Físsil, de Endreson Ribeiro, Wilemberg Gonçalves e Philippe Wollney.

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Físsil de Endresson Ribeiro, Wilemberg Gonçalves e Philippe Wollney Dezembro de 2016, 1º ed.

Endresson Ribeiro (Nazaré da Mata-PE) Wilemberg Gonçalves (Nazaré da Mata-PE) Philippe Wollney (Goiana-PE) Coletivo Universo em Controverso Selo Editorial Cartonera da Zona Nazaré da Mata, Dezembro de 2016 Edição: Endresson Ribeiro, Wilemberg Gonçalves e Philippe Wollney Projeto Gráfico e Diagramação: Philippe Wollney Impressão e Montagem: Porta Aberta

Este livro é composto enquanto o pó e a fuligem temperam o período do corte da cana. Entre incêndios e odores, usando as fontes HVD Spencil, e Adobe Garamond Pro. Também utilizamos os papéis Color Plus Brasil 180g para a capa e para o miolo o papel sufite verde 75g, e na falsa folha de rosto o papel AG 90g verde.

Fร SSIL

Endresson Ribeiro, Wilemberg Gonรงalves Philippe Wollney

Endreson Ribeiro

É agitador cultural, músico e poeta.

Coordena o Coletivo de Artes Integradas Universos em Controverso e o selo Editorial Cartonera da Zona.

Assembleia geral Urubus sobrevoam a procura de carniça nas escadas rolantes baratas transitam normalmente.

Os ratos se escondem nos paletós e as traças sempre esperando por dias prósperos.

Ao entardecer uma coruja gorjeia agourando a casa Será um ano difícil!

Sorrateiramente as raposas com toda sua esperteza cavam tocas e entocam coisas.

E em cada sala de repartição tem sua particularidade ninhos de surucucu se aglutinando no recanto da parede lesmas se arrastando sobre pilhas empoeiradas de processos alguns lobos urrando no corredor e um casal de corvos comedores de olhos pousado no parapeito da janela.

A sala continua brilhando, toda a poeira será sagradamente relocada para debaixo dos grandes tapetes que sempre tem ótimas serventias.

Uma manada de elefantes brancos compõe o cenário do lado direito da fonte, e do lado esquerdo podemos perceber Uma gigantesca fila indiana composta por morcegos vampiros sanguessugas, vespas, lacraias, três escorpiões amarelos e uma cascavel, esperando pacientemente sua vez de saciar a sede.

O local é grande e bem arejado todos convivem em perfeita harmonia.

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Agridoce Açúcar Cristal Feito Com Suor Salgado!

Sobre a cana, o doce amargo Sobre a cana, o sol e o cansaço Sobre a cana, o corte dos sonhos amargurados Ainda sobre a cana, o mormaço que desfigura a cena o facão afiado o corte sem pena, serão 67.500 golpes por um salário amargurado.

O suor escorrendo das mãos calejadas, o amanhecer do dia antes do fim da noite, o pão de madrugada, o caneco de lata que tampa a boca da quartinha, um cuscuz pesado enrolado com o pano de prato ofertado a ti como um banquete, a espera das coroças que te tratam como gado.

O cenário é cinzento, corpos de bichos carbonizados se espalham com as fuligens de um dia salgado de trabalho.

A cada banho de rio as esperanças renovadas, depois de um dia de batalha a hora é de tirar as armaduras e voltar pra cana, esta agora destilada e acompanhada com um surrão e a sua guiada, o terno batendo na terra pisada, final de semana eu vou pra sambada.

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Como o vento que sopra Me acho em mim, me faço em voz; Vejo surgir um novo dia, um novo mundo, um mundo de loucas palavras, um mundo de cores, e de melodias originalmente de mentes aceleradas; Ecos do novo tempo, de um, tempos de novos laços, me drogo com textos literários, reinvento as histórias que foram mal contadas; Me identifico da forma que sempre quis, com meu mais novo pseudônimo: Zona da mata norte, eu sou o som da palavra!

