Lume#22

lume Mato Grosso

Revista nº. 22 • Ano 4 • Maio/2018

130 Anos da Abolição da Escravidão.

O Escravismo Acabou?

Cartas de Leona: entre gentes e livros no navio negreiro. Pag. 30

PERSONALIDADE: TETÉ BEZERRA A LEI DO VENENO MONTANHA PORTA DO CÉU A GUERRA DO CHACO ADA GAMBAROTTO RETRATO EM PRETO E BRANCO: ISABEL CAMPOS AMERICANIDADE: MÁRIO BENEDETTI

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CUIABÁ 300 ANOS

A ORIGEM HISTÓRICA DE MATO GROSSO SEMPRE ESTARÁ LIGADA À DE CUIABÁ CASAMENTO NA SOCIEDADE CUIABANA, EM 1918. AO CENTRO, SENTADOS, ESTÃO OS NOIVOS ARY NOVIS E ROSA DE CAMPOS PÓVOAS. À EXTREMA DIREITA DA FOTO, SENTADO, ESTÁ NILO PÓVOAS. ILUSTRAM O HISTÓRICO REGISTRO PARENTES E AMIGOS DO CASAL.

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C A RTA D O E D I TO R

JOÃO CARLOS VICENTE FERREIRA Editor Geral

O Inferno São Os Outros

N

este final de maio de 2018, com o movimento desencadeado pelos caminhoneiros em todo o país, é preciso termos a consciência de que somos responsáveis pelas consequências de nossas ações.

Parece que estamos na era do “cada um por si e Deus por todos”, ou “farinha pouca, meu pirão primeiro”, ou, ainda “Deus quis assim”.

Essa situação nos remete à famosa frase de Jean Paul Sartre: “O inferno são os outros”, de várias interpretações, por exemplo, de que os outros é que causam um inferno em nossas vidas, mas, dessa afirmação, ainda podemos tirar de que nem sempre assumimos as consequencias de nossas atitudes. A grande maioria das pessoas não reconhece suas falhas, preferindo culpar um fator ex-

terno qualquer, e este fator geralmente é o outro.

Os caminhoneiros chamaram para si a responsabilidade de mudar rumos em suas vidas e nas dos outros, também. Tem razão em vários pontos, mas erraram ao radicalizar e prejudicar uma sociedade sofrida e judiada. Querem parar o país? Enfiassem os seus caminhões em frente a todos os órgãos públicos da nação e cruzassem os seus braços. O resultado seria o mesmo e todos os aplaudiriam, da mesma forma, porém sem o sofrimento desnecessários de homens, mulheres e crianças, muitos dos quais doentes, passaram por privações.

Quem não tem consciência de suas ações passa a culpar os outros. Para Sartre, “o homem é responsável por tudo o que faz”.

Querendo dividir respon-

sabilidades com políticos?

Bobagem! Nada de pensar que o placar já está definido, nem ao menos imaginar que a resposta aos maus políticos, esses que emporcalham tudo isso aqui, será dado nas urnas. Ledo engano. As reeleições serão em massa, quem viver verá.

Sartre nos indica que somos sempre responsáveis pelas consequências de nossas ações, e isso nos torna também responsáveis pelas consequências das ações que afetam os outros. Assim, o outro deixa de ser culpado e tomamos consciência de nossa própria culpa. O inferno está no fato de possuir consciência profunda disto. Por fim, a frase de Sartre nos alerta sobre a nossa responsabilidade, principalmente para com os outros. De fato, é um inferno. É bem mais fácil culpar os outros.

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EXPEDIENTE

lume Mato Grosso

PESCUMA MORAIS Diretor de Expansão e de Projetos Especiais ELEONOR CRISTINA FERREIRA Diretora Comercial JOÃO CARLOS VICENTE FERREIRA Editor Geral MARIA RITA UEMURA Jornalista Responsável JOÃO GUILHERME O. V. FERREIRA Revisão ÁLEX VICENTE, AMÉRICO CORRÊA, ANA CAROLINA H. BRAGANÇA, ANDRÉIA KRUGER, ANNA MARIA RIBEIRO, BENEDITO PEDRO DORILEO, BRUNO HENRIQUE BRITO LOPES, CARLOS FERREIRA, CARLOS GOMES DE CARVALHO, CECÍLIA KAWALL, DIEGO DA SILVA BARROS, EDUARDO MAHON, ELIETH GRIPP, ENIEL GOCHETTE, EVELYN RIBEIRO, FELIPE DE ALBUQUERQUE, FRANCISCO E. DE BRITO JR., HENRIQUE SANTIAN, JANAÍNA SOARES DA COSTA BUCCIOLI, JOSANE SALLES, JUDI OLLI, JULIANA RODRIGUES, LIANE CARVALHO OLEQUES, LUCIENE CARVALHO, MARCO POLO DANTAS, MARIA CLARA BENGEMER, MILTON PEREIRA DE PINHO - GUAPO, RAFAEL LIRA, ROSARIO CASALENUOVO, ROSE DOMINGUES, THAYS OLIVEIRA SILVA, VALÉRIA CARVALHO, WLADIMIR TADEU BAPTISTA SOARES, YAN CARLOS NOGUEIRA Colaboradores ANDREY ROMEU, ANTÔNIO CARLOS FERREIRA

(BANAVITA), CECÍLIA KAWALL, CHICO VALDINEI, EDUARDO ANDRADE, HEITOR MAGNO, HENRIQUE SANTIAN, JOSÉ MEDEIROS, JOYCE CORRÊA, JÚLIO ROCHA, LAÉRCIO MIRANDA, LUIS ALVES, LUIS GOMES, RAI REIS, MAIKE BUENO, MARCOS BERGAMASCO, MARCOS LOPES, MÁRIO FRIEDLANDER, MOISÉS INÁCIO DE SOUZA, SAMUEL MELIN Fotos OS ARTIGOS ASSINADOS SÃO DE RESPONSABILIDADE DE SEUS AUTORES. LUME - MATO GROSSO é uma publicação mensal da EDITORA MEMÓRIA BRASILEIRA Distribuição Exclusiva no Brasil RUA PROFESSORA AMÉLIA MUNIZ, 107, CIDADE ALTA, CUIABÁ, MT, 78.030-445 (65) 30541847 | 3637-1774 99284-0228 | 9925-8248 Contato WWW.FACEBOOK.COM/REVISTALUMEMT Lume-line REVISTALUMEMT@GMAIL.COM Cartas, matérias e sugestões de pauta MEMORIABRASILEIRA13@GMAIL.COM Para anunciar ROSELI MENDES CARNAÍBA Projeto Gráfico/Diagramação MÃOS DE PRISIONEIRO - FOTO: FREEPICK Capa

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SUMÁRIO

10.

NOTAS

18. 28.

PARA QUANDO VOCÊ FOR

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SAÚDE

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44.

MAIOS DE NOSSA HISTÓRIA

66.

ÚLTIMA PÁGINA

54.

CRÔNICA

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PERSONALIDADE

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Teté Bezerra

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eté Bezerra é a personalidade do mês de maio de 2018 da revista LUME. Paulista de nascimento e radicada em Mato Grosso desde jovem, Teté dedicou-se à vida pública e atuou na história política mato-grossense nas últimas décadas, sempre ao lado de seu esposo, o deputado federal Carlos Bezerra, do MDB. Atualmente é presidente da EMBRATUR - Instituto Brasileiro do Turismo, tendo assumido em 8 de maio deste ano. Em seu discurso de posse disse: “O compromisso que assumo hoje como presidente é resultado do trabalho que desempenhei nos últimos anos pelo turismo brasileiro. Agradeço ao presidente Michel Temer, ao ministro Lummertz e o meu partido, o MDB, por confiarem a mim um desafio de tamanha magnitude. Queremos uma agência forte, que seja capaz de competir com os grandes receptores internacionais de turistas. Investimos atualmente US$ 17 milhões em promoção internacional, enquanto nossos concorrentes investem entre US$ 50 e US$ 100 milhões. Queremos uma agência robusta, que seja capaz de realizar parcerias e promover o Brasil no exterior, através de ações de promoção, publicidade, eventos e feiras”.

Em setembro de 2016, Teté Bezerra assumiu a Secretaria Nacional de Qualifica-

ção e Promoção do Turismo do Ministério do Turismo. No cargo que ocupou até ser convidada para assumir a Embratur, ela teve participação decisiva em importantes projetos da pasta, entre eles a conclusão da Política Nacional de Qualificação do Turismo, que representa um grande avanço para melhorar a qualidade dos serviços prestados ao turista.

Neste período, teve sob sua responsabilidade os programas e ações para apoio à formalização e pela qualificação de profissionais e de prestadores de serviços turísticos. Atuou também no incentivo ao turismo responsável e na promoção e apoio à comercialização dos destinos e produtos turísticos brasileiros, em âmbito nacional.

Antes de comandar a secretaria, em 2015, exerceu a função de diretora do Departamento de Produtos e Destinos da então Secretaria Nacional de Políticas de Turismo do MTur. Na esfera estadual, Teté foi também secretária de Turismo do Mato Grosso, entre 2011 e 2013.

Teté Bezerra é filiada ao MDB e fez carreira política em Mato Grosso, onde se elegeu deputada federal em várias legislaturas. Em 2010, se elegeu deputada estadual e durante o mandato assumiu a secretaria de turismo do Estado.

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N OTA S

DIVERSIDADE BIOLÓGICA

»»No dia 22 de maio foi comemorado em

todo o planeta o Dia Internacional da Diversidade Biológica. Esta data tem como objetivo aumentar a conscientização sobre essas questões que são fundamentais para a nossa vida, hoje e no futuro.

PONTO DE ÔNIBUS INOVADOR

»»A prefeitura de Cuiabá estará implan-

tando oitenta pontos de ônibus container em parceria com a iniciativa privada. O primeiro será em frente ao Shopping Pantanal, que contará com energia solar para carregamento de aparelhos celulares aos usuários.

DEPENDENTES QUÍMICOS Assembleia Legislativa de Mato Grosso debateu, em Audiência Pública, no dia 25 de maio, o modelo integrado para tratamento para dependentes químicos. O debate foi presidido pelo deputado Marcrean Santos (PRTB), que apresentou a proposta da criação de uma unidade sob os cuidados do estado, mas em parceria com universidades privadas e o sistema S.

»»A

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SEMANA DA ÁFRICA »»Entre os dias 22 e 24 de maio foi comemorada a Semana da África, evento anual promovido pelas Delegações Africanas Permanentes perante a UNESCO, que visa aumentar a visibilidade da África, destacando a diversidade de seu patrimônio cultural e artístico. A semana começou a ser comemorada a partir do Dia Mundial da África (25 de maio), quando se comemora a criação da Organização da União Africana, que ocorreu em 25 de maio de 1963, em Addis Ababa, na Etiópia, sob os auspícios de Negus Haïlé Sélassié.

RODOVIA LEONEL DE FREITAS LUCIALDO »»A MT-402 que liga o distrito do Coxipó do Ouro até a MT-251 (Rodovia Emanuel Pinheiro) será denominada de Leonel de Freitas Lucialdo, em homenagem ao antigo morador da localidade, que se destacou por, dentre outras coisas, ter sido combatente na Itália, durante a 2ª Guerra Mundial. A homenagem vem de projeto do deputado Eduardo Botelho, que destacou: “Diante da trajetória desse combatente destemido e filho do Coxipó do Ouro, prestamos a homenagem e pedimos apoio aos nobres pares desse Parlamento para o acolhimento da presente proposição” ao pedir apoio para sua aprovação.

