Plant Project #31

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Para quem pensa, decide e vive o agribusiness

O AGRO EM MIGRAÇÃO Como as mudanças climáticas estão mudando o mapa global da produção GESTÃO TIPO EXPORTAÇÃO

Grandes empresas agrícolas se tornam exemplo de governança e eficiência FOODTECH

O APETITE DOS INVESTIDORES PELAS CARNES DE LABORATÓRIO

DO GELO AO ESPAÇO

As lições da produção de alimentos na Antártida

PESQUISA O retorno bilionário do investimento em ciência no campo TESOURO NO DOURO

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O DONO DA MRV CONSTRÓI UM PEQUENO IMPÉRIO DO VINHO EM PORTUGAL


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A COLHEITA DA CIÊNCIA

As edições da PLANT, não raro, trazem reportagens que, embora independentes, conversam entre si. Dessa forma, complementam-se e permitem ao leitor ter uma visão mais ampla da conjuntura ou de um tema em particular. Nesta edição que você tem nas mãos, em diversos momentos falamos da

Para quem pensa, decide e vive o agribusiness

relevância da pesquisa científica para o desenvolvimento da agropecuária O AGRO EM MIGRAÇÃO Como as mudanças climáticas estão mudando o mapa global da produção GESTÃO TIPO EXPORTAÇÃO

Grandes empresas agrícolas se tornam exemplo de governança e eficiência

no Brasil. Ora de forma direta, ora indireta. Seja falando da necessidade de buscarmos alternativas à dependência da

FOODTECH

O APETITE DOS INVESTIDORES PELAS CARNES DE LABORATÓRIO

DO GELO AO ESPAÇO

]As lições da produção de alimentos na Antártida

PESQUISA O retorno bilionário do investimento em ciência no campo TESOURO NO DOURO

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O DONO DA MRV CONSTROI UM PEQUENO IMPÉRIO DO VINHO EM PORTUGAL

importação de fertilizantes, seja tratando do desafio de mitigar os impactos climáticos que, entre seus efeitos, provocam migrações das fronteiras de produção de alimentos, é dos laboratórios dos centros de pesquisas científicas que virão as respostas que tanto buscamos e desejamos. Assim como foi de lá que vieram as tecnologias que nos permitiram criar uma agricultura tropical de grande escala, cultivar em áreas antes hostis e ampliar de forma significativa a oferta de grãos, fibras e energia nos campos brasileiros. O fabuloso resultado das ciências agrárias brasileiras é muitas vezes subestimado por muitos, inclusive entre aqueles que são responsáveis por definir políticas públicas. Por esse motivo, é preciso jogar luz sobre os balanços sociais das principais instituições públicas de pesquisa voltadas para a produção agropecuária no Brasil. Neles, fica claro o retorno trazido pelos investimentos (não são gastos) feitos em equipamentos, laboratórios e cérebros: cada real aplicado rende mais de R$ 20 em desenvolvimento para o País. Mais do que isso, gera uma cadeia virtuosa, em que ganham produtores, empresas, municípios, consumidores, meio ambiente... Investir em ciência é certeza de plantar hoje e colher um futuro melhor. Luiz Fernando Sá Diretor Editorial

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Tanque russo abatido na Ucrânia:

GLOBAL

O lado cosmopolita do agro

foto: Shutterstock

Invasores podem ter destruído patrimônio valioso em sementes

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GLOBAL

O lado cosmopolita do agro

UCRÂNIA

FUTURO AMEAÇADO Ataque russo à Academia de Ciências Agrárias da Ucrânia destrói um dos maiores bancos de sementes do mundo e coloca em risco patrimônio genético inestimável

A invasão da Ucrânia pela Rússia completou em junho exatos quatro meses. Desde então, a guerra deixou entre 50 mil e 100 mil civis e militares mortos – as estimativas variam conforme a fonte – e obrigou que 5 milhões de ucranianos deixassem às pressas seu país. A tragédia humanitária perpetrada pelas tropas do presidente da Rússia, Vladimir Putin, não é o único legado do conflito. Na agricultura, os impactos deverão ser brutais. O solo fértil da Ucrânia, um fartíssimo celeiro da Europa, foi contaminado por metais pesados e substâncias que vazaram de mísseis e equipamentos militares. Os danos também atingem o banco genético de sementes da Ucrânia, um dos maiores do 10

mundo, que corre o risco de desaparecer. Segundo um emocionado depoimento dado pelo pesquisador Sergey Avramenko em seu canal no YouTube, a Academia Nacional Yuriev de Ciências Agrárias, localizada em Cracóvia, no leste da Ucrânia, foi parcialmente destruída durante a guerra. O local mantinha um patrimônio inestimável formado por aproximadamente 160 mil variedades de sementes de plantas e híbridos de culturas agrícolas de diversas partes do mundo. Desde 1992, as sementes passaram a ser armazenadas em cofres subterrâneos para que as gerações futuras pudessem analisálas e desfrutar de sua extraordinária diversidade. Mas a guerra poderá colocar


tudo a perder. “Após um bombardeio proposital, o exército russo destruiu o pool genético de plantas de diversas partes do mundo”, disse Avramenko. “Dezenas de milhares de variedades de sementes de todo o mundo deixaram de existir. É um crime contra o planeta.” As declarações iniciais do cientista, feitas pouco depois dos bombardeios, deram a entender que todo o patrimônio genético havia sido destruído. Investigações posteriores feitas pelo Ministério da Agricultura da Ucrânia, no entanto, concluíram que algumas espécies podem ter sobrevivido. A divergência se deve à dificuldade para chegar aos cofres que armazenam as sementes. Muitos deles permanecem embaixo dos escombros e talvez só sejam acessados depois de longo tempo. Segundo fontes do governo, uma coleção de espécies estava escondida em lugar secreto e, portanto, continua ilesa. De acordo com a Crop Trust, uma organização sem fins lucrativos criada pela Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), a dimensão dos estragos não será totalmente revelada justamente

para impedir que novos ataques sejam feitos e destruam o que porventura tenha resistido às bombas. Nos últimos anos, os bancos de sementes se tornaram cada vez mais importantes. Estudos genéticos podem levar ao desenvolvimento de espécies que resistam aos extremos provocados pelas mudanças climáticas. Eles também são vitais para o aumento da produtividade das lavouras e certamente contribuem para a preservação ambiental. Por todas essas razões, é chocante que os russos tenham se voltado contra um patrimônio que, destruído, prejudicará o próprio país. “Os bancos de sementes são uma espécie de seguro de vida para a humanidade”, disse Stefan Schmitz, diretor executivo da Crop Trust, em entrevista à agência Reuters. “Eles fornecem as matérias-primas para a reprodução de novas variedades vegetais resistentes a seca, novas pragas, novas doenças e temperaturas mais elevadas. Seria uma perda trágica se o banco de sementes da Ucrânia fosse destruído.” Schmitz lembra que apenas 4% das sementes armazenadas no banco de Cracóvia têm uma cópia em alguma outro lugar.

Não é difícil entender como o bombardeio ao banco de sementes prejudica o próprio país de Putin. Juntas, Rússia e Ucrânia produzem 14% do trigo do mundo e respondem por quase a metade do óleo de girassol consumido no planeta. A Academia Nacional Yuriev de Ciências Agrárias, ressalte-se, costumeiramente realiza pesquisas que beneficiavam os produtores russos. Em 2019, por exemplo, cientistas do país encomendaram ao instituto ucraniano um estudo sobre a capacidade do trigo em se adaptar a uma área específica. Agora, não terão mais como contar com o providencial apoio. A guerra tem provocado danos irreparáveis. Os ataques feitos por mísseis que liberam no ar partículas de combustível e metais, as bombas de fragmentação que espalham destruição, os canhões que arremessam ogivas e muitos outros utensílios militares não matam apenas pessoas, mas sufocam o meio ambiente. Rios foram poluídos, espécies nativas da fauna e da flora acabaram exterminadas, o ar nas zonas de guerra tornou-se tóxico e irrespirável. Tudo isso é reflexo da intolerável insensatez humana. PLANT PROJECT Nº31

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G J A PÃO

A TESLA DOS MORANGOS Em 2017, quando fundou a produtora de morangos Oishii, o japonês Hiroki Koga disse que a ideia era conceber as melhores frutas do mundo. Koga passou a cultivar as chamadas “omakase berries”, morangos especiais originados na Terra do Sol Nascente, em fazendas verticais planejadas para garantir “uma experiência única” às sementes. Elas crescem em ambientes com iluminação específica, são monitoradas 24 horas por dia por robôs e passam por um

controle de qualidade cujo objetivo é dar frutos tão saudáveis quanto únicos. Dados os recursos tecnológicos utilizados, a Oishii foi apelidada de “Tesla dos morangos”, numa referência à fabricante de carros elétricos de Elon Musk. Agora a empresa deu seu passo mais ousado. Ela instalou a maior

fazenda vertical do mundo em Nova Jersey, nos Estados Unidos, numa antiga fábrica da Anheuser-Busch. O local tem 22 mil metros quadrados, sendo, portanto, a maior fazenda vertical do mundo. A ideia é abastecer o mercado americano, mas Koga tem planos para levar o projeto para a Europa.

E S PA N H A

Os vampiros do ópio

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A cidade de Ajofrín, na Espanha, vem entrando na rota turística europeia por um motivo inusitado: os visitantes estão em busca de papoulas. Eles, contudo, não vão ao lugar pelas vistosas flores brancas, mas pelo sangue da planta – é por isso que são chamados de vampiros do ópio. Com lâminas de barbear, as pessoas cortam meticulosamente as cápsulas das plantas para que o látex goteje. Vem daí o ópio, uma substância altamente viciante que, graças a compostos como a morfina, alivia a dor. No fundo, é uma espécie de heroína barata, acessível ao alcance das mãos. A Espanha é o maior produtor de ópio e papoula do mundo, com o equivalente a 113 toneladas de morfina por ano, bem à frente da França e Austrália (75 toneladas cada), Turquia (69) e Índia (27), segundo as Nações Unidas. A localização das 528 plantações legais de papoula é secreta, mas na primavera espanhola é impossível esconder os 11 mil hectares infestados de papoulas brancas. É justamente nessa época do ano que os consumidores e até traficantes aparecem por lá.


CHILE

A ÁRVORE MAIS VELHA DO MUNDO

O Chile está prestes a quebrar um recorde extraordinário: uma colossal árvore do Parque Nacional Alerce Costero, na Região dos Lagos, pode ser a mais velha do mundo. Segundo o botânico Jonathan Barichivich, líder da pesquisa, um exemplar de cipreste-da-patagônia, conhecido pelo nome científico Fitzroya cupressoides, teria cerca de 5.400 anos. Até agora, o posto de árvore mais antiga do planeta pertence a um pinheiro da Califórnia, chamado carinhosamente de Matusalém, com idade calculada em 4.853 anos. É possível estimar o tempo de vida de uma árvore ao contar os anéis em seu tronco. Contudo, como o cipreste chileno é muito grande – seu tronco tem 4 metros de espessura –, Barichivich não conseguiu atingir o núcleo da planta. Ele recorreu então a modelos de computador que consideraram fatores ambientais e outras variáveis para chegar à idade aproximada. Agora o resultado de 5.400 anos precisa ser chancelado pela comunidade científica internacional.

E S TA D O S U N I D O S

O DOCE SABOR DO CHOCOLATE SINTÉTICO Com o aquecimento global, as áreas apropriadas para o plantio de cacau – aquelas próximas à Linha do Equador – podem encolher 30% nas próximas duas décadas. Pior ainda: não há lugar no globo para substituí-las. Para atender a demanda atual, os agricultores terão de aumentar dramaticamente a produtividade. Uma saída pode vir de um lugar inesperado:

o Vale do Silício, principal polo de inovação tecnológica do planeta e lar de empresas como Facebook, Google e Netflix. Uma startup garante ter criado em laboratório uma espécie de chocolate fake. Trata-se da California Cultured, aceleradora de biologia sintética que

“cultiva” chocolates a partir de células autênticas de cacau. A produção é parecida com a de carnes sintéticas – as células são colocadas em biorreatores que aceleram a sua multiplicação. A empresa garante que o sabor é idêntico ao de chocolates originais. PLANT PROJECT Nº31

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G E S TA D O S U N I D O S

A LINGUIÇA DE PLANTA Todos os anos, a revista americana Fast Company homenageia as formas inovadoras pelas quais as empresas e organizações enfrentam os maiores desafios de nosso tempo. A edição 2022 da premiação, chamada World Changing Ideas Awards, elegeu o Impossible Pork, fabricado pela americana Impossible Foods, como o produto mais inovador na área de alimentos. Confira o que motivou a escolha.

O QUE É O IMPOSSIBLE PORK Trata-se da versão de proteína vegetal que imita a carne de porco. Ela é produzida exatamente como os produtos pioneiros da empresa, inspirados em carne bovina. Para a confecção do alimento, a empresa usa uma combinação de moléculas encontradas em plantas.

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A EMPRESA A americana Impossible Foods é uma das maiores empresas do mundo especializada na produção de carne plant-based, ou seja, criada a partir de vegetais e que imita a textura e o sabor da proteína animal. A Impossible Foods nasceu no Vale do Silício em 2011 e entre os seus investidores estão nomes como Bill Gates, fundador da Microsoft.

O TESTE CEGO Em 2021, a Impossible Foods convidou cozinheiros para realizar um teste cego de seu produto em Hong Kong. Na avaliação, os especialistas disseram que preferiam a carne feita a partir de plantas, mesmo sem saber que se tratava disso. Em todos os atributos, incluindo sabor, textura, aparência e apelo geral, a carne de porco da Impossible Pork teve pontuação mais alta.


QUALIDADES Os participantes do teste apontaram a maciez como a principal qualidade da carne de porco feita de planta. Eles também consideraram o produto mais suculento do que a versão tradicional.

POR QUE ISSO É IMPORTANTE A carne de porco é a mais consumida no mundo e apresentar opções a ela representa um passo crucial em direção à audaciosa meta da empresa de reduzir drasticamente o consumo de carnes de verdade.

ONDE ENCONTRAR O Impossible Pork é encontrado principalmente em restaurantes selecionados de Nova York, Singapura e Hong Kong. A Impossible Foods, contudo, pretende lançar versões para serem vendidas em supermercados de diversas partes do mundo.

UM NEGÓCIO PROMISSOR A venda global de alimentos feitos de plantas já movimenta anualmente US$ 30 bilhões. Segundo a consultoria A.T. Kearney, a cifra deverá chegar a US$ 370 bilhões até 2035, o que representaria 23% de todo o segmento de carnes no mundo.

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G E S TA D O S U N I D O S

O PNEU DE DENTES-DE-LEÃO Os dentes-de-leão são muito mais do que apenas ervas daninhas. Eles costumam ser usados em saladas e podem ser transformados em vinhos e outras bebidas. Agora, contudo, a planta de flor amarela ganhou um atributo inusitado: substituir pneus de borracha. A americana Goodyear desenvolveu uma técnica que utiliza raízes de dentes-de-leão para a confecção de seu produto mais famoso. A inovação substitui por completo o látex feito de seringueiras – originárias principalmente de ecossistemas tropicais, como a Amazônia –, que responde por 90% do mercado atual de borracha natural. Segundo a Goodyear, a iniciativa vem sendo desenvolvida em parceria com o departamento de defesa dos Estados Unidos e outras duas empresas (Biomade e

Farmed Materials). Os participantes do projeto analisaram 2,5 mil espécies de plantas para a fabricação de compostos e encontraram na Taraxacum kok-saghyz, uma espécie russa de dente-de-leão, o tipo certo de látex para a produção de pneus. A meta é que o produto chegue ao mercado até 2030.

REINO UNIDO

O VEXAME DOS MICROPLÁSTICOS

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Um dos esportes preferidos dos europeus é apontar para as mazelas ambientais de outros países – inclusive do Brasil –, mas eles deveriam olhar para o próprio umbigo. Cientistas da Universidade de Cardiff e Manchester, no Reino Unido, descobriram que as terras agrícolas europeias podem ser o maior reservatório global de microplásticos. Eles estimam que até 42 mil toneladas de minúsculos polímeros, o equivalente a 710 trilhões de partículas, são aplicadas aos solos do Velho Continente todos os anos. Isso ocorre porque o lodo derivado do tratamento de esgoto é amplamente utilizado como fertilizante nas lavouras, já que tem alta concentração de fósforo e nitrogênio. No entanto, o material traz quantidades expressivas de microplásticos que contaminam os campos de plantio. O quadro é alarmante. Estima-se que 60% do lodo originado de estações de tratamento sejam despejados nas lavouras europeias, principalmente no Reino Unido e na França.


Plantas brotando sobre o solo seco: O clima hostil já produz mudanças na geografia do agro

Ag AGRIBUSINESS

Empresas e líderes que fazem diferença

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Ag Empresas e líderes que fazem diferença

O AGRO EM Mudanças climáticas tornam os sistemas agrícolas cada vez mais vulneráveis, mudam a distribuição geográfica das lavouras e afetam toda a cadeia produtiva global. A boa notícia é que a resposta do setor já começou

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MIGRAÇÃO PLANT PROJECT Nº31

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o final de abril passado, a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) lançou um documento que apresenta oito grandes tendências para a agricultura brasileira nos próximos anos. O material é fruto de um trabalho minucioso de pesquisa que foi elaborado a partir de consultas a aproximadamente 300 especialistas e lideranças do setor e da análise de 126 artigos científicos oficiais. Dois aspectos chamam a atenção no conteúdo produzido pela Embrapa. O primeiro deles é que a inovação estará cada vez mais presente nas lavouras do País, especialmente com a adoção maciça de recursos digitais. O segundo ponto, contudo, traz um sinal de alerta. De acordo com o documento, a agricultura será severamente afetada pelos efeitos perversos das mudanças climáticas. Com o aquecimento do globo, é certo que a vulnerabilidade dos sistemas agrícolas aumentará, desafiando por completo os modelos atuais de produção e a distribuição geográfica das lavouras. Acrescente-se a isso o aumento da demanda mundial por alimentos, água e energia e o resultado será um quadro desconcertante. Uma conta simples baseada na clássica relação de causa e efeito mostra o que está por vir. Em um cenário de elevação de 3º C da temperatura global até 2050 – algo que ocorreria sob a perspectiva mais moderada –, o Brasil teria como impacto a redução de até 50% na sua produção agrícola. Para não haver dúvidas: uma tragédia estaria diante de todos nós. Há exemplos muito claros sobre o que poderá ocorrer. “Até 2100, teremos no Cerrado brasileiro um cenário mais seco, com temperaturas mais elevadas e a presença de eventos extremos cada vez mais frequentes e intensos”, afirma Renato Rodrigues, pesquisador da Embrapa Solos. Estudos do Centro de Pesquisas Meteorológicas e Climáticas Aplicadas

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Matéria de Capa

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Até 2100, teremos no Cerrado brasileiro um cenário mais seco, com temperaturas mais elevadas e a presença de eventos extremos cada vez mais frequentes e intensos"

RENATO RODRIGUES, PESQUISADOR DA EMBRAPA SOLOS

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à Agricultura (Cepagri) já revelaram que a falta de chuvas e os veranicos de longa duração poderão reduzir em 40% as áreas destinadas ao plantio de soja no Brasil até 2070. Na Região Nordeste, o aumento dos termômetros comprometerá a produção de algodão. Também já se sabe que a maior frequência de chuvas, ventos e tempestades diminuirá a produtividade das lavouras de trigo, principalmente na Região Sul. Engana-se quem imagina que as dificuldades estão reservadas apenas para o futuro. No Paraná e no Rio Grande do Sul, as mudanças do clima reduziram a produtividade das lavouras e já esvaziam os bolsos dos agricultores. Nas últimas quatro safras, as perdas dos produtores de soja paranaenses e gaúchos totalizaram R$ 140 bilhões. O cálculo foi feito por José Renato Bouças Farias, pesquisador da Embrapa Soja. Para chegar à conclusão, ele considerou desde situações como o baixo volume de água disponível para uso nas plantações até a seca extrema. Farias ressalta que a soja é capaz de suportar

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Foto: Shutterstock

temperaturas muito elevadas, mas a falta de água costuma levar a estragos irreversíveis. Ele lembra que existem métodos eficazes para combater os ataques de pragas ou doenças, mas a escassez de chuva é um problema de dificílima solução. “Se não chove, não tenho nada de imediato para oferecer”, lamenta o pesquisador. Há danos por onde quer que se olhe. Nos últimos tempos, a longa estiagem, intercalada por geadas de rara intensidade, devastou fazendas de café mineiras. Como consequência direta das mudanças climáticas, a safra 2020/2021 encolheu 30%, contribuindo para que os preços disparassem. Nas regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste, os índices pluviométricos estão em queda sistemática há duas décadas, e não há indicativos de que voltarão à normalidade. É fácil entender o fenômeno. A emissão de gases poluentes como o CO2, que se deve apenas e exclusivamente às atividades humanas, esquenta a atmosfera e aumenta a frequência de eventos extremos, como secas intensas e temporais. Somos, portanto, responsáveis pela nova realidade. Ou para ficar no campo agrícola: estamos colhendo o que plantamos cotidianamente. 24


Matéria de Capa

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Com a injeção extra de gases de efeito estufa, metano e óxido de carbono, o aquecimento está acelerando e os eventos estão ficando mais intensos” JOSÉ MARENGO, DO CEMADEN

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O ano de 2021 ficou marcado como o de seca mais intensa da história do Brasil. De acordo com o Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), 40% do território brasileiro sofreu com a falta de chuvas, fenômeno que se espalhou por estados inteiros e impactou diretamente 2.445 municípios. Desde 1910, quando as medições climáticas começaram a ser feitas, jamais registrou-se algo parecido. “Com a injeção extra de gases de efeito estufa, metano e óxido de carbono, o aquecimento está acelerando e os eventos estão ficando mais intensos”, reforça José Marengo, climatologista e coordenador geral do Cemaden. Também ficou mais complicado estabelecer padrões climáticos e antecipar eventos que possam ser devastadores. Guilherme Moreira, economista da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe), lembra que está cada vez mais difícil definir os períodos de safra e entressafra por causa justamente das mudanças climáticas. Sem previsibilidade, os produtores sofrem até mesmo para definir os momentos adequados para o plantio. EM BUSCA DE ÁGUA As mudanças climáticas estão alterando o eixo da agricultura em diversos países. Estimativas indicam que 28% da produção agrícola em regiões de fronteira já sofre com a instabilidade climática, número que crescerá para 51% em 2030 e 74% em 2060. O Painel Intergovernamental Sobre Mudanças Climáticas (IPCC) das Nações Unidas traça um quadro calamitoso e indica que poderá haver profundas transformações nos sistemas agrícolas globais. Com o aumento da temperatura, o cultivo de arroz, que precisa de água em abundância, está sendo levado para áreas mais frias do Norte. Na Índia, segundo maior produtor da cultura, as safras encolhem a uma taxa de 2% ao ano. Parece pouco, mas o declínio representa uma tragédia sem precedentes que afetará a economia local e poderá aumentar a insegurança alimentar em diversas partes do planeta – o arroz, ressalve-se, alimenta mais da metade da população humana. O trigo, outro provedor fundamental de comida para bilhões de pessoas, está sob ameaça real nos Estados Unidos. De acordo com o monitor do clima da ONU, estima-se que, até 2050, aproximadamente 20% das colheitas de trigo em território americano se perderão em razão à hecatombe trazida pelas mudanças climáticas. Poucas culturas estão tão expostas quanto a cafeeira. Um estudo conduzido por pesquisadores da Universidade de Ciências Aplicadas PLANT PROJECT Nº31

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de Zurique, na Suíça, e divulgado na publicação científica Plos One, diz que é muito provável que áreas no Brasil e na Colômbia, países de enorme tradição na produção de café, deixem de ser adequadas ao cultivo do grão Arábica, associado a uma bebida de maior qualidade, até 2050. O fenômeno inevitavelmente provocará a migração das lavouras. No Quênia e na Etiópia, também tradicionais produtores, os agricultores já estão procurando terras mais altas para fugir do aumento das temperaturas e manter o mesmo nível de produtividade. Na Colômbia, regiões montanhosas começaram a ser ocupadas nos últimos anos por grandes fazendas de café, o que jamais havia ocorrido. Não são apenas as lavouras que serão forçadas a mudar de lugar. O aquecimento obrigará milhões de pessoas a fugir das condições adversas – são os refugiados do clima. De acordo com o Banco Mundial, 216 milhões de indivíduos poderão deixar seus países até 2050 para fugir dos dramáticos eventos climáticos. A região mais afetada será a África Subsaariana, concentrando quase 40% dos

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Matéria de Capa

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Há dois caminhos possíveis para enfrentar os dilemas do clima. O primeiro é o da mitigação, ou seja, a redução das emissões de gases do efeito estufa. O segundo é o que chamo de adaptação” EDUARDO ASSAD, PESQUISADOR DA EMBRAPA

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migrantes climáticos (86 milhões) nas próximas três décadas. Na sequência aparece o Leste Asiático e Pacífico, com 22,6% (49 milhões) das futuras migrações. A América Latina também é classificada como área de alerta, de onde deverão sair 17 milhões de migrantes climáticos até 2050. A secura do planeta e o aumento das temperaturas deverão provocar desastres de proporções bíblicas. Em conjunto, os dois fenômenos formam a combinação perfeita para a proliferação de doenças que atacam e, por vezes, ceifam plantações inteiras. Nos últimos anos, as condições mais quentes aumentaram a incidência de um fungo chamado ferrugem, que aflige principalmente lavouras de café. Na América Central, eles se espalharam de forma incontrolável e no México a praga chegou a destruir 50% da safra. As bananas têm sofrido com a radicalização do clima. Como no caso da ferrugem do café, as altas temperaturas são propícias para a proliferação do fungo Fusarium, conhecido como TR4. Ao entrar na bananeira através das raízes, o fungo bloqueia o fluxo de água e nutrientes para as células da planta, destruindo gradualmente as suas folhas. Por fim, leva à morte da bananeira. Alguns pesquisadores acham que, no futuro não tão distante, o TR4 poderá levar à completa extinção de diversas variedades de bananas. Não custa lembrar: a banana é a fruta mais consumida no mundo. Ninguém está imune aos efeitos das mudanças climáticas – nem os países ricos, obviamente. Nesse aspecto, elas espalham seus males de maneira democrática, prejudicando todo o conjunto da sociedade. Nos Estados Unidos, os produtores de pêssegos da Geórgia tiveram perdas expressivas nas últimas quatro safras. As variedades que eles cultivam precisam de cerca de 800 a 900 horas de frio por safra. Se fizer muito calor, os pessegueiros não produzem flores. Sem flores, não há pêssegos. Em 2019, não houve sequer 600 horas de frio nas plantações e as frutas não apareceram. A culpa é do aquecimento global. De acordo com um relatório do Instituto de Estudos Climáticos dos Estados Unidos, o estado da Geórgia registrou, entre 2016 e 2020, as temperaturas mais elevadas da história. Ao mesmo tempo, a umidade também está subindo, o que estimula o surgimento das chamadas doenças fúngicas que crescem nas plantas. SOLUÇÕES E ALTERNATIVAS O quadro é alarmante, mas cientistas de diversas partes do mundo têm se mobilizado para buscar soluções para o problema. No Brasil, PLANT PROJECT Nº31

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um exemplo louvável é a Rede ILPF (Integração Lavoura, Pecuária e Floresta), criada pela Embrapa em 2018 com o apoio da iniciativa privada, do terceiro setor e dos diversos entes públicos. Um dos objetivos da associação é estimular o desenvolvimento de estratégias e tecnologias capazes de aliviar os efeitos negativos do clima nos cultivos e nas criações. Pesquisador da Embrapa, Eduardo Assad diz que há dois caminhos possíveis para enfrentar os dilemas do clima. “O primeiro é o da mitigação, ou seja, a redução das emissões de gases do efeito estufa. O segundo é o que chamo de adaptação”, diz ele. No primeiro caso, explica o pesquisador, a saída diz respeito a mudanças nos sistemas de produção. Trata-se, sobretudo, da adoção de métodos mais limpos e ligados a boas práticas agrícolas que, no final do processo, levam necessariamente à assimilação do carbono da atmosfera. Nesse aspecto, o Brasil, como protagonista do agronegócio, tem boas lições a oferecer ao mundo. Entre elas está a aplicação dos chamados sistemas integrados, cuja premissa central é promover o desenvolvimento econômico, social e ambiental e a otimização do espaço por meio de práticas sustentáveis. Ao mesmo tempo que são eficientes em termos de produção, os sistemas integrados estimulam o sequestro de carbono – e, portanto, ajudam no controle do aumento da temperatura do planeta. O segundo caminho, o da adaptação, é igualmente eficaz. Assad diz que ele implica a busca de soluções genéticas – como o desenvolvimento de sementes tolerantes a temperaturas elevadas e à deficiência hídrica –, mas também a revegetação de áreas degradadas. “A revegetação leva ao aumento dos polinizadores, que por sua vez vão estimular a produção de grãos e frutas”, explica o pesquisador da Embrapa. Ele cita ainda o caso de bovinos adaptáveis, que não perdem peso mesmo se forem criados em ambientes com temperaturas mais altas. O caminho da adaptação é mais desafiador, e por um motivo simples: custo. Soluções genéticas e projetos de revegetação não são exatamente baratos, e só farão sentido do ponto de vista econômico se houver ganhos de escala. Essa equação precisa ser urgentemente resolvida por todos os entes envolvidos – instituições de pesquisa, empresas e governos. A questão ambiental entrou de vez na agenda econômica global. Assim que assumiu a presidência dos Estados Unidos, Joe Biden afirmou que combater o aquecimento do planeta seria uma de suas prioridades. Os europeus também estão imbuídos do mesmo propósito, assim como a maioria esmagadora do agronegócio brasileiro. Nos 28

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De acordo com o Banco Mundial, 216 milhões de indivíduos poderão deixar seus países até 2050 para fugir dos dramáticos eventos climáticos."


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últimos anos, o foco no aumento da produtividade fez com que as terras agrícolas do País produzissem mais usando menos área. Segundo um estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), a produção agrícola brasileira cresceu 400% entre os anos de 1975 e 2020. Isso foi possível porque a produtividade total dos fatores (PTF) aumentou 3,3% ao ano nesse período, mais do que em qualquer outra nação. O Brasil é também um dos campeões mundiais no uso de tecnologia no campo, fator vital para impulsionar a produtividade. No final do ano passado, havia 299 agtechs, como são chamadas as empresas iniciantes de base tecnológica dedicadas à agropecuária, em atividade no País, número 64,2% maior que o do levantamento anterior, de 2019. Em 2021, as startups voltadas à atividade agropecuária representavam 11,8% do universo de empresas iniciantes de base tecnológica, o que faz desse um dos grupos mais numerosos, atrás somente das startups da área de educação (17,3% do total) e de saúde (17 ,1%), conforme dados da Associação Brasileira de Startups (Abstartups). Com tecnologia, lembre-se, a produtividade aumenta – e o planeta respira aliviado. Se as mudanças climáticas impõem uma nova e inquietante realidade, a resposta do setor agrícola precisa estar à altura dos monumentais desafios que existem pela frente. PLANT PROJECT Nº31

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QUEM PLANTA CIÊNCIA COLHE LUCROS Balanços sociais das principais instituições de pesquisa agropecuária mostram que cada real investido pode gerar um retorno 20 vezes maior para a sociedade Por Evanildo da Silveira

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nvestir em pesquisa agropecuária é um bom negócio. Alguns levantamentos mostram que o retorno pode variar de R$ 16 a R$ 24 para cada real investido. E ­­­o melhor, todo mundo ganha: o produtor, que aumenta seu lucro; a sociedade, com a melhoria da qualidade e o menor preço dos alimentos; o meio ambiente, que é menos degradado; e o governo, com maior arrecadação tributária. Um exemplo são as pesquisas realizadas pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), tanto com recursos públicos como privados. Desde 1997, ela realiza e divulga um balanço social anualmente, que calcula, entre outros dados, o retorno de seus investimentos para a sociedade. “Desde sua criação, a metodologia tem passado por um processo constante de aprimoramento, porque a evolução dos cálculos está diretamente vinculada ao número de dimensões de avaliação de impacto, como as ações sociais desenvolvidas pela empresa, resultados

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econômicos das soluções tecnológicas e lucro social”, explica seu presidente, Celso Moretti. Ao longo desse tempo, foram agregadas informações como os impactos sociais e ambientais, a geração de empregos, as premiações e o reconhecimento da sociedade e mais os casos de sucesso e a análise das contribuições da Embrapa no ambiente da comunidade científica. Também foram incluídas informações sobre as ações de equidade de gênero e raça realizadas pela instituição. De acordo com ele, são avaliadas mais de 100 soluções tecnológicas já adotadas pela agropecuária nacional. As análises são feitas por meio da metodologia Ambitec-Agro, que apresenta estrutura multicritério, pela qual observações de campo são pontuadas indicadores de desempenho socioambiental. “Nesse caso, a avaliação é realizada com base em 16 critérios sociais e 11 de campo, em uma amostra de, no mínimo, 10 usuários de


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cada inovação tecnológica”, explica Moretti. “Além disso, são usados oito critérios institucionais, levantados a partir da consulta aos desenvolvedores da solução tecnológica.” Essa metodologia também é usada pela Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (APTA), da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, para a realização do seu próprio balanço social. O mais recente, o quarto já realizado, avaliou, em conjunto, 59 tecnologias desenvolvidas pelos seus seis Institutos e 18 Polos Regionais de pesquisa e transferidas ao setor produtivo no período de 2018 a 2021. Na avaliação, foram estimadas a sua participação e a taxa de adoção, expressas em hectares, toneladas, cabeças e outras unidades, e observados os benefícios. “Estes foram mensurados a partir dos incrementos na renda em diferentes etapas da produção agroindustrial, considerando ganhos em produtividades, redução de custos, expansão da produção e agregação de valor”, conta Renata Martins Sampaio, assessora técnica da APTA. Na sequência, o total dos valores investidos nas atividades da agência durante o período considerado foi aplicado para indicar a rentabilidade e o lucro social. “Para os impactos sociais foram

analisadas as inserções das tecnologias, considerando o foco na pequena produção, criação e qualidade do emprego e geração de renda”, diz Renata. “Já para os ambientais foram consideradas a redução do uso de defensivos agrícolas, economia de recursos hídricos e contribuição para o meio ambiente.” Os resultados dos balanços sociais da Embrapa e APTA mostram em números o retorno dos investimentos em pesquisas agropecuárias para a sociedade. No caso da Agência Paulista, foram investidos, no período de 2018 a 2021, R$ 1,23 bilhão nas suas atividades entre recursos do governo do estado, do setor privado e de agências de fomento estadual e federais, que originou um retorno social de R$ 19,90 bilhões. “Ou seja, cerca de 16 vezes o valor investido”, contabiliza Renata. “Isso significa que, para cada real aplicado, em torno de RS 16 foram revertidos para a sociedade.” Em 2021, o retorno das pesquisas da Embrapa foi cerca de 50% maior do que o da APTA. “Em um ano difícil, em que o Brasil ainda enfrentava o desafio de uma crise sanitária sem precedentes, a Empresa registrou um lucro social de R$ 81,56 bilhões, por conta do impacto de uma amostra de 169 tecnologias e cerca de 220 cultivares”, informa Moretti. “O que significa que cada real aplicado gerou R$ 23,38 para a sociedade

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Fazenda experimental da Embrapa: em 25 anos, estatal deu retorno social de mais de R$ 1,2 trilhão

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brasileira. Além disso, foram contabilizados 48.163 novos empregos e 794 ações de relevante interesse social.” De acordo com ele, nos 25 anos de realização do Balanço Social, a soma do lucro social gerado pela Embrapa é de R$ 1,2 trilhão, valor consolidado de aproximadamente 3 mil estudos de avaliação de ganhos econômicos, estimativas de impactos das cultivares desenvolvidas pela Empresa e indicadores sociais e laborais atualizados pelo Índice Geral de Preços – Disponibilidade Interna (IGP-DI/FGV), de dezembro de 2021. Ainda segundo Moretti, nesse período, para cada real aplicado na pesquisa, a sociedade recebeu de volta R$ 12, ou seja, um retorno 12 vezes maior do que o total investido. “Além disso, 1.656.023 novos empregos foram criados entre 2003 e 2021 a partir do uso de tecnologias da Embrapa, um indicador que reforça o alto retorno social da pesquisa”, diz. “Foram mais de 17,2 mil ações de 34

relevante interesse social, resultado do envolvimento na busca por soluções para os problemas brasileiros.” Ele destaca algumas das tecnologias mais significativas desenvolvidas pela Empresa, que foram avaliadas por uma amostra de cerca de 50 estudos de impactos, realizados desde que o Balanço Social começou a ser elaborado. Entre elas, está a Integração Lavoura-PecuáriaFloresta (ILPF), que gerou uma renda para o produtor rural no


valor de R$ 9 bilhões a partir do ano de 2005, além de ter contribuído com o sequestro de 39,76 milhões de megagramas de dióxido de carbono equivalente (Mg CO2-eq), no período de 2010 a 2020, que representam 185% do compromisso de mitigação, estabelecido como meta original do Plano ABC (Agricultura de Baixa Emissão de Carbono), criado pelo governo brasileiro em 2009, por ocasião da 15ª Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas. A Fixação Biológica de Nitrogênio (FBN) é outra tecnologia que trouxe retorno significativo. “Adotada em mais de 38,5 milhões de hectares, respondeu sozinha por uma economia de cerca de R$ 36 bilhões para os produtores de soja”, diz Moretti. “Além disso, ela contribuiu para a mitigação de gases de efeito estufa com a redução de 21,56 milhões de (Mg CO2-eq), possibilitando atingir 216% da meta de mitigação proposta no Plano ABC.” Mais recentemente, em 2021, foram selecionadas como tecnologias que resultaram em casos de sucesso, a coinoculação de duas bactérias do bem, Bradyrhizobium e Azospirillum, em sementes de soja. “Elas proporcionaram um ganho médio de 2,7% na produtividade dessa leguminosa, em relação à semente não inoculada”, diz o presidente da Embrapa. “Essa tecnologia foi usada em mais de 10 milhões de hectares em 2020,

com impacto econômico de R$ 2,8 bilhões.” Moretti cita ainda a validação de um conjunto de soluções de manejo, que estimulou as exportações do trigo brasileiro para a Ásia e África; o Programa Balde Cheio; o reconhecimento da Indicação Geográfica Matas de Rondônia para cafés Robustas Amazônicos; e a estação de tratamento que garante água limpa para irrigação de hortaliças. Além dessas, ele destaca outras tecnologias campeãs de impacto econômico, como o sistema sulco/camalhão em terras baixas, uma técnica de irrigação e drenagem, indicada para áreas de relevo com pouco declive e de solo de baixa permeabilidade. Também entram nessa categoria várias cultivares de gergelim, de capim-marandu e de capim-mombaça, de açaí e feijão-guandu. Por fim, estão na lista o Zoneamento Agrícola, que analisa as características de PLANT PROJECT Nº31

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clima, solo e ciclo de cultivares, para indicar datas com menor risco para plantio de 40 diferentes culturas por município, que proporcionou um impacto que superou R $ 8,7 bilhões, e a infraestrutura de dados espaciais na Embrapa (GeoInfo), que gerou uma economia de mais de R$ 102, 5 milhões. O economista e mestre em Economia Rural Francisco Lopes Cançado, professor aposentado da PUC-Minas, diz que diversos estudos têm mostrado que o investimento em pesquisa é um excelente negócio, tanto do ponto de vista público como privado. “A pesquisa 36

agropecuária vem desempenhando um papel relevante na evolução da agricultura brasileira e mineira nas últimas décadas”, diz. “Prova disso são, por exemplo, os ganhos em produtividade para as diversas culturas e criações, a intensa ocupação da região sob vegetação de cerrado e a recente expansão da agricultura nas regiões Amazônica e do semiárido.” Ele próprio realizou um estudo, entre 1974 e 1986, que resultou na sua dissertação de mestrado, apresentada em 1998. Na época, Cançado era pesquisador da Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas

Gerais (Epamig) e no seu levantamento ele analisou as inovações tecnológicas em nove produtos agrícolas do estado. “A taxa interna de retorno então encontrada para os investimentos em pesquisa realizados pela empresa foi de 31,8%”, revela. “Isso indica que, para cada unidade monetária investida em pesquisa, a sociedade obteve um retorno de 1,32 unidade monetária.” Cançado lembra que esse valor está bem acima das taxas de juros reais vigentes no mercado financeiro internacional, que variam de 6 a 12% ao ano, equiparando-se, na verdade, às praticadas no


mercado financeiro nacional. “Essas, convém lembrar, situamse entre as mais altas do mundo”, diz. “Isso significa que os retornos das atividades de pesquisa desenvolvidas pela Epamig são, no mínimo, tão elevados quanto os obtidos no setor financeiro nacional, com a diferença de que os primeiros têm um caráter social.” Para Renata, da APTA, os investimentos em pesquisa são instrumentos importantes no desenvolvimento socioeconômico e suas interações socioambientais. “A pesquisa agropecuária gera conhecimentos capazes de integrar diferentes aspectos da realidade de produção e comercialização agroindustrial”, diz. “Ela constrói tecnologias apropriadas aos desafios atuais pautados por demandas da sociedade em seus múltiplos recortes coletivos e territoriais.” Moretti, da Embrapa, concorda. “A ciência sempre será a resposta às demandas, frente aos desafios e à sustentabilidade, sejam eles quais forem”, assegura. “Quando a pauta envolve pesquisa agropecuária – em que estão em jogo a segurança alimentar, a produtividade, questões ambientais, econômicas e sociais de um país inteiro –, torna-se ainda mais prioritária, porque se relaciona com o principal pilar para o equilíbrio interno de um país, que é a paz social.” PLANT PROJECT Nº31

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Silos em propriedade do grupo Santa Colomba: transição de empresa familiar para gestão profissional 38


GESTÃO TIPO EXPORTAÇÃO Como as corporações agropecuárias brasileiras tornaramse exemplos globais de eficiência e governança e, com isso, abriram novas portas para vendas e crédito Por Marco Damiani

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A modernização da gestão e a observação da cartilha ESG já proporcionam resultados bastante relevantes. Quatro anos atrás, a exportação de produtos nacionais in natura ou processados chegava a não mais do que 40 países, mas hoje essa lista já é formada por mais de 60 nações, o que ajuda a entender por que a participação do agro no PIB saltou para mais de 26% em 2021. Os modelos de governança corporativa, antes restritos às companhias de capital aberto, já se disseminam também entre empresas familiares com longa tradição no campo brasileiro. “A ampliação do mercado internacional do agronegócio brasileiro está diretamente ligada à atenção que mais e mais empresas estão dedicando governança

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á um produto que não consta na pauta de exportações do agronegócio brasileiro, mas que chama cada vez mais atenção de quem olha para nossas lavouras: o modelo de gestão dos principais grupos nacionais. Seja pelo porte – difícil de igualar em outros países produtores –, seja pela excelência das suas operações, as corporações agropecuárias brasileiras tornaram-se exemplos de eficiência e agora também de boa governança. Atuam, cada vez mais, com uma administração centrada em pessoal altamente especializado, no estado da arte da tecnologia e em seguimento a normas de padrão global de gestão e transparência. Assim, obtêm mais um importante diferencial para avançar no mercado global.

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e gestão”, atesta Miguel Prado, CEO do Grupo Santa Colomba. “Mesmo quem não é listado em bolsa conhece bem as regras e as persegue.” De origem familiar, exportador de grãos, algodão, café e tabaco para 17 países, o Santa Colomba é um exemplo pronto e acabado de investimento em gestão e governança que vai dando certo. Filho do fundador Fernando Prado, Miguel foi preparado minuciosamente para comandar a modernização do grupo que hoje tem 900 funcionários e 35 mil hectares de áreas cultivadas. Com apenas 30 anos de idade, ele tem em seu currículo especializações em Pesquisa de Commodities e Equidade, Planejamento Empresarial, Finanças Corporativas, Gestão da Cadeia de Suprimentos e bacharelado em Administração e Gestão de Empresas pelo Insper. Perseguindo boas práticas, o Santa Colomba concluiu recentemente uma emissão de Certificados de Recebíveis do Agronegócio (CRA) no valor de R$ 150 milhões. “Foi um reconhecimento do mercado aos ganhos que já estamos obtendo com a modernização da nossa gestão”, explica o jovem CEO. Os recursos captados estão sendo utilizados na aquisição de novas propriedades, de modo a levar o Santa Colomba a explorar 75 mil hectares de áreas cultivadas dentro de sete anos. “Trabalhamos com um

planejamento rigoroso que nos permite ver sempre em que estágio estamos e aonde queremos chegar”, diz Prado. O foco na governança moderna tem levado as grandes companhias do agronegócio a obterem inúmeros ganhos não apenas em mercado, mas também em produtividade. Naquilo que os técnicos chamam de Lean Manufacturing – ou produção enxuta –, os controles em processos de plantio e colheita são rígidos. O desperdício na lavoura e a inoperância de máquinas e equipamentos são combatidos. Esse modelo faz com que, no Santa Colomba, colheitadeiras que antes ficavam 70% do tempo ociosas sejam agora utilizadas por 60% do tempo, numa rentável maior utilização. A digitalização de dados, por outro lado, tem permitido a rastreabilidade das cadeias de fornecedores, o que atende a exigências do mercado internacional por sustentabilidade ambiental na produção agrícola.

Lavoura da Santa Colomba na Bahia: planejamento rigoroso para crescer de forma sustentável

AVANÇO GLOBAL Com plenas condições para abrir seu capital, em razão de um modelo de gestão rigorosamente alinhado às exigências dos investidores, o Grupo Amaggi é outro que tem se beneficiado diretamente de uma governança bem estruturada. A decisão é manter a companhia em suas bases familiares, mas com PLANT PROJECT Nº31

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executivos e administradores com formação de mercado. “A robustez da governança é, em si, uma das vantagens competitivas mais perenes”, definiu à PLANT o administrador Dante Pozzi, CFO do Grupo Amaggi. Dividida em quatro grandes grupos de negócios – Agro, Commodities, Logística e Operações e Energia –, a empresa tem parcerias com mais de 4 mil produtores rurais no País e investe na rastreabilidade de sua cadeia produtiva. Essa atenção tem levado o Amaggi a abrir novos mercados ano a ano e a manter representações na Argentina, Paraguai, Holanda, Suíça e China. “Sem uma governança sólida, isso seria impossível”, resume Pozzi. VALORES SÓLIDOS Com 112 mil hectares dedicados à cultura do algodão, da soja e do milho e 1.000 funcionários em torno de sua 42

sede nacional em Barreiras, na Bahia, o Grupo Horita tem um sólido tripé em seu modelo de gestão. “Nossos valores fundamentais são o trabalho, a disciplina e o comprometimento”, enumera o fundador e sócioproprietário Walter Horita, graduado em Engenharia de Produção Mecânica. “A transparência que praticamos em nossos negócios é uma consequência desses valores que trazemos em família, desde o Japão”, completa ele. Com 38 anos de atividade no campo, o Grupo Horita desfruta de relações privilegiadas com parceiros estratégicos em razão, precisamente, das normas de conduta que imprime ao seu modelo de governança e ao planejamento estratégico feito para o negócio desde os seus primeiros tempos. Um desses parceiros é o poderoso fabricante de tratores e máquinas John Deere. “Estabelecemos desde cedo que iríamos trabalhar com


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Sede da Amaggi, em Cuiabá, e fazenda do Grupo Horita, na Bahia: disciplina, escala e eficiência na produção

apenas um fornecedor de tratores, e hoje somos 100% John Deere”, conta Horita, um dos principais clientes da marca no mundo. “Há grupos que são maiores que o nosso, mas em cuja frota há uma mescla de máquinas. Esse fato, somado ao porte do nosso grupo, nos coloca em uma condição muito especial em relação a preços e atendimento”, agrega ele.

fazendas e o bom histórico de pagador junto a fornecedores e bancos também possibilitaram que a companhia iniciasse operações mais arrojadas junto ao mercado de capitais”, afirma Guilherme sobre os sucessivos sucessos junto aos investidores. Da conquista de novos mercados no mundo ao acesso bem-sucedido a financiamentos e investidores, passando por relações especiais com fornecedores e fortalecimento das próprias marcas, a boa governança vai proporcionando a diferentes empresas e setores do agronegócio brasileiro renovadas condições para novos saltos de qualidade, produtividade e lucratividade.

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FOCO NO ESG Com foco nas regras ESG, o Grupo Scheffer é um gigante do agronegócio nacional que investiu na governança e está colhendo resultados de maneira acelerada. Com 1,8 mil funcionários, 225 mil hectares cultivados e faturamento

próximo a R$ 1,8 bilhão no ano passado, alta superior a 10% sobre 2020, a companhia é liderada pelo economista Guilherme Scheffer e seu irmão Gilliard. Ambos são herdeiros diretos do patriarca fundador Eliseu Maggi Scheffer e foram à academia buscar instrumentos técnicos de gestão do negócio. Com balanços auditados todos os anos pela KPMG, o grupo emitiu no ano passado um CRA de R$ 200 milhões, cujo processo atraiu uma demanda de R$ 899 milhões pelos papéis. Numa primeira rodada de captação, em 2017, obteve R$ 93 milhões por seus títulos. “Temos uma política de transparência e gestão de risco. A profissionalização administrativa e financeira das

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“Rastreabilidade é uma exigência do mercado e, portanto, tem de estar presente na governança” À frente de uma operação recente que resultou na emissão de R$ 150 milhões em CRAs (Certificado de Recebíveis do Agronegócio), o CEO do Grupo Santa Colomba, Miguel Prado, sustenta que o negócio teria sido impossível sem que houvesse gestão transparente na empresa. Qual o segredo do Santa Colomba para a emissão de R$ 150 milhões em CRAs, que despertou a atenção do mercado? Evoluímos em poucos anos de uma situação de empresa familiar para a de uma companhia com amplas relações com o mercado. Esse crescimento sempre foi sustentado, internamente, pelo desenvolvimento do Sistema de Gestão Santa Colomba. O acerto desse modelo de governança obteve reconhecimento na emissão desses papéis, cujos recursos serão utilizados para compra de terras, irrigação de áreas e, em consequência, maior volume de produção. Quais são os pilares deste modelo de governança? Nossas metas permanentes na gestão do grupo são a redução do desperdício, o aumento nos controles da produção e a boa utilização das nossas fortalezas enquanto empresa. Entre estas, destaco a produção em escala e a alta geração de caixa operacional. De que modo essas características impactam o grupo no mercado internacional? Os importadores estão preocupados atualmente com a rastreabilidade da produção de alimentos. Nosso sistema de governança também acompanha a atuação dos nossos parceiros, de modo a certificar procedimentos adequados. Sem dúvida, essa atenção gera segurança entre os nossos clientes e, com isso, mais credibilidade para a nossa companhia e os nossos parceiros.

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“Cada vez mais a análise sobre a governança impacta no crédito para crescer” O CFO do Grupo Amaggi, Dante Pozzi, aponta “a robusteza da governança” como um diferencial competitivo a favor das empresas de grande porte atuantes no agronegócio nacional. Confira: Quais as vantagens competitivas que uma boa governança proporciona ao Grupo Amaggi? A robustez da governança é, em si, uma das vantagens competitivas mais perenes. É um ativo que a empresa constrói ao longo de anos e que sempre terá de se adaptar ao contexto. Os acionistas mudam, os gestores mudam, o mercado e os competidores mudam, tudo está sempre em transformação – e a governança tem que acompanhar e evoluir. Estando ela sólida, a companhia mantém seu nível de competitividade. Quais os ganhos concretos com uma boa gestão? A boa gestão faz com que a companhia atue de forma sempre inteligente, com respostas rápidas, escapando dos buracos e capturando as oportunidades do mercado. E isto vale do ponto de vista da relação da companhia com todas as partes interessadas. No caso da Amaggi, isto é uma realidade, com ganhos transversais, e não somente com importadores de nossos produtos. O crédito é mais facilitado? Sim. Hoje em dia os bancos e instituições financeiras avaliam tanto aspectos quantitativos de bankability quanto os qualitativos. Ou seja, não somente os volumes daquilo que você faz está em análise, mas como você faz é muito importante. Cada vez mais a pauta de governança está dentro das análises de crédito que os bancos e instituições financeiras nos colocam. A instituição vai querer entender como a empresa toma suas decisões, como trata o plano tático desse processo decisório.

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“Precisamos de mais segurança jurídica, infraestrutura e superar a distorção na nossa imagem” CEO do Grupo Horita, Walter Horita destacou à PLANT que os grandes grupos do agronegócio nacional “têm vantagens comparativas” sobre os concorrentes internacionais, mas também apontou “muitos vetores contrários”. Acompanhe: Quais as vantagens competitivas que o modelo corporativo do agronegócio brasileiro tem em relação aos concorrentes internacionais? Temos algumas vantagens comparativas, como o solo e o clima adequados. Mas isso não é suficiente. Basta lembrar que, até os anos 1970, a região que hoje é o grande polo produtivo agrícola do mundo era desacreditada. Criamos e aprendemos a produzir neste modelo tropical que é único, graças à pesquisa científica e ao desenvolvimento de tecnologias adaptadas a estas condições. Quais são os maiores problemas? No comparativo com nossos concorrentes mundiais, temos muitos vetores contra nós: nosso seguro agrícola é incipiente, não temos subsídios, nossas taxas de juros são mais altas, somos mais propensos ao ataque de pragas e doenças, e a nossa imagem, apesar de todo o fabuloso trabalho realizado aqui, é distorcida. Da mesma forma, vivemos na insegurança jurídica e econômica. Como chegar a um “ponto ideal” para o aumento da produção agrícola? Para que atinjamos o “ponto ideal”, precisaríamos de mais segurança jurídica e infraestrutura, especialmente em ferrovias, estradas e portos. Diria, também, que é necessário um investimento na melhoria da imagem do agricultor brasileiro, pois há muita desinformação no mercado consumidor mundial, que desestimula o crescimento do agro como um todo. Na produção, no que depende da ciência, da tecnologia e do trabalho do produtor, estamos bem, mas sempre em evolução, até porque a tecnologia muda muito rapidamente.

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REBANHO RENTÁVEL E MAIS PRODUTIVO, SÓ COM A ALTA PERFORMANCE DOS PRODUTOS SUMITOMO CHEMICAL EM SEU PASTO.


Com Christian Lohbauer

CHRISTIAN LOHBAUER PRESIDENTE DA CROPLIFE BRASIL

O primeiro semestre de 2022 foi um período de expectativa para Christian Lohbauer, presidente da CropLife Brasil, entidade que reúne as principais empresas que trabalham com pesquisa, desenvolvimento e inovação nas áreas de germoplasma, biotecnologia, defensivos químicos e produtos biológicos. A expectativa acontece por conta da aprovação, no dia 9 de fevereiro, pela Câmara dos Deputados, do Projeto de Lei (PL) 6.299/02, que moderniza a legislação que regula a avaliação e o registro de pesticidas no Brasil. Agora, o projeto aguarda a votação no Senado, que pode acontecer ainda antes do recesso legislativo de julho. Até meados de junho, porém, quando foi realizada a entrevista abaixo, o PL não havia sido incluído na pauta da casa, deixando suspense no ar. Para ele, uma vez aprovada, a 48

nova lei poderia permitir ao agricultor brasileiro acesso a defensivos agrícolas de última geração, mais eficientes e, dessa forma, mais sustentáveis. Na entrevista, ele explica como isso se daria e quais os benefícios de um novo ambiente regulatório para o País. QUAL A SUA EXPECTATIVA SOBRE A APROVAÇÃO DO PL 6.299/02? Há agora a oportunidade de votar um projeto com 30 anos de história e que passou na Câmara em fevereiro. O PL 6.299/02, renomeado agora que voltou para o Senado como PL 1.459 de 2022, é totalmente técnico. É um projeto com três características que ajudam o modelo regulatório brasileiro a se modernizar. QUAIS SÃO ELAS? A mais importante delas é o artigo que trata da autorização tem-

porária para produtos cujos pedidos de registro não tenham sido analisados no período de três anos. Com ele, uma empresa pode pedir autorização temporária para colocar um produto no campo, desde que já tenha sido aprovado em três países da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), para aquela cultura e para aquele tipo de doença ou praga. Por exemplo, um inseticida para milho que já seja usado no México, Coreia e África do Sul poderia receber uma autorização temporária. Isso funciona como um incentivo para o sistema avaliar uma molécula nova.


sultados. Agora o que a lei propõe é que todos avaliem, mas que a palavra final caiba ao Mapa. Mas é óbvio que se a Anvisa ou o Ibama indeferirem o produto, o Mapa não irá contra. O que está acontecendo agora é uma reorganização na atribuição de poderes às instituições. É o Ministério da Agricultura que trata da eficiência agronômica e que aceita as recomendações de risco para a saúde humana, para a saúde animal e para o meio ambiente fornecidas pelos outros órgãos.

QUE EFEITO ISSO TERIA NO RITMO DAS ANÁLISES DE NOVOS DEFENSIVOS? Isso seria uma grande mudança. Enquanto o mundo inteiro demora de dois a três anos para analisar uma molécula nova, o Brasil demora oito, sendo que aqui é uma agricultura tropical. Os produtos demoram muito para serem avaliados, acontecem aprovações de produtos pós-patente, mas as tecnologias mais avançadas não acompanham as demandas da agricultura brasileira. Tem outro aspecto importante do ponto de vista conceitual. A proposta é que, a partir de agora, a avaliação dos novos pesticidas seja feita por análise de risco (risk assessment) e

não por hazard base, uma análise que não leva em conta a exposição. Hoje, nós temos uma agricultura de grandes dimensões, portanto precisamos de um sistema regulatório que reflita essa realidade, assim como outros países de grandes dimensões, a exemplo dos Estados Unidos. E QUAL SERIA A TERCEIRA CARACTERÍSTICA POSITIVA DO PL? A desburocratização. O PL fala que, ao invés de ter que fazer o registro em vários órgãos, ele será feito apenas no Ministério da Agricultura (Mapa), como a lei atual já prevê. Mas órgãos como Anvisa e Ibama continuarão a ser con-

COMO ISSO PODE IMPACTAR A ATUALIZAÇÃO DA LINHA DE PRODUTOS E TECNOLOGIAS DISPONÍVEIS PARA A AGRICULTURA BRASILEIRA? Quanto mais novo o produto, mais eficiente e menos tóxico ele é. É para isso que a tecnologia serve. Trazer produtos novos é bom para todo mundo, inclusive para os genéricos. Eventuais comparações feitas com a Europa são indevidas, porque é uma região que não pratica uma agricultura tropical nas dimensões que nós fazemos aqui. Os pesticidas registrados diferem entre os países. Quando comparados os 279 ingredientes ativos químicos de uso agrícola registrados no Brasil com o seu status regulatório na União Europeia (UE), Estados Unidos, Canadá, Austrália e Japão, as diferenças são evidentes. Enquanto PLANT PROJECT Nº31

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Com Christian Lohbauer

na UE 136 substâncias registradas no Brasil estão aprovadas, 143 não estão. Já nos Estados Unidos e Canadá são aprovadas 218 substâncias. No Japão 205 e na Austrália, 228 ingredientes ativos dos registrados no Brasil. A ausência de registro de um pesticida em um país e o seu registro em outros não implica, necessariamente, que aquele ingrediente ativo tenha sido objeto de proibição por riscos à saúde ou ao meio ambiente, tampouco que possa ser proibido no Brasil sem passar por um processo de avaliação dos seus riscos. QUAL SERIA A REDUÇÃO DA PRODUÇÃO NA AUSÊNCIA DE DEFENSIVOS? É importante falar que a FAO [Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação] enfatiza que ocorrem de 20 a 40% de perdas na produção agrícola apenas por ataque de pragas nas lavouras. Pesquisa realizada pelo Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada – Esalq/USP (Cepea), feita em 2019, revela, por exemplo, que as duas pragas mais críticas da soja, a lagarta Helicoverpa e o fungo P. pachyrhizi, se não controladas, implicariam em perdas de 30%. Isso poderia significar um acréscimo de mais de 10% no preço do óleo de soja. Para o milho, outra cultura importante para o País, não seria diferente. O não controle da 50

“Quanto mais novo o produto, mais eficiente e menos tóxico ele é. É para isso que a tecnologia serve”

lagarta-do-cartucho poderia resultar em redução de 40% na produção e o consequente aumento de 13,6% nos preços do grão. No Brasil, é preciso considerar que temos a única agricultura em grande escala do mundo em clima tropical. Essa é a grande maravilha da agricultura brasileira. A única agricultura que atingiu esse estágio e foi criada aqui, pensada aqui, trabalhada aqui, por brasileiros. E vale para tudo, grãos, frutas, café, laranja, cana, algodão... Para isso precisa de defensivo. Não tem como imaginar agricultura sem defensivo agrícola. Uma legislação moderna vai trabalhar para isso: para que a gente gaste menos defensivo e os use com mais eficiência. E quando você traz a agenda da agricultura de precisão, ela por si só exige o uso de menos defensivo, porque você já localiza onde está a praga. É a indústria que está desenvolvendo isso. COMO OS PRODUTOS BIOLÓGICOS SE ENCAIXAM NESSE CENÁRIO? A integração dos pesticidas químicos com os produtos biológicos prova que a inovação acontece em diversas frentes. A venda de bioló-

gicos hoje é quase 3% do mercado brasileiro de insumos e cresce em um ritmo de 30% ao ano. Todo esse universo está a plena atividade e todas as grandes empresas da CropLife estão desenvolvendo tecnologia nessa área. Assim, a agricultura brasileira, que já é sustentável por natureza, será cada vez mais. COMO É A CONVIVÊNCIA DAS INDÚSTRIAS DE QUÍMICOS E BIOLÓGICOS NA CROPLIFE? A CropLife, na verdade, é resultado da conclusão de que uma tecnologia não vai se impor sobre a outra. O que vai predominar é o manejo integrado. O produtor é o decisor, ele é que escolhe o que ele quer usar, na hora que quiser, para a cultura que quiser, no local onde ele estiver. É uma matriz cruzada de possibilidades. A combinação de químicos, biodefensivos, sementes e biotecnologia é que vai dar a produtividade que ele precisa em determinado momento. Essa é a realidade que fez a CropLife Brasil nascer. Ela é a integração de outras associações que existiam antes, em cada uma dessas soluções agrícolas. Tudo isso caminha junto, não faz sentido andar separado.


E COMO AS TECNOLOGIAS INTERAGEM NESSE PACOTE TECNOLÓGICO? Os produtos biológicos trazem benefícios que agradam tanto os produtores quanto os consumidores, uma vez que o controle biológico reduz o desequilíbrio ambiental, a presença de resíduos químicos, o custo da produção e ainda ajuda a preservar outras tecnologias. Em geral, os produtos biológicos são eficazes em pequenas quantidades, e se decompõem rapidamente, sem deixar resíduos na lavoura. Portanto, são utilizados de forma alternada com os defensivos químicos como componentes do Manejo Integrado de Pragas (MIP). Pesquisas ainda indicam uma redução de emissões de gases de efeito estufa entre 60 e 90% por hectare ao ano com produtos biológicos. Além disso, com a edição gênica, você identifica uma característica da planta que, por exemplo, suporta estresse hídrico, e pode transferi-la para a planta que não tem, conseguindo fazer com que ela resista. Eu acho que este é o caminho da tecnologia. PODE HAVER UMA CUSTOMIZAÇÃO DESSA EDIÇÃO GENÉTICA, PENSANDO EM EDIÇÃO GENÉTICA ESPECÍFICA, TALHÃO POR TALHÃO? Com certeza é isso. Se você vê os centros de biotecnologia, eles têm máquinas que avaliam o desempenho de uma semente em condi-

ções muito específicas. Uma nova semente é quase um diamante. E que vai dar origem a uma planta que é a mais adequada para determinado lugar. É quase como se fosse uma semente com um chip dentro, com tanta tecnologia embarcada. O que tem ali é equipamento, automação industrial, muita pesquisa. QUAL A ATUAÇÃO DA CROPLIFE NA ÁREA DE SUSTENTABILIDADE? COMO A ENTIDADE ENDEREÇA ESSES PONTOS JUNTO A EMPRESAS E MERCADO? As empresas associadas têm programas relevantes nesse setor, inclusive em áreas como a do mercado de carbono. A CropLife, por sua vez, atua do ponto de vista institucional para mostrar como o agronegócio brasileiro já é, em sua grande maioria, sustentável. Podemos melhorar? Lógico que sim. Mas já percorremos um longo caminho. Aqui temos leis como o Código Florestal, aprovado depois de muitas audiências públicas. A CropLife trabalha em conjunto com outras entidades para tentar comunicar o agronegócio brasileiro, com seus desafios, mas com suas características maravilhosas. POR FIM, É VERDADE QUE O BRASIL É RECORDISTA MUNDIAL NO USO DE AGROTÓXICOS? Esse é um erro comum. Mas depende de como você olhar para esse dado. Se olhar apenas por vo-

“Enquanto o mundo inteiro demora de dois a três anos para analisar uma molécula nova, o Brasil demora oito, sendo que aqui é uma agricultura tropical”

lume, sim. Agora, olhar por volume não tem muito sentido se observarmos que temos duas ou três safras por ano e a maior parte dos outros países só tem uma. Se a conta for feita por quantidade de alimento produzida ou por hectare, caímos bastante no ranking e os primeiros lugares ficam para Japão, Holanda... A gente tenta mostrar que o Brasil tem um agro negócio sustentável em todas as dimensões da palavra. Ele é tecnológico, cada vez mais, então ele não expande para os biomas. Ele pode dobrar de tamanho, em cima de pastagens e terras degradadas, sem encostar em nenhum bioma. E pesticida é uma ferramenta de defesa da agricultura, usada com muita parcimônia para produzir alimentos seguros e saudáveis e aprovada por entidades regulatórias extremamente exigentes. PLANT PROJECT Nº31

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A nova face das revendas Com investimentos em aquisições e tecnologia, a Lavoro Agro aponta os caminhos para o futuro da distribuição de insumos agrícolas

O mercado brasileiro de distribuição de insumos agrícolas pode ser definido em dois períodos distintos: antes e depois da Lavoro Agro. A partir de 2017, quando o grupo controlado pela gestora Pátria Investimentos começou a semear a sua história, o setor deu a largada para um processo inédito de consolidação. Desde então, a pioneira Lavoro realizou 24 aquisições – as mais recentes foram as incorporações das gaúchas Casa Trevo e CATR, anunciadas no início de junho deste ano, fortalecendo as investidas na área de tecnologia e promovendo uma série de iniciativas voltadas para a agenda ESG. O que foi plantado ao longo da jornada resultou em colheitas robustas. A Lavoro Agro fechou o ciclo 2021/22, encerrado em junho, com o melhor desempenho de sua história. O faturamento alcançou a marca dos R$ 7,5 bilhões, um acréscimo de 25% em relação à safra anterior, considerando a 52

mesma base de investidas; o número de clientes superou a marca de 55 mil, sendo que eram 42 mil um ano atrás; e o total de lojas chegou a 200, das quais cerca de 30 foram abertas neste ano. Com operações também na Colômbia, a empresa firmouse como a maior distribuidora de insumos agrícolas da América Latina. “Tivemos um ano espetacular”, resume Marcelo Abud, CEO do grupo. “E ainda há muito espaço para crescimento.” A Lavoro organiza a sua operação em três unidades de negócios. A primeira delas é a distribuição na América Latina, formada por 24 revendas agrícolas, presentes nas principais regiões produtoras do Brasil e Colômbia. Trata-se do maior braço do grupo, respondendo por cerca de 85% de suas receitas. A segunda é a plataforma de marketplace [comprelavoro.com], pioneira no comércio de insumos e serviços agro do Brasil. Já a


Plant +

terceira vertical é a Crop Care, empresa de especialidades e bioinsumos. Neste caso, seu foco é inovação. Em abril, a Lavoro, em parceria com a Crop Care, lançou sua linha própria de especialidades chamada “Essenziale”, que atende a todos os ciclos produtivos, do plantio à colheita. “A inovação é uma busca constante da empresa”, diz Abud. Nesse aspecto, ele cita o investimento de R$ 100 milhões em um polo tecnológico em Itápolis, no interior de São Paulo, que se tornará a maior planta de biotecnologia da América Latina. De fato, o portfólio de produtos do conglomerado é vasto. Metade deles está em defensivos, sendo que a empresa trabalha tanto com os grandes players da indústria como no segmento premium, de itens segmentados. Fertilizantes e sementes respondem cada um por 20% dos negócios, e o restante (10%) fica com a área de especialidades e biológicos. No cômputo geral, o grupo detém entre 7 e 8% da distribuição de insumos agrícolas tanto no Brasil quanto na Colômbia, liderando os dois mercados. Há, portanto, muita margem para avançar. Em mercados já mais consolidados, como o dos Estados Unidos, o market share da líder está em torno de 30%. A tecnologia tem sido aliada vital para as ambições da Lavoro. “O nosso modelo de negócios é multicanal”, pontua Ruy Cunha, presidente da Lavoro Brasil. “Unimos as operações físicas com as plataformas digitais para oferecer soluções completas aos clientes.” A estratégia tecnológica do grupo ganhou impulso em maio de 2020, com o lançamento de seu marketplace. Chamado “CompreLavoro”, ele rapidamente se tornou um dos maiores do país ao embarcar uma série de

facilidades para o produtor – da compra de insumos à contratação de crédito. Depois, nasceu em dezembro de 2021 o novo aplicativo da empresa, o “Minha Lavoro”, que significou um passo ainda mais ousado rumo à digitalização da jornada do produtor. No app, ele pode acompanhar o status de crédito e histórico de pedidos, solicitar antecipação de pagamentos e ter acesso a serviços como monitoramento do solo, previsão do tempo, cotação do dólar e de grãos e ler notícias do universo agro, entre muitas outras funcionalidades. Ruy Cunha lembra que o app é complementar às lojas físicas, não significando que elas desaparecerão. “O conceito é que o cliente não precise necessariamente ir à unidade, mas ela sempre vai estar lá se ele precisar.” Isso faz toda a diferença. O agronegócio é uma área que guarda certas peculiaridades. O atendimento presencial certamente continuará sendo importante para as demandas específicas dos

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Plant + Abud (à esq.) e Cunha: liderança e crescimento rápido

produtores, como orientações técnicas em manejos e cultivos. Não à toa, a Lavoro conta atualmente com cerca de 800 técnicos e engenheiros agrônomos que atendem, in loco, clientes no Brasil e na América Latina. Nesse contexto, o RTV (Representante Técnico de Vendas) exerce papel fundamental. “Queremos que ele seja um consultor para o produtor”, diz Marcelo Abud. “O RTV leva informação e também viabiliza o uso da tecnologia. De certa forma, está se transformando num especialista digital.” Embora criadas recentemente, as plataformas digitais já movimentam bom volume de negócios. Em 2022, seu faturamento deverá chegar a R$ 350 milhões, mas a tendência é que a curva de crescimento escale de forma muito rápida. Já são 20 mil produtores usando os ambientes digitais e eles trazem um ativo valioso para a Lavoro: dados. Com a análise inteligente das informações, a empresa sabe o que os produtores plantam, como plantam, onde estão, e os itens que consomem, entre outros insights. A partir do conhecimento minucioso dos clientes,

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a empresa pode ajustar e melhorar as suas operações, garantindo soluções personalizadas ao agricultor. Abud e Cunha destacam também a agenda ESG como um pilar importante da Lavoro. A empresa criou no final de 2020 uma área específica para o desenvolvimento de boas práticas ambientais, sociais e de governança, e, pouco tempo depois, publicou seu primeiro relatório de sustentabilidade, prática esta que foi institucionalizada na companhia e já promove desdobramentos importantes. Quais são os próximos passos? A agenda agressiva de aquisições será mantida, assim como investimentos robustos em inovação e tecnologia. A expansão dos negócios na América Latina também está no radar – a empresa tem conversas avançadas para ingressar em países como Chile, Peru e Paraguai. Tudo isso poderá levar a Lavoro a realizar o sonho de superar os R$ 20 bilhões de faturamento até 2025. A julgar por tudo o que o grupo fez até aqui, a marca provavelmente será batida.



BRASIL, PARAÍSO DAS MÁQUINAS? Avanço de área plantada e preços remuneradores das principais commodities puxam as vendas e transformam o País no maior mercado do mundo, mas, para próxima safra, custos de produção em alta e desafios relacionados ao financiamento são pontos de atenção Por Ronaldo Luiz

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Mercado

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Colhedora de cana da Case: até 2023, todas as máquinas sairão da fábrica 100% conectadas PLANT PROJECT Nº31

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Mercado Colheitadeira da New Holland: escassez de semicondutores freou crescimento, que poderia ser maior

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s portões da Agrishow, que reúne em Ribeirão Preto as principais fabricantes de máquinas agrícolas do Brasil, nem haviam se fechado e os organizadores já comemoravam: o balanço do evento, realizado no final de abril passado, havia superado R$ 11,2 bilhões em negócios, nada menos que 286,2% acima do resultado da edição anterior, de 2019, a última que foi realizada antes da pandemia. Confirmava-se, ali, uma temporada de vendas como nunca se viu para o setor, conforme já se percebia nas principais feiras regionais realizadas na primeira metade do ano. Juntas, Expodireto Cotrijal, em Não-Me-Toque (RS); Show Rural Coopavel, em Cascavel (PR); e Tecnoshow Comigo, em Rio Verde (GO), movimentaram R$ 18,7 bilhões em intenções de negócios, ou seja, transações concretizadas ou operações encaminhadas. São números gigantes, puxados por uma indústria com motores possantes. O mercado brasileiro de máquinas agrícolas está aquecido como poucas vezes se viu na história. O balanço mais recente da Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave), que faz o acompanhamento do setor, mostra que, no primeiro trimestre de 2022, as encomendas subiram 30% na comparação com igual período do ano passado. E a base já vinha alta. Em 2021, o Brasil já havia se tornado o maior mercado do mundo para equipamentos de plantio e colheita, graças, segundo o presidente da John Deere na América Latina, Antonio Carrere, ao apetite global pelos alimentos produzidos por aqui.

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“O Brasil foi chamado a aumentar a oferta de alimentos devido a circunstâncias de curto prazo, como a guerra e os efeitos da pandemia”, afirmou Carrere, durante a Agrishow, em entrevista ao site Bloomberg Línea. “No longo prazo, o mundo exigirá mais alimentos e fibras e o único lugar onde é possível aumentar a produção é o Brasil e a América Latina.” O presidente da Fenabrave, José Maurício Andreta Júnior, concorda. Segundo ele, é o incremento da área plantada, que vem ocorrendo sobretudo em áreas de pastagens, combinado à elevação dos preços das principais commodities agrícolas, o que mantém a comercialização do segmento em expansão. Estatísticas da Datagro, por exemplo, apontam que a área de soja no ciclo 2021/22 cresceu 5,1% para 41,23 milhões de hectares, enquanto a de milho aumentou 9%, chegando a 22,30 milhões de hectares, contemplando os ciclos de verão e de inverno. Mais área, mais tratores, colheitadeiras, plantadeiras, pulverizadores etc. Outro número que mostra o bom momento do setor é o da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), que aponta alta de 9% do ramo agrícola nos primeiros três meses do ano em relação ao mesmo intervalo de 2021. Para 2022, a expectativa é de avanço de 5% no volume de negócios. De fato, as principais feiras agropecuárias do ano, até o momento, dão sustentação à perspectiva de crescimento. “A tendência é de que o cenário continue favorável, pois o produtor está confiante em investir em novas soluções


para se tornar mais rentável e sustentável. Existem diversos fatores que determinam o tamanho do mercado de máquinas agrícolas, como a confiança do cliente, preços, custos e a atratividade das taxas de juros para financiamento. A produção de alimentos no Brasil tem um enorme protagonismo global”, destaca o diretor de vendas da John Deere Brasil, Marcelo Lopes. Com um olho na linha de montagem e outro no mercado global de commodities, os executivos das montadoras aproveitam o bom momento de preços e estoques internacionais dos principais produtos agrícolas. “Nos últimos anos, não tivemos ciclos baixos porque, por diversos fatores, o volume armazenado de produtos agrícolas esteve baixo, e especialmente o Brasil está

atendendo ao desafio de abastecer o mercado mundial de alimentos. Mas, vamos ter ciclo de baixa, só não sabemos quando. E, em períodos baixistas, o agricultor precisa ser mais competitivo, e o que traz competitividade são as inovações”, afirma o presidente da Jacto, Fernando Gonçalves. O potencial de alta do mercado tem ainda outro componente apontado pelo diretor de Vendas da Massey Ferguson, Alexandre Stucchi: a idade da frota de maquinário agrícola no País. Segundo diagnóstico realizado pela marca, 39% dos tratores e 48% das colheitadeiras somam mais de duas décadas de serviços, o que sugere uma boa possibilidade de troca por agricultores capitalizados. “A partir desse recorte, é possível perceber a expressiva

Gonçalves, presidente da Jacto: “O que traz competitividade são as inovações”

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Kerbauy, da New Holland; Stucchi, da Massey; Assis, da Valtra; e Galli, da Fendt (em sentido horário, a partir do alto, à esq.): ciclo sem baixas

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possibilidade de renovação da frota, seja por desgaste ou por adesão a novas tecnologias, em particular pelo ingresso de novas gerações no campo”, analisa. CUSTOS, SUPRIMENTOS E FINANCIAMENTO Se o tom das projeções dos fabricantes é de otimismo, também há sombras no horizonte do segmento, em particular relacionadas aos aumentos dos custos de produção nas lavouras e ao financiamento. Todos os anos, a divulgação do Plano Safra é, obviamente, sempre cercada de muita expectativa. Mas, neste

2022, a atual e extremamente volátil conjuntura e as transformações em curso na agenda estrutural do crédito rural deixam a expectativa ainda maior. De acordo com o ex-ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, o Plano Safra 2022/23 tem que ser um “plano de guerra”, já que não estamos, claro, em tempos de paz, com um grave conflito sendo travado no Leste Europeu, que vem descortinando riscos à segurança alimentar global. O contexto é que a invasão da Rússia à Ucrânia acentuou os desarranjos provocados pela


pandemia da Covid-19 nas cadeias de suprimentos. Ambos os países, por exemplo, são grandes produtores e exportadores de commodities agrícolas (sobretudo trigo e milho), bem como de petróleo, gás e de matérias-primas para fertilizantes, o que faz com que, inevitavelmente, a guerra entre ambos acabe impactando na disponibilidade, distribuição e nos valores destes produtos em nível mundial. “O setor de máquinas agrícolas não passa incólume a este quadro, e ainda enfrentamos gargalos relacionados a suprimentos, como escassez de semicondutores. Não foi algo totalmente amortecido”, comenta o diretor de mercado Brasil da New Holland Agriculture, Eduardo Kerbauy. Neste enredo, se por um lado, os preços pagos, especialmente ao produtor de grãos, registram valorização; por outro, os custos agrícolas sobem em ritmo acelerado e, não somente, dos insumos diretos, sobretudo os adubos, mas também os gastos com combustíveis, energia elétrica etc. O resultado? Margens espremidas, o que exige uma gestão do negócio cada vez mais refinada sob todos os aspectos [técnico-operacional, financeiro, jurídico, ambiental, e assim por diante]. Com a iminente alta das taxas de juros do próximo Plano

Safra, o custo do financiamento ficará mais caro, inclusive para as linhas destinadas à aquisição de máquinas agrícolas, com eventuais reflexos também nos prazos de quitação e limites de captação. O Ministério da Agricultura negocia com a equipe econômica condições que possam viabilizar um Plano Safra “robusto”, como já pontuou o titular da pasta Marcos Montes, especialmente em relação a recursos para equalização dos juros. Entretanto, o cobertor orçamentário é tradicionalmente curto, tutelado pelo teto de gastos, e ficou ainda menor com recente corte promovido pelo executivo para acomodar reajustes de categorias do funcionalismo. O cenário, então, é, no mínimo, de incertezas. O presidente da Câmara Setorial de Máquinas e Implementos da Abimaq, Pedro Estevão, afirma que a questão do financiamento preocupa, “porque o governo tem colocado pouco dinheiro” nas principais linhas de crédito destinadas à compra de máquinas agrícolas, em particular no Programa de Modernização da Frota de Tratores Agrícolas e Implementos Associados e Colheitadeiras (Moderfrota), operado pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), e o Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf). “Nesta temporada 2021/22,

Pedro Estevão, da Abimaq: setor pede mais recursos para financiamento

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tivemos cerca de R$ 11 bilhões para ambos os programas, mas os recursos se esgotaram em novembro de 2021, e o mercado de máquinas agrícolas já faturou mais de R$ 80 bilhões, com o produtor tendo que captar recursos a juros livres, ou seja, empréstimos mais caros para viabilizar as operações”, diz Estevão. Para o Plano Safra 2022/23, o setor solicita R$ 32 bilhões para o Moderfrota e R$ 11 bilhões para o Pronaf. Kerbauy, da New Holland, menciona que, diante desta nova realidade, o produtor vem tendo que utilizar mais recursos próprios, recorrendo ao crédito privado e também apostando na modalidade de consórcio para adquirir o maquinário agrícola. 62

MAIS SERVIÇOS DIGITAIS No jogo corporativo, então, inovar e entregar mais do que o aguardado passa a ser imprescindível, a fim de conquistar e fidelizar o produtor, e as fabricantes de máquinas agrícolas já perceberam isso, investindo cada vez mais na ampliação da oferta de serviços, puxada pelas ferramentas digitais. “A tecnologia digital embarcada no maquinário agrícola passou a ser o grande mote, já que processos e decisões no campo estão cada vez mais vinculados a estas soluções”, ressalta o consultor de negócios de máquinas agrícolas da Totvs para o Brasil Central, Marcos Calcagnoto. “O produtor quer eficiência, e as soluções digitais


Mercado

passam a ser protagonistas para viabilizar este ganho, extraindo tudo da máquina”, salienta, acrescentando que a próxima etapa será ligada a uma automação cada vez maior do maquinário no campo. O vice-presidente da Case IH, Christian Gonzalez, adianta, por exemplo, que até 2023 todas as máquinas fabricadas pela empresa já sairão da linha de montagem 100% conectadas, em um claro direcionamento à agricultura de precisão digital. De acordo com Marcelo Scharra, CEO da Aceleração de Vendas, empresa especializada em treinamento e desenvolvimento de times comerciais, “em vez de ferro, a hora é de vender soluções”. “As marcas não vendem mais apenas aço e ferro, e o trator é somente um dos produtos comercializados por elas. A mudança em curso está em vender uma solução, seja por meio de uma máquina ou por meio da tecnologia.” Uma das prioridades das marcas é fazer com que essas soluções não fiquem, no entanto, restritas a grandes produtores. O diretor de Vendas da Valtra, Alexandre Vinicius de Assis, enfatiza que desenvolver tecnologias que ajudem os agricultores de todos os portes a produzir mais em menos espaço e utilizando menos insumos é fundamental, e a indústria de máquinas agrícolas tem se debruçado para trazer inovações que garantam a eficiência

das operações de campo e o crescimento da colheita. “Nos últimos anos, nossos tratores, colheitadeiras, pulverizadores e demais equipamentos passaram a incorporar, por exemplo, recursos de conectividade e automação.” Em linhas gerais, tratamos aqui do conceito de servitização, que é a transição da produção de bens para oferta de soluções e serviços. Esmiuçando um pouco mais, é o movimento das empresas para agregar valor aos seus produtos, oferecendo serviços e soluções relacionados a eles. Ou seja: a empresa passa a fornecer soluções produtoserviço em vez de comercializar exclusivamente o item. No segmento de máquinas agrícolas, isso envolve serviços não só de manutenção preventiva, economia de combustíveis, como também soluções preditivas do ponto de vista agronômico relacionadas às tarefas de plantio, colheita e assim por diante. Nesta jornada de transformação, o diretor Comercial da Fendt para América do Sul, José Galli, pontua que o maior desafio ainda passa por melhorias na conectividade rural – que está sendo gradativamente resolvida. Em termos de pacote tecnológico embarcado, garante, o maquinário agrícola utilizado no Brasil está no mesmo patamar do usado na Europa ou nos Estados Unidos. Afinal, somos hoje o paraíso das máquinas .

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Lopes, da John Deere: tendência de que o mercado continue favorável

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foto: shutterstock

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Aplicação de vinhaça em lavoura de cana no interior paulista: o resíduo se torna um caldo estratégico 64


IDEIAS FÉRTEIS Centros de inovação agrícola buscam alternativas que ajudem a reduzir a dependência do agronegócio brasileiro dos fertilizantes de outros países Por Marco Damiani

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guerra na Ucrânia, iniciada em fevereiro deste ano, tornou clara para o agronegócio brasileiro uma equação que não fecha, mas que até então estava obscurecida pela normalidade do mercado internacional e os recordes de comercialização. É a conta da importação de fertilizantes. Com uma necessidade atual de utilizar perto de 45 milhões de toneladas de insumos a cada safra, as empresas nacionais precisam importar nada menos que 85% desse total, num gasto estimado pela Embrapa em US$ 15 bilhões de dólares. O que fazer para barrar o crescimento desses custos, reduzir a dependência e, por que não, até mesmo revertê-la?

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A resposta perseguida pelos centros nacionais de pesquisas agrícolas nos últimos dez anos está na inovação – e passa, necessariamente, pela biotecnologia e a nanotecnologia para desenvolver novos produtos e meios de utilização junto à terra e às diferentes culturas. Algumas soluções já se mostram promissoras. Outras, ainda esbarram na dificuldade de ganhar a escala para atender à imensa demanda das fazendas brasileiras. Há vários percursos nessa corrida. “As pesquisas pela redução da dependência dos fornecedores internacionais também procuram descobrir processos que podem melhorar


a absorção dos nutrientes pelas plantas ou fixar o nitrogênio do ar, pela utilização de fertilizantes orgânicos e organominerais, reciclagem de resíduos das indústrias produtoras de fosfato e melhor aproveitamento dos fertilizantes potássicos com origem em rochas silicáticas”, detalha Efraim Cekinski, professor de Engenharia Química do Instituto Mauá de Tecnologia (IMT). “Ainda há um bom caminho pela frente, mas já demos passos importantes”, completa ele. Um desses movimentos vitoriosos obteve no final do ano passado o maior prêmio de inovação conferido pela Sociedade Brasileira de Química (SBQ). Desenvolvido pelo professor Brenno Amaro, da Universidade de Brasília, em pesquisas feitas conjuntamente com a Embrapa, o Arbolina é um biofertilizante composto por carbono orgânico, nitrogênio, oxigênio e hidrogênio, aplicado por inoculação. A promessa é a de aumentar em até 40% a produtividade em plantações de soja, milho e cana-de-açúcar. Em 15 dias, seu conteúdo de micro-organismos é expelido pelas plantas, o que o torna um

produto biodegradável. Sua produção em larga escala teria o poder de reduzir fortemente as importações brasileiras. “A Arbolina reúne tudo o que, basicamente, uma planta precisa para crescer de modo produtivo”, afirma o professor Amaro, cujas pesquisas em torno do produto começaram em 2015 até chegar à obtenção da patente. A busca por fertilizantes alternativos tem levado pesquisadores a caminhos inusitados. É o que demonstra o desenvolvimento da Quitosana, fertilizante obtido a partir de açúcares presentes nas carapaças de crustáceos como a lagosta e o camarão. As pesquisas em torno desse produto foram iniciadas por pesquisadores japoneses, mas ganharam aceleração e maturidade pelo trabalho de biólogos brasileiros em atuação no estado do Ceará. Hoje, a patente é nacional. A Quitosana ainda não encontrou nenhuma contraindicação para a sua prescrição em lavouras, sendo utilizada como um suplemento que integra o processo de crescimento de diferentes plantas. Sua taxa de sucesso

Depósito de fertilizante em fazenda e pesquisa de alternativas: corrida para reduzir dependência das importações

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depende muito das condições do clima, temperatura e qualidade do solo, mas já é uma alternativa bem brasileira para a complementação do pacote de insumos agrícolas. AVANÇO DOS BIOINSUMOS Bem-sucedidas inovações com bioinsumos estão ganhando terreno nas lavouras brasileiras. Nas plantações de cana-de-açúcar, a vinhaça – resíduo líquido resultante da destilação no processo de produção do etanol – já é um elemento testado, aprovado e bastante disseminado entre os produtores. Rico em matéria orgânica, esse caldo é reaproveitado como fertilizante nos campos agrícolas, com grande conteúdo de potássio e sais minerais. Uma vez que é um subproduto, tem custo baixo para os próprios produtores de cana. Para a cultura do café, está 68

em pleno desenvolvimento um bioinsumo inovador que também está sendo extraído, ainda em processo de ganho de escala, da cana-de-açúcar. A matéria-prima utilizada para esse fertilizante que pode ampliar a produtividade das lavouras cafeeiras em até 20% é a chamada “torta de filtro”, resíduo proveniente da extração do caldo da cana. Ele é submetido a um processo químico de bioestabilização. “É uma compostagem bioacelerada. A gente coloca uma blend de bactérias e fungos. É um processo proprietário nosso que faz grandes volumes em pouco tempo”, afirma Ernani Judice, CEO da Agrion, empresa desenvolvedora do novo adubo. Os testes têm sido realizados por pesquisadores de Franca e devem se estender por quatro anos em uma fazenda experimental da Fundação Procafé.

IMPORTAÇÃO E CUSTOS No atual quadro de dependência de fertilizantes com origem em países distantes, o Brasil importa 75% do nitrogênio que as lavouras necessitam, 55% do fósforo e 95% do potássio. Ao contrário dos demais grandes produtores, como Estados Unidos, Índia e China, estamos longe da autossuficiência. Na soja, já estamos em vantagem com a aplicação, também por inoculação, do nitrogênio do ar. A introdução desses micro-organismos que aceleram o crescimento da lavoura ainda não pode, no entanto, ser utilizado em outras lavouras. A importância de as pesquisas encontrarem novas alternativas em fertilizantes é crucial para a economia do agronegócio. Em relatório no final de maio, analistas do Rabobank estimaram que os


Insumos

gastos com insumos para o cultivo da soja estão 86% mais altos na atual safra em relação à anterior. No milho, o desembolso é ainda maior: 93%. Acrescente-se a isso a atual insegurança em relação à obtenção de produtos como ureia, nitrogênio e fosfato, cujas cadeias logísticas de importação foram abaladas após a invasão da Ucrânia pela Rússia. Apesar do cenário incerto, o produtor brasileiro está conseguindo superar as dificuldades. Na ponta da venda, as commodities brasileiras acompanham uma valorização média global de 50% sobre a safra anterior, já calculada a elevação dos custos. As cotações

internacionais estão atingindo máximas históricas. “Mesmo com essa crise em pleno curso, o produtor brasileiro está ganhando dinheiro”, resume o professor Paulo Pavinato, do Departamento de Ciência do Solo da Esalq. “A alta dos fertilizantes está sendo transferida para os preços dos produtos. Isso gera inflação e atinge o consumidor final, mas os produtores se protegem com a alta do dólar somada à subida da demanda no mercado internacional”, completa ele. Mesmo em relação à oferta de fertilizantes ao mercado nacional, que logo após o início da guerra sofreu interrupções por dificuldades de embarques e

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Rocha silicática: recurso mineral pode ser melhor aproveitado

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reorganização das cadeias de fornecedores, as notícias mais recentes são positivas. Em abril, a chegada de navios com carregamentos de fertilizantes no Porto de Paranaguá (PR), o principal do País para esta modalidade, foram maiores do que no mesmo mês do ano passado. Ao mesmo tempo, as entregas vindas da China estão confirmadas até outubro, o que afasta o risco de desabastecimento. Por outro lado, os preços do MAP e do KCl, matérias-primas de insumos usados em todas as culturas, praticamente dobraram desde dezembro, mas as perspectivas são de estabilização. “Para o segundo semestre, os preços dos fertilizantes devem cair em razão de uma esperada redução na demanda internacional”, projeta Pavinato. “O produtor não deve se apurar demais, mas sim ter tranquilidade e paciência para aproveitar a retomada dos preços a níveis mais 70

satisfatórios”, completa. Ele lembra que os produtores de cana-de-açúcar receberam suas compras em dezembro, antes do início da guerra, e muitos dos que atuam na soja e no milho já anteciparam suas encomendas. PAÍS A DESCOBERTO Mesmo assim, o fato é que o agronegócio ainda está passando um grande susto em razão da constatação de que o Brasil não está preparado para não depender de compras internacionais de fertilizantes. Não há, neste momento, nenhuma operação no País em torno de minas de matériasprimas ou fabricação de fertilizantes em volumes capazes de atender ao mercado nacional. “Depois que a Petrobras saiu desse mercado, porque estava sofrente prejuízo, ninguém mais ocupou o lugar de produzir fertilizantes por aqui”, lembra o professor da Esalq. “Estamos a descoberto, ao sabor da volatilidade dos preços


Insumos

internacionais”, agrega. No curto e no médio prazo, a situação continuará a mesma. Sabe-se que a implantação de uma usina de potássio, por exemplo, pode levar de sete a dez anos, a um alto custo e sem garantia de lucratividade. Não há notícias de interessados em abrir esse tipo de negócio no País. Anunciado em março, o Plano Nacional de Fertilizantes (PNF) contém diretrizes para o setor até o ano de 2050. Há nele a promessa de incentivos para a abertura de minas e instalação de plantas industriais que reduzam a dependência do Brasil ao mercado internacional. “O agronegócio como um todo pode economizar até 15 bilhões de dólares por ano se houver meios de evitar compras externas e ter fertilizantes à mão dentro do próprio País”, calcula o mestre em Ciências Agrícolas Jerri Zilli, pesquisador da Embrapa. “Mas esta não é uma opção nem para agora nem para o futuro próximo”, lamenta. O NÓ DA LEGISLAÇÃO Integrante do Conselho Estratégico montado pelo governo para acompanhar o desenvolvimento do PNF, Zilli acredita que exigências da legislação e excesso de burocracia têm impedido o Brasil de avançar nas alternativas de inoculantes e bioinsumos. Eles seriam

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opções à compra de fertilizantes importados. “O problema é que, para desenvolver inoculantes, lida-se com diversos elementos que muitas vezes são considerados agrotóxicos. Com essa classificação, precisam ser submetidos a uma legislação mais rigorosa, que na prática impede o seu desenvolvimento num tempo ideal”, diz Zilli. “Criar uma legislação única e específica é o primeiro passo para o Brasil recuperar o atual atraso na produção de fertilizantes em relação aos grandes produtores do mundo”, acrescenta, referindo-se a países como Canadá, Índia, China e, em condições normais, Rússia, Ucrânia e Belarus. Em razão da reviravolta no mercado de fertilizantes, e o processo sempre longo de chegada à inovação, a mensagem ao produtor é a de não acreditar em milagres na substituição dos fertilizantes tradicionais, mas, ao mesmo tempo, apoiar as pesquisas e ter planejamento na realização de suas compras. No dia a dia do campo, também vale uma boa dose de paciência e otimismo para esperar que a guerra acabe e as cadeias de fornecimento voltem aos patamares históricos. Isso dará novo fôlego às empresas agrícolas até o encontro de novas descobertas alternativas aos fertilizantes tradicionais. PLANT PROJECT Nº31

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Secagem de café em terreiro arborizado no Guima 72


CADA XÍCARA TEM UMA HISTÓRIA As trajetórias de dois executivos são exemplos de como a indústria do café está se modernizando e incorporando novos modelos de gestão Por Marusa Trevisan

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“Já sofri discriminação por questões de gênero.” “Eu sabia que, por mais que eu me esforçasse, eu sempre seria o filho do cara.” As frases são de dois personagens totalmente distintos, mas que se unem na paixão pelo café. E por trazerem frescor à gestão de um setor que já foi sinônimo de tradição no agronegócio brasileiro. Lucimar Silva e Leonardo Montesanto comandam operações com perfis bem diferentes e hoje são reconhecidos como novas lideranças do café. Conhecer suas histórias ajuda a entender o futuro dessa indústria.

A MOÇA DO PAINEL GIGANTE É quase impossível passar pela Rua Pedroso de Moraes, na capital paulista, sem admirar e refletir sobre a imagem gigante, de 25 metros de altura, de uma mulher rodeada de pés de café, estampada em um dos prédios do bairro de Pinheiros. Na obra, desenvolvida pelo renomado artista Eduardo Kobra, é possível observar a moça, aparentemente em suas atividades no cafezal, segurando os frutos em suas mãos. A cadeia cafeeira, como grande parte do agronegócio, ainda é predominantemente masculina. Ver a agricultura estampada no meio de um centro urbano e ainda representada por uma mulher nos deixa intrigados: o que está acontecendo aqui? O que essa imagem quer nos passar? Quem é essa mulher? A obra Colheita é tema da campanha “Padrões foram feitos para serem quebrados”, da Nespresso, que chegou ao Brasil neste ano de 2022 para promover um novo sistema da marca. Em parceria com Kobra, o projeto homenageia toda a cadeia de produção do café com o foco na preservação do meio ambiente e no cuidado com as pessoas. A personagem escolhida para representar essa quebra de padrões foi Lucimar Silva – e não foi uma opção aleatória. A moça do painel gigante superou diversos desafios para chegar ao cargo mais alto 74


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de uma fazenda de café. Atualmente, Lucimar gerencia as fazendas São Lourenço e Brasis, do Guima Café, que pertencem ao grupo mineiro BMG. As duas propriedades juntas, localizadas no Cerrado Mineiro, somam 1.300 hectares, sendo 700 ha de café plantado, com capacidade de produção anual de 35 mil sacas do tipo Arábica. As fazendas pertencem à família Guimarães, que começou a cultivar o grão há 40 anos, a partir da iniciativa do banqueiro Flávio Pentagna Guimarães, que apostou todas as suas fichas na cultura, a fim de diversificar os seus negócios. Deu certo. A história do grupo é longa e a Lucimar é uma peça essencial nela. Ela ingressou no Guima Café há 25 anos, com apenas 14 anos de idade, plantando e colhendo o grão ao lado de sua mãe. De lá para cá, passou por todos os setores das fazendas, desde a lavoura, a cantina, até a área administrativa. “Durante esse percurso, sempre busquei novos conhecimentos. Eu trabalhava durante o dia e estudava à noite. Em 2008, tive

a oportunidade de fazer parte da equipe administrativa, atuando na parte de segurança do trabalho e de certificações dos cafés, e, em pouco tempo, eu já estava na coordenação geral do administrativo da empresa. Mais tarde, fui promovida a gerente das fazendas”, explica a executiva, que atualmente responde pelos negócios do ramo da cafeicultura do grupo, atuando na gestão de pessoas, processos, recursos e comercialização dos cafés. Nesse meio-tempo, Lucimar se formou em Administração de Empresas, Segurança do Trabalho, Gestão Agrícola e Magistério, e foi licenciada pelo CQI em Q-Grader e Q-Processing. Ela até buscou diferentes caminhos, ministrando aulas de educação primária e alfabetização de adultos no município de Varjão de Minas e pelo Instituto Libertas de Belo Horizonte. Mas não demorou muito (cerca de três anos) até que a paixão dela pelo café a fizesse voltar para as lavouras. Hoje, Lucimar não se imagina fora da cafeicultura.

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O painel de Kobra retrata Lucimar, que saiu dos cafezais para liderar o Guima Café

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Lucimar entrou na empresa aos 14 anos, trabalhando nos cafezais

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DESAFIOS Lucimar conta que, lá atrás, o grupo trabalhava com cafés tradicionais. A crescente demanda por produtos especiais, entretanto, trouxe inúmeros desafios. “Os clientes hoje querem acompanhar a rastreabilidade do café; querem saber de onde vem e como é cultivado o café que estão consumindo. Querem entender a origem desse produto.” Diante deste cenário, há 15 anos, a empresa fez a transição para a produção de produtos especiais, focando em sustentabilidade. “Foi um desafio treinar e aperfeiçoar os nossos colaboradores para entenderem os novos processos e técnicas

agrícolas. Outro dilema foi em torno das tecnologias necessárias disponíveis, o que mudou com o passar do tempo, pois hoje elas estão presentes em tudo – nas novas genéticas do cafeeiro, nos insumos agrícolas, nos maquinários e nos processos de gestão.” A empresa optou pela implantação da cafeicultura regenerativa, que visa manter os solos vivos e a saudabilidade de todo o ecossistema. Hoje, 70% dos grãos produzidos nas fazendas são especiais, com certificação pela UTZ e pela RainForest Alliance desde 2008, além do Certifica Minas e do C.A.F.E Practices. As fazendas São Lourenço e Brasis fazem parte do Programa Nespresso AAA de Qualidade Sustentável, que é baseado em três pilares: qualidade, sustentabilidade e produtividade. MULHERES NO CAMPO Atualmente, 20% do quadro de colaboradores do Guima Café são mulheres. Elas atuam na gestão, coordenação agrícola, coordenação administrativa, fiscais de campo, trabalhadoras rurais, recepcionista e cozinheiras. “A empresa sempre teve a cultura da equidade de gênero e as oportunidades são disponibilizadas de acordo com as habilidades, no entanto mais duas mulheres fazem parte da administração das fazendas”, explica a executiva. Para ela, as aptidões femininas


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são essenciais para o sucesso da empresa. “A mulher tem um olhar aguçado, inovador e uma atenção criteriosa aos detalhes, aspectos fundamentais na produção de cafés especiais. São resilientes e estão sempre prontas a aprender. A comunicação eficiente contribui para a gestão e o fortalecimento das parcerias dos colaboradores e clientes.” Para quebrar paradigmas e conquistar seu espaço nesse universo, Lucimar investiu em conhecimento. “Qualquer obstáculo referente às questões de gênero é vencido quando dominamos o que nos dedicamos a fazer.” Ela passou

a ser referência no agronegócio brasileiro e hoje é Lucimar quem capacita e inspira outras mulheres contando sobre sua ascensão profissional. “Por onde passo, reforço a importância da produção responsável e do estímulo ao consumo ético. Contribuí para dar voz ao movimento da agricultura regenerativa, projetos da cafeicultura sustentável em conjunto com a Nespresso, Stockler e reNature, que são multinacionais com sedes na Suíça, Alemanha e Holanda.” Dá para entender agora por que a história de Lucimar foi a escolhida para ser eternizada

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através da arte, na campanha “Padrões foram feitos para serem quebrados”? Para ela, esse grande presente é a certeza de que tudo valeu a pena. “Ser homenageada pela Nespresso e por um dos artistas mais talentosos da atualidade, Eduardo Kobra, é emocionante. Ter a força feminina na cadeia do café representada em uma ação tão grandiosa é algo extraordinário, inimaginável em qualquer um dos meus sonhos.” Seu legado está lá, estampado e eternizado em uma das ruas mais movimentadas de São Paulo, para inspirar outras mulheres a também correrem PLANT PROJECT Nº31

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atrás de seus sonhos.

O FILHO PRÓDIGO Não é exagero dizer que corre café pelas veias de Leonardo Montesanto. Assim como Lucimar, ele também cresceu no meio das lavouras e passou por inúmeros obstáculos para conseguir reconhecimento e modernizar a cadeia. No seu caso, a história na cafeicultura é um pouco mais longa, começou bem antes do seu nascimento. Surgiu com o sonho do avô, Aprigio Tavares, de entrar para o ramo, na década de 1950. Tavares era comerciante. Comprava cafés de pequenos produtores e vendia para as indústrias de Belo Horizonte. Até investir em sua primeira muda e se tornar cafeicultor. 78

Décadas depois, em 1984, ao lado do filho, Ricardo Tavares (pai do Leo), ele deu um grande passo: assumiu a massa falida da indústria de café 3 Corações. Em menos de 20 anos conseguiu recuperar a empresa e a vendeu para um grupo internacional em 2002. Nesse meio-tempo, na década de 1990, a família criou o Grupo Montesanto Tavares, que hoje atua em 60 países e que, em 2010, iniciou o trabalho focado em cafés especiais com venda forte no exterior. Leo cresceu nesse ambiente empreendedor. E viveu as pressões que estão inseridas nele. Na adolescência, já como filho de um dos maiores empresários de café do mundo, o rapaz tinha um grande receio de ser comparado ao pai. Então, como ele mesmo diz, brigou com o café. “Eu sabia que, por mais que eu me esforçasse, eu sempre

seria o filho do cara”, conta. Aos 16 anos, Leo decidiu se desvincular dos negócios da família e trilhar seu próprio caminho. Os primeiros passos foram no setor automotivo. Ele investiu em um lava-jato, teve uma loja de carros. Em 2004, já com a experiência em gestão, Leo se mudou para Santos, onde se concentra o maior complexo portuário da América Latina, e montou uma transportadora. Para ele, toda essa vivência em lidar com diferentes públicos foi indispensável para o sucesso de hoje. “Gestão é feita de pessoas certas na cadeira certa.” Mas o café voltou a chamálo. Em 2015, o empresário recebeu o convite para gerenciar as fazendas da família e sentiu-se pronto para encarar o desafio. Foi aí que ele vendeu a transportadora e voltou para suas raízes. “Eu já tinha provado


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pra mim mesmo e para o mundo que eu tinha capacidade.” Sua gestão à frente das fazendas do Grupo Montesanto confirmou. Ele buscou conhecer a história de cada trabalhador e, a partir de processos de colheita e pós-colheita criteriosos, o grupo conquistou o prêmio de Melhor Café do Brasil pelo Cup of Excellence em 2018 e, depois, o título de Melhor Café do Mundo. Foi o fecho de ouro de sua curta trajetória na empresa. Ainda em 2018, ele se desligou novamente dos negócios da família para criar a Coffee++. Seu objetivo era não só oferecer bebidas produzidas pelas propriedades Montesanto, mas também originárias de diferentes regiões brasileiras. “Quando me uni aos meus sócios (Pedro Brás e Rafa Terra), firmamos o compromisso de oferecer bebidas com notas sensoriais diferenciadas, produzidas por pessoas com pensamento especial e originárias de produções realizadas em diferentes regiões cafeeiras do Brasil”, afirma. A Coffee++ reúne produtores do Sul de Minas, Cerrado Mineiro e Chapada de Minas que produzem variedades de Bourbon Amarelo, Mundo Novo e Catuaí Amarelo e surgiu com a ideia de oferecer cafés especiais premiados, acima de 84 pontos, que antes eram exportados, mas que agora ficam no Brasil. Hoje, cerca de 90% dessa produção é destinada ao mercado interno. Sem formação acadêmica

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Leo Montesanto: café correndo nas veias

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superior, Leo costuma dizer que todo o seu aprendizado foi com “os pés na lavoura e a vivência com pessoas com pensamento especial”. Atualmente com 38 anos, ele conta que a decisão de criar uma nova indústria não foi fácil, mas que veio com um propósito. “O meu maior desafio até aqui foi deixar de lado o meu emprego dos sonhos como CEO de fazendas e encarar outro sonho. Mas eu acredito no propósito e tenho certeza que o brasileiro está num movimento forte de valorizar o café especial. Temos que fazer os brasileiros

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acreditarem no potencial do café especial, até porque o paladar não retrocede.” Agora, com a Coffee++ já consolidada no mercado nacional, o próximo passo da empresa é conquistar o mundo. “Iniciamos um processo de venda na Amazon americana com o objetivo de divulgar uma marca brasileira para o mundo. Curiosamente, apesar de os cafés brasileiros já terem invadido o mundo, não há uma divulgação ampla da nossa bandeira”, explica Leo. O clima é de otimismo. No mês de maio a marca lançou o

primeiro café orgânico da história da Coffee++. Ele foi pontuado em 89,18 pontos e considerado o Melhor Café do Cerrado Mineiro de 2021. Em junho a empresa iniciou um projeto especial com a Brahma, pela campanha Cremosidade. Mesmo diante de todo o seu esforço para chegar aonde chegou, Leo valoriza e reconhece o legado deixado pelo avô. Para ele, nada disso seria possível se não fosse aquela primeira muda do avô Aprigio Tavares, há mais de 70 anos. “Meu avô foi essencial para tudo isso”, diz o COO da indústria, com orgulho.


