Autobiografias 3ª Etapa B EJA

EMEF Dr. José Kauffmann

Autobiografias 3ª Etapa B EJA Professora Marilda (Sala de Leitura) Professora Mislene (Informática Educativa)

São Paulo 2º Semestre 2019

Andreza Meu nome é Diva. Estou aqui para contar um pouco da minha história. Em 1984, eu nasci. Minha mãe era tão jovem... Ela tinha 21 anos. Casou com 12 e aos 21, ela se separou e perdeu a guarda de seus filhos.

No pior momento da vida dela, ela conheceu meu pai, que era mais jovem que ela (ele tinha 17 anos). Eu sempre me recordo de momentos como a fome o frio e ela sendo despejada por não ter nada pra nos ajudar.

Meu pai, eu não conheci. Ele morreu em nossa cidade, em Recife.

Assassinado.

Em 1996, minha mãe já tinha cinco filhos. Eu, a mais velha. Viemos de Recife para São Paulo, todos nós, muito. Ao chegar aqui, eu cuidava dos meus irmãos para ela trabalhar e aos 8 anos, eu tinha obrigações de uma mulher de 30, mas eu tinha uma força, uma fé para cuidar e amar que eu nem sabia.

Ela, sem recurso nenhum, nos ensinou a trabalhar, a sermos honestos. Mas aos 16, eu, Diva, me tornei mãe tão jovem quanto ela... Dei à luz a um menino lindo e eu já tinha experiência de muita coisa. Eu estava amadurecida desde sempre. Tive meus 2 filhos com 19 e terceiro com 26. E entre altos e baixos, dores e vitórias, eu poderia dizer muita coisa, mas pulei, pois o que nesse momento eu quero é dizer que hoje, aos 35, eu sou uma mulher grata, forte, protegida por Deus e que o desânimo, a fome, até enfermidades, eu venci.

Hoje, eu volto a estudar e vou dizer o motivo: enquanto houver força de vontade, fé e esperança, nunca é tarde para recomeçar.

Quero viver e ir longe com meu aprendizado na escola e até conquistar uma faculdade. Sou manicure e um dia quero dar aula, quero ensinar pessoas a voltarem a sonhar como eu.

Em 2011, eu enfrentei um dos maiores medos, fiz uma cirurgia cardíaca, corrigi um PCA no coração. Eu esperei 10 anos por essa cirurgia no Incor. Todos até achavam que eu ia morrer, mas sempre tive fé, amor e esperei ser feita a vontade de Deus e eu consegui!

Estou vendendo saúde e, com certeza, irei terminar o ensino fundamental com muita força e fé. Serei grata, muito grata a Deus, a cada professor (são anjos nessa Terra para nos ajudar a evoluir).

Caroline

Meu nome é Caroline Stephanie. Tenho 17 anos. Nasci dia 18 de março de 2002, no hospital de Taipas.

O momento do dia que eu gosto mais é de manhã, e o que me encanta na natureza é o sol e a primavera. Eu acho muito bonito.

Recentemente, meu tio irmão do meu pai faleceu. Foi muito triste para a família do meu pai. Ele morava no Ceará. Eu não convivia com ele, mas foi bastante triste.

Uma lembrança que tenho é de 2015, quando eu viajei para o Ceará com meus pais e minhas irmãs. Nós fomos de carro. Foram três dias de viagem. Passamos por Minas Gerais, Bahia, Pernambuco. Foi muito bom. Eu vi a paisagem. Quando anoitecia, nós ficávamos em um hotel para dormir. No dia seguinte, continuava a viagem.

Quando chegamos, ficamos na casa da minha avó. Conheci minhas tias e meus primos por parte de pai. Eu gostei muito deles. São muito legais. Eu fui à praia da lagoinha, uma linda praia do Nordeste. Adorei muito conhecer.

Minhas características físicas são: cabelo castanho, olhos verdes, altura 1,55, peso 50 quilos. O que eu mudaria em mim é a minha timidez. Eu sou muito tímida e isso me atrapalha bastante, mas por outro lado, a característica que mais me agrada é ser sonhadora.

