóstolos. Nosso texto: Paulo inicia com a pergunta inquietante de que, se todos pregam e até creem na ressurreição de Cristo, como então não crer na ressurreição de todos os mortos? Paulo cresce na argumentação que agora adquire novo tom e questionamento. Se não cremos na ressurreição dos mortos, então Cristo não ressuscitou e toda a nossa pregação e nossa fé são vãs. Imagino Paulo chamando a comunidade de Corinto à razão ao lembrar-lhe que teria usado de falso testemunho contra Deus ao testifi car que Cristo havia sido ressuscitado por ele. E arremata dizendo: se a nossa esperança em Cristo se limita apenas a esta vida, somos os mais infelizes de todos os homens (v. 19). Mas, de fato, Cristo ressuscitou dentre os mortos, sendo ele as primícias dos que dormem (v. 20). O versículo 19 oferece ao pregador e à pregadora a possibilidade de contextualizar esse texto para o dia de Finados, falar da saudade da dor que tem sentido, pois tem fi m e não é o fi m. Nossa dor está ancorada na ressurreição de Cristo e em nossa ressurreição. A ressurreição é a confi ança naquilo que não vemos, não tocamos e não dominamos. É poder de Deus e a ele pertence. Revelou-se em Lázaro, que reviveu e depois voltou a falecer, não sendo, portanto, uma ressurreição. Em Jesus houve a ressurreição e a promessa de que seja extensiva a todos os que creem e professam Jesus como seu Salvador. Deixar a ressurreição sob o poder de Deus e confi ar nossos amados a seus cuidados, sem especular e permitir que nos iludam com cartas e comunicações do outro lado, é um desafi o para este dia.

4 Imagens para prédica

O pregador e a pregadora podem explorar a própria cruz como símbolo de consolo. Max Lucado diz-nos que é impossível olhar para algum lugar e não ver uma cruz: na igreja e capelas acenando para o mundo, esculpida em uma lápide, gravada em um anel ou suspensa em uma corrente. A cruz é o símbolo universal

do cristianismo. Uma escolha improvável. De instrumento de tortura tornou-se objeto de esperança. Um símbolo que nos pode ajudar a compreender o amor de Deus: uma travessa horizontal e outra vertical, uma se estende sobre a outra e entra em contato como o amor de Deus; a outra eleva-se como a santidade de Deus; uma representa a largura de seu amor, e a outra, a altura de sua santidade. A cruz é o lugar em que Deus perdoa seus fi lhos sem baixar seus padrões. Podemos dizer que Deus nos une e reúne sob a sua cruz, em frente à sua cruz, sob o sinal de sua cruz (†) no início e no fi nal do culto, quando realizado o gesto ou apenas mencionado. Sob a sua cruz realizamos batismos, casamentos, orações e bênçãos; também despedimos e entregamos pessoas falecidas sob seus cuidados. É o nosso selo real de pertença. Participamos de sua morte e ressurreição, de sua cruz. Nela morremos e ressuscitaremos. Pode-se fazer uma lembrança para os participantes do culto. Por exemplo, uma cruz que anuncie vida e ressurreição. O Google pode ajudar. As cruzes centro-americanas são coloridas e trazem, além de Cristo, também elementos da natureza. Ou colocar fl ores brancas na cruz da igreja atrás do altar ou onde estiver e fazer referência: o símbolo da morte e da tortura ressignifi cado e anunciando vida e ressurreição além dos túmulos.

5 Subsídios litúrgicos

Acolhida “Eu sou aquele que vos consola, diz o Senhor!” (Is 51.12). Em Jesus Cristo, esse consolo tornou-se presente de forma concreta, pois assim afi rma o apóstolo Paulo (2Tm 1.10): “Nosso Salvador, Cristo Jesus, não só destruiu a morte, como trouxe à luz a vida e a imortalidade”. E num dia como o de hoje, “Deus lhes enxugará dos olhos toda lágrima e a morte já não existirá, não haverá luto, nem choro, nem dor, porque as primeiras coisas passaram” (Ap 21.4).

Poesia Pode ser usada para encerrar a pregação, confi rmando nossa fé e confi ança na ressurreição.

A morte não é nada A morte não é nada. Apenas passei ao outro lado do mundo. Eu sou eu. Você é você. O que fomos um para o outro ainda o somos. Dá-me o nome que sempre me deste. Fala-me como sempre me falaste. Não mudes o tom a um triste ou solene. Continua rindo com aquilo que nos fazia rir juntos. Reza, sorri, pensa em mim, reza comigo. Que o meu nome se pronuncie em casa como sempre se pronunciou,

sem nenhuma ênfase, sem rosto de sombra. A vida continua signifi cando o que signifi cou: continua sendo o que era. O cordão de união não se quebrou. Por que eu estaria fora dos teus pensamentos apenas porque estou fora da tua vista? Não estou longe; somente estou do outro lado do caminho. (Atribuído ao Padre Agostinho)

Bênção • Que Deus, fonte da vida, abençoe o nosso viver em todas as estações da vida: na alegria, na festa, na tristeza, no luto, na saúde e na doença. • Que Deus abençoe o nosso viver durante o dia... durante a noite... no brilho do sol... no cair da chuva e na escuridão das trevas... no iluminar das estrelas e da lua... • Que Deus nos dê prazer e alegria naquilo que fazemos... • Que Deus abençoe o nosso viver para que nossa vida seja plena, fonte de bênçãos, jorrando águas vivas sobre o chão que viermos a pisar. 1 e 2 – Que Deus te abençoe e te guarde sempre. Amém.

Envio Confi antes de que o Senhor nos ampara, também em meio ao sofrimento, vamos em paz e sirvamos a ele com alegria! Amém.

Bibliografi a

BULL, Claus-Michael. Panorama do Novo Testamento. História. Contexto. Teologia. São Leopoldo: Editora Sinodal/Faculdades EST, 2009. LUCADO. Max. Seu nome é Jesus. O cumprimento da promessa do amor de

Deus. São Paulo: Mundo Cristão, 2010.

22º DOMINGO APÓS PENTECOSTES

MATEUS 23.1-12 MIQUEIAS 3.5-12 1 TESSALONICENSES 2.9-13

This article is from: