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certificação em bem-estar para integrar a confiança e saúde única pelo consumidor

Obem-estar dos animais é abordado de modo enfático como requisito estratégico para as empresas de produção de proteína animal, devido especialmente ao engajamento e ao posicionamento das corporações junto à sociedade, e, também devido aos desafios de mercado. Hoje norteados pelo comércio ético, pela pauta da sustentabilidade, por produtos saudáveis, livres de resíduos, oriundos de ambientes onde os animais sejam criados em condições com propósitos evidentes de respeito aos animais.

Quem de fato exige a certificação

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Em um primeiro momento, foram as empresas atacadistas de países ricos com maior poder de compra e barganha, alinhado ao maior anseio de uma sociedade constituída por seus consumidores já bastante sensibilizados às causas dos animais, e inclusive e principalmente dos animais destinados à produção de carne (EU, 2007). Com a evolução dos critérios técnicos de bem-estar na produção e processamento das aves para definir os parâmetros produtivos, também suportado por um arcabouço legal evoluído cientificamente; os serviços de alimentação como fast food, e os serviços de alimentação institucional entendidos como food service e de abastecimento de alimentos também, entendidos aqui como serviços de catering trataram de incluir nas suas premissas de negócios as certificações. Na avicultura de postura há marcante percepção da percepção dos consumidores na certificação de ovos e derivados, em virtude especialmente da rápida difusão de certificações em bemestar animal no Setor, bem como aumento marcante do consumo no Brasil, especialmente ao curso dos anos recentes.

Potencial de mercado e consumidores alinhados

Os consumidores demandam cada vez mais por sistemas produtivos éticos e tendem comprar mais produtos que reflitam suas condutas e premissas na aplicação do bemestar animal (Dean, 2022). Atitudes positivas relativas as boas práticas em bem-estar animal não repercutem ainda plenamente num comportamento de reconhecimento pleno pelos consumidores ao momento de consumo, embora Eurobarometer, 2016 tenha demonstrado que 80% dos cidadãos pesquisados entendam o tema como muito importante. Clark, 2017, sugeriu que a aparente discrepância entre as diversas e contrastantes opiniões do cidadão sobre o bem-estar dos animais e seu comportamento de consumo se devem a uma percepção de cidadania pelos indivíduos distante da reponsabilidade pelo comércio de produtos engajados e aos requisitos de bem-estar animal. Isto por si só permite compreender a importância de haver base legal para regimentar o tema.

Dentre os diversas motivos que estes grupos instituíram requisitos para a certificação de sistemas produtivos e na certificação em suas cadeias de fornecimento, podemos citar:

1- Auditoria de compras e segurança alimentar Embora não seja um requisito da legalidade utilizar sistemas de certificação, diversos e diferentes grupos incorporam estes protocolos em seus sistemas de qualidade. Este reconhecimento e os requisitos dos sistemas de certificação por atacadistas traz uma série de vantagens importantes: a- Aos grupos não há custos para que seus fornecedores sejam parte de um esquema de certificação. b- É prático, pois não precisam escrever suas próprias normas, ainda que alguns assim mesmo o fazem, e tão pouco auditar ou avaliar os fornecedores. c- As normas são transparentes e públicas e podem ser aplicáveis por todo o mundo. d- O processo de certificação é realizado por uma organização independente, externa. Não se pode aventar interferência ou pressão por normas superpostas

2 - Proteção das marcas

As companhias de comércio de alimentos associam fortemente suas marcas contratando a fabricação de produtos estratégicos para que o consumidor possa associar qualidade, benefícios, ética e valores institucionais relevantes. A maior dependência de ter que gerenciar maior risco de exposição, relacionados ao fabricante e à sua marca associados diante do consumidor. Dentre os riscos, uma maior percepção da sociedade ao comércio ético, a proteção dos animais e a sustentabilidade. Diferentes grupos ativos de proteção animal, por meio da mídia enfocam sua atuação na proteção dos animais de produção, cada vez mais globais, em virtude da maior difusão dos meios de comunicação.

A utilização de sistemas de certificação externa e de inspeções independentes permitem que os compradores fiquem salvaguardados de contestações de natureza somente comercial na relação de fornecimento, e ao mesmo tempo demonstra que a certificação de terceira parte usa normas e inspeções claras e transparentes (King, 2007).

2. Respaldo para as marcas e marketing dos rótulos

Alguns protocolos de certificação nos sistemas produtivos de carne de frango são utilizados como ferramentas de marketing, onde através da utilização da logomarca dos organismos certificadores, são atribuíveis reputação e credibilidade. Um protocolo de grande reputação e bastante rigoroso é o esquema AFS - Assured Farm Standards, onde a marca Red Tractor atribui aos produtos garantia de melhor procedência e segurança dos produtos. A população compreendeu o modelo.

www.redtractor.org.uk

RSPCA (Royal Society for the Prevention of Cruelty to Animals)

No Reino Unido – atua sobre o bem-estar dos animais domésticos e de produção.

CIWF (Compassion in World Farming)

No Reino Unido – focado na produção dos animais de fazenda

PETA “People for Ethical Treatment of Animals

Internacional, vocal, alto perfil, alarmista.