FOTOS: DIVULGAÇÃO

“NÓS NÃO HERDAMOS A TERRA DOS NOSSOS ANCESTRAIS, NÓS A TOMAMOS EMPRESTADA DOS NOSSOS FILHOS”. »»PROVÉRBIO INDÍGENA NORTE-AMERICANO.

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FRASES

“SUPORTA-SE COM PACIÊNCIA A CÓLICA DOS OUTROS” »»MACHADO DE ASSIS “QUE A MIM SEJA DADO SABOREAR O MOMENTO, ANTES QUE ELE SE PROPAGUE PELO RESTANTE DO MUNDO” »»VIRGÍNIA WOOLF

DISLEXIA

»»O III Simpósio sobre Dislexia no Tea-

tro do Cerrado, na Assembleia Legislativa de MT, trouxe recorde de público.

Idealizador e coordenador do simpósio, o deputado estadual Wilson Santos (PSDB) afirmou que o objetivo foi alcançado - o de levar informação ao maior número de pessoas sobre esse tema tão complexo e importante.

»»No dia 21 deste mês a FIEMT inaugu-

“QUANDO VOCÊ NASCE TODOS SE ALEGRAM POR VOCÊ TER RECEBIDO O DOM DA VIDA E QUANDO VOCÊ CHEGA AOS MOMENTOS DIFÍCEIS TODOS SE ALEGRAM POR VOCÊ TER RECEBIDO O DOM DE RENASCER” »»VICTOR HUGO

SANIDADE ANIMAL

“HÁ PECADO ATÉ NA NOSSA SANTIDADE, HÁ INCREDULIDADE NA NOSSA FÉ; HÁ ÓDIO NO NOSSO PRÓPRIO AMOR; HÁ LAMA DA SERPENTE NA MAIS BELA FLOR DO NOSSO JARDIM” »»CHARLES SPURGEON

CARRO ELÉTRICO

rou um posto de abastecimento que distribuirá energia elétrica gratuitamente. O combustível será gerado a partir da energia solar. Lembrando que Cuiabá possui apenas 10 veículos 100% elétricos.

»»O INDEA promoveu a primeira etapa de

vacinação contra a febre aftosa de 2018.

O prazo foi até 31/05. Até o dia 23/05, apenas 39% das propriedades haviam comunicado a vacinação nos escritórios do INDEA, o que representava apenas 38,11% do rebanho a ser vacinado nesta etapa.

“ARTE É AQUILO EM QUE O MUNDO SE TRANSFORMARÁ, NÃO AQUILO QUE O MUNDO É” »»KARL MARX

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MEIO AMBIENTE

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A Lei do Veneno

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DA REDAÇÃO

Brasil é o líder do ranking mundial de consumo de agrotóxicos. O uso intensivo de agrotóxicos está diretamente relacionado à atual política agrícola do país, adotada desde a década de 1960. Com o avanço do agronegócio, cresce um modelo de produção que concentra a terra e utiliza altas quantidades de venenos para garantir a produção em escala industrial. Segundo dados do IBGE, o consumo nacional de ingredientes ativos de agrotóxicos, que em 2001 foi de 3.1 Kg/ha, passou para 6.8 Kg/ha em 2013, o que representa um incremento de 119%. A chamada “Revolução Verde”, que tem início no Brasil entre as décadas de 60 e 70, prometeu o aumento da produção, no entanto de forma extremamente dependente do uso dos pacotes agroquímicos (adubos sintéticos e venenos) e a partir da última década também das sementes transgênicas. Assim, mais de um milhão de toneladas de venenos foram jogados nas lavouras somente em 2010, segundo dados do Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para Defesa Vegetal (SINDIVEG, antigo SINDAG).

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MEIO AMBIENTE

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Com isso, também ocorreu uma consolidação do controle das transnacionais do agronegócio sobre a agricultura brasileira, seja pela determinação do padrão tecnológico (sementes, máquinas e agroquímicos), seja pela compra/transformação da produção agropecuária e pela compra de terras por fazendeiros, empresas e grupos estrangeiros. Mesmo na crise, o capital no campo lança mão de “agroestratégias”, potencializando o crescente movimento de internacionalização da agricultura brasileira. Em 2015, por exemplo, o mercado de agrotóxicos faturou, mesmo com a queda em relação à 2014, US$ 9,6 bilhões só no Brasil, de acordo com o Sindiveg. Todo este mercado está concentrado em apenas seis grandes empresas transnacionais, que controlam mais de 80% do mercado dos venenos. São elas: Monsanto; Syngenta; Bayer; Dupont; DowAgroscience e Basf. O setor

vem, todavia, passando por um processo de concentração que tem se intensificado ainda mais nos últimos anos. A fusão entre Dow e Dupont já foi confirmada, a Syngenta foi adquirida pela ChemChina e, mais recentemente, a Bayer anunciou a compra da Monsanto.

Nesta caminhada de reestruturação capitalista de alguns setores em resposta à crise, observa-se não só a saída a partir da concentração de empresas na lógica do capital monopolista (fusões e parcerias), mas também a inflexão dos marcos regulatórios, de avaliação e monitoramento caminhando para uma flexibilização do marco legal e das agências reguladoras como a ANVISA, a descontinuidade do PARA (Programa de Análise de Resíduos de Agrotóxicos em Alimentos), a divulgação de outros instrumentos menos precisos como resultados da pesquisa de resíduos de contaminantes e agrotóxicos (ano safra 2014-15) do Plano Na-

cional de Controle de Resíduos e Contaminantes em Produtos de Origem Vegetal - PNCRC/Vegetal divulgados pelo MAPA (Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento) e a fragilização do Plano Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica (PLANAPO), em especial do Programa Nacional de Redução de Agrotóxicos (PRONARA). É nesta conjuntura que as empresas produtoras de agrotóxicos, em conluio com grandes produtores de commodities agrícolas e a bancada Ruralista, buscam concluir o processo legislativo de um novo regulamento para os agrotóxicos, alterando a Lei de Agrotóxicos (7.802/89) para tornar mais fácil a liberação de variedades de agrotóxicos, inclusive alguns que já foram banidos em outros locais do mundo, representando um retrocesso significativo para o conjunto da população e para o meio ambiente.

A estratégia de flexibili-

lumeMatoGrosso zar é muito perigosa, pois procura tecnicamente impedir de dizer que o direito foi revogado, o que poderia chamar muito a atenção da sociedade como um todo. Mas coloca-se como uma “reforma” legislativa, que no imaginário da população pode trazer um sentimento de tranquilidade, no sentido de que algo está sendo feito para coibir o avanço dos agrotóxicos, dá legalidade ao processo, e ao mesmo tempo satisfaz o interesse do agronegócio, e quem perde é a população desinformada. Diante da gravidade das mudanças que o agronegócio quer fazer na lei de agrotóxicos, a Campanha Permanente Contra Agrotóxicos e pela Vida apresenta uma síntese das principais propostas de mudança. É essencial tomar conhecimento dessas possíveis

mudanças e denunciá-las, pois a principal conclusão desse processo de mudança é que a saúde humana e o meio ambiente saem perdendo, enquanto as empresas de agrotóxicos e os grandes produtores agrícolas aumentam seus lucros.

CONTEXTUALIZAÇÃO DO PL Nº 6299/2002 »»No Brasil a pesquisa, experimentação, produção, embalagem e rotulagem, bem como o transporte, armazenamento, comercialização, propaganda comercial, utilização, registro, controle e fiscalização de agrotóxicos estão regulamentados na Lei de Agrotóxicos (7.802/89) e nos Decretos 4.074/02 e 5981/06. O arcabouço jurídico deste tema é vasto (instruções normativas, resoluções, portarias), constando ainda de leis esta-

duais e municipais que inclusive podem apresentar normas mais restritivas quanto ao uso, produção, consumo, comércio e armazenamento de agrotóxicos, seus componentes e afins. Este é o caso da Lei Estadual 7747/82, do Rio Grande do Sul, que restringe a comercialização de agrotóxicos proibidos no país de origem no estado e que vem sendo questionada pelo DEM (Partido Democratas) por meio de Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF). Nos últimos anos a bancada ruralista investiu na construção de instrumentos legais de flexibilização da regulamentação dos agrotóxicos, seja em relação ao registro, à fiscalização, ao monitoramento, à avaliação ou ao comércio. Para tanto, propôs diversos Proje-

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MEIO AMBIENTE

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tos de Lei (PLs) que ainda hoje estão tramitando no Congresso Nacional.

Ao PL 6299/2002, foram apensados outros vários projetos de lei que abordam a temática dos agrotóxicos, e que visam, em sua grande maioria, flexibilizar o marco legal existente, facilitando o processo de registro e a comercialização de agrotóxicos no país. Dentre eles, o que

prevê alterações mais radicais e potencialmente danosas ao meio ambiente e à saúde dos trabalhadores e trabalhadoras e da população em geral é o PL 3200/2015. Junto a este processo, para criar um ambiente favorável com a população, houve, no último mandato do MAPA, uma “campanha” contra o que chamaram “preconceito aos agroquímicos”. A

campanha revela a tentativa de captura da opinião pública, facilitando o processo de aceitação das alterações previstas nos projetos de lei pela população em geral e atacando iniciativas de oposição como a Campanha Permanente Contra os Agrotóxicos e Pela Vida. Em Outubro de 2015 ocorreu o que podemos considerar uma das principais táticas do agro-

o transporte, o armazenamento, a comercialização, a propaganda comercial, a utilização, a importação, a exportação, o destino final dos resíduos e embalagens, o registro, a classificação, o controle, a inspeção e a fiscalização de defensivos fitossanitários e de produtos de controle ambiental, seus componentes e afins, e dá outras providências”.

O PL tem como objetivo de revogar as Leis nº 7.802, de 1989 e 9.974, de 2000, alterando completamente o sistema normativo de agrotóxicos no país. A apresentação do projeto em 2015, bem como o não lançamento do tão esperado PRONARA (Programa Nacional de Redução de Agrotóxicos), vem reafirmar a opção política por um projeto de desenvolvimento agrário pautado no uso intensivo de agrotóxicos e transgênicos. Com a confirmação do golpe, no início de setembro, e a instauração do governo ilegítimo, a bancada ruralista pode “nadar de braçada” principalmente para retroceder a legislação do campo de forma ampla, pautando mudanças na lei dos cultivares, pulverização aérea, entre outros. Foi instaurada em 12 de abril de 2016, a comissão especial destinada a proferir parecer ao PL, que tem dado prosseguimento ao processo, instaurando audiências públicas que tem favorecido a bancada ruralista e as empresas de agrotóxicos. Em maio de 2016 ocorreu a apensação (anexação) do Projeto de Lei n.

3.200/2015 ao Projeto de Lei n. 1.687/2015. Este, por sua vez, foi apensado, em junho de 2016, ao PL 6299/02.

Neste final de maio de 2018, o projeto aguarda elaboração de Parecer da Comissão Especial destinada a proferir parecer ao Projeto de Lei nº 6299 de 2002.

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negócio para modificar a lei de agrotóxicos vigente, através da instauração do PL 3200/15 pelo Deputado Federal Covatti Filho (PP/RS) que “dispõe sobre a Política Nacional de Defensivos Fitossanitários e de Produtos de Controle Ambiental, seus Componentes e Afins, bem como sobre a pesquisa, a experimentação, a produção, a embalagem e rotulagem,

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PA R A Q UA N D O VOCÊ FOR

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Os Segredos Escondidos de Choquequirao, Nos Andes Peruanos

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poderoso Império Inca criou, ao longo dos tempos, uma arquitetura impressionante.