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Um sopro no mundo Minha poesia feia quando suja, posta sobre a mesa, se espalha com o vento vindo do nada; Minha poesia forte quando quebra, se fragmenta, mostrando-se tão singela com o caos da existência; Minha poesia pobre quando farta, agride, machuca e maltrata; Não com balas de borracha, nem pedradas ou pauladas; Minha poesia se difunde com a fúria impiedosa das palavras.

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Feito um poeta O poeta é feito de tempo!

Feito de fogo, feito de elementos, feito de lágrimas e contentamentos; O poeta é feito de areia!

Feito de barro de fazer jarro, feito de tijolo e de cimento; O poeta é feito de gente!

Feito no dia-a-dia, é feito quando está lendo; O poeta é feito de zuada!

Feito de batuque, feito de cigarro e de caixa de fósforo; O poeta não é feito é de nada! É feito só de poesia, poesia, poesia, poesia e mais nada.

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Não te bastas Nem o sol, nem a chuva, todas as verdades falsas, as mudanças das estações, o lençol desarrumado sobre a cama, não te bastas.

Tens ciência da tua herança, tens cumplicidade com teu próprio destino, sois mancomunado com a existência, só por isso não te bastas.

Passados obsoletos, confissões de primeiro e segundo grau, as palavras escorrendo com o suor das mão, nem por isso te bastas.

Ofertas baratas, carro importado, cigarro do bom, o cheiro do mar, beber o mundo, acampar na lua, chorar no escuro, ainda assim não te bastas.

Café com chocolate que antecede o vinho seco, motoqueiros na corrida do ouro, dragões de Comodo com suas línguas de algodão, os desejos mais secretos, o gosto do desconhecido.

Apenas isso não te bastas.

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?

Eu sou o sentido da sua existência, estou nos detalhes do seu pensamento, sou verbo, sou frase, eu sou contratempo; Sou mais que querias, sou mais que sonhavas, sou mais que orgulho; Me chamem de merda, me chamem de algo, me bote nos braços, me deixe de lado; Não sou o culpado da sua vontade, não sou tão sadio, nem sou tão bondoso; Eu gosto da vida e dos seus defeitos, eu sou imperfeito, eu sou ser humano; Nasci do engano da natureza, não tenho a beleza descrita na testa, e quem me detesta não deixo de mão; Eu tenho a certeza de que eu estou com a razão; Meu nome é beleza, meu nome é pureza, meu nome é perdão!

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Wilemberg Gonçalves

É agitador cultural, músico, ator, poeta.

Filho de Clecirleide e neto de Maria José Guerra, agita suas chamas em Nazaré da Mata.

A quem possa interessar Te peço com reza de ateu não me abençoe nem me faça vazo sou taça de licor barato.

Não me torne sacro don’t fill my sack com essa “aburrocência” don’t fill my mind.

Sim, me levem a mal lá não preciso de detetive de deter minhas vontades SOU CARNE. Toda essa insistência me en(fé)za são quinhentos e dezesseis anos de deus no Brasil de ego-cinismo de “europe tendency” pobres nativos. “tupy or not tupy?”

Salve todos os abaporus vivos!

Tenho o direito e a vontade de ser primitivo como diria King Dell: “à flor da pele, quero cheirar-te” Não me banhem com água benta me levem a mal don’t i’ll be a new clergyman.

Não me carimbem com o selo desse deus-esfera.

Portuga com sua pontuda faca-bíblia-bisturi 18

implantando versículos pobres anti-subversivos.

Agradeço a Arthur Schopenhauer Friedrich Nietzsche Drummond e Zé Celso “Sêmén!”

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Investigue meu verso inverso Criei calos esses dias para ter poesias.

Nas duas mãos.

Comecei um processo de utilização dos dois lados do cérebro e também outra para me livrar dessa coisa de seguir frases poéticas contadas e iguais.

Criei dores esses dias tive poesias.

Nos dois olhos já secos de sol quente e ausência de cílios grandes o vermelho descarado e descarnado.

Absorvida a poesia fiz poemas para ler com lupa espalhei impressões digitais.

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Combustão compulsiva A farsa inverte os fatos em desgraça disfarçam com bons olhares o tamanho da ameaça nas calçadas crianças com curtas pernas já não brincam mais as sirenes entram caladas no bairro, desligadas pegam no flagra meninos e os cigarros pirilampos de dançante densa fumaça.

Pacífica ação pacificação ação pacífica não pacificação não isso só existe para burguês que assiste de casa.

A doença está nos que param enquanto a pele enruga as águas passam arrastam entulhos e os que enxergam o futuro com viseira de burro.

Tente sair do estado latente combustível de revolução gritada palavra encabeçada mesmo que calada nunca deleta.

E DEIXEM PLANEJAREM MEU FIM! Enquanto não acontece vou seguindo do mesmo jeito sendo satã saltitante na cabeça dos caretas E QUEM FOR DOIDO QUE APAGUE MEU FOGO!

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“E nossos corações, embora fortes e corajosos, ainda assim, como tambores abafados, seguem tocando marchas fúnebres rumo ao túmulo” Longefellow

Toda viatura é navio negreiro são soldados pretos propagando pancadas em pretos subordinados por pálidos de sangue amargo, sangue azul.

São soldados pretos e outros quase pretos que com coturnos pisam no rosto do país.

Num sistema carcerário precário com choques como cartão de visita e intimidação policial a maioria dos detentos são negros.

Em casa de “bom burguês” a vassoura é extermínio lava-se o chão com sangue e suor e ainda dizem que as cores a tremeluzir na bandeira que representa o país (cores vivas e alegres demais, isso é um simulacro).

Nunca lavaríamos nosso terreiro com sangue azul sangue sujo de mazela atrasa tudo.

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Poema de pulsação Sustentar o mantra em tempos atuais é como comer navalhas engolir sapos entre outros animais irracionais.

Corpo de quem necessita é carniça para abutre de paletó comer.

Déspota disposto a portar dinheiro pro seu bolso em seu dito: pagamento de impostos nacionais no real explícito: uma antropofagia de emendas constitucionais.

Joga-se para cima propostas de mula sem cabeça quem votar a favor primeiro ganha!

Déspota disposto a portar dinheiro para o seu bolso.

E que a politicagem não toque na poesia com falsas mãos de São Sebastião o gás combustível para revolução e a desordem rebelde não é teísta.

Algum lugar que doe novos ares?

Quero alterar quero mandar esse astral baixo para o senhor que pautou e pariu esse roteiro sangrento de desordem quero ouvir gritos de medo na rua do sossego.

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“Élneka” diria os Fulniô élneka awe yafe eikh awe.

Sim, eu prenderia você prenderia você e toda sua patota engomada prenderia no meio de um toré Fulniô -- povo que você esquece -e te faria sentir no sangue o pulsar ancestral. Êfe!

Todos meus antepassados gritam! Êfe!

Vida pulsante vida cuspida na cara de quem enxerga desastre vida pulsante vida tocada nas macumbas D’África Êfe!

Todos meus antepassados gritam!

Sustentar o mantra em tempos atuais é necessário.

Tuthnise êfe...

Tuthnise êfe...

Tuthnise êfe...

Tuthnise êfe.

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Recalcitrante

I. Ao mesmo tempo que bato a cabeça na quina da porta troças de mim foliando no chão da cozinha bloco batuta batuque calado INCON SCIEN TE.

II. Me misturo.

Merda na minha mão.

III. Ministério da falta de educação VENDA PROIBIDA sou inteiro de distribuir.

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IV. Náusea vomito nessa tua cara de “bolsomito”

V. Sem querer espirrei na cara de um cristão dogmático ~Nietzcheeee~ não me desejou saúde quis que eu morresse.

VI. Poéticas são as cores de minhas vísceras expostas por uma estética ética.

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VII. Esviscerar por ética.

VIII. Sou ex de mim.

IX. Falho em querer doar do ar que me foi destinado.

X. Neste nado afoguei o afago.

XI. Estripar pôr ética.

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Margens da 408 Sacarose açucarada usina, união a marca, substrato super explorado e o fardo finda?

O que pensam os destiladores de suor e sangue donos da maquinaria mais algodão-doce-punk-morte aos que se envolvem?

Prisão com direito a banho radioativo de sol a pino grades entre nós nos caules de gramíneas.

Quanto mais trabalho físsil faz mais expandem-se as quadras explosão radioativa de força-humana-plutônio.

Cana combustível de gente gente combustível de máquina engrenagens com fome de fazer fumaça e fuligem.

Açúcar no seu suco?

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Philippe Wollney

É poeta, Produtor Cultural e Pai de Nina

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o verão por essas terras é uma boca de fumaça que anuncia a permanência da safra. você já acordou coberto de fuligem? os tempos mudam, e junto com os tempos os homens 370 léguas para o ocidente, a partir da última ilha de cabo vede do rio tejo ao cabibaribe-mirim “não encontres doçura no dia / nem as cores da aurora te ameiguem / e entre as larvas da noite sombria / nunca possas descanso gozar” { bakbam: amante do brilho, ibira-pitanga, brasilhum, brás, brasa, brace, to brase soldar! brazear! bhradsch – luzir! brilhar! } homens terríveis e monstruosos, bárbaros e nus, com beiços furados, o corpo tatuado de negro, que abate outros homens com flecha, lhes despedaça o crânio, os esquarteja e os devora - ou morrer devorado pelos canibais ou esfolado pelo civilizado em 31 de maio de 1535, por decreto de dom joão III, então rei de portugal, tornou-se obrigatório o degredo para o brasil dos vadios de lisboa { a população composta por escorralho, feiticeiros, alcoviteiros, barregãs, falsários, vadios, os que resistem às autoridades, roubam no peso, dão fuga a escravos, matam gado alheio, poetas satíricos, 31

jogadores de cartas, os que amam ilicitamente, ciganos, saltimbancos, corcundas e adestradores de macacos, os que atentam contra o pudor, os ourives de pedras falsas, os caluniadores mentirosos, rufiões, malandrins, e as moças e os rapazes de vida solta } { as 30 léguas de terras de “pero lopez” chamadas inicialmente de capibaribe, logo após gueena, a seguir guaiana, e por fim goyanna } sem pedra de fundação os caetés que devoraram o bispo os aimorés comedores de portugueses os tupinambás que rejeitaram hans staden os tabajaras que sitiaram igarassu os potiguares insurgentes de Itamaracá a simbiose dos rios siriji, tracunhaém e capibaribe-mirim os habitantes do porto sob essas águas há segredos terríveis os que sabiam nadar afundam espanhóis : portugueses : holandeses : franceses : ingleses bantos : congos : nagôs : cabindas : yorubás tapuias : tabajara : kaeté : potiguara : tupinambá esses são os atores de minha epopeia dos martírios sonhos & suspiros de sangue e chantili minha lira infecunda porém açucarada não duvidem de meu açúcar não duvidem do meu açúcar quanto mais cavo mais fundo me acho

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“era um sonho dantesco... o tombadilho / que das luzernas avermelha o brilho / em sangue a se banhar / tinir de ferros... estalar de açoite... / legiões de homens negros como a noite / horrendos a dançar” {mandou matar dois escravos e enterrá-los nos alicerces da casa. o suor e às vezes o sangue dos negros foi o óleo que mais do que o de baleia ajudou a dar aos alicerces das casas-grandes sua consistência quase de fortaleza} as sete legiões dos escravos feiticeiros de dom miguel: legião de pai cambinda, pelas falanges do povo da costa legião de pai josé d’angola, pelas falanges do povo d’angola legião de pai congo, pelas falanges do povo do congo legião de pai jerônimo, pelas falanjes do povo da moçambique legião de pai francisco, pelas falanges do povo da loanda legião de pai benguela, pelas falanges do povo de benguela legião de pai guiné, pelas falanges do povo de guiné