Dentre os diferentes motivos que levam os produtores a buscar a certificação, as empresas utilizam como estratégia e porta de entrada aos novos negócios. Por se tratar de requisito fundamental para participar de diferentes nichos de mercado, as empresas e os produtores buscam conformidade para a certificação baseada em diferentes normas de qualidade e de produção assegurada. O Marketing utiliza estrategicamente como um elemento diferencial no desenvolvimento dos seus negócios. Alguns nichos de mercado definiram seu próprio caminho nos sistemas de certificação. Os motivos podem também estar relacionados à incluso da certificação nas estratégias de marketing, criando um elemento diferencial aos concorrentes, ou ainda, criando uma filosofia e um estilo de negócios.

Além dos efeitos negociais mencionados acima, a certificação de sistemas produtivos na avicultura permite agregar vantagens de qualidade e credibilidade aos negócios e aos sistemas produtivos. Inicialmente com a melhoria de desempenho operacional, desde que adequadamente implementados, muitos requisitos padronizam os procedimentos operacionais, tornando o trabalho mais uniforme nos galpões. O desenvolvimento de habilidades e a capacitação para elevar o nível de interpretação os diferentes requisitos de bem-estar das aves, conciliando a promoção da saúde e conforto dos animais ao desempenho econômico, a regularidade e a uniformidade dos sistemas de criação.

No entanto, implementar protocolos de certificação em sistemas produtivos para frangos de corte e aves de postura é um trabalho árduo e desafiador, não é fácil. O esforço dedicado para obter a certificação almejada vai depender da amplitude das atividades e do escopo da certificação. O tempo e os recursos disponibilizados são necessários e se tornam o diferencial; destacando a necessidade de organizar a garantia da implementação dos procedimentos; estes já devem estar ocorrendo sistematicamente nos processos. Com certeza, deve ser ponderado os custos envolvidos na preparação, auditoria e manutenção dos processo de certificação. As empresas que aderiram aos sistemas não declinaram mais, uma vez que os benefícios são efetivamente superiores.

Sistemas de acreditação em bem-estar animal para animais de produção

Os sistemas agroindustriais utilizam dos protocolos de certificação há longo tempo, focado especialmente nas garantias de processos industriais e segurança alimentar. Com a maior aproximação da sociedade aos animais de companhia, houve também uma crescente percepção dos consumidores aos cuidados que devem ser evidentes nas criações de animais de produção. Assim, foram desenhados importantes protocolos para esta finalidade.

Global GAP é entendido como um sistema de certificação de amplo escopo onde a certificação é dos sistemas produtivos das propriedades. Onde, atendendo os requisitos globais, incluídos aqui também os requisitos de bem-estar animal, tem maior campo de aplicação para organismos envolvendo grande número de propriedades sob o mesmo sistema de gestão.

Assured Chicken Production (ACP) pertence à Assured Food Standards Ltd. e é responsável pela gestão e administração deste sistema de certificação. Lançado em 1999, incorporou rapidamente o sistema britânico de produção avícola e cobre toda a cadeia de produção e de processamento, envolvendo os requisitos de bem-estar pela saúde dos animais, através do acompanhamento do uso de medicamentos e controle de doenças. Instalações equipamentos e ambientes, rastreabilidade, registros e capacitação completam os requisitos relacionados aos animais. Os requisitos atribuíveis às propriedades como higiene e saúde, manejo, alimentos e água e planos de contingência também são auditados, uma vez ao ano.

O que já é uma realidade

Em tempos desafiados pela biosseguridade, há entraves aos processos de avaliação que devem ser adequadamente gerenciados para garantir um baixo risco por meio de controles adequadamente praticados durante as auditorias. É cada vez maior uma validação da produção que garanta a fonte, a origem e autenticidade dos processos produtivos, assim as empresas certificadas com o selo de bem-estar animal possuem uma distinção de capacidade reconhecida internacionalmente que pode contribuir para o desenvolvimento dos negócios em ambiente com alta competitividade.

O que dá sustentação ao cumprimento destes princípios na criação dos animais é a capacitação de pessoas que estão vinculadas ao manejo dos animais; o monitoramento e aperfeiçoamento dos equipamentos associados às condições do ambiente; aos equipamentos utilizados na alimentação dos animais, e uma melhor compreensão técnica dos critérios tangíveis para realizar as melhores práticas de bem-estar; e finalmente, dos programas de certificação, que validam o cumprimento dos melhores requisitos. A conscientização e responsabilização dos produtores, dos grupos de transporte, a profissionalização dos motoristas de carga viva, e o compromisso com os clientes têm sido as melhores respostas elaboradas às expectativas recentes de uma renovada sociedade, que conflita o acesso à proteína de qualidade com o consumo consciente pautado pela saudabilidade. Grande parte dos desafios relacionados ao bemestar são atribuídos à saúde. Os sistemas produtivos devem ser capazes de adequar requisitos legais e dos clientes à viabilização econômica, considerando os impactos decorrentes no processamento. A sistemática de estabelecer indicadores tangíveis de bem-estar animal, considerando a produção em escala industrial, contribui para melhor compreensão da necessidade de cumprir requisitos de bem-estar dos animais de produção.

José Maurício

Médico Veterinário, M.Sc., D.Sc. jose.franca@utp.br

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