O motivo de eu ter parado de estudar é porque eu não gostava, mas eu pensei melhor e voltei. Eu pretendo terminar os estudos, fazer uma faculdade, pagar um curso de inglês e arrumar um trabalho.

Danile

Hoje, estou sentindo como se fosse o primeiro dia de aula na minha infância, na qual tive muitas oportunidades, mas não sabia a grande importância do estudo na minha vida.

Eu engravidei aos quinze anos de idade. Deixei os meus estudos para trás. Hoje, tenho trinta e dois anos e já se passaram dezessete anos.

Aprendi a ser uma pessoa comunicativa. Fui aconselhada pelas pessoas experientes que em seus passados cometeram o mesmo erro e eu entendi.

Diego

Meu nome é Diego Alves da Silva. Eu moro na Rua Francisco Bazanti. Tenho 25 anos, moro com minha mãe, meu pai e meus irmãos.

Eu gostaria de terminar os estudos e dar orgulho para família.

Não estou trabalhando, mas exerço a profissão de chaveiro. Não fiz curso para aprender. Meu pai me ensinou. Eu vou comprar a máquina de fazer chaves. Minha mãe vai até ficar feliz com o filho.

Eu gosto muito de jogar bola e soltar pipas. Gostaria muito de terminar os estudos para quando eu for pai, não passa aperto na vida.

Gabriel Viana

Sonhos. Quantos sonhos trago dentro de mim, apesar de ainda jovem.

Busco, hoje, resgatar o que ficou para trás. Sei, o tempo não volta mais. Então é uma corrida contra o tempo.

Nasci em São Paulo, no Bairro de Taipas. Família humilde. Tenho 6 irmãos. Lembro-me das muitas vezes que minha mãe tentou me fazer levar a sério os estudos, sem sucesso. Dei muito trabalho. Era imaturo e não ouvia minha mãe. Assim mesmo, estudei até o 5º ano, depois, parei. Voltei agora, aos 16 anos, estudo no 6º ano da EJA. Tenho um grande sonho: ser bombeiro. Gosto de ajudar as pessoas.

Queria muito poder trabalhar e ajudar financeiramente minha família, mas emprego está cada dia mais difícil. Vejo agora, a necessidade de me formar, de dar continuidade aos estudos, preciso melhorar.

Sou uma pessoa educada, não gosto de falar, mas sou observador. Sou esperto e farei tudo para progredir. Quem sabe realizar o meu sonho de ser bombeiro.

Meu nome é Gabriel Viana Lourenço.

Glaucia

Meu nome é Glaucia Maria da Silva. Eu voltei a estudar e tenho planos de terminar os meus estudos e fazer uma faculdade no futuro. Ainda não sei qual faculdade. Eu parei de estudar para trabalhar de empregada doméstica.

Sou casada e tenho três filhas. Sempre que eu falo com elas, dou conselhos para não deixarem de estudar, porque é preciso para conseguir um bom emprego. Eu sou sonhadora, esforçada, carinhosa, romântica, organizada e responsável. Gosto do meu jeito de ser e não mudaria nada.

Na minha infância, eu tive muitos momentos bons. Eu me lembro quando ia para a chácara do meu avô e subia na árvore para pegar frutas no pé. Era muito boa a minha infância. Eu adorava quando a minha mãe me contava histórias. Eu me divertia muito quando eu era criança.

Eu fui muito feliz. Quando eu era criança, me lembro de algumas brincadeiras que eu brincava na rua, com meus amigos. Eu gostava muito de brincar de

esconde-esconde. Era muito divertido...

O tempo passou eu cresci, e um dia quando eu estava em uma festa, eu conheci o meu esposo. Esse dia foi muito divertido, eu e ele conversamos bastante e eu me lembro de que depois que a festa terminou, ele me levou para casa.

O tempo passou e nós nos casamos. Eu tive três filhas. A mais velha se chama Caroline e as gêmeas, Cassiane e Camille.