"Não basta simplesmente fornecer aos pequenos agricultores, seus fornecedores ou comunidades rurais e florestais acesso a linhas de crédito ou financiamento"

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Ilustração: Shutterstock

Ideias e debates com credibilidade

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QUEBRANDO O CICLO DO DESMATAMENTO NA AMAZÔNIA: A RESPOSTA ESTÁ NAS FINANÇAS? POR TATIANA CNEIO ALVES*

Historicamente, uma série de atividades econômicas (legais mas muitas vezes ilegais também) têm pressionado a Amazônia brasileira, esgotando seus ecossistemas críticos e empurrando-os ao que os cientistas alertaram estar perto de um ponto de inflexão – aquele em que a floresta perderá sua capacidade de manter-se em seu estado atual ou recuperar-se de distúrbios como a seca ou outros eventos climáticos extremos. Isso afetaria drasticamente o ciclo hídrico da região e, eventualmente, a floresta tropical poderia se tornar uma terra seca, uma savana, um território árido. Isso tudo se soma aos 90 bilhões de toneladas de CO2 que seriam lançados na atmosfera no processo. Da mesma forma, os meios de subsistência de muitas comunidades da região estão ligados a cadeias de valor e processos produtivos que não só degradam o ambiente circundante, mas esgotam as florestas naturais. Se por um lado esses processos fornecem meios de subsistência para comunidades rurais e florestais, eles não são sustentáveis para as pessoas ou para o meio ambiente. No curto prazo, muitas dessas atividades econômicas são seguras, na medida em que estão lá e fornecem uma renda, mas isso não significa que elas permanecerão assim no longo prazo. Sem as ferramentas e recursos para investir e manter adequadamente o solo para que este continue sendo produtivo, muitos pequenos e médios agricultores acabam vendo suas terras se tornarem não aráveis e degrada-

das, sendo finalmente convertidas em pastagens. Uma vez que o gado pastou, os produtores de gado cortam e queimam mais florestas para ampliar o espaço para pastagem. Isso permite que o pasto cresça por algum tempo, mas em algum momento o solo é novamente arruinado. Assim nasce o ciclo vicioso. A maioria dos pequenos e médios agricultores na Amazônia não conseguem acessar financiamento para investir em atividades agrícolas sustentáveis, restauro produtivo e/ou pecuária sustentável, ou seja, atividades que respeitem a manutenção dos solos e, portanto, a produtividade da terra, bem como a manutenção das florestas existentes. Sem o financiamento para investir e mantê-los enquanto esperam que a colheita ocorra, eles escolhem, por uma questão de sobrevivência, algo que vai lhes render dinheiro no curto prazo – e muitas vezes atividades não sustentáveis como, por exemplo, a pecuária extensiva ou outras atividades que depredam a floresta e os solos é a resposta. E no caso a pecuária pode ser uma opção viável quando feita corretamente, mas para isso ela também requer investimentos e assistência técnica para garantir sua sustentabilidade e viabilidade. Mas pequenos e muitos médios agricultores simplesmente não têm acesso nem ao financiamento nem à assistência técnica. Até recentemente, os compradores e os grandes mercados internacionais de commodities não se importavam de onde vinham os produtos, como


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eram produzidos e se eram de origem sustentável. Agora há uma explosão de interesse em bens que são rastreáveis, sustentáveis, geram benefícios sociais e são livres de desmatamento. Os frigoríficos, por exemplo, estão sob grande pressão para monitorar suas cadeias de suprimentos, as tradings de soja, cacau e palma, entre outros, estão exigindo rastreabilidade e os clientes estão buscando produtos de origem sustentável que estejam associados a florestas em pé e outros impactos associados à forma como são produzidos. Há até um mercado crescente para os chamados “superalimentos”, muitos dos quais, como o açaí, são nativos da Amazônia e podem, sim, contribuir para uma floresta em pé que gere renda. Tudo isso está culminando em uma enorme oportunidade de mercado para pequenos agricultores, comunidades de base florestal e pequenas e médias empresas que operam nessas cadeias de valor na Amazônia. Mas, só porque há um aumento da demanda por tais produtos, não significa que as economias da Amazônia estejam prontas ou capazes de atendê-la.

Então, qual é a solução? Não basta simplesmente fornecer aos pequenos agricultores, seus fornecedores ou comunidades rurais e florestais acesso a linhas de crédito ou financiamento. Recursos devem ir lado a lado com a assistência técnica para apoiar e ensinar aos pequenos agricultores como implementar práticas sustentáveis, colocar sistemas agroflorestais em práticas agrícolas e pecuárias e combinar diferentes culturas para fornecer receitas ao longo do tempo e em diferentes estágios de cultivo. Além disso, é também fundamental apoiar o ecossistema que os cerca. Desde as cooperativas que trabalham com pequenos agricultores apoiando-os na coleta sustentável, até a logística e transporte de mercadorias para o mercado, e a colocação da infraestrutura para refrigerar itens ou rastreá-los através da cadeia de valor, a jornada só começa com o apoio aos pequenos agricultores e comunidades de base florestal, mas muito mais é necessário e deve ser fomentado em conjunto. Se não resolvermos as falhas de mercado em torno dos produtores, comuniPLANT PROJECT Nº31

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dades de base agrícola e florestal, canalizar as finanças para a região está fadado ao fracasso. Devemos fornecer, apoiar e fortalecer meios de subsistência alternativos que fomentem um uso sustentável dos recursos naturais e dos quais a comunidade tenha orgulho de fazer parte e onde se sinta confortável trabalhando para ganhar uma vida sustentável. A solução do lado da demanda também é multifacetada, seja com a criação de veículos de investimento que permitam financiamento público e privado (conhecidos como mecanismos de “blended finance”) a fim de preencher a lacuna para empresas e cooperativas que agregam agricultores familiares ou compram seus produtos, seja com o fornecimento do suporte técnico para a implementação de melhores práticas, ou com uma maior organização interna para estruturação de melhores práticas e processos que levem a uma sustentabilidade de fato das corporações que compram desses produtores, levando apoio técnico às suas cadeias para estruturarem melhores práticas e uma melhor governança na região. Certamente não é simples, mas é possível. E vimos que já começou. Muitas empresas que compram, processam e vendem commodities estão agora trabalhando com diferentes players em suas cadeias de suprimentos para melhorar suas estruturas e assim garantir o fornecimento de produtos cultivados de forma sustentável e que gerem valor àqueles que participam destas, construindo conexões

mais próximas com os agricultores e apoiando a implementação de práticas sustentáveis por meio de assistência técnica, finanças e garantia de compra. Os bancos comerciais também estão dando passos nesse sentido buscando formas de facilitar o acesso a financiamento às práticas sustentáveis na região. Alguns exemplos fora do Brasil já implementam mecanismos de assistência técnica associado ao financiamento que concedem, mas tanto em outros países da Amazônia como no Brasil podem ir além, combinando forças com fundos de investimento de impacto focados na região, fornecendo produtos complementares em diferentes pontos das cadeias de fornecimento, combinando esforços em assistência técnica junto aos diferentes players e chegando até comunidades rurais que atuam nessas cadeias, viabilizando assim a produção e o fornecimento de produtos sustentáveis, rastreáveis e sem desmatamento para o mercado. Uma completa integração no fornecimento de produtos sustentáveis. A floresta não está desmatando a si mesma; há incentivos para que as pessoas façam isso acontecer. Mas, se pudermos abordar os incentivos perversos agora, temos a oportunidade de não apenas salvar nossas florestas, mas melhorar as condições atuais para que as comunidades rurais e florestais ao seu redor colham os benefícios de estarem ligadas a cadeias de valor sustentáveis e rentáveis. Só então vamos quebrar o ciclo.

*Tatiana Cneio Alves é diretora de Finanças Sustentáveis e Gestora de Fundos Selva na Palladium. Possui 25 anos de experiência trabalhando com mercados financeiros e ambientais, desenhando mecanismos financeiros e programas para canalizar investimentos em mitigação e adaptação climática na América Latina, com foco no uso da terra. É bacharel em Economia, mestre em Economia e Finanças pela Universidade de São Paulo, e mestrado em Assuntos Internacionais com foco em Finanças Ambientais e Política pela Columbia University.

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Estação de pesquisas de McMurdo, na Antártida: Solo usado nas primeiras pesquisas para cultivo na região

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foto: Shutterstock

As regiões produtoras do mundo

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As regiões produtoras do mundo

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AO INFINITO E ALÉM Mais de 100 anos de agricultura na Antártida estão ajudando cientistas a cultivar alimentos no espaço Por Daniella McCahey*

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foto: DLR German Aerospace Center/Flickr

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escobrir como alimentar as pessoas no espaço é uma parte importante de um esforço maior para demonstrar a viabilidade da habitação humana a longo prazo de ambientes extraterrestres. Em 12 de maio de 2022, uma equipe de cientistas anunciou que havia cultivado com sucesso plantas usando solo lunar reunido durante as missões lunares da Apollo. Mas esta não é a primeira vez que os cientistas tentam cultivar plantas em solos que normalmente não suportam a vida. Sou uma historiadora da ciência antártica. Como cultivar plantas e alimentos nos confins do sul da Terra tem sido uma área ativa de pesquisa há mais de 120 anos. Esses esforços ajudaram a entender ainda mais os muitos desafios da agricultura em ambientes extremos e eventualmente levaram ao cultivo limitado, mas bem-sucedido, das plantas na Antártida. E, especialmente após a

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década de 1960, os cientistas começaram a olhar explicitamente para esta pesquisa como um trampolim para a habitação humana no espaço. PLANTAS EM CRESCIMENTO NA ANTÁRTIDA Os primeiros esforços para cultivar plantas na Antártida foram focados principalmente em fornecer nutrição aos exploradores. Em 1902, o médico e botânico britânico Reginald Koettlitz foi a primeira pessoa a cultivar alimentos em solos antárticos. Ele recolheu um pouco de solo da região do Estreito de McMurdo Sound e o usou para cultivar mostarda e agrião em caixas sob uma claraboia a bordo do navio da expedição. A colheita foi prontamente bem-sucedida. Koettlitz produziu o suficiente para que, durante um surto de escorbuto, toda a tripulação comesse as plantas para ajudar a evitar


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seus sintomas. Este experimento inicial demonstrou que o solo antártico poderia ser produtivo e também apontou para as vantagens nutricionais dos alimentos frescos durante expedições polares. As primeiras tentativas de cultivar plantas diretamente nas paisagens antárticas não obtiveram tanto sucesso. Em 1904, o botânico escocês Robert Rudmose-Brown enviou sementes de 22 plantas árticas tolerantes a frio para a pequena e gelada Ilha Laurie para ver se elas cresceriam. Nenhuma semente conseguiu brotar, o que Rudmose-Brown atribuiu tanto às condições ambientais quanto à ausência de um biólogo para ajudar a iniciar seu crescimento. Houve muitas outras tentativas de introduzir plantas não nativas na paisagem antártica, mas geralmente elas não sobreviviam por muito tempo. Embora o solo em si pudesse suportar alguma vida vegetal, o ambiente hostil não era favorável ao cultivo de plantas. TÉCNICAS MODERNAS E BENEFÍCIOS EMOCIONAIS Na década de 1940, muitas nações começaram a criar estações de pesquisa de longo prazo na Antártida. Como era impossível cultivar plantas lá fora, algumas pessoas que viviam nessas estações decidiram por conta própria construir estufas e assim lhes fornecer comida e bem-estar

emocional. Eles logo perceberam, porém, que o solo antártico era de péssima qualidade para a maioria das culturas além da mostarda e do agrião, e que normalmente perdia sua fertilidade após um ou dois anos. A partir da década de 1960, os pesquisadores começaram a mudar para o método, sem solo, da hidroponia, sistema no qual você cultiva plantas com suas raízes imersas em água quimicamente melhorada sob uma combinação de luz artificial e natural. Usando técnicas hidropônicas em estufas, as instalações de produção de plantas não estavam usando o ambiente antártico para cultivar. Em vez disso, estavam criando condições artificiais. Em 2015, havia pelo menos 43 instalações diferentes na Antártida, onde os

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Base Eden ISS e pesquisador alemão com primeira colheita: plantas cultivadas no ar

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Estufa na base McMurdo e cultivo na Estação Espacial Internacional: lições levadas ao espaço

pesquisadores haviam cultivado plantas em algum momento. Embora essas instalações tenham sido úteis para experimentos científicos, muitos residentes antárticos apreciaram poder comer vegetais frescos no inverno e consideraram que essas instalações trouxeram enormes benefícios para seu bem-estar psicológico. Como disse um pesquisador, elas são “quentes, brilhantes e cheias de vida verde – um ambiente que faz falta durante o inverno antártico”.

foto: Eli Duke/Flickr, CC BY-SA

ANTÁRTIDA: UMA ANALOGIA COM O ESPAÇO À medida que a ocupação humana permanente da Antártida cresceu, em meados do século 20, a humanidade também começou sua investida no espaço – especificamente na Lua. A partir da década de 1960, cientistas que trabalham para organizações como a Nasa começaram a pensar

na Antártida hostil, extrema e alienígena como um lugar análogo conveniente para a exploração espacial, onde as nações podiam testar tecnologias e protocolos espaciais, incluindo a produção de plantas. Esse interesse continuou até o final do século 20, mas foi só nos anos 2000 que o espaço se tornou um objetivo principal de algumas pesquisas agrícolas antárticas. Em 2004, a Fundação Nacional de Ciência e o Centro de Agricultura Ambiental Controlada da Universidade do Arizona colaboraram para construir a Câmara de Crescimento Alimentar do Polo Sul. O projeto foi desenvolvido para testar a ideia de agricultura ambiental controlada – um meio de maximizar o crescimento das plantas e, ao mesmo tempo, minimizar o uso de recursos. De acordo com seus arquitetos, a instalação imitou de perto as

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foto: Daniel Leussler/Wikimedia Commons

condições de uma base lunar e forneceu “um análogo na Terra para algumas das questões que surgirão quando a produção de alimentos for transferida para habitações espaciais”. Essa instalação continua fornecendo à Estação do Polo Sul alimentos suplementares. Desde a construção da Câmara de Crescimento Alimentar do Polo Sul, a Universidade do Arizona tem colaborado com a Nasa para construir um protótipo semelhante de estufa lunar. PLANTAÇÕES EM CRESCIMENTO NO ESPAÇO À medida que as pessoas começaram a passar mais tempo no espaço, no final do século 20, os astronautas começaram a usar as lições de um século de cultivo de plantas na Antártida. Em 2014, astronautas da Nasa instalaram o Sistema de Produção de Vegetais a bordo da Estação Espacial

Internacional para estudar o crescimento das plantas em microgravidade. No ano seguinte, eles colheram uma pequena safra de alface, algumas das quais eles comeram com vinagre balsâmico. Assim como os cientistas da Antártida argumentaram por muitos anos, a Nasa afirmou que o valor nutricional e psicológico dos produtos frescos é “uma solução para o desafio de missões de longa duração no espaço profundo”. A pesquisa antártica desempenha um papel importante para o espaço até hoje. Em 2018, a Alemanha lançou um projeto na Antártida chamado Eden ISS, que se concentrou em tecnologias de cultivo de plantas e suas aplicações no espaço em um sistema semifechado. As plantas crescem no ar, enquanto borrifadores pulverizam água quimicamente melhorada em suas raízes. No

primeiro ano, a Eden ISS foi capaz de produzir vegetais frescos suficientes para compor um terço da dieta para uma tripulação de seis pessoas. Assim como na história antártica, a questão de como cultivar plantas é central para qualquer discussão sobre possíveis assentamentos humanos na Lua ou em Marte. Cientistas abandonaram os esforços para preparar a dura paisagem antártica para a produção de alimentos e recorreram a tecnologias e ambientes artificiais para fazê-lo. Mas, depois de mais de um século de prática e usando as técnicas mais modernas, os alimentos cultivados na Antártida nunca foram capazes de sustentar muitas pessoas por muito tempo. Antes de enviar pessoas a Lua ou Marte, talvez seja sábio provar primeiro que um assentamento pode sobreviver sozinho em meio às planícies congeladas do sul da Terra. PLANT PROJECT Nº31

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Vegetais cultivados da Eden ISS *Daniella McCahey é professora assistente de História na Texas Tech University. Sua pesquisa tenta conectar o continente, os mares e a atmosfera da Antártida a temas da história do mundo moderno. Seu projeto de livro atual investiga o desenvolvimento de programas científicos profissionais nas Ilhas Malvinas e na Dependência de Ross nas décadas de 1950 e 1960, período caracterizado pelo Ano Geofísico Internacional, pela Guerra Fria e pelo declínio do Império Britânico. Este livro examina como as decisões políticas externas britânicas e neozelandesas impactaram a maneira como a ciência foi conduzida na Antártida e as maneiras únicas em que os cientistas confiaram em adaptações comportamentais e tecnológicas para conduzir pesquisas de forma eficaz em ambientes extremos. A dra. McCahey também trabalha em vários projetos menores relacionados à história polar, incluindo a concepção da Antártida como um espaço masculino, as histórias da vulcanologia e da botânica na Antártida e a história da caça às baleias no Oceano Antártico.

foto: DLR German Aerospace Center/Flickr

Este artigo foi republicado de The Conversation sob uma licença Creative Commons. Leia o artigo original em https://theconversation.com/over-100years-of-antarctic-agriculture-is-helping-scientistsgrow-food-in-space-183315

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Vinhedo da Quinta Costa de Cima, debruçado sobre o rio Douro: Base para o projeto dos brasileiros Rubens Menin e Cristiano Gomes

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foto: Divulgação

foto: Divulgação/MWC

A grande feira mundial do estilo e do consumo

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foto: Divulgação/MWC

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UM TESOURO NO DOURO Como, com estilo mineiro, os empresários Rubens Menin, dono da MRV e do Banco Inter, e Cristiano Gomes estão construindo um pequeno império na icônica região vinífera de Portugal Por Luiz Fernando Sá, de Santa Marta de Penaguião

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sinuoso trajeto da rodovia N2 é para se percorrer sem pressa. As vistas da Serra do Marão são generosas, com encostas banhadas de sol e geometricamente desenhadas pelas linhas de parreirais. A subida lenta gera expectativa, assim como a promessa plantada no solo xistoso das montanhas de Santa Marta de Penaguião, um nome que aos poucos ganha destaque no mapa da enologia do Alto Douro, em Portugal. O destino é autoexplicativo: Cumieira, ponto mais alto do município. A vila de algumas centenas de habitantes vive um dia quente e de agitação incomum naquele início de maio. As atenções estão na Quinta do Pontão, uma antiga casa de pedras – numa delas, logo na entrada, a data 1791 denuncia sua idade. Ali viveu, durante séculos, a família Horta Osório, que durante 300 anos vislumbrou lá do alto as vinhas das quais extraía as uvas usadas na produção de seus vinhos. Mas naquele fim de tarde o

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anfitrião vinha de longe, das montanhas de Minas Gerais. “Estamos aqui com a missão de sermos fiéis depositários dessa tradição. Um bom vinho tem de ter história”, afirmou o empresário Cristiano Gomes, um dos novos donos do local, a um pequeno grupo de convidados. “Você não compra o passado, mas pode valorizar esse passado.” O evento na Cumieira marcou, assim, uma transição e um renascimento. A família Horta Osório deixou o antigo negócio, assumido pela Menin Wine Company (MWC), uma jovem empresa com apenas cinco anos de vida, mas grande capacidade de investimento. Gomes, que agora vive em Portugal, é o CEO. Seu sócio na empreitada permanece em Minas, onde comanda um dos maiores impérios empresariais do Brasil. Trata-se de Rubens Menin, dono da MRV, maior construtora do País, do Banco Inter e da CNN Brasil. Desde 2018 Gomes – que havia


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deixado uma bem-sucedida carreira de executivo do mercado financeiro, que culminou com a posição de CFO do Inter – e Menin têm se dedicado ao projeto de deixar sua marca no mercado internacional de vinhos. A H.O, nova identidade da antiga Horta Osório lançada no evento, é apenas mais um passo nessa direção. Até o momento, a MWC já investiu 32 milhões de euros em aquisições, instalações, equipamentos e reformas de vinhedos. “Já temos anunciados outros 30 milhões para os próximos anos”, disse Gomes à PLANT. SEM PRESSA PARA COLHER A empreitada começou em uma conversa despretensiosa durante uma reunião do Conselho de Administração do Banco Inter. Gomes havia deixado o mercado para um período sabático e mudado para Bordeaux, na França, para estudar sobre vinhos, uma de suas paixões. Menin perguntoulhe sobre o tema e o papo acabou em plano de negócios. A tese do investimento era a de produzir vinhos nobres, mas não em regiões viníferas mais consagradas, “onde o custo de exploração era altíssimo e a sensação era a de que estaríamos rasgando dinheiro sem conseguir gerar valor”, segundo Gomes. Durante mais de um ano o empresário pesquisou propriedades em regiões como

Piemonte e Toscana, na Itália; Bordeaux e Borgonha, na França; Napa Valley, na Califórnia (EUA); e até na África do Sul. Até que o Douro apareceu no mapa. “Velho mundo ainda é velho mundo. Dá mais trabalho, é mais caro e é mais artesanal. Mas os preços nas outras regiões eram estratosféricos. Paga-se uma fábula e não tem o que fazer. É só fluxo de caixa, não há lugar para crescer e inovar. No Douro ficamos convencidos de que já existem bons vinhos, mas ainda sem o devido reconhecimento. Aqui ainda podíamos comprar uma propriedade e experimentar, testar cada pedaço de vinha. Não é um projeto de curto prazo, mas com payback em décadas.”