Machu Picchu foi construído sobre um enclave megalítico muito antigo, sendo um dos exemplos mais famosos de sua habilidade e maestria. No entanto, Machu Picchu não é o único monumento construído pelos Incas, existem outros menos conhecidos, mas igualmente impressionantes. Um deles é o Choquequirao, que ainda guarda segredos escondidos e onde os arqueólogos só conseguiram arranhar a superfície de tudo que permanece escondido no subsolo.

Choquequirao é também conhecida como a “irmã” de Machu Picchu, já que é semelhante a essa estrutura em organização e arquitetura. Choquequirao está localizado no sopé das Montanhas Wilkapampa, na província de La Convención, a noroeste da região de Cuzco. A cidade chegou ao conhecimento dos europeus quando foi descoberto pelo explorador espanhol Juan Arias Diaz, em 1710. Enquanto Machu Picchu foi descoberto em 1911 e escavado no ano seguinte, estima-se que apenas um terço de Choquequirao tenha sido escavado até os dias de hoje. Ele fica escondido e esperando para ser revelado.

Especula-se que Choquequirao foi

construído por uma ou duas gerações antes da chegada dos espanhóis à América do Sul, baseado no fato de que a cidade foi construída como uma terra real por Topa Inca Yupanqui, o décimo governador do Império Inca, que viveu durante a segunda parte do século XV. Como narrado pelos escritos da época, Topa Inca Yupanqui tinha a intenção de construir uma cidade semelhante a Machu Picchu, que havia sido feita por seu pai e antecessor, Pachacuti. Outra versão da história assegura que Choquequirao foi construído ao mesmo tempo que Machu Picchu, sua construção sendo dirigida por Pachacuti, em vez de por seu sucessor.

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ESCADARIAS MILENARES COM REFERÊNCIAS ÀS LHAMAS E ALPACAS, ANIMAIS QUE CONTRIBUÍRAM PARA O TRANSPORTE DE PEDRAS PARA CONSTRUÇÃO DA CIDADE

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PA R A Q UA N D O VOCÊ FOR

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PERTO DOS CÉUS Como Machu Picchu, Choquequirao também é centrado em uma colina alta com uma montanha ainda mais alta atrás e um promontório dianteiro. Além disso, abaixo de cada cidade existe um rio sagrado. No auge do Império Inca, é possível que Choquequirao funcionasse como um centro administrativo provincial e fosse um elo vital entre a selva da Amazônia e Cuzco. Também tem sido especulado que Choquequirao era um centro de peregrinação em determinados momentos para eventos cerimoniais com o

apoio do estado regional. Além disso, há evidências de que Choquequirao era um importante centro de cultivo e distribuição de coca.

As escavações de Choquequirao revelaram a grande habilidade dos engenheiros incas: tudo foi construído com grande precisão e atenção aos detalhes. Por exemplo, fontes de água com pedras grandes foram construídas para não se desgastarem rapidamente, enquanto os moradores de Choquequirao demonstraram sua riqueza e poder através das portas duplas de suas casas, sob cujas jane-

lumeMatoGrosso CHOQUEQUIRAO

las surgiram pedras achatadas que dizem ser para manter a comida refrigerada, bem como canais de irrigação para os habitantes da cidade. Descendo os degraus da praça principal, encontramos um dos aspectos mais interessantes do Choquequirao: em um complexo de terraços, os construtores da cidade decoraram cada um deles com pedras brancas dando-lhes a forma de lhamas ou alpacas. Uma interpretação dessas expressões artísticas assegura que elas foram criadas como amostras de afeição por esse animal que foi usado

para transportar alimentos e suprimentos.

Apesar de todo o exposto, apenas 1% dos turistas que visitam Machu Picchu conhecem Choquequirao. Uma das razões para isso é que a estrada para Choquequirao é muito mais difícil de viajar do que a estrada para Machu Picchu. O governo peruano planeja colocar um teleférico para levar os turistas às ruínas antigas em apenas 15 minutos. Isso poderá trazer turistas para o local, mas com propósito de evitar impactos ambientais negativos, além de garantir a preservação do local.

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TURISMO

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Montanha Porta do Céu

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DA REDAÇÃO

monte Tianmen, um dos destinos turísticos mais espetaculares da China, fica 8 quilômetros ao sul da cidade de Zhangjiajie. Com a forma semelhante a uma mesa, a montanha tem 1.518 metros de altitude acima do mar e 2,2 quilômetros quadrados de superfície no topo.

Um dia, no ano de 260, o governador local passou por ali e, casualmente, uma parte da montanha desmoronou e apareceu no precipício uma caverna. O imperador soube da notícia e achou que era um bom presságio. Ele denominou o monte Tianmen, que quer dizer “porta do céu”. A partir daí, a

montanha ficou conhecida em todo o país.

Chen Ziwen, um simpático e longevo senhor, vive no sopé do monte Tianmen desde pequeno. Ele conta às pessoas a história de Yuwen Yong, imperador do período Zhou do Norte, há cerca de 1.500 anos, que cultuava o céu e a terra na montanha: “Normalmente, o culto se realizava nas Cinco Montanhas Sagradas, porém, naquela época, o Monte Heng das Cinco Montanhas Sagradas no sul da China estava fora do território do imperador Yuwen Yong, por isso, ele escolheu o monte Tianmen para o substituir e realizou o rito ali, chefiando todos os ministros civis e militares.”

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TURISMO

A história mostra que o monte Tianmen já é famoso há muito tempo. A caverna no precipício é o símbolo da montanha. A entrada da caverna tem 131 metros de altura e 57 metros de largura, sendo considerada a maior entrada de caverna do mundo. Olhando do sopé da montanha, a entrada parece uma janela de palácio no céu, rodeada por nuvens flutuantes. Nos dias chuvosos, a caverna esconde-se entre as nuvens e a névoa, muito mais misteriosa do que nos dias normais.

O monte Tianmen é tão íngreme que na antiguidade ninguém conseguia subir ao topo. Hoje, foram construídos 999 degraus para os turistas chegarem ao cume e conhecerem a caverna. Para os chineses, o número nove significa o maior. 999 escadas têm o sentido de subir ao palácio

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do céu. Zhang Leilei, uma turista, chegou ao monte Tianmen pela primeira vez.

Olhando tantos degraus, ela pensou que subir e descer do monte seria muito cansativo: “Nunca subi este monte. É altíssimo. E as escadas são estreitas e íngremes. Acho que a descida será ainda mais difícil.”

No topo da entrada da caverna, cresce um tipo de bambu verde e baixo. Quando venta, as folhas dos bambus pendurados se esfregam, fazendo o som de “Sa, sa”. De vez em quando, águas caem do topo, como se estivesse garoando. Segundo os habitantes locais, quem consegue pegar 48 gotas de água com a boca pode se tornar um gênio.

Na antiguidade, o monte Tianmen atraiu muitos religiosos e eremitas a levarem uma vida de retiro ali. Wang Xu, um famoso intelectual

do Reino Qi do período dos Reinos Combatentes, mais de 2 mil anos atrás, morava sozinho em uma caverna do Monte Tianmen, estudando e escrevendo livros.

As obras dele são transmitidas até hoje.

O senhor Li Guangzhang é um explorador amador e vive no sopé do monte Tianmen desde pequeno. Ele tem um grande interesse nas histórias e lendas sobre a montanha e fez várias explorações na caverna em que Wang Xu morou.

“Moro no sopé do monte Tianmen. Adoro muito a montanha. Quando era criança, fiquei muito curioso sobre a caverna da lenda e decidi entrar nela quando cresci. Tive muito medo na primeira exploração. Mas, posteriormente, entrei várias vezes na caverna e não temi mais.”

Há dezenas de anos atrás os habitantes podiam ver di-

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retamente a caverna do monte Tianmen, mas, hoje, as pessoas não conseguem vê-la mais, porque, a caverna muda de posição geológica lentamente. Luo Zhaoyong, fotógrafo local, disse: “Tenho trabalhado como fotógrafo há 30 anos e conheci profundamente o monte Tianmen. Antigamente, a caverna Tianmen era defronte ao portão da cidade. Posteriormente, a caverna mudou para o oeste. Ela nunca parou de mudar.”

Além das lendas e fenômenos misteriosos, a montanha ainda possui outra atração, a rica cultura de academia. Na antiguidade chinesa, o setor educacional da região era bastante próspero. A Academia Tianmen formou muitos intelectuais e funcionários, dando grandes contribuições para a administração do país. Chen Ziwen, natural da região Tianmen, disse: “O imperador da dinastia Yuan Tiemuer elogiou muito a contribuição da Academia Tianmen e escreveu pessoalmente o nome da Academia.”

A partir daí, a Academia Tianmen ficou conhecida por todo o país. Até 1904, quando o antigo sistema de exame imperial foi cancelado e a Academia foi transformada em uma escola primária.

Por tudo isso, vale muito a pena conhecer essa fantástica obra da natureza, cheia de mistérios e lendas, mesmo estando a milhares de quilômetros de Mato Grosso.

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SAÚDE

Pela Redução da Mortalidade Infantil POR SANDRA CARVALHO FOTO HAILLYN HEIVINY

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meta dos sete estados que compõem o Consórcio Interestadual de Desenvolvimento do Brasil Central é reduzir a taxa de mortalidade infantil de 13,3 para 9,7 a cada mil nascidos vivos até em 2022, com base nos índices de 2015.

Em Mato Grosso, são 24 os municípios com maior índice de mortalidade infantil. Esta projeção está inserida na execução do Programa Aliança Municipal pela Competitividade (AMC), lançado durante o 20º Fórum dos Governadores do Brasil Central que aconteceu em Cuiabá nos dias 24 e 25 de maio. De acordo com Aline Régia, coordenadora de Ações Programáticas Estratégicas da Secretaria de Estado de Saúde (SES/MT), para alcançar a meta, o programa trabalha com eixos e um deles é a definição da linha de cuidado materno-infantil que passa pela definição de protocolos e responsabilidades compartilhadas entre estados e municípios.

ÍNDICES DE MORTALIDADE INFANTIL

»»São 24 os municípios mato-gros-

senses alvo do Programa Aliança Municipal pela Competitividade: Grupo Prioritário (12) - Comodoro, Campinápolis, Tangará da Serra, Barra do Garças, Alta Floresta, Várzea Grande, Cuiabá, Cáceres, Primavera do Leste, Sorriso, Rondonópolis e Sinop. Grupo Focal (12) - Vila Rica, Canarana, Colniza, Água Boa, Aripuanã, Campo Novo do Parecis, Barra do Bugres, Peixoto de Azevedo, Campo Verde, Jaciara, Juara, Juína. Destes, os cinco que apresentam maior índice de mortalidade infantil para cada 1.000 nascidos vivos são: Comodoro (41,4), Campinápolis (31,3), Canarana (30,7), Colniza (27,2) e Água Boa (23,4).

CAUSAS »»As principais causas de morte neonatal são complicações em partos prematuros (35%), eventos relacionados ao processo de parto (24%) e infecções (15%). E de acordo com a Organização Mundial de Saúde, grande parte das causas dos óbitos são evitáveis, principalmente através de prevenção, como acompanhamento pré-natal ou assistência médica nas primeiras semanas de vida.

AÇÕES EM BUSCA DA META »»A coordenadora de Ações Programáticas Estratégias da SES, Aline Régia, informa que duas ações foram iniciadas em 2017 com vistas a contribuir com a redução do índice de mortalidade infantil em Mato Grosso. Uma delas é a Qualificação da Atenção Neonatal (Programa Selo qualiNEO) que tem por objetivo diminuir a mortalidade neonatal e qualificar o atendimento aos recém-nascidos com duração de dois anos (junho/2017 a julho/2019). “A ideia é formar multipli-

cadores para disseminar a estratégia para outras maternidades no Estado”, conta a coordenadora.

A outra iniciativa é o Aprimoramento e Inovação no Cuidado e Ensino em Obstetrícia e Neonatologia (Apice On) que propõe a qualificação nos campos de atenção e cuidado ao parto e nascimento, planejamento reprodutivo pós-parto e pós-aborto, atenção às mulheres em situações de violência sexual e de abortamento e aborto legal, nos hospitais selecionados.

AÇÕES DE ROTINA

»»Há as ações já desenvolvidas de

forma rotineira como o Método Canguru, assistência neonatal que estimula o desenvolvimento de recém-nascido de baixo peso e prematuros. Em Cuiabá, o Hospital Universitário Júlio Muller (HUJM), Hospital Geral e Santa Helena (referência para o Estado) desenvolvem a estratégia. “Atualmente trabalhamos para estruturar a estratégia do método na Atenção Básica”, informa Aline Régia. A iniciativa Hospital Amigo da Criança é outra ação já desenvolvida em Mato Grosso, que é um selo de qualidade conferido pelo Ministério da Saúde aos hospitais que cumprem os 10 passos para o sucesso do aleitamento materno.

Esse método foi instituído pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) e pela Organização Mundial de Saúde (OMS), cujo objetivo é mudar práticas, condutas e rotinas das maternidades visando diminuir as intervenções desnecessárias na mulher durante o trabalho de parto e no bebê após o nascimento. Também busca promover, proteger e apoiar o aleitamento materno. No Estado, existem dois Hospitais que aderiram à estratégia: Hospital Santa Helena (Cuiabá) e Hospital São Luiz (Cáceres).

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R E P O RTAG E M ESPECIAL

130 Anos da Abolição da Escravidão.

O Escravismo Acabou?

Cartas de Leona: entre gentes e livros no navio negreiro POR MARCO POLO DANTAS

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lumeMatoGrosso NAVIO NEGREIRO, GRAVURA DE RUGENDAS FOTOS DIVULGAÇÃO

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R E P O RTAG E M ESPECIAL

A

depto da Escola Estóica, aprendi que devemos dominar nossas paixões e pensamentos. A “veia negativa” que tanto detestamos percorrer, nessa filosofia grega, serve para atingirmos equilíbrio e satisfação.

Esse exercício ascese me serve para suportar melhor os dias nesse “santuário estóico”, tão próximo às senzalas de Bangu, com 108 presos, num espaço compatível para 46 camas. Deste total, 86 são negros misturados ao brancos, gays e travestis. Superpovoado, o lugar obriga a ficarmos amontoados. Tudo aqui me faz crer que vivemos em uma senzala, descrita nos livros e ilustradas com gravuras.

Para cada situação vivida

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aqui em Leona, nome que passei a chamar este lugar, existe para mim uma correspondência com o passado escravocrata. O formato da cela se parece com os alojamentos que os cativos utilizavam para descansar, cozinhar, dançar, cultuar seus orixás, procriar e chorar saudades da África. Como eles, dormimos em lugar semelhante, trancados e jogados em espaço que não condiz com nossos direitos. Sujidades, umidade, mofo e odores desagradáveis estão presentes no ar que respiramos.

Os cultos africanos deram lugar às pregações evangélicas: fanatismo parecido com as incorporações daqueles escravos possuídos por suas “entidades”. Aqui, as alucinações estão por

conta das drogas. É comum cozinhar dentro da cela, num precário fogão feito de tijolo e mola-elétrica. Quando estamos destrancados, num espaço de chão batido, ao redor da cela, fazemos uma fogueira para cozinhar angu ou sopa com as sobras de comida que nos fornecem.

Quanto ao sexo, as escravas negras são aqui “substituídas” pelos travestis e gays, em relações sexuais sórdidas e imorais, quando um pequeno número de presos tenta saciar seus desejos e saudades amorosas.

O papel do feitor nas fazendas escravas, a impedir o negro de foragir e a aplicar castigos disciplinares, é bem semelhante ao trabalho que o nosso “capitão do mato” realiza na cela. Ele tem o de-

“Lá na úmida senzala Sentado na estreita sala Junto ao braseiro, no chão Entoa o escravo seu canto E ao cantar correm-lhe em pranto Saudades do seu torrão”.

A canção do africano, Castro Alves, 1863. ver, entre os criminosos, de zelar pela ordem, mesmo se tiver que aplicar alguma surra ou castigo. O termo navio negreiro surge quando equiparo as doenças (como o escorbuto), sofridas pelos escravos jogados nos porões das caravelas, com as doenças aqui contraídas pelos presos (HIV e tuberculose).

Estamos todos num mesmo barco, a enfrentar tempestades e crueldades.

Dentre as valias que o cárcere tem me apresentado está em perceber o negro de modo diferente da mentalidade racista que meus olhos e minha intolerância admitiam. Sentenciado em regime semiaberto, em agosto completarei 1/6 da pena, quando passarei para o regime aberto. Sem aviso

“Marquei encontro comigo mesmo. Que bom, os dois não apareceram”.

Sinto outra etapa desse meu exílio se aproximar.

Minha convivência e morada com os negros está para ser modificada. Valeu muito; aprendi bastante com eles e o mais importante foi o gostar da pele negra deles. Se conseguir decodificar o porquê da minha passagem por esta senzala, foi para misturar minha pela branca com a certeza que por detrás das peles, somos todos muito iguais.

Desculpe o “clichê”. Aqui pude praticar um escola filosófica que gosto muito – Estóica. Esta que ensina a dominar as paixões e controla os pensamentos. Precisei muito aqui e usei seus fun-

damentos. Os pensadores desta escola, como Epíteto, ensinavam sobre a Ataraxia, seria a eliminação de pensamentos que nos levam à tristeza, depressão etc. Até agora, tenho conseguido me manter “fora” das grades, juntando a fé com o estoicismo. Outra coisa bem interessante é a proposta de se usar o “Amor fati” a todos os acontecimentos que nos cercam e acontecem em nossos dias a fora. Segundo eles, “tudo que nos acontece e não depende de nós é necessário e bom”. A escola nos faz compreender que “fazemos parte da totalidade e ter amor por nosso destino, nos fará felizes”.

Veja só! Um pouco difícil, não é mesmo? Para aqueles que conseguirem um grande prêmio – a felicidade. Escutei aqui uma frase muito boa de Fernando Pessoa.

Um colega cabeça pensante me passou e achei muito, muito boa: “Marquei encontro comigo mesmo. Que bom, os dois não apareceram”. Resolvi, já desde Água Santa, sem saber, encarar o aforismo de Fernando Pessoa, diferente, às avessas.

Marquei um encontro comigo mesmo. Que ótimo, os dois apareceram! É um confronto bem difícil; um duelo entre os “eus”, o verdadeiro lutando contra o falso eu.

Paulo Coelho escreveu em alguns de seus livros que o pior combate é aquele travado consigo mesmo. Aproveito o tempo disponível e o lugar para praticar.

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prévio, aos 61 anos, a vida me jogou dentro de uma senzala. Precisando aprender algumas lições, negros criminosos passaram a ser meus professores. Faço parte de um laboratório humano onde tenho oportunidade de experimentar trocas de atitudes e sentimentos solidários entre mim e aqueles que um dia repudiei.

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R E P O RTAG E M ESPECIAL

MAQUETE DO INTERIOR DE UM NAVIO NEGREIRO

TOMEM MUITO CUIDADO COM CIDADES LEONAS »»Chamarei de Leona esta cidade que estou para conquistar e por dentro de algumas palavras, um breve relato do que vejo e sinto. A África é aqui! Estou dentro dela. Os negros são meus companheiros no despertar e no entardecer. Nestes dois meses aqui em Leona, fui jogado no túnel do tempo, onde viajei para um passado distante e ao mesmo tempo – agora. Dizem que tudo aquilo que repelimos somos atraídos. E assim foi e está sendo dia a dia neste novo cárcere. O preconceito e a rejeição para com esse povo me atraiu para bem próximo deles: corpo a corpo, pele a pele, cheiro

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a cheiro. Me encontro literalmente dento de uma senzala. Folheio um livro de história do Brasil e me vejo dentro de suas páginas. A memória escravista perseguiu-me durante mais de cinco séculos. Isso me mostra que o início e o final desse túnel/memória sempre estará vivo porque a consequência que vivo hoje com esses negros foi causa não resolvida e mal direcionada um dia. Ainda hoje, querer descortinar esse passado inglório está se tornando quase que impossível, talvez a geração de nossos netos consiga, de vez, deixar a história dos navios negreiros, das senzalas, dos grilhões e das chibatadas se tornarem memórias mor-

tas e não tão vivas e tão perigosas memórias recentes. Estamos todos sentados em cima de uma bomba! A igualdade entre as raças eles nem mais a procuram. A exclusão e a falta de tudo a que esses negros forma levados, os fazem ir em direção à revolta. A chibata e os ferros deram lugar ao desprezo e as prisões.

As senzalas e os quilombos, hoje, chamamos de favelas. O tempo se encarrega de interligar os séculos, de fazer com que a imagem negra do passo tome forma e sentido no hoje. E, assim, devolver para os livros de histórias, passados vergonhosos, precisaria nos capacitar muito para irromper modelos defasados e dete-

sar bem longe de Leona e para sua família e seus amigos, toda sua corte, ensiná-los e principalmente alertá-los para que tomem muito cuidado com “cidades Leonas” e que as já existentes sejam extintas.

Aqui me chamam de “Seu Dantas”, um estranho em Leona, num espaço onde 90% são negros. Procuro, a cada dia, estar mais próximo deles, separando suas atitudes e crimes da suas peles e corações.

Acho que todos que me cercam, você é a que está capacitada para me entender.

Um dia esteve dentro do mundo dos desvalidos, hoje me encontro no mundo negro. Dois mundos que sofreram com a escravidão e pa-

gam até hoje altos preços.

Por que então um dia você foi ter com os desvalidos e hoje eu vim ter com os negros? Quem sabe? No que temos certeza é quanto ao que aprendemos e o quanto nos eleva conviver com os discriminados. Soa divino, não é mesmo? E quando sentimos que há uma energia estranha nesse convívio pelo que passou e pelo que passo agora é que uma conexão aconteceu, vinda sei lá de que parte do Universo.

Somos privilegiados, uma pena que não existam pessoas que queiram abraçar nossas experiências. Aqui me despeço, com forças para continuar minha navegação, em busca de outras “cidades invisíveis”.

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riorados que fazem de uma população confinada na pobreza, inchar a cada dia numa progressão geométrica que assusta. Mas, ao que vejo, o susto não provoca os cuidados que deveria derivar. Os negreiros foram preservados; as senzalas são grandes ilhas em nosso país. Um Brasil que ri e faz suas pobrezas endêmicas.

A pergunta que deixo, meu caro imperador Kublai Khan, é de como revestir um passado de vergonha pela possibilidade do futuro chegar de forma contrária ao hoje?

Nas minhas tantas viagens pelo mundo conheci cidades e cidades e poderia estar contando outras histórias, mas meu relato será suficiente para você pas-

FAVELA DA ROCINHA

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R E P O RTAG E M ESPECIAL UMA BIBLIOTECA NA SENZALA »»A água não é santa, mas Bangu é infernal!

A água não é santa, mas Bangu é infernal! Que mudança! Chegamos. Eu e meu colega, Sargento da Marinha, que estava comigo em Água Santa, às 03:00 da manhã aqui em Bangu. Fomos encaminhados para a galeria do Povo de Israel, a mais branda das celas aqui de Bangu, onde a maioria dos presos é cristão e evangélico. Pedimos para irmos para um lugar compatível com nossas vidas profissionais e fomos atendidos. Ao chegarmos na cela, todos dormiam. A quantidade de gente pelo chão era de assustar. Ficamos sentados no chão até amanhecer para tomarmos posição e conduta de comportamento na cela. Fiquei chocado com o amontoado de negros pelo chão.

Uma cela de 75 pessoas, umas 42 estavam nos seus colchonetes pelo chão.

Olhei e me imaginei numa senzala! Estava literalmente trancado com escravos negros! Conheci um pouco da África! Que coisa estupenda! Não acreditava que

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estava passando por meus olhos e mente, um livro de história envolvendo os negros escravos! Que experiência! Incrível como tudo tem me servido para melhorar este homem – seu irmão! E assim, vou caminhando, dia seguido de dias... Mas, nem tudo, nem todos me incomodam ou me fazem ficar intranquilo. Por exemplo, a Biblioteca! Ao lado da minha cela onde encontro um refrigério para a mente. Tem até bons títulos, muito singela, mas dá para ler bons livros – autores brasileiros.

PERFUME DE LIVROS »»Os cheiros bons tinham se afastado e agora quando abro a biblioteca, lá pelas 9 horas, sinto o cheiro dos livros – sei que conhece bem esse perfume. A alma e a mente absorvem o extrato das palavras, dos poemas, do romantismo, da história e da geografia, do mundo e da sua gente miscigenada e multicolorida. Maravilha! Consigo ainda mais me afastar das grades e do submundo do crime, com seus adeptos se afastando cada vez mais da magia e da viagem que

os livros nos conduzem.

Assumi a biblioteca do espaço que chamam “Povo de Israel”. Celas em torno da Igreja Evangélica. 8 celas ao todo, mais ou menos 600 pessoas. No presídio, ao todo, tem duas bibliotecas. Aos poucos, a energia da biblioteca vai mudando.

Quando “eles” percebem que alguém está dando importância aos livros e mostrando respeito pelo espaço, as coisas são vistas de outro modo e, aí, tendem a mudar. Penso como se torna gratificante quando passamos a nos conectar com a energia do Universo. Neste meu exílio, tenho me encontrado ou eles, os livros me esperavam com um toque de surpresa. Lá em Água Santa e aqui em Bangu, alguns livros foram de suma importância para essa travessia que ainda se estende. Fiquei alegre e agradecido em saber que você comenta sobre os livros que li e que indico. Os livros têm a magia de nos transportar a outros mundos; têm alma própria; são professores; nos ensinam a amar; nos fazem rir e chorar; ficamos fortes ao seu lado; têm cheiro próprio.

berem que todas as coisas virão etiquetadas com preço, já será um alerta.

A biblioteca, por exemplo, tem sido algo extraordinário neste lugar. Como falei em outra carta, respiro o perfumo dos livros pelas manhã. Passo a maior parte das horas de soltura dentro desta pequena sala de 8 x 7m e ainda com o privilégio e ter um vaso sanitário! Fiquei mais de 6 meses sem me sentar num vaso sanitário. Hoje, ao usá-lo, dou o valor que ele merece. E, assim, tantas e tantas coisas que ligamos o “automático” e passamos por cima de coisas tão simples, como sentar em um vaso sanitário.

Voltando aos livros: foi um presente dos deuses, mas como tudo, tem seu preço. Os demônios de plantão”, como define um colega, dos que lêem, vez por outra, entram e interrompem o silêncio. Além dos livros, o silencio incomoda a maioria deles, mas, é questão de aguentar 15-20 minutos e esperar que os “demônios” vão embora. Só de me livrar do cheiro da energia da cela por algumas horas já vale aturá-los. Num lugar como este, passa a ser um oásis no

meio do deserto. Acabei de ler Agincourt. Achei um pouco maçante, muitos dados e pesquisa histórica e pouca informação sobre a batalha. Mas, valeu por algumas informações sobre a Cavalaria e seus nobres cavaleiros.

Agora estou lendo Invencível, de Laura Hillenbrand, história que inspirou o filme sobre a vida de Louis Zamperini, que competiu nas Olimpíadas de 1936, em Berlin, ganhador da provados 5.000m. Estava se preparando para correr (5.000m), quando a II Guerra Mundial estourou. Se alistou na Força Aérea, em combate o avião caiu no mar e foi náufrago por mais de 40 dias.

Capturado por japoneses, foi prisioneiro e torturado.

A história está servindo muito como exemplo de sobrevivência, persistência e redenção ao que estou enfrentando. Pouco, pequeno em relação tantas histórias de sobreviventes que enfrentaram suas guerras. E, assim, vou indo. Livro após livro vou passando por cimo dos dias de cárcere, não tinha ideia de quanto os livros são nossos amigos, companheiros eu nos levam a passear e a transpor tantas coisas. Viva os livros e seus escritores!

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VASO SANITÁRIO: O PREÇO DE TODAS AS COISAS »»O romancista francês Antoine de Saint-Exupéry se perguntava “por que sempre agimos como se algo tivesse um preço ainda maior que a vida”, quando indubitavelmente, “a vida humana é inestimável? (“O preço de toda as coisas”, de Eduardo Porter). Isso mesmo! A vida, nossas vidas, são inestimáveis! E o que fazemos com elas? Como nos preparamos para o curso da vida?

Quais os cuidados que tomamos como nossas vidas?

Viver seria fazer o que com a vida? Há alguns anos, me pergunto por que não temos aula de vida? Porque não existem professores que ministrem e nos ensinem como preservar, caminhar com algo de tão grande valor – a vida? Por que alguém não nos ensinou que para cada atitude, decisão ou procura por algo, teremos um preço a pagar e outro a receber, que virá de encontro direto com nossa vida?

O livro, “O preço de todas as coisas”, me faz refletir e surge uma avalanche de perguntas, a maioria ficará em resposta, mas acho que, só em se perce-

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vencível, com suas 470 páginas! Foram semanas viajando, alimentando-me (no sentido de me fortalecer com exemplos de tanta superação) dos relatos de tortura e superação de um ex-combatente da II Guerra Mundial – Louis Zamperine.

Valeu muito! Agora passo a ler um romance – A casa das orquídeas, de Lucinda Riley. Com suas 560 páginas, aproveito sua “grossura papelesca” para debochar daqueles que entram na biblioteca com intensão de romper o silêncio com relatos de seus crimes. Eles têm verdadeiro horror a livros, principalmente livros volumosos.

Rio por dentro, não posso debochar com riso solto (pena). Papai dizia que eu tinha puxado o vô Octaviano – um debochado.

Passo por uma das estantes da biblioteca para arrumar um livro que está fora do lugar. Reparando na capa, dou um “stop” – O caminho dos sonhos, de Marie-Louise von Franz, foi a mais importante discípula de C. Jung! Você, primeira pessoa que me veio à mente. Veja se consegue encontrar um exemplar – publicado em 1988. O livro é baseado na série de filme documentários (The way of the dream). “Essa percepção crescente corresponde à emergência de uma área desprezada da ciência, ou seja, o estudo da influência que a experiência subjeti-

va ou interior exerce sobre a saúde o comportamento do ser humano: dada a dificuldade de obter dados objetivos, alguns pesquisadores vêm se concentrando exclusivamente nos sonhos para proceder a uma investigação sistemática desse vasto universo interior”. E, mais: para C. G. Jung “os sonhos fornecem informações extremamente interessantes aquém se empenhar em compreender o seu simbolismo.”

Penso nesses últimos 8 meses, chego à conclusão que quando não nos revoltamos com acontecimentos contrários a nossas vontades, parece-me que o caminho a ser trilhado para superarmos tal dificuldade é preparado por “alguém lá de cima”. Assim tem sido comigo. O caminho que tenho percorrido é feito com os livros e os entendimentos que absorvo deles. Incrível como ao nos entregarmos ao Universo que nos rege, enxergamos e sentimos coisas por nós, nunca vistas e jamais sentidas. Que experiência! Está valendo o preço! Tenho certeza que recompensarei vocês também pelo que passam e sofrem por minha causa.

Voltando ao livro, a autora, Marie-Louise, interpreta alguns sonhos. Acho que você vai gostar, alguns sonhos interpretados são de mulheres. Já ouviu falar de “animus”? Pesquise, poderá te ajudar muito.

“TEMPOS DE HOMENS PARTIDOS” »»Diante de sua pergunta, não foi propriamente me “perder no tempo”, ou por ter entrado num “túnel do tempo”, mas como o tempo há alguns anos, passou a ser considerado por mim como Kairós, às vezes enxergo as datas cronológicas, às vezes não as sinto. Acho que estou aprendendo a levar ou me deixar levar pelo tempo do jeito que ele gosta. Nesse lugar, saber levar o tempo implica em deixá-lo livre senão, todas as coisas começas a pesar muito. Incrível como o tempo nos ensina! Considero que ele é um Espírito.

Uma das tantas criações de Deus e que deveríamos entender é se relacionar melhor. Mas, vamos lá, tentando nos distrair e nos ocupar para que a tal ansiedade fique perdida em algum lugar.

Estava folheando um livro de Jorge Amado – O Cavaleiro da Esperança, a vida de Luís Carlos Prestes, quando encontrei uma expressão bem interessante do Jorge, só para os íntimos, tá? (Estive com ele em Brasília, tenho livro autografado, trabalhei na Presidência com a filha, Paloma, e tenho livro autografado pela Zélia): “tempos de homens partidos”.

Gostei da expressão, deu encaixe aqui comigo.

Como falamos por telefone, você teve seu tempo de Marco Polo, na sua cidade visível/invisível dos desvalidos. Fui seu Kublai Khan. Você me contou

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O CAMINHO DOS SONHOS

»»Lá se foi mais um livro – In-

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muitas histórias e cheguei até a conhecer sua cidade.

Tento passar Leona bem disfarçada, tento arrancar suas grades e procuro mudar sua rotina através das leituras/ensinamentos que obtenho num oásis – biblioteca – localizada dentro de Leona.

Não adianta nada ser Marco Polo, viajar, navegar, explorar e acumular conhecimento se não tivermos a outra ponta, Kublai Khan! O eco é muito importante na nossa vida, é um parâmetro que temos, um espelho gigante que nos traz nossas atitudes, pensamentos e desejos.

Como falou Marco para Kublai: “uma descrição do mundo à qual você me empresta sua bondosa atenção”. Bonito isso, não? E, assim, caminhamos emprestando nossas aten-

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ções, ora escutando, ora narrando. Obrigado pela sua “bondosa atenção”, obrigado também por suas histórias de vida e de cidades que têm me contado nessa nossa caminhada.

HISTÓRIAS DA BIDU: SUSTENTA NA COSTELA! »»Chegou “Docinho”, o mais novo homossexual, agora um total de 5 na cela.

De vez em quando, ele entra na biblioteca, rebola e mostra a bunda para atiçar os desejosos! Precisa ver os modelitos que eles desfilam durante o dia! Loucura! Só loucura!

Estou curioso para ver como será meu regresso ao mundo! Falei pra você que o problema aqui não é o jogo da velha e sim a população! Como dizem por aqui, “sustenta na costela!”

JÚLIA, UMA AMANTE EM LEONA »»Hoje é uma terça-feira.

Nas terças, como não há visita dos familiares, o pátio todo fica livre. É o dia em que todos aqui, acho eu, se sentem mais livres por causa do amplo espaço a nosso dispor, das 9h00 às 16h00. No momento, estou na biblioteca. Aproveito que poucos a usam neste dia. Me sinto mais solto aqui, mais tranquilo e com mais silêncio para minha mente viajar nos pensamentos e nos livros.

Aqui no exílio, aquele que consegue manter sua mente afastada do cárcere tem melhores chances e sobreviver.

A maioria opta pelas drogas, jeito mais fácil, imagino. Prefiro algumas coisas que ao mesmo tempo me mantenham na realidade que ora ocupo, transportem-me de

nar, já que seu modo de vida me intriga e fascina. Vou te contando, à medida que as páginas forem virando, tá?

Hoje, 4 dias depois de ter escrito isto, lembrei do filme Náufrago, onde o personagem vivido por Tom Hanks mantem uma relação e convívio com Wilson, uma bola de basquete!

Lembra? É amante humana tentando fugir do caos.

Veja só a capacidade da mente humana. Sem medo algum de relatar para você o acima descrito. Será mais uma via que arrumei para transpor as grades, viajar e fazer o tempo correr de outro modo.

Que doideira! Que aprendizado! Que laboratório!

Muitos já falaram, inclusive Nelson Mandela. Lembrando de Mahatma Gandhi, “você pode me acorrentar, você pode me torturar, pode até destruir o meu corpo, mas você nunca vai aprisionar a minha mente”.

BANZO AFRICANO X FUNK CARIOCA »»Sinto que minha passagem por Leona está chegando ao término. Uma jornada difícil, com algumas “pedras de tropeço”.

Ouvinte de histórias complicadas e tristes, constatação de que a maioria aqui, de negros, estaciona num nível bem abaixo do entendimento da vida, quase perto do zero! Tanto pior que verificar tal situação é sentir-se inapto para dar-lhes um impulso. Teríamos que nos empenhar, dar-lhes acompanhamento, atenção, carinho e muitas, muitas oportunidades.

Há muitos anos, o continente africano foi invadido e suas cidades/aldeias saqueadas e esvaziadas.

Estava sendo descoberta a força mais robusta, uma força de trabalho insubstituível! Dentre todos que habitavam o planeta Terra – o negro e sua resistência ao

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outros modos pela imaginação, sonhos e desejos. Por exemplo, estou voltado para a leitura de um romance, A casa das Orquídeas. Dentro dele, ainda no começo da leitura, procuro aos poucos me inserir na história. Na narrativa, surgiu Júlia, personagem que se destacou nas minhas ilusões e desejos. Deve ter seus 40 e poucos anos, pianista clássica, com casa na França, morando na Inglaterra, viaja pelo mundo em seus concertos clássicos. Tudo a ver comigo: Europa, arte, clima europeu, viagens mundo à fora.

Teve duas perdas – namorado e mãe – que a desequilibraram um pouco. Apareceu um diário, de seu avô, que segundo a autora, Lucinda Riley, mudará muita coisa no romance. Vamos lá viajarei junto e procurarei encontrar em Júlia uma amante para, durante algumas semanas, viver ao seu lado, quem sabe, até me apaixo-

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trabalho mais árido e pesado trocou de lugar com a tração animal. O ouro e o diamante da sua terra foram roubados e misturados com o sangue das torturas, mutilações e capturas. A resistência à senzala, amontoados uns sobre os outros nas prisões não os assusta. O “banzo” encontra

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sua escapada na música “funk” e nas drogas. Mais e mais quilombos/comunidades são levantados, erguidos na desorganização social e fundados sobre o caos. O ódio os alimenta, o medo da morte não existe porque não os foi ensinado em época alguma a tratar a própria vida como algo pre-

cioso. Com isso, a demonização de suas mentes trabalha incessante, tornando-os sedentos de vítimas.

O Estado falido não encontra fórmula alguma para a contenção desses bolsões do crime. A socialização verbalizada pelos governos é motivo de riso entre eles. A vida direita e

lhas ao decorrer de suas vidas. A alternativa de pais e filhos é notória, havendo assim, um revezamento que busca a criminalidade. Tudo isso nos leva a crer que não existe solução, mas temos que busca-las de algum modo, alguém deve ter uma ideia, uma fórmula para que essa etnia possa ser libertada e abraçada.

Com isso, minha irmã, estou me afastando destas análises, de um estudo estatístico e de observações feitas nesses nove meses de cárcere. Não pude ajudá-los como necessitam, mas consegui enxergar muitas coisas, ensinamentos que eles, negros, se fizeram meus professores.

Está valendo muito, como já escrevi, minha passagem pelo exílio em Leona.

Achei aqui minha “pólvora de projeção” para sair do mundo das fantasias e dos desejos. Acho que estou apto a recomeçar a vida de um modo diferente.

Percebo que saí do estado de sono. Passo pelo estado de vigília e, quem sabe, chegarei a uma evolução da minha consciência.

Está perto da hora de nos encontrarmos – ao vivo e a cores. Imagine quanta coisa teremos para trocar um com o outro? Marco Polo e Kublai/Kublai e Marco Polo.

Um e outro, outro e um se misturando em viagens e histórias orais! Que prazer, que satisfação, que alegria, o belo se encontrando e trocando sentimentos.

CURIOSIDADE FALOPENÍSTICAS »»Nas minhas andanças pelos museus do Louvre e nos de Firenze, na Itália, me perguntava porque os grandes escultores retratavam o pênis com um tamanho pequeno, às vezes minúsculo, comparado aos musculosos e belos corpos de Adonis e David. Por que? Não encontrei respostas. Pois bem, ao entrar no banheiro da senzala de Leona, deparo-me com uma plantação de caralhos grandes, enormes!!! (longe da inveja, lembro do sonho de consumo da maioria das mulheres). Com isso, baseado nestes sustos, fico a imaginar o quanto feio seria essas estátuas e quadros com caralhos chegando perto do joelho!

Gênios, gênios da pintura e da escultura! O belo é pequeno e simbólico! Conclusão e alegramento: possuo um belo entre as pernas!

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honesta que busca um trabalho digno e remunerado não faz sentido diante do asfalto rápido e mais vantajoso. Surge aí uma população hospedeira da criminalidade que sobrevive à margem do desumano.

Ficamos a menear nossas cabeças, dia após dia, passam-se anos, séculos e só o que conseguimos foi nos refugiar em abrigo seguro, acumulando descasos, trancando-os em gavetas enquanto passeamos pelas esteiras do medo. Os conflitos que essa sociedade de etnia negra nos atropela, mostra uma história repetitiva, insolvente através do tempo, se tornando cada vez mais dolorosa para nós brancos.

Louis Pauwels pergunta: “Será o desinteresse pelo passado devido estarmos demasiado ocupados na preparação do futuro?” Acho que, na verdade, ignoramos o passado e o trouxemos com informações pretéritas, mas enxergando com olhos que buscam uma transformação dessa sociedade fantasmagórica de fantasmas negros viajando através dos séculos.

Por que não entregar-lhes a chave da liberdade e da insubmissão? Por que não conceder-lhes permissão para abrir suas herméticas e acorrentadas vidas?

Seus corpos estão presos entre grades e suas mentes acorrentadas, dando-lhes pouquíssimas esco-

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MAIOS DE NOSSA HISTÓRIA DIA 01

»»1889.

É criado o Dia do Trabalho, por um Congresso Socialista realizado em Paris. »»1931. É inaugurado o edifício Empire State, com 104 andares, em NY.

pou da Guerra do Paraguai e foi vice-presidente da Província de MT. DIA 05 »»1821. Morre no exílio Napoleão Bonaparte, Imperador da França.

DIA 07 »»1945. Termina a Segunda Guerra Mundial.

DIA 09 »»1982. É criado o município de Juína, pela Lei nº.

4.456, de autoria do deputado estadual Oscar Ribeiro.

»»1940. A lei do salário mínimo é anunciada no Brasil. »»1994. Morre Ayrton Senna, piloto brasileiro de F1, após bater na curva Tamburello, em Ímola.

DIA 03 »»1469. Nasce Nicolau Maquiavel, escritor e filósofo, em Florença, autor de O Príncipe.

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DIA 17 »»1934. É criado em Cuiabá o MIXTO ESPORTE CLUBE, de grande torcida e tradição, por Zulmira Canavarros e Nali de Siqueira.

DIA 10 »»1994. Nélson Mandela assume a presidência da África do Sul. DIA 12 »»1941. Nasce em Crato/CE, o jornalista, pedagogo, advogado, historiador e escritor Pedro Rocha Jucá, da AML e do IHGMT. Fundou o Sindicato dos Jornalistas de MT. DIA 13 »»1888. É sancionada a Lei Áurea, acabando com a escravidão no Brasil »»1940. Nasce o cantor e compositor norte americano Stevie Wonder.

DIA 15 »»1998. Morre o cantor e ator Frank Sinatra.

DIA 04 »»1837. Nasce em Salvador/BA, o médico humanista, político e militar Dormevil José dos Santos. Partici-

e governador interino de MT (06/06/1891 a 16/08/1891). »»1929. Primeira entrega de prêmios anuais concedidos pela Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood.

O prêmio foi uma estatueta banhada em ouro, que depois foi chamada de Oscar.

DIA 16 »»1840. Nasce em Bagé/ RS, João Nepomuceno Medeiros Mallet. Marechal do Exército, Ministro de Estado

DIA 18

»»1928.

Nasce em Várzea Grande Clínio Moura, marinheiro e ceramista de talento que projetou-se na comunidade ribeirinha de São Gonçalo, em Cuiabá.

DIA 19 »»1925. Nasce Malcom X, líder do movimento negro dos EUA. DIA 22

»»1885.

Morre Victor Hugo, escritor e romancista francês.

DIA 23 »»1927. Morre John d.

Rockfeller, empresário norte americano.

DIA 24 »»1543. Morre Nicolás Copérnico, astrônomo polonês.

DIA 25 »»1926. Nasce o músico e notável trompetista Miles Davis.

DIA 26

»»1963. É fundada a Asso-

ciação para a Unidade Africana (OUA).

DIA 27 »»1895. Oscar Wilde é condenado a dois anos de prisão com trabalhos forçados por ser considerado culpado por práticas homossexuais.

DIA 29 »»1945. Nasce em Campo Grande/MS, Bernardo Elias Lahdo, advogado, literato, ator e político. Da AML e do IHGMT.

DIA 30 »»1957. Nasce em Cuiabá o jornalista, ator e comediante Liu Arruda.

»»1431. Joana D´arc é condenada à morte na fogueira, sob acusação de bruxaria.

FOTOS DIVULGAÇÃO

O PERSONAGEM CENTO E CINQUENTA E DOIS ANOS DO NASCIMENTO CÂNDIDO MARIANO DA SILVA RONDON »»05-05-1865. É o maior nome da história de Mato Grosso. Engenheiro militar, matemático, cientista, sertanista e pacificador de índios nascido em Mimoso, distrito de Santo Antônio de Leverger, tendo falecido em 19/01/1957 no Rio de Janeiro. Rondon tornou-se um dos brasileiros mais conhecidos e respeitados em todo o mundo, devido aos seus feitos em prol da botânica e apoio à causa indígena. Pelo magnífico trabalho à frente das Linhas Telegráficas, ganhou notoriedade e ajudou a consolidar territórios. É cognominado de Civilizador dos Sertões, Pacificador de Índios, Patrono das Comunicações, Bandeirante do Século XX. Rondon é, acima de tudo, filho maior de sua Terra Natal e orgulho exemplar de seus conterrâneos mato-grossenses.

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»»1941. Nasce Bob Dylan, cantor, compositor e Nobel de literatura.

O ACONTECIMENTO SETENTA ANOS DA CRIAÇÃO OFICIAL DO ESTADO DE ISRAEL, NO ORIENTE MÉDIO »»14-05-1948. A criação do Estado de Israel, ocorreu em 14 de maio de 1948, mas o processo de formação das comunidades judaicas na região da Palestina remonta às últimas décadas do século XIX, quando foi criado o movimento sionista. O sionismo, ou movimento sionista, foi criado por intelectuais judeus no início da década de 1890 e tinha por objetivo principal o combate ao antissemitismo (aversão ao povo judeu que se espalhou pelo mundo após a dissolução dos antigos reinos judeus na Idade Antiga), que subsistia na Europa desde a Idade Média e que havia se intensificado no século XIX.

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MEMÓRIA

SOLDADOS DA DIVISÃO PARAGUAIA EMBARCANDO PARA A FRENTE DE BATALHA

A Guerra do Chaco

1932 a 1935

POR VARLEI EDEMUNDO BATISTA DA SILVA - Sº TEN. ADJUNTO DE COMANDO DO CI BLD E CARLOS ALEXANDRE GEOVANINI DOS SANTOS - TEN. CEL. COMANDANTE DO CI BLD

A

Guerra do Chaco foi um conflito armado ocorrido entre Paraguai e Bolívia, pela disputa da região do Chaco Boreal, entre 1932 e 1935.

Para estes dois países envolvidos nesta batalha, a região do Chaco apresentava uma

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grande vantagem devido à suposta descoberta de petróleo nas proximidades dos Andes, além de permitir uma outra importantíssima vantagem estratégica, no Chaco Boreal se localizava o rio Paraguai, a principal forma de acesso ao oceano Atlântico.

nômica. Apesar da crise enfrentada pela Bolívia na época, sua condição econômica ainda era mais forte que a paraguaia.

Mas por outro lado, o exército boliviano ainda não havia conquistado sua modernização. Já pelo lado de seu oponente, o Paraguai contava com duas grandes vantagens: sua infraestrutura possibilitava um transporte de sua tropa com mais eficiência e a moral dos seus homens, que estavam motivados e dispostos a não ceder nem um centímetro de seu território para os bolivianos.

Além disso, o Paraguai contava com uma vantagem política, pois a política boliviana ficou caótica depois que a guerra começou. A ação precipitada do exército boliviano de atacar sem a permissão do governo repercutiu em uma série de conflitos na capital.

O ataque inicial bolivia-

no foi bastante agressivo, avançando o máximo possível para o interior do Chaco. O objetivo era ocupar o território rapidamente, para forçar o Paraguai a um acordo e acabar rapidamente com a guerra, mas a situação logo se reverteu a favor dos paraguaios.

Apesar da superioridade numérica, a infraestrutura boliviana era quase nula.

Não haviam ferrovias ou hidrovias que pudessem facilitar o transporte de tropas, e suas estradas eram malfeitas e esburacadas. Já o Paraguai, apesar de ser mais pobre que a Bolívia, era um país cercado por dois grandes rios e contava com pequenas estradas de ferro ligando o país ao interior do Chaco Boreal. Isso permitiu aos paraguaios uma mobilização rápida de seu exército, mobilização esta, que era impossível para os bolivianos conseguirem acompanhar.

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Outros fatores que impulsionaram a referida guerra são: o fato da região do Chaco já ter pertencido à Bolívia, no antigo Vice-Reinado do Rio da Prata; a perda de sua saída ao mar para o Chile, na Guerra do Pacífico, ocorrida em 1879, e definitivamente, a Bolívia não queria perder o petróleo na região dos Andes nem o controle do rio Paraguai.

A Bolívia e o Paraguai eram as duas nações mais pobres da América do Sul, todavia, para o Paraguai o Chaco lhe despertava grande interesse, em razão de sua grande extensão de terra e as reservas petrolíferas já existentes. Por outro lado, a Bolívia com a intenção de resolver às crises que vinha enfrentando, viu a necessidade de invadir o Chaco.

Então em 1932, o Exército Boliviano, mesmo sem autorização de seu presidente, decide entrar no Chaco, nas margens do Lago Pitiantuta, com o propósito de guarnecer o local, mas os paraguaios descobrem e retomam o lago.

Na sequência, uma expedição boliviana é enviada e expulsa os paraguaios, tomando os fortes paraguaios de Corrales, Toledo e Boquerón. Após este episódio, o presidente do Paraguai, Eusebio Ayala declara guerra à Nação Boliviana.

A Bolívia apostou na vantagem numérica de seu exército, juntamente com a maior capacidade eco-

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MEMÓRIA

MARECHAL ESTIGARRIBIA

O Exército Boliviano chegou a um momento que sua superioridade numérica não servia mais para nada. Sua tropa era maior, mas demorava para chegar na linha de frente, possibilitando ao Paraguai arranjar tempo para trazer um efetivo maior do interior do país e também organizar seus ataques.

O Exército Paraguaio estava em menor número, mas tinha armas modernas e seus homens estavam dispostos à lutar até o fim. O Paraguai havia mobilizado, no início, em torno de 15.000 homens, enquanto que os

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bolivianos mobilizaram em torno de 10.000 homens.

O Marechal paraguaio, José Félix Estigarribia, acreditando que havia em torno de 1200 bolivianos, preparou um ataque para retomar o forte de Boquerón. O forte contava com apenas 448 soldados, 350 fuzis, 13 metralhadoras pesadas e 27 leves, além de 2 canhões Krupp, 1 canhão Schneider e 2 canhões antiaéreos. Depois de vários dias de combates, os bolivianos exaustos, famintos e doentes, abandonaram o forte, permitindo aos paraguaios avançarem para o norte.

Logo depois da derrota em Boquerón, o presidente boliviano convoca Hans Kundt para retornar ao Comando-Geral do Exército.

Kundt, aceita e tenta promover ataques baseados nos já antiquados métodos da Primeira Guerra Mundial, mas como não era um bom estrategista, acabou colocando em prática ofensivas que fracassaram.

No mês de outubro de 1932, o Paraguai ataca o poderoso Forte Arce, conseguindo conquistá-lo. No ano seguinte (1933), o Exército Boliviano, comandado por Kundt, contra-ataca o Forte Nanawa empregando 7000 homens. Os 1485 paraguaios resistem sob o comando de Estigarribia, por vários meses, até que em julho do mesmo ano, os bolivianos desistem.

O Exército Boliviano empregou blindados durante o segundo ataque contra Nanawa, os veículos empregados foram os Vickers E Type 6 Ton e Cardoen-Loyd, que eram guarnecidos por soldados armados com lança-chamas e apoiados por um avião.

A efetividade da operação das viaturas blindadas nesta guerra ficou limitada por vários motivos: falta de experiência dos militares bolivianos na operação de blindados; difícil terreno encontrado na região do Chaco; calor excessivo (40º) durante o combate, motivo este, que obrigava a guarnição operar os blindados

lumeMatoGrosso DESFILE DA VITÓRIA, EM ASSUNÇÃO, NO PARAGUAI

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MEMÓRIA

com as escotilhas abertas, o que os tornou muito vulneráveis; e devido as táticas prussianas empregadas pelo General alemão Hans Kundt, que utilizava o conceito de ataques frontais, primando pela tomada do território e não necessariamente a destruição do inimigo, tática esta, que culminou para a captura ou destruição dos veículos blindados pelos paraguaios.

Em dezembro de 1933, ocorre o cerco de Campo Vía, onde 10.000 bolivianos tentam desespera-

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damente contra-atacar os paraguaios, que descobrem os planos bolivianos através da interceptação de mensagens de rádio e se preparam para o ataque. A Força Aérea Boliviana tenta lançar bombas sobre os inimigos, mas acertam os próprios combatentes bolivianos. Desta forma, o combate inicia, os paraguaios (17.000) homens comandados por Estigarribia, resistem e vencem aniquilando quase todo o exército boliviano de uma só vez. Com

isso, o Marechal Kundt foi substituído no Comando-Geral pelo General Peñaranda. Em 1934, o Exército Boliviano tentava enviar mais reforços, mas em razão do clima e as chuvas que encharcavam as estradas esburacadas, suas operações ficaram prejudicadas. Além das dificuldades econômicas, oficias de alta patente da Bolívia liderados pelo General Peñaranda, deram um golpe de estado, derrubando Salamanca e permitindo que José Luis Tejada assumis-

lumeMatoGrosso se como novo presidente boliviano. Em 12 de junho de 1935, acontece a última batalha da referida guerra, foi em Ingavi, quando 3000 bolivianos (desgastados e com pouca logística) comandados pelo coronel Bretel, entram em combate com 850 paraguaios (focados no combate e empregando armas modernas) comandados pelo coronel Rivarola, que derrotou definitivamente os bolivianos. A partir deste episódio, a Bolívia já sem forças, se rende, iniciando as negociações de paz, que foram efetivadas em 21 de julho de 1938, quando os dois países aceitaram o acordo de paz realizado em Buenos Aires, ficando o Paraguai com a posse de 3/4 do Chaco Boreal e a Bolívia com 1/4, acabando com três anos de guerra, e levando os dois países a novas dificuldades econô-

micas devido à guerra.

Sobre a Guerra do Chaco é possível concluir que, os dois atores envolvidos (Bolívia e Paraguai), travaram um conflito por vários motivos: a disputa por território, conquista do acesso ao mar e domínio de fontes de petróleo na região do Chaco Boreal, região que se localiza na fronteira entre os dois países.

A Bolívia apesar de dispor de um exército de 250.000 homens, que enfrentou o Exército Paraguaio que contava com apenas 150.000 homens, acabou sendo derrotada. As causas da derrota do Exército Boliviano podem ser atribuídas a vários fatores: falta de estrutura das vias de acesso que levavam ao teatro de operações; planejamento e estratégias ultrapassadas; carência de logística e experiência em com-

bate, assim como, a falta de coordenação. Por outro lado, o Exército Paraguaio, mesmo com o efetivo menor, mas contava com experiências adquiridas em guerras anteriores, bem como, possuía vias de acesso, tanto terrestres como fluviais, que possibilitavam o transporte de suas tropas com maior rapidez, contribuindo para atacar e derrotar seu oponente. Por fim, a Guerra do Chaco foi não apenas o maior conflito da América Latina durante o século XX, deixando um saldo de 30.000 paraguaios mortos e 60.000 mortos pelo lado boliviano, mas uma guerra desnecessária, que contribuiu apenas para agravamento da crise econômica dos dois países, pois, após a guerra descobriu-se que as supostas reservas de petróleo na região do Chaco não existiam.

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ANTROPOLOGIA

IRMÃ ADA GAMBAROTTO (À DIREITA DA IMAGEM) E A VICE GOVERNADORA DE MT, IRACI FRANÇA (À ESQUERDA), EM EVENTO RELIGIOSO, EM 2007, NA CIDADE DE CUIABÁ. (FOTO: GOV-MT)

Ada Gambarotto “Tem Guató aí. Tem Guató lá.

