6 minute read

AS VISITAS EM NOSSA CASA

Next Article
COMO ERA ANTES?

COMO ERA ANTES?

Um viajante tem mesmo tanto a contar, mas a casa tem histórias mais ricas. Quantas pessoas ilustres por ela passaram, conversaram, tomaram um cafezinho, comeram um doce de abóbora... Buscamos em nossa memória, são tantos! Há bispos, arcebispos, presidente da república, ministros, professores universitários, escritores, jornalistas, artistas, religiosos de diversas denominações, filósofos, juristas, historiadores, sociólogos e tantos outros.

Dom Salomão Ferraz (bispo da Igreja Brasileira), Dom Aniger Mellilo, Dom Cândido Padin, Dom Alano Pena, Dom Basílio Penido, os monges irmãos, Henrique e José Weber, Padre Manuel Lira Parente...

Advertisement

Léo Vaz, Leonardo Van Acker, Isaac Nicolau Salum, Heloísa Monzoni, Vinício Stein Campos, Hélio Damante.

Zezé Van Acker, Hugo Della Santa, Nelson Lieff, Sérgio de Carvalho, Cibele Forjaz, Henrique Lins, Miguelito Annicchino, João Duarte, Nori Figueiredo.

Ecléia e Alfredo Bosi, Eni Orlandi, Cidmar Teodoro Paes, José César Gnaccarini, Luiz Dantas.

Ataliba Teixeira de Castilho, Luiz

Narciso Alves de Mattos, Heitor Regina, Waldemar Thomazine, Geraldo van den Aardweg, Renato Pompeu, sem nos esquecermos do vovô Alípio...

E ainda: Rodolfo Ilari, Haquira Osakabe, Maria Lúcia Lattes e Ademar Romero, Jairo Martins da Silva, Maria Júlia Ribeiro Lopes (a neta de Júlio Ribeiro), Paulo Henrique da Rocha Correia, Pedro Henri - que Saldanha, Marta Silva Campos, Pedro Luis Tauil.

E até mesmo Fernando Henrique Cardoso, Almir Pazzianotto Pinto, José Gregori... quantos passaram por esta casa e ajudaram a constituir sua história!

E a história cotidiana, tramada por tantas, inumeráveis pessoas, de manhã, de tarde ou de noite, para cafezinhos e prosa, para pouso e restauro, para estudo e brincadeira, para trabalho ou diversão, para pedir umas folhas de guaco ou trazer uma muda de orquídea; para aprender francês ou estudar liturgia; para ler o Jornal Brasil ou preparar o Bazar das Pechinchas?

Para essa nossa história contribuíram muito D. Fernanda, Dr. Flávio, a Vanda, Valtinho, Wagner e Delma, Nacib, Sr. Newton, Miss Mary, Landa, D. Lucy e Dr. Walter, Sr. Aldano, D. Dirce, D. Margarida, D. Terezinha Forner, Tutu, Miguel Simão Neto, Padre Gil, D. Maria Biazio, Tonche e Wilson, Berto Guedes de Oliveira, Ernesto, Iberê Baena Duarte, Maria Alzira, Sara, Zezé e Ondina, Padre Eusébio, Mário Colnaghi, D. Zita, Valerinha, Maria das Dores, Madame Piatniski, Irene Neville, Edith Biazio, Antoninho Sanches, Rosinha Macluf, o Poeta Homero Dantas, João Carlos Duarte, Neusa Bernardino, Joselaine do Canto, Glória Rossi, Martha Mônica, Dr. Celso e Mírian, Conceição Biscaro, Dirceu Forti, Reinaldo (Zé Branquinho), Zuleica, Gabriela Bombonatti, Dona Diva, Titico, Sr. Hermógenes, D. Maria Ilipronti, Júlia Burkart, Maria Paula e Rita, André Laranjeira, Renato

Kerches, Alexandre May, Márcia Pagliardi, Armando Forti, Padre Estêvão, D. Alcinda, Zé Roberto Mader, Terezinha Marturano e Aparecida, Geni Antunes, Kalu, D. Maria Benedita, Teresinha Colaneri, D. Inês Jardini, Mirna Guidetti.

