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Fora do mercado de trabalho
Embora estejam no Brasil há quase um ano, Valéria e a mãe não conseguiram arranjar emprego para se manter no País nem para arcar com os custos da viagem de volta à Ucrânia.
Com 10 anos de experiência em pintura por encomenda, a jovem tentou se virar em Sorocaba pintando retratos. Comprou o material necessário e fez cartões de visita, mas, como ainda não conseguiu aprender a se comunicar em Português, seus serviços não foram procurados.
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Já a mãe de Valéria, que trabalhou durante 15 anos como manicure, chegou a abrir um salão de beleza na cidade. Ela alugou um quarto e comprou os equipamentos, mas também não teve demanda e precisou fechar o negócio por conta da crise financeira que se instaurou no País no ano passado.
“Meu pai morreu como um herói, defendendo meu país, no mês de outubro do ano passado. Ainda é muito difícil para mim falar sobre isso, pois perder um ente querido é uma dor insuportável, por isso preciso de ajuda para voltar a minha terra natal”, explica.
Diante dessa situação, ela resolveu usar seu talento para levar todos de volta ao país de origem. Os quadros custam cerca de R$ 250 cada, e quem se interessar pela história da jovem pode comprá-los na papelaria e livraria Pedagógica, no centro de Sorocaba.
Além da pintura, Valéria aprendeu a tocar violino e piano em uma escola de música por quatro anos, mas uma lesão na infância impediu-a de seguir carreira na área. Foi então que ela passou a frequentar aulas em um estúdio de arte, aos 12 anos, sob a orientação de Alla Kimerina. Em 2019, após se formar, Valéria ingressou na Universidade Nacional Oles Honchar Dnipro, mas não a concluiu por motivos de saúde.
Durante o período em que viveu em Sorocaba, a ucraniana decidiu apri - morar sua técnica com ajuda da professora e artista plástica Cecília Rodriguez. ro e conseguir retornar ao país de origem, onde pretende enterrá-lo dignamente e cuidar dos bens da família.
“Faço desenhos e retratos há bastante tempo, desde 2011, mas foi só no Brasil que pude me abrir como pessoa e fazer minha exposição. Estudei com a Cecília por cerca de dois a três meses, e sou muito grata a ela por ter me dado uma experiência inestimável em arte e pintura. Ela é uma pessoa maravilhosa, com um grande coração. É mais que uma artista para mim, é uma pessoa com letra maiúscula”, comenta.
“A situação continua muito tensa lá na Ucrânia. Ainda tenho uma avó acamada em minha cidade natal, Dobropolye, uma tia em Mariupol e outra tia em Donetsk. A Igreja Família ajudou-nos financeiramente e nos aceitou em Sorocaba como refugiados. Não conseguiríamos ter vindo sozinhas, pois seria difícil atravessar o oceano sem apoio”, relata.
A princípio, a jovem dava preferência a retratos realistas, mas, aos poucos, começou a se envolver também com pintura de paisagens impressionistas, estilo através do qual consegue transmitir emoções e sentimentos, sob o pseudônimo Afelion, retirado da imagem de Ofélia da tragédia “Hamlet”, de William Shakespeare.
“Às vezes, pinto obras surreais voltadas para sentimentos íntimos. Mas, nesta fase da minha vida, comecei a me desenvolver espiritualmente e a fazer pinturas religiosas, que personificam meu amor a Deus e minha fé. Em geral, através da arte, eu conheço o mundo e o conduzo. Posso criar algo novo eu mesma”, conta.