Jailson

Era um dia parecido com um dia qualquer. O que fez com que fosse diferente foi o meu nascimento. Vim ao mundo tendo como pais pessoas muito humildes. Infância difícil, muitas dificuldades.

Como a maioria das crianças, esperava o dia de poder ir para a escola.

Iniciei os estudos, mas não pude continuar. Precisei trabalhar na roça com meus pais. Era mais um, cujos sonhos, agora, estavam voltados a uma jornada de trabalho difícil e muito cansativa. Não tinha lápis e cadernos em minhas mãos, mas uma enxada. Assim foi. Precisava ajudar, os estudos ficaram para trás.

Sempre cheio de sonhos, podia ver meus colegas brincando, indo para a escola e eu preso a responsabilidades, que não condiziam com a minha idade.

Era somente uma criança, mas atividades como as de meus colegas, não faziam parte da minha vida. Às vezes, ficava muito triste. Não era inveja o que sentia, mas falta de oportunidades. As poucas vezes que pude ir para a escola, percebi que o cansaço do corpo e tarefas escolares não eram condizentes.

Aos 13 anos, me afastei. Com o passar dos anos, resolvi buscar realizar o que não pude anteriormente. Jovem rapaz, agora, com 20 anos, ousou e veio para São Paulo. Precisava galgar novos caminhos. Não imaginei como seria difícil, um ambiente desconhecido, sem profissão, sem estudo, mas com muita força de vontade.

Trabalhava muito, fazia extras, bicos de pedreiro. Tudo que podia me levar a ganhar mais, eu fazia, precisava melhorar.

Voltei a estudar, mas trabalhar e estudar estava complicado, apesar da força de vontade, o cansaço do dia, contribuía para que eu não tivesse um bom desempenho e mais uma vez, nas idas e vindas, precisei parar os estudos. Dei prioridade à família.

Hoje, passados tantos anos, meus filhos já criados e encaminhados, vejo que fiz o meu melhor, dei a eles o que não pude ter enquanto criança

devido às dificuldades que vivíamos. Proporcionei a eles condições de estudo.

Deixei que eles sonhassem, apoiei quando foi preciso e ajudei quando resolveram voar. Meus filhos, o meu bem maior, quanto orgulho tenho.

Ainda trabalho. Sou funcionário público e no meu serviço, sempre aparecer oportunidades para melhorar, evoluir. No entanto, requer estudo.

Voltei a estudar e pretendo não parar. Tenho como objetivo concluir o curso até o final, minha formatura. Com estudo, poderei disputar um cargo melhor, para agregar estes rendimentos à minha tão sonhada aposentadoria.

Meu nome é Jailson B Pereira, nascido em Iramaia, na Bahia. Tenho 62 anos e como criança ainda sonho, como adolescente busco revolucionar, como adulto sinto o peso das responsabilidades, ouço meu corpo, minhas necessidades e procuro ser feliz do meu jeito.

A vida tem que ser vivida com saúde, responsabilidade e dignidade.

Assim sou eu...

Jeane

Esta é minha autobiografia. Relutei muito, não queria escrever sobre acontecimentos do passado, mas foram fatos verdadeiros, foi a minha vida.

Então, resolvi registrar. Meu nome é Jeane. Nasci em Natal, Rio Grande do Norte. Uma infância difícil, sem sonhos, sem alegrias.

Pude vivenciar o sofrimento que passou minha mãe por escolhas erradas que fez na vida eu não compreendia o porquê tinha que ser daquele jeito, cujo desfecho foi, sem dúvida, cruel, marcante. Assim descrevo.

Vim para são Paulo com dezessete anos. Logo fui trabalhar. Tive momentos ruins e bons na minha vida, mas ressalto o meu despreparo em relação ao meu casamento. Doei-me, dei o meu melhor, abdiquei de tantas coisas, vivi a vida conforme acreditei ser o melhor, no entanto, esta doação de nada me valeu. Ele foi embora, me deixou. Fiquei só com quatro filhos para criar. Não estava preparada para enfrentar as dificuldades que faziam parte da minha vida. No entanto, enquanto o tempo passava, busquei forças naqueles que tanto amava: meus filhos.

Não conseguia estudar. Estava envolvida com a criação e formação dos meus filhos. Se não fui feliz no meu relacionamento conjugal, minha família precisava ser por meio do diálogo, princípios e valores corretos. Eu os criei.

Sou uma pessoa que trabalha, que luta por aquilo que quer e foram meus filhos que me incentivaram a voltar a estudar. Esta é a quarta vez e agora, irei concluir, pois desejo muito poder fazer uma faculdade. É meu objetivo.

Agora, vejo a importância do escrever, do registrar. Nos faz viajar no tempo e resgatar muito do que somos. Hoje, o sofrimento foi grande. No entanto, as lições que pude tirar de toda esta história foram imensas. Lições que registrei no meu coração, no meu viver na minha alma.

Trago feridas que marcaram e cujas cicatrizes aqui existem, mas a vida tem que ser vivida, aproveitada e eu procuro fazĂŞ-la ao lado daqueles que me amam que me incentivam, meu maior tesouro, meus filhos.

Jonatha

Meu nome é Jonatha. Tenho 16 anos. Sou tranquilo. Gosto muito de empinar pipa, jogar bola, andar de moto.

Quero muito terminar meus estudos. Não gosto muito do passado. Não gosto de ficar lembrando coisas ruins. Gosto de viver a vida.

Gosto muito da minha avó. Ela me criou e até hoje agradeço muito a Deus por ela estar viva e estar cuidando de mim.

Quero muito arrumar um emprego e ficar tranquilo, conquistar muitas coisas boas para mim: minha casa, meu carro, minha moto.

Quero formar uma família e ficar em paz. Quero ter um futuro melhor.

Quero muito ver minha família bem, meus irmãos, minha irmã. Bem, quero ter muitos sobrinhos.

Gosto muito da minha mãe, mas não sei o que ela pensa. Não convivi com ela. Eu sei que ela gosta de mim, mas não consigo entendê-la. É assim a vida: só seguir e Deus sabe o que faz. Tudo na hora de Deus.

Luan Meu nome é Luan Victor da Silva Souza. Tenho 16 anos. Moro em São Paulo, Bairro do Jaraguá. Eu tinha dado uma parada na escola, mas agora voltei a estudar para dar um futuro para minha mãe.

Eu gosto de empinar pipa, jogar bolinha de gude. Meu sonho era virar jogador de futebol, mas parei de jogar. Agora, vou estudar para ser engenheiro.

Quero ajudar minha mãe.

Eu trabalho na feira e no trem para comprar minhas coisas. Eu já passei muita dificuldade. Às vezes, minha mãe estava sem trabalhar e ficava assim por um bom tempo. Nós já ficamos sete meses sem água. Por isso eu vou estudar, para mudar a vida da minha mãe.

Graças a Deus, minha mãe está trabalhando para dar de tudo para mim, mas quando eu me formar, vou dar uma casa para ela. Eu pretendo trabalhar, senão eu não vou ter chance de um registro em carteira.

Minha irmã tem 13 anos. Quando eu tiver 25 anos, vou dar de tudo para minha irmã mais nova. E quando ela começar a trabalhar, nós dois vamos ajudar nas compras, nas contas e fazer de tudo para minha mãe.

Maria Auxiliadora

Meu nome é Maria Auxiliadora. Nasci em 09 de fevereiro de 1978, em Camaçari, Bahia.

Eu venho de uma família humilde e cheia de problemas familiares, cada um por si.

Meus pais viviam como andarilhos, não parava em lugar algum, porque eles eram boia fria, cortadores de cana em usinas. Aí começava meu sofrimento.

Meus pais eram muitos rígidos, exigentes e aplicavam isso nos filhos.

Mas ele não era bom exemplo para nenhum dos sete filhos.

Meus pais bebiam muito e brigavam com facão e toras em brasas.

Minha mãe ficava possuída por algo ruim e isso judiava dela. Eu lembro que minha irmã mais velha corria com a gente para dentro do mato até a briga acabar. Muitas vezes amanhecíamos dentro da mata, para não os ver se matarem, ou até mesmo, matar um de nós. Os filhos mais velhos fugiram, outros se casaram bem cedo só para sair de casa. Eu sou a caçula dos sete filhos.

Matheus Pinto

Meu nome é Matheus. Tenho 15 anos. Estou desempregado. Já trabalhei em lava rápido.

Voltei a estudar para terminar e ter uma vida melhor. Quero trabalhar, ter meu carro, minha casa, ter filhos um dia e subir na vida.

Meu sonho é um dia dar uma vida melhor para meus pais. Quero fazer mais tatuagem também!

Eu parei de estudar, porque me envolvi em um relacionamento. Depois tomei uma decisão que não foi muito boa na minha vida: deixar os estudos e sair da escola.

Fui morar com ela e o relacionamento não deu certo.

Voltei para minha casa e falei para minha mãe me colocar na escola de novo, porque eu aprendi que a coisa mais valiosa do mundo é terminar os estudos para ser alguém na vida.

Sou sonhador. Sempre sonhei em ser jogador de futebol. Também sou organizado e sempre fui bem arrumado, sempre tive minhas coisas bem organizadas.

Sou sincero em algumas coisas, mas em outras não. Sou responsável, mas deixo a desejar. Romântico, ah, isso eu sou muito com as pessoas que amo.

Matheus Lira

Meu nome é Matheus Lira, tenho 15 anos. Tinha parado de estudar, mas precisei dar um tempo, o que foi muito bom. Pude ver o quanto fazia falta os meus estudos, então eu pensei “eu tenho que voltar a estudar, vai ser muito bom para mim”. Aí voltei.

Estou aprendendo muitas coisas, pretendo me formar para ter algo melhor na minha vida. Meu sonho é ser jogador de futebol, porque sempre quis, desde criança.

Minha motivação são meus pais, porque sempre fizeram de tudo para mim, nunca deixaram de me ajudar nas coisas, nunca faltou nada para mim, graças a Deus. Sempre poso contar com eles.

Rafaela

Eu não tinha o desejo de ser mãe. Comecei a namorar com um cara que eu era apaixonada desde nova. Acabei indo morar na casa dele.

Passados alguns meses, eu acabei engravidando dele. No começo, foi muito difícil, porque eu fiquei sem saber o que eu iria fazer da minha vida.

Nenhum dos dois trabalhava. Ele não ficava comigo.

Eu fiquei dois meses de cama por conta da gravidez. Ficava em casa sozinha. Ele saía para beber com os amigos e amigas, eu passava as noites sozinha em casa. E quando ele chegava era bêbado, e com os amigos dele bêbados. Eu tinha que sair da minha cama para que eles dormissem. Eu saía me arrastando do quarto e ia para a casa da minha mãe, porque lá eu conseguia descansar.

Os meses foram passando, minha barriga foi crescendo e eu tentando ficar com ele, porque mesmo passando por aquilo, o amava e achava que ele vendo que minha barriga estava crescendo, iria mudar, realmente ficar comigo e largar aquela vida que ele vivia. Não foi isso que aconteceu.

Ele só ficou comigo no dia que a bebê nasceu, porque a mãe dele mandou. Ficou comigo no hospital. Quando eu e a bebê chegamos em casa, caiu a ficha dele, que realmente ele tinha uma filha.

Raquel

Meu nome é Raquel. Tenho 19 anos, sou casada, tenho um filho lindo chamado Leonardo (2 aninhos!).

Eu parei meus estudos muito cedo por motivos pessoais e retornei o ano passado. Estava com 18 anos, muito empolgada para trabalhar. Comecei a procurar trabalho e a noite estudava.

No meio do ano, arrumei um trabalho, das 7 às 15h. Saia de casa às 5h da manhã. Do trabalho ia direto buscar meu filho na creche. Chegava em casa, cuidava das coisas, banho, jantar, deixar tudo preparado, mas o cansaço foi tomando conta e desisti da escola. Fiquei confusa.

Senti saudades da escola, pedi as contas no trabalho para estudar, mas dessa vez, eu não vou parar até terminar os estudos.

Minhas experiências, gente... bora lá viver nesse mundo. Vemos cada coisa.

Eu sou tão nova, mas tenho muitas experiências. Já passei por muita coisa que muitas pessoas por aí nem imaginam passar.

Quando eu era criança, passei por muitas dificuldades por falta de atenção, diálogo, de conselhos e acabei me tornando mãe ainda muito cedo, aos 16 anos. Não fiquei triste por não ter aquela infância que toda criança sonha, pois hoje eu posso falar que sou grata a Deus por tudo que ele tem feito em minha vida.

No começo foi difícil. Tive que amadurecer da noite para o dia, mas graças a Deus, hoje eu posso dizer que sou mãe, sou mulher, sou guerreira e todos os meus esforços estão voltados para os meus objetivos: terminar os meus estudos, fazer uma boa faculdade e buscar novas oportunidades. Assim, poderei dar melhores condições para minha família.

Enfim, aqui estou eu, estudando e novamente atrás de serviço. Hoje tenho em minha cabeça que sem esforço, não conseguimos nada. Tenho um filho para criar e preciso trabalhar e estudar para poder dar um futuro melhor para ele, uma boa educação, para ele e para mim também.

Preciso adquirir mais conhecimento e eu creio que Deus vai me dar a vitória.

Eu vou vencer. Sem luta não há vitória.

Ryan

A fé é tudo na vida.

Meu nome é Ryan Victor dos Santos.

Eu tenho 15 anos.

Voltei para a escola para ter um futuro melhor.

Meu pai me incentiva a estudar para ter um futuro melhor do que o dele.

Então, eu voltei para fazer o que ele não fez e dar orgulho para ele. E quem sabe, dar orgulho para meus filhos no futuro.

O meu objetivo é me formar, já que o meu pai não conseguiu. Eu vou por nós dois. Por mim e pelo meu pai.

Eu gosto de ir para a casa da minha avó por parte de mãe, ficar com ela e jogar bola com o meu primo.

Minha avó por parte de pai é mais ou menos. Já o meu tio é ruim. Ele não gosta de mim. Eu não faço questão. O outro gosta e eu também gosto, dele e da esposa. Ela é muito boa.

Eu parei de estudar, porque a minha mãe ficava mudando. Aí, eu fiquei atrasado na escola. Vim para são Paulo com meu pai e minha irmã em 2016.

Voltei para Aracaju em 2018. Fiquei um ano e vim para São Paulo de novo em 2019.

Meu pai vai voltar para Aracaju para ficar com a mulher dele. Eu acho que eu vou morar com ele ou com minha mãe. Se eu morar com meu pai, vou ficar perto da minha avó, da minha sobrinha, das minhas irmãs, dos meus tios.

Eu não queria que minha tia Maria e meu primo Lucas ficassem aqui em São Paulo. Também tem a minha namorada. Eu queria que ela ficasse comigo, mas a mãe dela não quer deixá-la ir. Meu pai até deixa. A mãe dela está certa.

Ela não é maior de idade, nem eu.

Sizina

Em Itabuna, no dia 19 de março de 1992 nasceu uma bela menina que foi batizada como Sizina. Uma linda menininha que foi muito amada pelos seus pais.

Os anos foram passando, ela foi crescendo, crescendo e crescendo, se tornou uma mocinha. Seus pais resolveram se mudar de bairro. Foi aí que ela conheceu seu primeiro amor. Ah sim, seu primeiro amor, que ela ficava toda boba quando o via. Ela resolveu namorar escondido dos seus pais.

Ela, como todas as mocinhas, estava adorando o namorinho escondido!

Mas um dia, o sonho virou pesadelo. Ele disse para ela que ela era muito nova para ele e terminou. Ela sofreu, mas superou.

Passados dois anos, em 2006, no mês de junho exatamente, no dia 24, festa de São João. Sim! Na festa! Uma animada festa! A menina resolveu fugir de casa. Ela, uma menina de 13 anos. Ele, 22 anos, muito mais velho que ela, a levou.

A

menina

não

pensou

nas

consequências

da

sua

escolha.

Simplesmente, foi com ele. Seus pais, quando notaram seu sumiço, ficaram loucos, mas a irmã dela contou que ela tinha fugido com o Paulo, um rapaz mais velho. Aí a coisa ficou feia. Seus pais foram buscá-la, mas de nada adiantou. Ela não voltou para casa. Decidiu ficar com ele. Seus pais respeitaram sua decisão. De coração partido, voltaram para casa. Sua mãe chorava por ter perdido sua princesa, mas para Sizina era tudo perfeito. Não tinha o que dar errado.

Passados três meses, ela descobriu que estava grávida e se separou.

Depois de um tempo, encontrou uma pessoa boa, casou-se, teve mais dois filhos e hoje sim, ela é feliz, realizada, dona de casa. Hoje, tem uma família linda, abençoada.

Waldemar

Pensar em escrever minha autobiografia, a princípio, não me empolgou.

Embora imagino que o percurso da minha vida tenha sido temperado com altos e baixos, acontecimentos, acredito, enfadonhos, horas desanimadoras, eles fizeram de mim o que sou hoje.

Meu nome é Waldemar Cavalcanti Alcebíades. Tenho 37 anos. Nasci em Natal, criado em Pernambuco com minha mãe. Uma infância muito sofrida, cuja trajetória deixa rastros de muita luta em busca de encontrar saídas diante de tantas dificuldades encontradas. Que falta fez não ter um pai do meu lado.

Quando completei meus 17 anos, vim para São Paulo. Precisava trabalhar, ajudar minha mãe. Muitos foram os desafios pelos quais passei. Enfrentar o desconhecido, situações desoladoras, morar de favor. A princípio, fui recebido. Logo, por não conseguir um emprego, precisei desocupar. Sem um teto e sem emprego, pude provar o amargo sabor da minha solidão e despreparo. Era tudo muito difícil.

Mas eu não desisti e corri atrás dos meus objetivos. Consegui o meu primeiro emprego e aluguei uma casa. Tudo muito simples, mas tinha um teto para morar. A partir daí, pude ajudar financeiramente minha mãe.

Muitos foram os desafios nesta vida. Pude vivenciar de tudo um pouco. Tudo favorecia para que eu pudesse trilhar caminhos não corretos, armadilhas me cercavam, mas tive dignidade e nunca me envolvi com situações adversas.

Tentei buscar os estudos, mas o cansaço do meu corpo e mente não me favoreciam. Desisti. Lembro-me somente de trabalhar e ser feliz do meu jeito.

Os anos se passaram e eu me tornei um homem responsável. Procuro ser o melhor no que faço e percebi o quanto os estudos fizeram falta. Voltei a estudar com dificuldades, pois trabalho muito e às vezes, o cansaço fala mais alto. É desafiador, mas desta vez, não vou desistir.

Preciso de um emprego melhor, evoluir. Quero poder dar melhores condições às pessoas que amo. E minha força motriz é meu filho.

Walisson

Minha frase de reflexão é: você já teve infância? Como é ter infância?

Será que se eu tivesse tido infância eu seria melhor?

Eu tive que amadurecer muito rápido pelo fato de não ter tido “infância”.

Não sei direito se isso é bom ou ruim, mas na minha visão, não é tão bom assim, porque isso hoje em dia, me priva de muita coisa.

Mas enfim, eu sou Walisson Nascimento Bernardo dos Santos. Sim, eu sou negro.

Nasci no dia 10 de junho de 2004. Atualmente, tenho 15 anos. Nasci em São Paulo, mas fui para a Bahia. Morei 4 anos lá e retornei com 14 anos.

Consegui um emprego em uma confecção. Estou trabalhando faz um mês. O meu objetivo e sonho é aprender inglês, fazer um curso de fotografia e viajar o mundo todo. Mas primeiro, eu preciso, claro, terminar os estudos.