São tantos amigos, ao longo destes cinquenta e cinco anos, tantos, que a memória falha, e parece que estamos ouvindo bater palmas. É Marise Franchi, ou Vornei Boccardo, ou Dona Lia, a Mary Jacovelli, o Sr. Henrique Piai, a Luci Waldman, a Inês Luísa, ou talvez a Sandra Panza, ou Sandra Neves, ou Leda Annichino, ou a Sonia Casado... Talvez Teresinha Annicchino Nacarato, ou Dona Ercília, o Tarcísio, Cecília Colnaghi, Luciano Pacheco, Rúbia Panza, Cláudio Campacci, Iná e Dirce Galrão, Zilce Pinto Maschietto, D. Miltes, Sarah e Giovanni Gardin...

Esses e ainda outros, cujos nomes nos escapam no momento, fazem parte desta casa: pisaram estas velhas tábuas, apreciaram o frescor da sala, a alegria do verde do quintal, a exuberância da cameleira do jardim; trocaram idéias, contaram casos, fizeram comentários sobre o clima; riram e brincaram com as crianças, subiram nas árvores, colheram jabuticabas, viram as “tartarugas”. Alguns vieram apenas uma vez, outros eram assíduos e esperados; alguns aqui dormiram, outros ficaram apenas alguns minutos; muitos trouxeram lembranças, presentes, flores, um doce feito com carinho. Uma casa não é só cimento e barro, madeiras e tintas. Também não é apenas a família que ali habita. Uma casa é composta de muita história, e nessa história entram todos os que teceram com suas presenças os fios do tempo.

Croniquetas

À noite, as visitas concorriam com os pernilongos e estes acabavam também sendo um tema das conversas: o que se fazia para combatê-los, o flit, a cobrinha, os cortinados, as telas na janela, as portas fechadas a partir das 4 da tarde.

Na cidade de Capivari, um padre ficou famoso pelas suas visitas aos doentes, um ato de misericórdia na visão cristã. O Padre Eusébio van den Aardweg ia todos os dias ver os hospitalizados nos dois estabelecimentos da cidade, além dos doentes acamados em suas casas. Escreveu sobre ele Virginia Bastos de Mattos: Era assíduo nos hospitais diariamente visitados: entrava de quarto em quarto, às vezes só para dizer só “ô! ô!” Mas estava ali vigilante, levando o conforto da fé.

O Padre Eusébio chegava em nossa casa, ia entrando com seu cumprimento meio jocoso: Ô ô, minha gente. Apertava muito os ossos de nossas mãozinhas com sua mãozorra de homem alto dos Países Baixos. Conversava, conversa, fumava, e nós fasci- nados com a cinza do seu cigarro que ele demorava a bater no cinzeiro.

Inah Galrão – hoje penso que devido aos problemas na coluna espinhal – sentava-se ereta numa cadeira dura de assento de couro e com braços.

Eduardo Maluf, em meio às poesias e às anedotas sobre poetas, nunca recusava um doce. Se fosse de leite, era um deleite.

D. Maria Biazzio entrava diretamente na cozinha, nas suas rápidas e diárias visitas a caminho da quitanda ou voltando do armazém do Quinho para sua casa. Havia então troca de carambolas e de algum doce, perguntas sobre o preço dos tomates, a entrega de uma jarrinha azul de plástico contendo soro que ela extraía da nata ao fazer manteiga: matéria-prima para um bolo, numa casa com tantas crianças.

O Fernando Henrique Cardoso fez apenas uma visita à casa, no dia 20 de outubro de 1985, em plena campanha para senador, ele que, suplente no senado, já exercia o cargo de titular com a eleição de Franco Montoro para o governo paulista. Não satisfeito em fazer a campanha, deliciou-se com os brigadeiros do aniversário da anfitriã, festa na qual entrara casualmente.

