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Introdução Museu com Química?

Convidamos você, leitor ou leitora, a ler o t ítulo deste livro em voz alta…

Feito?

Certamente lhe causou algum estranhamento, afinal de contas, somos educados para crer que Ciências Humanas e Ciências da Natureza são áreas do saber completamente diferentes, que cientistas não são grandes admiradores das Artes, que conservação e restauro não demandam conhecimento de Química. A Educação Básica, mesmo após inúmeras mudanças e diferentes correntes de pensamento, ainda se mantém com raízes muito profundas no conhecimento dividido em “caixinhas”, limitando as possibilidades de trânsito entre as áreas do saber, no que chamamos atualmente de transdisciplinaridade. Segundo Bárbara Basarab Nicolescu, em sua obra O manifesto da transdisciplinaridade:

A transdisciplinaridade como o prefixo “trans” diz respeito àquilo que está ao mesmo tempo entre as disciplinas, através das diferentes disciplinas e além de qualquer disciplina. Seu objetivo é a compreensão do mundo presente para o qual um dos imperativos é a unidade do conhecimento.

Não nos cabe, nesta publicação, aprofundar os desafios epistemológicos que permeiam essa realidade. Temos, em nosso país, diversos grupos de pesquisa e programas de pós-graduação em Educação que têm diversos trabalhos com o foco nesses pontos. Entre os quais destacamos, por maior proximidade com nossa atuação, o Grupo de Estudos em Pesquisas em Patrimônio Cultural (GEPPC), liderado pelos professores Luciano Chinda Doarte e Felipe Tkàk, em Curitiba; e o Mestrado Profissional em Química em Rede Nacional, com destaque para os trabalhos desenvolvidos pelo Prof. D.r Roberto Dalmo Varallo Lima de Oliveira e Prof.a Dra. Camila Silveira da Silva. Temos convicção que, ao acessar essas publicações e debruçar sobre o tema, os leitores estarão muito bem “amparados” sobre a temática da transdisciplinaridade e o Ensino de Química em si.

O foco, neste projeto desenvolvido junto ao Museu da História da Medicina do Paraná, foi promover questionamentos e levantar possibilidades quanto à conservação do acervo, por meio de uma perspectiva científica, levando em consideração as possibilidades que a Química possibilita, por meio de suas ferramentas de diagnóstico, o entendimento sobre os fenômenos de degradação dos materiais que compõem os bens culturais e o estudo da compatibilidade química entre as substâncias que podem ser utilizadas na limpeza do espaço museológico, sem nos esquecermos das limitações e das necessidades específicas de um ambiente hospitalar.

A Química pode ser não só útil, como também essencial para aqueles que lidam com os bens culturais possam melhorar suas práticas profissionais e também preservar sua integridade física e sua saúde. Sabemos que poucos cursos de graduação nas áreas de Humanidades têm, em sua grade curricular, detalhamento de equipamentos de proteção individual (EPIs), toxicidade das substâncias químicas, riscos químicos, sinalização do espaço ou ateliê, entre outros. E o que é um ateliê de conservação e restauro se não (também) um grande laboratório de Química?

Partindo desse entendimento, houve um olhar muito cuidadoso por parte da equipe do museu, tanto na gestão quanto na equipe técnica, em acolher, apoiar, auxiliar na implementação e na divulgação desse projeto. Assim, foi possível acessar o acervo de forma segura e orientada, realizar diagnósticos, organizar materiais para as oficinas presenciais e elaborar materiais instrucionais. Foram tantos os resultados que consideramos a possibilidade de, em relação a esse ponto, indicarmos fortemente a publicação de Barbara Appelbaum, traduzida para o português, em 2017. O grande desafio de publicar um livro sobre Ciência e bens culturais é simples: não há demanda suficientemente grande para justificar um livro impresso muitas vezes. Além disso, quando é disponibilizado o livro em formato digital, com acesso ilimitado e gratuito, contribuímos para um maior alcance do que escrevemos.

E se tem algo que desejamos, é que esse projeto realizado pela ChimicArte no Museu da História da Medicina do Paraná chegue ao conhecimento do maior número de pessoas possíveis.

Ademais, o projeto foi desenvolvido pela ChimicArte, mas com grande apoio do projeto Meninas e Mulheres nas Ciências, vinculado à Universidade Federal do Paraná, coordenado Pela Prof.a D.ra Camila Silveira da Silva. Juntas, além de pensar em diversas atividades do projeto, ainda foi possível estabelecer uma parceria com a ChimicArte para a exposição Maria Falce (de Macedo): pioneira e protagonista, em cartaz no Museu da História da Medicina do Paraná e inaugurada em 2022. Juntas, eu, Prof.a Isabel Spitz, Prof.a Camila Silveira e Hélia Braholka, movimentamos muitos esforços para que todos vocês tivessem acesso a atividades de democratização de acesso à cultura e à ciência.