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O Douro’s New Legacy: primeiro rótulo no caminho para um vinho incônico

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O primeiro cheque foi assinado há exatos quatro anos, em junho de 2018, para a aquisição da Quinta Costa de Cima e da Quinta do Sol, ambas na região de Gouvinhas, no Alto Douro. Eram propriedades com vinhas bastante degradadas, sem marca e sem equipamentos de vinificação. Dedicavam-se apenas à venda de suas uvas para a produção de terceiros. Mas havia algo especial: 11 hectares de vinhas velhas, algumas com mais de 120 anos. Era, na definição de Gomes, ao mesmo tempo um tesouro e um problema doloroso do ponto de vista financeiro. Vinhas como essas são muito pouco produtivas, podem não dar uvas

em alguns anos ou chegar a 200 gramas por cacho em outros, enquanto uma videira saudável produz de 4 a 5 quilos. “Era difícil justificar, mas mais do que retorno do investimento, buscávamos qualidades únicas”, diz o empresário. “Encontramos as videiras em que poderíamos buscar esse valor. As raízes, por exemplo, têm de 8 a 15 metros e atingem lençóis freáticos profundos, que lhes dão nutrientes e concentração de sabores especiais. Sabíamos que estávamos fazendo uma opção por baixa produtividade, mas não queríamos qualidade. Queremos chegar a um vinho icônico.” Os primeiros investimentos

foto: Divulgação/MWC

Obra da adega e do hotel da Menin Douro Estates: mais de 32 milhões investidos na região

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nas propriedades foram a construção da adega, para permitir vinificar no próprio local, e recuperar o parreiral. “Dos 42 hectares cultivados, tivemos de replantar um terço, onde as vinhas estavam destruídas”, conta. Também foi feito o georreferenciamento de toda a propriedade e um levantamento das variedades plantadas ali. Foi encontrada uma grande diversidade, com 54 diferentes castas. “Nossa preocupação, então, foi preservar essa diversidade”, diz Gomes. Mudas foram produzidas para preencher as falhas nos parreirais. Elas foram plantadas no sistema de enxertia, usando a técnica chamada de cavalo americano. “É um processo que não demora menos de

quatro anos para começar a produzir”, explica. Outro trabalho importante nos dois primeiros anos foi o desenvolvimento da marca e dos rótulos, que finalmente dariam uma identidade àquele pedaço de chão. E então surgiram os primeiros vinhos com a assinatura Menin Douro Estates, a primeira grife da MWC. Ainda longe do ícone pretendido, mas já à altura de disputar mercado com alguns nomes mais conhecidos do Douro. O Douro’s New Legacy, por exemplo, é comercializado em Portugal a um preço médio de 100 euros. “Ainda não temos nosso vinho topo de gama, mas já podemos mostrar o potencial das nossas vinhas”, afirma. Mas já existem grandes

histórias engarrafadas. Um dos rótulos lançados em 2019, na primeira leva de vinhos da empresa, traz o nome Dona Beatriz. Poderia ser apenas uma homenagem à esposa de Rubens Menin, mas uma coincidência levantada por um historiador contratado para pesquisar o passado daquelas terras apontou que, no século 18, uma outra Beatriz, viúva do então proprietário, ficou responsável pela gestão da quinta, em uma época em que a gestão feminina dos negócios era rara. TRADIÇÃO E INOVAÇÃO No ano passado, com a conclusão da adega Menin, também foram iniciados os trabalhos de vinificação própria, ainda em lotes pequenos, PLANT PROJECT Nº31

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utilizando cubas de até 1.000 litros. Trabalhando em pequenas quantidades, os jovens enólogos do grupo têm tido liberdade para experimentar na combinação das diferentes castas e nos processos de produção. “Não há urgência, mas uma busca permanente pela qualidade”, explica Gomes. O projeto da MDE ganhou, porém, um impulso inesperado quando uma oportunidade bateu à porta dos empresários: um negócio familiar com 300 anos de tradição. O sobrenome Horta Osório já era reconhecido pelo plantio de vinhas nas encostas da Serra do Marão, no Alto Douro. Suas áreas haviam sofrido altos e baixos ao longo dos anos, mas na última década vinham passando por um processo de replantio muito bem executado. Faltava-lhes, no entanto, capital para prosseguir e a empresa foi colocada à venda. Menin e Gomes não hesitaram e arremataram o patrimônio, que, além de 55 hectares de vinhas, incluía uma moderna adega e mais de 150 mil litros de vinhos em sua cave, alguns deles prontos para serem comercializados. Isso, além do tesouro da casa na Quinta do Pontão, no alto da Cumieira. A aquisição permitiu à MWC a ampliação das suas ambições no mundo dos vinhos. A decisão da dupla foi manter duas marcas separadas, cada uma delas competindo em uma faixa diferente do mercado. A Horta

A cave da H.O: nova marca para a empresa de Gomes (no alto) e Menin


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foto: Divulgação/MWC

passeios entre as vinhas. Um wine bar, espaço para jogos e até esportes equestres, muito apreciados pela família Horta Osório, devem funcionar ali. Já na Quinta Costa de Cima, debruçada sobre o Rio Douro, está sendo feito o maior investimento: a construção de um hotel-butique, de categoria

foto: Divulgação/MWC

Osório tornou-se apenas H.O, após passar por um processo de rebranding. “Queríamos manter algo da identidade e da tradição da família, sem nos apropriarmos do seu nome”, explica Gomes. A H.O foi posicionada para ser uma linha de entrada, mais comercial e acessível, com uma gama de vinhos com preços de mercado variando entre 10 e 45 euros. “A proposta de valor é fazer os melhores vinhos possíveis dentro das diferentes faixas de preço”, diz o executivo. Já a Menin Douro Estates disputa os consumidores mais exigentes e dispostos a pagar até 200 euros por uma garrafa. “Será uma linha mais aspiracional, superelaborada.” O ativo imobiliário trazido com a compra na nova propriedade também é complementar ao da aquisição anterior. Com eles, a MWC deve avançar em um projeto voltado para o enoturismo, para o qual já reservou 18 milhões de euros dentro de seu programa de investimentos. A apenas 9 quilômetros de Vila Real, maior cidade da região do Alto Douro, e muito próximo de Peso da Régua, hoje já um destino conhecido internacionalmente pelos apreciadores de vinhos, a casa de 1791 na Cumieira, já em avançado trabalho de restauro, e a moderna adega da H.O., devem atender a visitantes de curta duração, em busca de uma experiência com degustações e

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superior, para enófilos em busca de um destino exclusivo e hospedagem de longa duração – no ano passado, a MWC adquiriu ainda mais uma propriedade vizinha, a Quinta do Caleiro. Segundo Gomes, os projetos envolvem aprovação de três diferentes prefeituras da região e devem ser concluídos em três anos, contados a partir do sinal verde das autoridades locais. O jeito mineiro de trabalhar busca harmonizar com o ritmo e o pensamento das comunidades do Douro. “Somos os recémchegados em um mercado de caras centenárias”, diz Gomes. Uma das preocupações dele e de

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Menin foi criar programas de desenvolvimento que incorporassem e qualificassem a mão de obra da região. Mesmo para as posições estratégicas do negócio, como a equipe de enólogos, foram contratados jovens talentos portugueses: João Rosa Alves lidera a equipe, com consultoria de Tiago Alves de Sousa. “Foi também um reconhecimento de que não sabemos fazer vinhos”, diz Gomes. “Sem pessoas adequadas, não iríamos a lugar nenhum.” Uma amostra do que a combinação do espírito empreendedor e os recursos de Menin e Gomes com a expertise

e a ambição do time responsável pela vinificação foi servida na Cumieira naquela tarde de maio. Jornalistas especializados fizeram a prova de oito rótulos da primeira leva assinada pela H.O. Entre os destaques, o Pontão 2017, um tinto elaborado com um mix do conteúdo das barricas encontradas na cave da Horta Osório, e o Achado 2018, que, como o próprio nome diz, também representa as descobertas entre os tesouros guardados pelos antigos donos e que teve apenas 1.016 garrafas. “Eles marcam a transição de uma empresa familiar para um projeto comercial”, diz Gomes.


Embalagens antigas de manteiga feitas com folhas de flandre: Design aproxima mundo rural das cidades

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foto: Michael Dantas/SEC

Um campo para o melhor da cultura

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Um campo para o melhor da cultura

RÓTULOS DE HISTÓRIA Ao retratar cenas da vida rural, o design de embalagens tenta oferecer vislumbres de um período mais simples, pré-industrialização do Brasil. Mas são poucos os produtos que, de fato, podem se orgulhar de uma longa trajetória na cultura popular Por André Sollitto

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Obras da artista plástica Lotus Lobo base nas embalagens (nesta e nas próximas páginas): exposição homenageou ilustradores brasileiros PLANT PROJECT Nº31

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as gôndolas de supermercados, vale de tudo para tentar destacar um produto dos seus concorrentes. Uma marca forte e tradicional em destaque, cores chamativas ou mascotes carismáticos são algumas delas. Outra, mais sutil, mas bastante eficaz, é fazer referência à vida no campo e à produção rural. São imagens de fazendas e animais que transmitem uma sensação de que o produto é original, feito de maneira tradicional. Não raro, essas embalagens têm um design “retrô”, como se tivessem uma longa história e uma presença longeva no dia a dia da população. Trata-se de um processo de recorrer ao imaginário do campo, uma realidade não tão distante de muitos. “Existe uma percepção de que nos tempos antigos se comia bem, os alimentos não tinham a adição de produtos químicos”, afirma Bruno Brito, fundador do Instituto Arado, iniciativa focada na pesquisa e divulgação do imaginário rural brasileiro. “As marcas recorrem a essa memória que não é muito antiga. A pré-industrialização do Brasil, nos anos 1930, é muito próxima. E até as décadas de 1970, 1980 muitos brasileiros

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ainda tinham dietas ligadas aos tempos pré-industriais, com produtos a granel, por exemplo”, diz ele. Dessa forma, as origens no interior funcionam como uma chancela para que alimentos sejam considerados tradicionais, feitos de acordo com receitas passadas de geração para geração e capazes de refletir o ambiente em que foram produzidos. Em vários casos isso é verdade. Um queijo canastra produzido em Minas Gerais pode ostentar com orgulho sua produção artesanal no rótulo, com direito a desenhos ligados à agricultura familiar. Afinal, é um dos produtos brasileiros que recebem um registro de Indicação Geográfica do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), uma ferramenta coletiva de valorização de produtos tradicionais vinculados a determinados territórios, ou um selo de Denominação de Origem. O mesmo vale para o mel de Ortigueira, no Paraná, a farinha de mandioca de Farroupilha, o café da Região da Serra da Mantiqueira de Minas Gerais ou a cachaça de Paraty, entre outros alimentos certificados. É claro que muitas vezes a indústria


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se apropria desse imaginário para vender produtos absolutamente distantes da produção rural mais tradicional que querem retratar. “Quando olhamos para a agricultura ou a pecuária em escala industrial, os processos são desconectados dos métodos de antigamente. Acho complicado quando não é genuíno ou é algo pasteurizado sem muita personalidade”, diz Brito. Saber diferenciar o que é original do que não passa de storytelling nem sempre é tarefa fácil, especialmente em grandes centros urbanos em que a população já perdeu parte do contato com o ambiente rural. Quando a trajetória de determinado produto é genuína, no entanto, sua embalagem é capaz de contar muitas histórias. “Existem produtos que oferecem uma familiaridade muito grande, falando a respeito do lugar de onde vieram”, afirma Luciano Tardin, designer e coordenador da pós-gradução da ESPM-Rio.

“Eles podem contar como é cozinhar um mingau, ou remeter à infância. São signos a partir dos quais se reconstituem elementos históricos”, diz o especialista. Isso vale também para estilos estéticos marcados pelos momentos em que determinados produtos foram criados. É o caso das embalagens de biscoito Piraquê ou do design art déco da manteiga Aviação, que se tornam cult e, novamente, remetem a um tempo mais simples. Artistas já perceberam há tempos o potencial das embalagens de produtos como fonte de inspiração e diálogo com as sociedades em que foram produzidos. Andy Warhol (1928-1987), que não à toa se tornou uma das principais referências da chamada Pop Art, trabalhou como ilustrador comercial antes de se dedicar à pintura, e suas versões da lata de sopa da Campbell’s se tornaram icônicas porque marcaram um

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Almir Sater, ao centro, com a viola: o músico retorna ao folhetim em um papel diferente, mas a música também tem papel central na trama PLANT PROJECT Nº31

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momento de ruptura na produção artística. Além de trazer o design gráfico de produtos para mais perto do fazer artístico, propôs uma reflexão comportamental sobre hábitos de consumo dos norte-americanos. Existem outros exemplos, inclusive no Brasil. Na exposição Fabricação Própria, que ficou em cartaz no Sesc Pompeia, em São Paulo, até o final de janeiro deste ano, a artista Lotus Lobo revisitou seu acervo de folhas de flandres usadas nas impressões de embalagens de produtos usando litografia, técnica em 108


que os desenhos são gravados em uma matriz e replicados. “Preparar a mostra foi como um grande laboratório em que pude revisar, sob novas perspectivas, todo esse material que reuni. Foram muitos ensaios, com o objetivo de criar conexões e diálogos com as ilustrações dos nossos queridos desenhistas da litografia industrial presentes nas matrizes. Realizei testes durante meses, usando, entre outros insumos, originais em zinco de latas de manteiga, banha, fumo de rolo e biscoito”, afirmou ela na ocasião de lançamento da mostra. Além de propor uma discussão sobre autoria, o resgate de imagens retrata um período da indústria alimentícia brasileira. Em alguns casos, essa história se mantém praticamente inalterada com o passar dos anos e se transforma em memória

afetiva. “De vez em quando, bem de vez em quando mesmo, a gente ainda vê por aí algumas belezas como essas que resistiram à enxurrada de influências estrangeiras e permaneceram nas prateleiras com aquela carinha de Brasil que a gente tanto gosta”, escreve Rafael Quick, responsável pelo Café Jetiboca, de Minas Gerais, e pela Cervejaria Viela, além de colecionador de objetos antigos que faz um trabalho de pesquisa de embalagens do passado. É o caso do Catupiry ou da caixa de Maizena. “São embalagens que não se modernizaram. Ou, se modernizaram, foi apenas em sua fisicalidade, no tipo de material e em capacidade de resistência”, afirma Tardin. “Isso dá a uma embalagem icônica desde o princípio um caráter de originalidade muito PLANT PROJECT Nº31

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grande”, completa. E existem também aqueles produtos cujo design transcende as gôndolas dos supermercados, empórios e vendas e entra de vez para a cultura pop. A embalagem de Maizena, marca americana fundada em 1854 que se tornou fenômeno de vendas no Brasil, é o exemplo mais claro. A cor amarela vibrante, o logotipo e a imagem de indígenas americanos colhendo e preparando o milho não apenas se tornou sinônimo de toda uma categoria, mas foi usado em coleções de itens para casa, de espátulas e xícaras a cadernetas e aventais. O extrato de tomate Elefante, com o personagem Jotalhão, de Mauricio de Sousa, é outro exemplo de embalagem que passou a estampar até almofadas. “Quando tiro uma embalagem da cozinha e coloco na sala, na forma de uma almofada, esse deslocamento acaba realçando algumas qualidades que devem estar nela a priori. São vistos com um olhar nostálgico e se tornam repositórios de afeto”, afirma Tardin. Replicar isso pode ser o sonho de toda marca, mas são raros os casos de sucesso. “Não há uma fórmula, nem há como explicar esse processo de assimilação pela cultura pop”, diz Bruno Brito. “Mas às vezes dá certo e aquele produto acaba acompanhando a jornada da vida da pessoa.” 110


Carne produzida a partir da cultura de células em laboratório: Investimentos bilionários dão impulso ao setor

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foto: Shutterstock

As inovações para o futuro da produção

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As inovações para o futuro da produção

PECUÁRIA NO LABORATÓRIO Seja pela sustentabilidade, para atender novas exigências do mercado, seja para ajudar o mundo a alimentar 10 bilhões de pessoas até 2050, o cultivo de proteína animal em ambiente controlado deve transformar o consumo nos próximos anos Por Daiany Andrade

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em cara de bife, textura de bife e DNA de bife. Mas sua produção começou bem longe das pastagens e dos confinamentos que fornecem seus animais para os frigoríficos. Desenvolvida a partir do cultivo, em laboratório, de células de animais, uma nova alternativa às carnes tradicionais está movimentando bilhões em investimentos ao redor do mundo. Inclusive no Brasil, onde estão as maiores empresas de proteína animal do mundo. JBS e BRF, gigantes do setor, já fizeram suas apostas nas chamadas lab grow meats, as carnes produzidas em laboratório, ambas em parceria com startups estrangeiras. A primeira acaba de anunciar a abertura de um laboratório exclusivo para desenvolvimento nessa área, após assumir o controle da espanhola Biotech Foods, parte de um plano de investir US$ 100 milhões na área. O local escolhido foi Florianópolis. Já a BRF optou por investir na Aleph Farms, empresa israelense pioneira no setor.

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Entram, assim, numa disputa que promete se tornar intensa entre as potências globais da indústria de alimentos. Segundo um relatório do Good Food Institute (GFI), especializado em análises das tendências no universo da comida, entre 2016 e 2019 foram investidos US$ 166 milhões em startups voltadas para o desenvolvimento de carnes de laboratório (incluindo espécies bovinas, suínas, aves, peixes e até crustáceos). No ano passado, esse volume já estava em US$ 1,38 bilhões, com sucessivos recordes de captações feitas por novas companhias. Em dezembro passado, a também israelense Future Meat Technologies levantou US$ 347 milhões em investimentos, numa rodada em que participaram pesos-pesados como a Tyson, uma das maiores indústrias de carnes dos Estados Unidos, e a ADM, gigante do setor de grãos e nutrientes. A Tyson também está no grupo de investidores que, em abril deste ano, bateu


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o recorde da Future Meat e aportou US$ 400 milhões na americana Upside Foods. Também participou dessa rodada a Cargill. Em ambos os casos, os planos são ambiciosos. A Future Meat anunciou que usará os recursos para identificar locais para construir laboratórios nos Estados Unidos para escalar a produção e, assim, cortar pela metade o custo de seus peitos de frango cultivados. A Upside também pretende construir plantas capazes de produzir milhares de toneladas de carne por ano. Ainda segundo o relatório do GFI, 21 novas empresas de carnes cultivadas foram criadas em 2021 em todo o mundo, elevando o total para 107, inclusive no Brasil, no México e na África. Há diversidade de abordagens e de mercados entre elas. A japonesa BlueNalu, por exemplo, focou em cultivar células de frutos do mar e, de acordo com reportagem do site SmartBrief, anunciou uma parceria com a rede de restaurantes de sushi Food & Life para produzir e colocar no mercado uma série de produtos, a começar por uma versão cultivada de carne do valioso atum azul. PROCESSO COMPLEXO A produção de carnes em laboratório é complexa e ainda bastante cara. Ela começa com a obtenção de células de alta qualidade de animais, porém sem a necessidade de abate.

Essas células são cultivadas fora do corpo do animal com o fornecimento de nutrientes e ambiente propício para o seu desenvolvimento. O processo automatizado e o ambiente estéril eliminam a necessidade de antibióticos e reduz muito o risco de qualquer tipo de contaminação. Estudos atuais mostram que o cultivo de proteína animal tem potencial para reduzir expressivamente a emissão de gases de efeito estufa, diminuir em mais de 90% o uso de terras para a criação de animais e em até 50% o consumo de água. São resultados como estes que têm atraído a atenção dos principais grupos que atuam na produção de proteína animal. “Globalmente, relatórios de mercado para carne cultivada sinalizam para um mercado com taxa de crescimento anual composta (CAGR) acima de 15% ao ano, até 2032”, destaca Rafael Vivian, chefe de Transferência de Tecnologia da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia. O instituto de pesquisas de mercado americano Polaris Market Research estima que o mercado global da categoria deve atingir US$ 499 milhões em 2030, três vezes o valor negociado no ano passado. Mais do que a demanda, os desafios enfrentados pelo setor são a capacidade instalada – que exige altos investimentos em equipamentos de última geração – e regulatórios. O primeiro, com

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Unidade de produção da Upside Foods: desafio é ganhar escala

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o dinheiro dos investidores continuando a alimentar a cadeia, parece até mais simples de superar. Nos Estados Unidos, por exemplo, a empresa Good Meat anunciou que vai construir a maior fábrica de carne cultivada do mundo, que deve entrar em operação em 2024. “A entrega de biorreatores e outros insumos críticos enfrentou atrasos devido ao aumento da demanda por produção de vacinas do setor farmacêutico, bem como outras carências a montante. No entanto, a categoria de carne cultivada fez um enorme progresso em 2021, atingindo marcos importantes e se aproximando de todo o seu potencial de reimaginar nosso sistema alimentar global ”, diz o relatório do GFI. Os progressos nos processos regulatórios, porém, não são assim tão rápidos. Autoridades americanas discutem, por exemplo, como a nova categoria

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deve ser rotulada, numa discussão que começou quando produtores de leite questionaram o uso da palavra por empresas que produzem alternativas à base de plantas. O debate, antes restrito aos concorrentes de origem vegetal, ampliou-se para as carnes resultantes de cultivo de células. O Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) abriu, em conjunto com o Food and Drugs Administration (FDA) – órgão responsável pelo registro de medicamentos e alimentos no país –, um processo para avaliar como esses produtos devem ser descritos nos rótulos das embalagens, especialmente em comparação com produtos efetivamente derivados de animais. Quais termos funcionam melhor para esse tipo de produto? Quais termos seriam enganosos? PESQUISA NO BRASIL No Brasil, a Embrapa tem alguns projetos relacionados ao tema. A unidade de Recursos Genéticos e Biotecnologia, em Brasília, conta hoje com infraestrutura avançada para biofabricação 3D/4D, incluindo salas de cultivo de células, bioimpressoras 3D, biorreatores, além de know-how de equipe técnica altamente qualificada para o desenvolvimento de projetos de PD&I visando ao desenvolvimento de produtos e processos inovadores na área de agricultura celular, incluindo carne cultivada.