Tia Dulce, a Tiá, chegou de São Paulo trazendo, numa caixinha de figos, um jaboti que ganhara, ao qual deu o nome de Misuki. Presenteou-o, como de seu costume, à 1ª pessoa que viu ao chegar: meu pai. Aí começou a “dinastia das tartarugas” da General Osório: à Misuki, seguiram-se Bici, Uga, Tatiúga, Letiúga, Pão-de-mel, Pipuga, Beniúga...

Dona Maria Júlia, neta do escritor Júlio Ribeiro, visita de cerimônia, chegou de manhã, acompanhada pelo fiel guardião da memória literária da cidade, o Sr. Eduardo (o poeta Homero Dantas). A anfitriã, atarefada com o serviço doméstico, o almoço que deveria ficar pronto ao meio-dia por causa dos rígidos horários da escola, num certo ponto da conversa correu até a cozinha para tomar alguma providência inadiável. E ouviu da visita: “Nós não estamos com pressa”. Numa grande família, como se sabe, há de tudo. Pois na nossa há o Dom Alano Pena, hoje arcebispo emérito de Niterói. Muito afetuoso, amigo, mas uma autoridade a qual sempre - desde que o conhecemos quando era bispo em Itapeva (SP) - recebíamos com cerimônia. Numa das vezes em que esteve de visita, vindo de Itaici (SP) onde estava no congresso da CNBB, na hora do almoço, louça inglesa na mesa da sala de jantar, ele mesmo quis se servir do feijão: colocou a concha na travessa e, ao levantá-la em direção ao prato, se viu com apenas o cabo de aço inoxidável na mão.

Nos primeiros tempos da família Bastos de Mattos em Capivari, uma das visitas era a de Sr. Gonzaga, o pai de D. Cininha (Licínia Azevedo Gonzaga, professora primária de muitas gerações capivarianas). Na época, havia o costume de se reunir para contar anedotas e propor charadas: era uma diversão a ser partilhada entre amigos.

Fernanda Sacramento Perpétuo, professora muito amiga, agitada e falante, era assídua visita; para conversar, debater, compartilhar leituras, indagações, estudos, trabalhos manuais. Uma vez, ela e sua mãe, D. Cesaltina, colocaram sobre a mesa muitos pedacinhos de tecido, com os quais pretendiam fazer uma colcha. Um dos filhos da casa, “fazendo sala” como era de costume, foi puxando fio a fio, desfazendo o tecido, realizando uma desurdidura – quase pondo a perder o sonho da colcha de retalhos.

Sr. Dirceu Ortolani Stein era diretor do curso primário, chefe dos escoteiros, pescador, batalhador pelas causas sociais, orquidófilo. Suas conversas eram longas e saborosas e suas visitas se davam na sala e, inevitavelmente, no quintal para ver as plantas.

Dona Zita Annicchino, catequista e professora de piano, aparecia mensalmente, para uma visita rápida e para entregar em mãos o boletim do Apostolado da Oração.

O professor de português, o gramático José de Almeida, que julgávamos antissocial e bastante formal, ia à biblioteca da casa onde muito provavelmente fazia consultas a dicionários e a obras sobre o vernáculo. Apenas ele e um grupo de professoras que iam estudar francês (Tutu Quagliato, Francisca, Inah, Teresinha Franchi) eram recebidos no escritório; não era um lugar sagrado da casa, mas servia ao estudo.

Acontecia de algum professor que morava em cidades vizinhas ou em alguma pensão de Capivari ir almoçar na casa da General Osório. Foi o que fez uma vez D. Éris Brocchi, professora de Educação Física. Irreverente, um dos filhos da casa ao vir da escola, imaginando que estivesse chegando antes da visita, imitou-a: “Dá licença, Dona Virginia?”.

E essas crianças, tão comportadas e educadas..., ao ver a visita saindo, atacavam o pratinho de doces que restava sobre a mesinha de centro da sala.

VISITA DE JOSÉ GREGORI (EX-SECRETÁRIO NACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS), ANOS 2000

RECEPÇÃO DO MOVIMENTO CAPIVARI SOLIDÁRIO

ACERVO CASA ROSA

This article is from: