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Márcio Henrique Pereira Barbosa

Márcio Henrique Barbosa

Márcio Henrique Pereira Barbosa Professor de Melhoramento de Plantas da UF-Viçosa Ridesa: genética avançada para energia, álcool e açúcar

A Ridesa, Rede Interuniversitária Para o Desenvolvimento do Setor Sucroalcooleiro, desenvolveu cultivares que, atualmente, ocupam 57% da área cultivada com cana-de-açúcar no Brasil. A base para produção de energia, álcool e açúcar são as cultivares de cana. E todas as cultivares desenvolvidas no Brasil foram obtidas, por meio de técnicas clássicas de melhoramento genético. Isso é um fato. Não podemos ignorar o avanço da produtividade, obtido por meio do melhoramento genético clássico.

A produtividade de colmos vem crescendo desde 1974, na proporção de 761 kg/ha/ano, representando incremento de 1,5% ao ano. Este percentual é semelhante àqueles relatados no Brasil e no mundo, para outras culturas de importância econômica. Com base em artigos científicos, estima-se que, em média, 50% do ganho em produtividade, observado ao longo dos anos, é resultado da substituição contínua de cultivares, ou seja, devido ao melhoramento genético clássico.

Para caráter quantitativo, governado por muitos genes, como produtividade de colmos, deve-se empregar o método clássico de melhoramento genético, denominado “Seleção Re- corrente”. Por meio deste, é possível aumentar gradativamente a frequên- cia dos alelos (genes) favoráveis a cada ciclo de seleção. Este tem sido o método responsável pelo aumento da produtividade de todas as culturas de importância econômica para a humanidade. Portanto, fica evi- dente a contribuição do me- lhoramento clássico, para aumentar a produtividade e a qualidade das culturas e atender à demanda mun- dial crescente por alimentos e energia.

E os transgênicos? Onde se enquadrariam nesse cenário? Técnicas de engenharia genética são importantes para resolver problemas pontuais de um ou poucos genes. É o caso do gene Bt e outros já conhecidos e utilizados no Brasil. Porém, de nada adianta ter o gene, se não houver uma cultivar produtiva, desenvolvida via melhoramento genético clássico, de modo que se possa inserir nela um ou poucos genes de interesse. Um método não exclui o outro. Deve haver um sinergismo e investimento de recursos, tanto em métodos de melhoramento clássico, como para desenvolvimento dos transgênicos. Portanto, cuidado com promessas divulgadas frequentemente na mídia sobre aumento em produtividade, via transgênicos. Como ressaltado anteriormente, a regra é: usar métodos de melhoramento genético clássico (seleção recorrente), para caracteres complexos, governados por muitos genes. A RB867515 é um dos exemplos de maior sucesso da Ridesa. Este clone foi criado na Universidade Federal de Viçosa, por meio de métodos clássicos de melhoramento. E atualmente ocupa mais de um milhão de hectares cultivados com cana no Brasil. Esta cultivar tem sido a melhor opção para manejo em solos de baixa fertilidade natural e de textura arenosa no cerrado brasileiro. O Programa de Melhoramento Genético da Cana-deAçúcar - PMGCA, da UFV, tem como ponto forte a parceria com as empresas produtoras de energia, álcool e açúcar, em Minas Gerais. As usinas e as destilarias têm participado ativamente do desenvolvimento de cultivares, desde as eta- pas iniciais do programa. Logo, a adoção e o manejo das no- vas cultivares acontecem de maneira facilitada, tendo em vista o fato do produtor participar ativamente do desenvolvimento da tecnologia. É um modelo perfeito de parceria públicoprivada. Ambos parceiros ganham: as universidades por cumprir seu papel no ensino, pesquisa e extensão, e as empresas pela lucratividade do negócio, dado o aumento em produtividade e menor uso de produtos químicos, para controle de doenças.

Entretanto, os recursos aplicados em pesquisa e formação de recursos humanos ainda têm sido muito modestos em nosso país. Segundo levantamento do Grupo de Países Latinoamericanos y del Caribe Exportadores de Azúcar, Geplacea, os investimentos em pesquisa no Brasil têm sido inferiores a países como Barbados, Guatemala e Colômbia. Estes países têm investido, em média, 1,5 dólar, por tonelada de açúcar produzido. Países como Austrália e Mauritius investem cerca de 3 dólares. No Brasil, investe-se cerca de US$1,2, por hectare. Portanto, para que o Brasil mantenha-se competitivo no setor de energia e açúcar, seriam necessários mais investimentos privados e públicos em genética clássica e avançada, assim como em pesquisa básica e inovações tecnológicas, em toda cadeia produtiva. Apenas recentemente, o governo federal despertou novamente o interesse nesse tema, tendo criado a Embrapa Agroenergia e incentivado pesquisadores de universidades e institutos para executarem projetos de pesquisa em agroenergia (edital CNPq e outros). Antes tarde do que nunca. Mesmo assim, as riquezas na- turais e a competência dos milhares de pesquisadores em nossas univer- sidades e institutos de pesquisa têm permitido, mesmo com recursos limi- tados, o desenvolvimento de tecnolo- gias, dentre elas as cultivares de ca- na, garantindo nossa posição de destaque mundial. Um cenário promis- sor é aquele da biologia avançada. Tais projetos são fundamentais para o desenvolvimento de ferramentas, para o melhoramento genético clás- sico, como os marcadores molecu- lares, especialmente o uso de SNPs - Single Nucleotide Polymorphism, DArT - Diversity Array Technology, mapeamento de QTLs e aqueles de expressão (eQTLs), Ecotilling, transcriptoma, promotores induzidos temporalmente e espacialmente, proteômica, metabolômica, genômica fun- cional, bioinformática e, por fim, a transgenia (superexpressão e silenciamento gênico). Técnicas promissoras e que estão sendo aplicadas no melho- ramento genético clássico no Brasil.