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{ uma estética da violência antes de ser primitiva e revolucionária, eis aí o ponto inicial para que o colonizador compreenda a existência do colonizado: somente conscientizando sua possibilidade única, a violência, o colonizador pode compreender, pelo horror, a força da cultura que ele explora. enquanto não ergue as armas o colonizado é um escravo: foi preciso um primeiro policial morto para o francês perceber um argelino } “essa dor que eu falo / não fala / foi calada a fio de espada” { contudo, mais destrutiva do que esta ação direta da cana sobre o solo é a sua ação indireta, através do sistema de exploração da terra que a economia açucareira impõe: exploração monocultora e latifundiária (...) já afirmou alguém com razão, que a exploração da cana-de-açucar se processa num regime de autofagia: a cana devorando tudo em torno de si, engolindo terras e mais terras, consumindo o humo do solo, aniquilando as pequenas culturas indefesas e o próprio capital humano, do qual sua cultura tira toda a vida } “mas nas usina é que vi / aquela boca maior que existe por detrás / das bocas que ela plantou que come o canavial / que contra as terras soltou que come o canavial / e tudo o que ele devorou que come o canavial / e as casas que ele assaltou que come o canavial / e as caldeiras que sufocou só na usina é que vi / aquela boca maior a boca que devora / bocas que devorar mandou” “ritmos de angústia e de protesto / estão ferindo os meus ouvidos!” o corte da cena. o corte da cana. o entalho na carne. um olhar panorâmico sobre uma aparente e estranha monocromia que sazonalmente se incendeia – e haja carbono na atmosfera – a haja irritação nos pulmões – e haja lenço pras lágrimas, não de sentimento e sim, de fumaça nos olhos.

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{ o neoextrativismo trata-se de uma aposta nos hidrocarbonetos, na mineração e no alargamento dos latifúndios } no distrito de upatininga do município de aliança. seu teinho, trabalhador rural, de 37 anos sequer teve tempo de ser socorrido. “ele morreu de repente. foi encontrado morto dentro do banheiro de sua casa. só descobrimos que foi o veneno da cana quando chegou no IML (...) nos canaviais, as usinas condenam os trabalhadores à morte. não é pra reclamar, pra falar, pra dizer. é pra morrer { transformações econômicas vão desarticulando as comunidades – tanto no nível rural como no nível urbano – o que pode ser considerado como erosão cultural. perde-se as práticas culturais, os dados culturais acumulados histórica e tradicionalmente por certos grupos sociais } doce. dose. dura. o latifúndio em visgo de rapadura. a transgressão da ordem. assovia e chupa cana. os coloridos dos terreiros e terraços. e o verde é de tatuagem de presídio. as ocupações no território incendiado de setembro a janeiro. a intervenção dos bredos de flores roxas. a subversão dos trabalhadores : eu vou vadiar na varanda, eu vou vadiar.

oi, oi, oi, vou vadiar oi, oi, oi, vou vadiar tão me chamando eu vou lá eu vou lá eu vou lá, eu vou lá, eu vou lá

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Referências: Imagem 1: Simbolos da Pedra do Ingá; Historia Do Brasil, IFGB, 1931; Imagem 2:Têtes de différentes castes sauvages. Debret, Jean Baptiste, 1768-1848; História Do Brasil, De Pedro Calmon,1939; História Do Brasil, Frei Vicente Salvador, 1889; Trecho do poema: Navio Negreiro, Castro Alves; Casa Grande e Senzala, Gilberto Freire, 1933; Imagem 3:Símbolos de Exu; Eztetyka Da Fome, Glauber Rocha, 1965; Trecho do poema de Cuti; Josué De Castro, Geografia Da Fome, 1946; Trecho do poema: O Rio, João Cabral; Trecho do poema: Ritmos Da América, Solano Trindade; Trecho da entrevista: Violências Invisíveis, Enrevista de Luciane Lucas Dos Santos, 2013; Artigo: Agrotóxicos E Usinas De Cana-De-Açúcar Condenam Trabalhadores À Morte Na Zona Da Mata De Pe. Publicado Do Site Da Pastoral Da Terra, 2011; Dulce Whitaker, 2012;

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