“A unidade tem priorizado trabalhos relacionados aos substituintes proteicos, olhando para o mercado vegano e vegetariano, os quais são crescentes. [...] Porém, a produção de proteína a partir do cultivo de células animais ainda é pouco explorada e carente de muitas pesquisas para superar os atuais desafios tecnológicos e regulamentares”, afirma o chefe de Transferência de Tecnologia da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, Rafael Vivian. Ele acredita que, para o Brasil, com um rebanho bovino maior que a própria população, as pesquisas são sempre importantes para o avanço da ciência e desafio tecnológico. “Contudo, os números quanto aos custos de produção e demanda do mercado são escassos e ainda

carecem de muita informação.” Para o pesquisador, as expectativas são positivas, mas sem a pretensão de substituir a produção de carne bovina em sistemas produtivos sustentáveis como aqueles recomendados pela Embrapa para a Integração Lavoura Pecuária e Floresta (ILPF). “Nossas áreas de pastagem são extensas e, quando bem manejadas, permitem produção de alta qualidade e de custo favorável à margem de receita líquida. Devemos lembrar que nos últimos anos o rebanho brasileiro aumentou cerca de 300%, enquanto a produção de carne ficou acima de 600%, com redução da área de pastagens. Ou seja, a eficiência produtiva tem sido favorável e avança rumo à sustentabilidade”, destaca Rafael Vivian.

Outro aspecto importante que deve ser considerado é a cultura de consumo do brasileiro, que é apaixonado por um bom churrasco. “São aspectos que transcendem apenas a dieta proteica e estão relacionados aos costumes e preferências da população, sem falar dos aspectos éticos, ainda questionáveis”, justifica o chefe de Transferência de Tecnologia. Ele também reconhece que alguns fatores influenciam positivamente este mercado, como a progressiva mudança de hábitos alimentares dos consumidores em prol da saudabilidade. Um exemplo são os que necessitam de dietas proteicas controladas. “Dentre as vantagens está a possibilidade de ser um método alternativo para a produção de carne em comparação à forma PLANT PROJECT Nº31

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tradicional de produção animal que muitas vezes necessita de grandes áreas para pastagens, além dos aspectos relacionados às mudanças climáticas, devido à liberação de metano pelos animais”, explica. De acordo com a também pesquisadora da Embrapa Daniela Bittencourt, “existe uma preocupação crescente em relação ao bem-estar animal nos ambientes de produção e abate, para a qual a produção em laboratório dispensa questionamentos”. Outras vantagens estão relacionadas à segurança alimentar, a diminuição do

Porto, da JBS: primeiro laboratório no Brasil

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uso de antibióticos em animais e melhor acesso à carnes exóticas, incluindo canguru, zebra e tartaruga. “A principal desvantagem no momento é o elevado custo de produção devido à necessidade de infraestrutura e meios de cultura específicos para o cultivo de células. Também discute-se a necessidade de melhorias nos utensílios utilizados para sua produção, que muitas vezes são constituídos de plástico, também nocivo ao meio ambiente. Vale lembrar ainda sobre os aspectos regulatórios que devem ser discutidos, não apenas no Brasil, mas globalmente”,

concluem os pesquisadores. Há muitas perguntas a serem feitas nesse mercado tão novo, mas parece haver pelo menos algumas certezas: a pecuária de laboratório veio para ficar, mas não deve extinguir o trabalho nas fazendas espalhadas pelo mundo. Com uma demanda global crescente por proteínas e uma preocupação cada vez maior com a sustentabilidade na produção, a convivência do modelo tradicional e a inovação na sua produção deve ser complementar. Confira nas entrevistas a visão dos executivos brasileiros envolvidos nesse mercado.


“É ESSENCIAL AUMENTAR A PRODUÇÃO DE ALIMENTOS” JBS VAI INSTALAR PRIMEIRO CENTRO DE PESQUISAS PARA PRODUÇÃO DE PROTEÍNA CULTIVADA NO BRASIL

Além de assumir o controle da espanhola Biotech Foods, uma das líderes no desenvolvimento de biotecnologia para a produção de proteína cultivada, em 2021, a JBS também vai instalar o primeiro centro de pesquisas com foco neste segmento no Brasil. Está previsto o investimento de US$ 60 milhões na construção do JBS Biotech Innovation Center, em Florianópolis, Santa Catarina. Somando a aquisição, o aporte da companhia atinge US$ 100 milhões para alcançar a meta de se consolidar como um player relevante neste mercado. Na entrevista a seguir, o presidente do futuro JBS Biotech Innovation Center, Luismar Marques Porto, conta detalhes dos investimentos e reforça que o objetivo não é substituir as formas tradicionais de produção de carne, mas sim traçar uma estratégia de complementariedade para atender ao desafio global de alimentar cerca de 10 bilhões de pessoas, até 2050, segundo estimativas da Organização das Nações Unidas (ONU). Onde será instalado e quais os planos para o JBS Biotech Innovation Center, aqui no Brasil? É o primeiro investimento desse tipo do grupo? O JBS Biotech Innovation Center será o primeiro Centro de Pesquisas com foco no desenvolvimento de tecnologia para a produção de proteínas cultivadas do Brasil. Ele chega para consolidar a estratégia da JBS no setor e tem como missão ser um centro de excelência para o desenvolvimento de novas tecnologias na área de biotecnologia de alimentos. O complexo será instalado em um terreno de 40 mil metros quadrados no Sapiens Parque, parque tecnológico localizado em Florianópolis, Santa Catarina. No espaço serão construídos laboratórios

especializados, parte de um novo centro de PD&I de 10 mil metros quadrados de área construída, com possibilidade de expansão para futuros projetos da JBS. O complexo de PD&I terá uma estrutura inicial com laboratórios especializados para o desenvolvimento de tecnologia 100% nacional para a produção de proteína cultivada. A JBS escolheu Florianópolis para construir o Centro de Pesquisas, pois entende que a cidade conta com atributos reconhecidos internacionalmente para ajudar a atrair pesquisadores brasileiros que hoje estejam fora do País e queiram contribuir com o desenvolvimento de tecnologia nacional, e também vem evoluindo como um polo de tecnologia, um verdadeiro hub de inovação. Quanto o grupo JB S tem investido neste segmento? Há investimentos feitos também com outras empresas que já atuam nesse mercado? O investimento da JBS no mercado de proteína cultivada é, de longe, o mais relevante entre as empresas brasileiras. No total, a previsão é de mais de US$ 100 milhões nos próximos anos em aportes para a consolidação da companhia nesse segmento. São duas ações complementares: a construção do Centro de Pesquisas em Santa Catarina, no qual a empresa está investindo US$ 60 milhões, e a aquisição do controle da empresa espanhola Biotech Foods, por US$ 41 milhões. A empresa conta com apoio e financiamento do governo espanhol e da União Europeia. O aporte da JBS prevê a expansão da Biotech, que já opera uma planta-piloto na cidade de San Sebastián, na Espanha, e tem a expectativa de alcançar a produção comercial em meados de 2024, PLANT PROJECT Nº31

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com a construção de uma unidade fabril com capacidade de 1 mil toneladas por ano. Qual a expectativa com esse mercado em termos de demanda e negócios? Quais fatores devem estimular esse segmento? Os investimentos da JBS para o desenvolvimento do mercado de proteína cultivada são parte do esforço para garantir a disponibilidade de alimentos para 10 bilhões de pessoas no planeta até 2050. É essencial aumentar a produção de alimentos para

dar conta dessa demanda global. Para dar conta de alimentar essa crescente população mundial e atender a essas novas tendências, temos de olhar para opções alternativas de proteínas e entendermos que a proteína cultivada também é uma importante tendência em um futuro próximo. Importante ressaltar que não é um investimento em substituição, mas em complementariedade. A empresa entende que os modos tradicionais de produção de proteínas também são essenciais para o futuro.

“É UM MERCADO EM FRANCA EXPANSÃO” BRF INVESTE EM STARTUP ISRAELENSE PARA A PRODUÇÃO DE CARNE CULTIVADA

A BRF foi a única empresa brasileira de alimentos a participar da segunda rodada internacional de investimento da Aleph Farms, startup israelense e um dos principais players mundiais em carne cultivada, desenvolvida a partir de células bovinas não geneticamente modificadas. A BRF investiu US$ 2,5 milhões na operação, somando-se a outras corporações e pessoas físicas. “É um mercado em franca expansão e queremos liderar essa transformação na forma de consumir proteínas. Acreditamos que esse investimento e a parceria estratégica com a Aleph Farms representam o futuro da nossa relação com a indústria alimentícia e contribuem para potencializar startups que estão na vanguarda da transformação”, afirmou Marcel Sacco, vice-presidente de Novos Negócios da BRF, na divulgação oficial da empresa sobre o empreendimento. Em entrevista à PLANT, o gerente executivo de 120

Inovação e Novos Negócios, Demetrio Teodorov, fala sobre os planos da BRF ao investir na empresa israelense, parceria que visa à distribuição de proteínas cultivadas pela startup com exclusividade no Brasil. Ele aponta o potencial desse mercado, que deve representar um terço da demanda global por proteína animal até 2040, e o ciclo produtivo de até quatro semanas, como algumas das principais vantagens do segmento. Além deste investimento com a israelense Aleph Farms, há outros investimentos nos planos da BRF, no segmento de carne cultivada em laboratório? Por enquanto, a BRF está direcionando seus esforços na parceria firmada em março de 2021 com a Aleph Farms, startup israelense que desenvolve proteínas em laboratório a partir das células animais. O acordo visa o desenvolvimento e a produção de


Teodorov, da BRF: investimento em startup israelense

carnes cultivadas usando a produção patenteada da Aleph Farms e a distribuição de proteínas cultivadas pela startup com exclusividade no Brasil. Em julho de 2021, a BRF aportou US$ 2,5 milhões na segunda rodada internacional de investimento da startup para dar mais um passo em seu plano de atender à crescente demanda dos consumidores por novas e alternativas fontes de proteína, trazendo tecnologias inovadoras para o Brasil. Essa parceria fortalecerá a geração e diversificação de negócios para atender às crescentes demandas dos consumidores por uma maior variedade de proteínas alternativas. Além do potencial comercial no mercado brasileiro, essa parceria também reforçará os compromissos de sustentabilidade, inovação e segurança alimentar adotados pelas duas empresas. Qual a expectativa para esse mercado em termos de demanda e negócios aqui no Brasil? Estima-se que o mercado de carne cultivada represente um terço do mercado global de proteínas animais até 2040. Os produtos à base de carnes cultivadas mantêm as qualidades culinárias e sensoriais da carne que sempre amaram, eliminando a necessidade da grande mudança comportamental de remover a carne como parte central de nossas dietas. Consideramos a carne cultivada como mais uma

alternativa às fontes de proteínas disponíveis, para atender os novos perfis de consumidores que estão cada vez mais engajados em promover mudanças e acreditam na responsabilidade social compartilhada, exigindo uma gestão mais sustentável, transparente e ecossistema equitativo por parte das empresas. Essas gerações são leais às marcas que são engajadas e conscientes. A BRF continua trabalhando em três frentes – regulatório, tecnologia, aculturamento do consumidor, e seguimos nosso planejamento conforme nós já apresentamos. Nos próximos anos, poderemos já colocar um produto no mercado, que representaria uma grande evolução.    Quais as vantagens para o mercado ao investir na produção de carne cultivada, tendo em vista a atual agenda ambiental do Brasil e do mundo? Segundo a Aleph Farms, o processo de carne cultivada leva de 3-4 semanas para concluir seu ciclo, comparado aos 24 meses do processo natural de pecuária bovina. Do ponto de vista de sustentabilidade: estudos mostram que a carne cultivada reduz o uso da terra em 95% e as emissões de gases em 74 a 87%. Apesar de exigir forte consumo de energia, para aquecimento de biorreatores e instalações operacionais, essa demanda pode ser atendida ou compensada com a utilização de energia renovável. PLANT PROJECT Nº31

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A REAÇÃO “PLANT BASED” O mercado de proteínas alternativas à base de plantas (ou plant based, no termo importado dos Estados Unidos) consolidou-se na última década como uma realidade. Marcas pioneiras no desenvolvimento de produtos que usavam soja, ervilha e outros grãos na produção de substitutos para carnes, leites e ovos ganharam espaço nas prateleiras e nas carteiras de investimentos. Nomes como Impossible Foods, Fazenda Futuro, NoCo, Beyond Meat, Just Mayo, entre outros, tornaramse conhecidos dos consumidores e romperam a bolha dos veganos e vegetarianos, um nicho que representa algo entre 3 e 5% da população. “Esse mercado deu um boom nos últimos anos por conta dos flexitarianos, pessoas que ainda consomem carnes e lácteos, mas estão procurando a substituição parcial ou total em algum momento”, afirma Tiago Coroa, gerente de Serviços Técnicos e Desenvolvimento da ADM. Para continuar crescendo, porém, as empresas do setor perceberam que precisam seguir evoluindo. Com o avanço das carnes de células cultivadas e a demanda do mercado por experiências 122

ainda mais similares ao consumo das proteínas tradicionais, elas abriram novas frentes de pesquisa que devem resultar em uma nova gama de produtos no mercado nos próximos anos. Segundo Coroa, “a evolução está na busca pelo que podemos chamar de cortes inteiros ou pedaços de músculo, o ‘whole muscle’”. A ideia, diz ele, é entregar para o consumidor alguma coisa que remeta a um bife ou pedaço de carne, em vez de alimentos processados como hambúrgueres e almôndegas. Engenheiro de alimentos e especialista nesse mercado, Coroa aponta três principais vertentes que buscam entregar esse tipo de produto ao consumidor. • A primeira é a carne fermentada cultivada em laboratório, que parte do cultivo, de fermentação, em condições controladas, para construir pedaços de carne. “Na maioria das empresas esse cultivo parte de uma célula que foi retirada do animal”, afirma. • A segunda vertente são os produtos produzidos a partir de extrusão úmida, processo pelo qual é feita, por exemplo, a carne de soja que já existe no mercado há muito tempo. “Na extrusão, você parte de


FoodTech

S

Coroa, da ADM, e planta de pesquisas da empresa

uma fonte proteica, geralmente soja, e a leva para um tubo aquecido com uma rosca sem fim dentro. A massa proteica é empurrada através desse tubo, que tem temperatura e pressão bem altas, e no final ela passa por um pequeno orifício. Ao sair do tubo, o produto sofre uma queda brusca de temperatura e pressão e toda a água que tinha contida é evaporada instantaneamente. Quando a água evapora, esse produto expande. Assim que é feita a proteína texturizada de soja. Esse processo já evoluiu muito. A próxima etapa é a extrusão de alta umidade. O que acontece é que esse produto tem tanta umidade dentro dele que ele não expande da forma como conhecemos. Ele será alongado por dentro e vai começar a formar fibras, e você terá um produto que remete mais a um peito de frango, por exemplo. A extrusão de alta umidade é uma das tecnologias para se chegar ao whole muscle. Ainda precisa evoluir muito, os produtos não são exatamente similares à carne e ao frango, mas é uma tecnologia que é usada.” • A terceira tecnologia é tentar combinar

diferentes tecnologias para formatar um pedaço de carne. “Temos produtos que estamos desenvolvendo que são um filé de frango ou um cubo de carne unindo tecnologias. Unimos a extrusão com tecnologias de ingrediente e de moldagem para chegar a um produto que se assemelha em textura e formato a um pedaço de carne e que seja mais simples de produzir.” A extrusão de alta umidade e a carne cultivada ainda são consideradas tecnologias muito complexas, com alto custo e dificuldades para escalar a produção. Por esse motivo, a principal aposta da ADM atualmente é a combinação de tecnologias como caminho para chegar mais rapidamente a alternativas vegetais ao pedaço de carne. “A questão é essa curva de custo. Quando começamos um processo novo, até a indústria aprender como trabalhar com ele, os custos vão ser mais altos e serão precisos alguns anos para chegar a produtos que consigam competir com o preço da carne”, explica. PLANT PROJECT Nº31

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M MARKETS

DATAGRO Markets

PROCESSAMENTO DE GRÃOS PARA ENERGIA ALAVANCA A PRODUÇÃO DE ALIMENTOS Po r Pl i n i o N a s t a r i

Ao contrário do que algumas análises precipitadas sugerem, a industrialização de milho e de soja para fins energéticos tem alavancado a produção de alimentos, pelo estimulo que confere ao aumento da oferta. Obviamente isso ocorre quando não há maiores restrições ao uso de recursos naturais, solo e água, de forma sustentável para que ocorra essa expansão. Exemplo dessa reação tem sido observado no Brasil com o processamento de milho para a produção de etanol e seus co-produtos, DDGS e óleo de milho, que aumentam o valor do grão nas regiões em que são produzidos. Mais especificamente, uma tonelada de milho gera cerca de 430 litros de etanol hidratado, 289 kilogramas de DDGS e 7,5 kilogramas de óleo. Se o preço pago pelo milho for 70 reais por saca de 60 kg, o custo da matéria prima é de

R$ 1166,67 reais por tonelada. Considerando preços ao produtor para o etanol hidratado de R$ 3,10 por litro, para o DDGS de R$ 1800 por tonelada, e para o óleo de R$ 7,5 por litro, a receita com os produtos industrializados é de 1909,45 reais por tonelada. Os custos dessa industrialização precisam serem pagos e amortizados, mas enquanto a atividade for viável do ponto de vista empresarial, a realidade é que a agregação de valor estimula o aumento da produção de milho, principalmente o milho segunda safra produzido na mesma área após a colheita da soja, ou até o aumento da safra de milho de verão.

Com o confinamento de bovinos, a intensificação da pecuária libera áreas de pastagem para o aumento da produção de grãos, promovendo um virtuoso ciclo de desenvolvimento, transformando produto primário em proteína, com ganhos de logística e renda. Não é por outro motivo que a produção de etanol de milho no Brasil saltou de 141 milhões de litros na safra 2015/16, para 3,47 bilhões de litros em 2021/22 (+2360,9%), e projetados 4,60 bilhões de litros em 2022/23. No mesmo período, de 2015/16 a 2021/22, a área colhida total com milho passou de 15,75 para 22,23 milhões de hectares (+41,14%), e a produção total de milho passou de 76,22 para 114,23 milhões de toneladas (+49,87%).

!"#$%&'()"#!*&"%$$*+,*&#-./",01!#*&)*&2%"*34/& )#$,"#56()*&)%&%1%"2#*&)%&5#/-*$$* & %&"%$()6/$& O mesmo fenômeno ocorre com a industrialização da soja para a produção de farelo e óleo. O farelo de soja e o DDGS são utilizados como ração para confinamento de bovinos, suínos e aves.

O mesmo comportamento tem sido observado em outras geografias onde a agricultura energética é aliada da produção de

Plinio Nastari é presidente da DATAGRO e do IBIO, Instituto Brasileiro de Bioenergia e Bioeconomia.

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alimentos e dá suporte à sua produção sustentada. Na Índia, o governo local acelerou o atingimento da meta de mistura de 10% de etanol na gasolina, passando de 3,5% em 2018/19 para 11,2% em 2021/22. Também, antecipou a meta de mistura de 20% de etanol na gasolina de 2030 para 2025, já iniciando em 2023 em alguns estados, e autorizou a venda de veículos flex e a distribuição de etanol puro nos postos de revenda. As biomassas utilizadas são a cana e o milho. Na safra 2021/22, a produção de açúcar foi recorde, com 36,0 milhões de toneladas, além de outras 3,4 milhões de toneladas de açúcar transformadas em etanol. O mesmo interesse está surgindo no Paraguai, na Argentina, na Guatemala, na Indonésia e em Angola. A realidade é que a biomassa como fonte de energia para transporte tem uma ampla aplicação em diversos países, como estratégia para redução da dependência energética por derivados de petróleo, redução da poluição local e das emissões de gases do efeito estufa, e

principalmente como eficaz política de desenvolvimento econômico e social. A experiencia brasileira indica que o sucesso dessa estratégia depende da disponibilidade ou vocação para a produção de matérias primas capazes de suprir a geração de energia renovável de biomassa e a consistência e segurança oferecida pelas políticas públicas voltadas ao seu desenvolvimento. Uma solução inicial mais simples e direta é o estabelecimento de mandatos de mistura ou de uso de renováveis, como o programa implementado nos Estados Unidos através do Renewable Fuels Standard. Porém, no médio e longo prazo, é recomendável a criação de regulações que criem metas de eficiência energética e ambiental aliadas a sistemas de certificação que reconheçam e premiem o atingimento de graus de eficiência cada vez maiores.

preços aos consumidores, com sustentabilidade certificada. O RenovaBio, aprovado pela Lei 13576 de 2017 no Brasil, é exemplo deste tipo de regulação que, de forma moderna, tem permitido a precificação de carbono em mercado, prevendo uma redução de emissão de 718 milhões de toneladas de CO2 equivalente até 2031.

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No momento em que a elevação do preço do petróleo e seus derivados assombra o mundo, no Brasil a produção de etanol mostra o seu papel estratégico disponibilizando aos consumidores produto avançado, renovável e certificado a preços vantajosos e competitivos, ajudando também a aumentar a oferta de alimentos.

É através desses mecanismos que será estimulado o desenvolvimento e implementação de inovações e, consequentemente, a redução de custos e de

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