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mento que só pode ser prazeroso – uma “bênção” ou “reconhecimento da mulher”. Socialmente falando, situa a especialista, isso impõe uma espécie de desautorização ao sofrimento psíquico da mãe. O reconhecimento da existência do sofrimento em si torna-se difícil às mulheres de todas as classes sociais, enfatizou ela.
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“É preciso desconstruir o mito do amor materno [que associa este sentimento a um instinto ou tendência feminina inata], como se não houvesse uma justificativa social aceitável para falar de depressão. Há um aniquilamento dessa possibilidade de discurso que inviabiliza o relato sobre o sofrimento”, alertou a psicóloga.
Sobre os comprometimentos que uma mãe em sofrimento intenso pode trazer à criança, Juliana detalhou que, quanto maior o embotamento afetivo desta mulher – um transtorno típico do quadro depressivo em que há dificuldade de expressar emoções e sentimentos –, pior é sua capacidade de cuidar.
“Em relatos de depressão diagnosticada, percebe-se a mulher com menor capacidade de vinculação com o bebê. Sua ausência de expressões, tão importantes para que o bebê aprenda a reconhecer as emoções, provoca desamparo e uma angústia muito grande na criança”, disse.
Se, por um lado, parte da sociedade reprime a expressão de descontentamento da mãe com a maternidade, por outro, verifica-se uma certa banalização do problema da depressão.
Do ponto de vista clínico, o pediatra Daniel Becker ressaltou que o diagnóstico formal de depressão pós-parto é médico e acarreta medicalização. “O uso indiscriminado desta denominação limita um pouco a percepção do sofrimento materno no puerpério”, comentou.
O médico ponderou que, sob o manto do que as pessoas chamam de depressão pós-parto, podem-se ocultar o abandono engendrado no puerpério, a falta de rede de apoio, as críticas e os palpites, a sobrecarga com outros filhos, casa para cuidar e a falta de tempo para o descanso.
“Existem muitas questões que envolvem um puerpério sofrido, exaustivo, com efeitos psíquicos sobre a mulher e que têm uma con-