Tem em todo o Pantanal”

P

POR ANNA MARIA RIBEIRO F. M. COSTA

ela “Iconografia das águas – o rio e suas imagens”, de José Serafim Bertoloto, uma etno-história Guató, desenha-se. O que se quer é “descobrir ou indicar, dentro dos conceitos de cultura, de que forma o ser humano imagina, conserva, apropria, registra e concebe a ideia de paisagem”. Assim como o fio que orientou Teseu e o trouxe de volta graças ao presente de sua Ariadne, os saberes praticados nas Terras Indígenas Guató, Mato

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Grosso do Sul, e Baía dos Guató, Mato Grosso, como um fio desenrolado e redimensionado durantes séculos, trouxe-os de volta pelos labirintos aquáticos dos rios, corixos e lagoas do complexo do Pantanal.

A primeira vez que estive entre o povo Guató, do baixo rio São Lourenço, foi no ano 2000, junto ao antropólogo Jorge Luiz de Paula. O indigenista José Eduardo havia solicitado à Funai estudos de identificação de um núcleo Guató, em Mato Grosso, onde as águas dos

rios Cuiabá e São Lourenço se encontram.

Nessa ocasião, eu e Jorge realizamos um levantamento da população, àquela época com 85 indígenas, vivendo em uma estreita faixa de terra, às margens do São Lourenço. Em virtude da situação de posse precária de seu território, a Funai solicitou e obteve da Justiça Federal de Mato Grosso a interdição de uma área, através de uma ação possessória de interdito proibitório contra os proprietários das fazendas desse perímetro.

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ANNA MARIA RIBEIRO F. M. DA COSTA é doutora em História, pesquisadora da Funai, professora do Univag - Centro Universitário de Várzea Grande, membro do Instituto Histórico e Geográfico de Mato Grosso e do Clube Filatélico, Numismático e afins de Cuiabá.

Na segunda viagem, estávamos na companhia dos índios da etnia Bororo, da aldeia Perigara, técnicos da Funai e da arqueóloga Maria Clara Migliácio. A equipe também foi integrada por um oficial da Justiça Federal de Mato Grosso que encaminhou o interdito proibitório aos proprietários das fazendas Coqueiro, São Benedito e Baía dos Guató, baseado no relatório da primeira viagem. Sua ação iria garantir a permanência desses índios na região, já ameaçados pelos fazendeiros locais.

Junto aos indígenas, percorremos de barco uma enorme extensão do bioma do Complexo do Pantanal, conduzidos por Euclides Guató, por um emaranhado de pequenos fluxos fluviais perenes, os corixos. No barco, estava Domingos Manoel de Amorim, o mais velho da aldeia, que indicava ao barqueiro os caminhos aquáticos para que pudéssemos conhecer as aldeias antigas onde morou.

Atualmente, o povo Guató habita duas unidades da federação: Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. Compartilham a mesma noção de história, uma mesma forma de vida e, de certa ma-

neira, uma mesma continuidade temporal. Portanto, para além das circunstâncias territoriais, proclama-se os usos, costumes e modo de ser como condições inerentes à organização social.

Necessariamente, as fronteiras de conteúdo cultural e geográfico não são coincidentes; mesmo que membros de uma mesma etnia partilhem territórios distintos e fragmentados, como no caso do Guató, o que define grupo é a fronteira étnica, enfatizada por categorias atributivas de alteridade e pertencimento.

Dentro desta prerrogativa, o povo Guató é único, indivisível, mesmo habitando localidades distintas. Nos dois estados, os agrupamentos formam um único grupo étnico por adotarem um conjunto de ações que dão sustentação à vida coletiva. Ambos entrelaçam-se em uma complexa trama histórica registrada em relato oral, documental, bibliográfico, iconográfico e cartográfico.

O povo Guató reconhece que seus domínios territoriais são moradas de um grande pássaro, de penas escuras: a águia pesqueira, o marevó. Acreditam os índios que o ato de matar a

ave é de mau augúrio; fato de matar uma onça, mepago, significa um indicativo de prestígio e de coragem.

Além disso, cada onça abatida concede ao caçador o direito a uma mulher; se adolescente, permite participar do ritual de passagem para a idade adulta. Às mulheres, cabe a confecção de utensílios de barro e de tecidos. Ambos os sexos trabalham na elaboração de peças trançadas.

Na distribuição das atividades, o homem Guató encarrega-se de confeccionar os equipamentos destinados à caça e à pesca. Também estão no rol de suas responsabilidades as atividades da caça, da pesca e da coleta, bem como o preparo de alimentos, dividindo-o com as mulheres.

O povo indígena Guató, dançador do cururu, tocador da viola de cocho e do ganzá e apreciador da bebida à base da polpa doce do acuri foi descrito pela primeira vez no século XVI pelo explorador espanhol Alvar Núñez Cabeza de Vaca, quando o Pantanal era conhecido por laguna de los Xarayes ou lago Xarayes, nome tomado de uma das principais etnias que ali existia.

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ANTROPOLOGIA

Os Guataes, Guatás, Guathós, Guatos, Guatós, Goatos, Guattos e Guatues, povo do Pantanal, tanto os dos núcleos populacionais de Mato Grosso como de Mato Grosso do Sul, na Terra Indígena Baía dos Guató como na

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Terra Indígena Guató, respectivamente, autodenominavam-se maguaató, frango d’água, espécie encontrada em rios, brejos, corixos e baias. Contudo, esta informação ainda é incerta, pois também se considera uma derivação do ver-

bo andar, guatá, em guarani, que significa “caminhar, circular, transitar”, em referência à grande característica do povo Guató: a mobilidade espacial.

Vários viajantes que percorreram a região Guató demonstraram suas impres-

lumeMatoGrosso ÍNDIOS GUATÓ EMBARCADOS, CAÇANDO ONÇA, NO PANTANAL DE MATO GROSSO. (GRAVURA DE JOÃO HENRIQUE ELLIOT, EM 1847)

sões sobre as peculiaridades linguísticas. Hercules Florence qualificou a língua como rápida: durante uma conversa, o que se pode ouvir são palavras monossilábicas, alternadas e breves. Castenau informou que é uma língua doce, especialmente se

pronunciada por mulheres.

Em tempos atuais, estudos linguísticos apontam que se trata de “uma língua que não tem adjetivos; os adjetivos da língua são os verbos, como afirmou o cineasta Joel Pizzini. Em um tempo mais recente, Rodrigues no-

tificou que os Guató são falantes de uma língua do tronco macro-jê, família e língua Guató. Sob a ameaça de extinção, hoje é falada por alguns indígenas no núcleos de Corumbá, Mato Grosso do Sul, e na região do São Lourenço, Mato Grosso.

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ANTROPOLOGIA Como vimos anteriormente, os Guató creem que seus domínios territoriais são moradas de um grande pássaro, de penas escuras: a águia pesqueira, o marevó. Acreditam que o ato de matar a ave é de mau augúrio; dentre eles, a chegada de tempestades destruidoras. De acordo com a crença indígena, a região também costumava ser agitada por Mucudingligli, espírito maléfico de chifres, que chegava numa nuvem de besouros, produzindo barulho intenso. Nos dias de hoje, a cosmologia Guató une-se aos preceitos cristãos, dentre eles, os da religião católica. A festa de São João, por exemplo, é bastante comemorada, momento em que as famílias se unem para realizar cerimônias de casamento e batizado.

Neste 2018, no dia 26 de abril, o presidente Michel Temer, em mensagem

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postada em rede social, afirmou: “Assinei hoje, com satisfação, decreto homologando a demarcação da Baía dos Guató, no município de Barão de Melgaço (MT). São quase 20 mil hectares de terra à beira do rio Cuiabá, ou 20 mil campos de futebol”.

Ora bolas! Pergunto: o que são “20 mil campos de futebol” diante à usurpação do território imemorial Guató? A homologação da demarcação da Terra Indígena Baía do Guató deve-se ao trabalho e esforço de muitas pessoas não índias que, em seus universos, contribuíram ou contribuem de forma ímpar ao reconhecimento dos direitos constitucionais dos povos indígenas, neste caso, do povo Guató. Dentre as mulheres que participaram do processo de reconhecimento da Terra Indígena Gua-

IMPORTANTE REGISTRO HISTÓRICO DO GUATÓ VICENTE, FEITO PELO FOTÓGRAFO IRON AMMONITE.

tó, em Mato Grosso do Sul, está Ada Gambarotto que, sem dúvida, responsabilizou-se por juntar, como ela mesmo disse, “as peças de um grande mosaico que se julgava destruído”.

Irmã Ada, como é conhecida, é uma religiosa salesiana que chegou ao Brasil em 1958, ao deixar sua terra natal, Pádua, na Itália. No ano de 1969, em Mato Grosso, passou a trabalhar para os povos indígenas. É ela quem diz: “minha missão por muitos anos está entre os povos indígenas da América Latina. Em 1983, os bispos do Brasil, preocupados com a grande mortalidade materna e infantil, deram início de uma pastoral específica para estancar esse flagelo. Apenas em 2002, esta pastoral é estendida a índios em Mato Grosso, com mais 30 grupos étnicos diferentes.

O trabalho realizado ao longo dos anos tem produzido bons resultados e a mortalidade tem sido significativamente diminuída”.

Ada Gambarotto foi personagem da etno-história contemporânea Guató. Em 1976, em Corumbá, em uma feira de comercialização de artefatos indígenas, a religiosa observou uma cestaria diferente daquelas que conhecia. Andou em busca da artesã, pois as tramas do cesto-cargueiro de palhas de acuri lhes diziam algo mais; forneciam indícios à sensibilidade da salesiana. E o encontro com a artesão foi revelador...

Com a ação dos salesianos, somente a partir de 1976 os Guató voltaram as ser percebidos como um povo.

Momento em que organizaram uma incursão para subir o rio Paraguai. Nas palavras de Adair Palácio, Irmã Ada “organizara a Equipe Indigenista Missionária Diocesana de Corumbá um movimento em prol dos índios da região, constituída por jovens voluntários. Foi à frente dessa equipe que ela descobriu Josefina, uma índia Guató de 55 anos, que mora em um bairro pobre daquela cidade. Josefina faz trabalhos de trançado para o Pró-Sol, agência do governo de Mato grosso que comercializa o artesanato local. O trançado levou Ir. Ada a Josefina, e esta identificou sua tribo”.

A artesã, uma índia Guató, interpretou à salesiana o que diziam as tramas do cesto formado por fios da seda do acuri, levando-a ao seu povo que havia sido decretado oficialmente extinto na década de 1960. “Tem Guató aí. Tem Guató lá. Tem em todo Pantanal! E devagarzinho, fomos ajuntando as peças de um grande mosaico que se julgava destruído”, proclamou Ada Gambarotto em “500 almas” documentário poético do cineasta carioca Joel Pizzini (2004).

Hoje, os Guató, falantes de uma língua do tronco macro-jê sob ameaça de extinção, ainda que estudos linguísticos não meçam esforços para a retomada da língua. Pelos la-

birintos aquáticos do complexo do Pantanal do Mato Grosso, somam, aproximadamente, 370 pessoas, número que reflete os intensos contatos, principalmente aqueles ocorridos no final do século XIX, quando sofreram irreversível processo de redução populacional e de perda de seu território tradicional, localizados em áreas distintas, ao longo dos rios Paraguai, São Lourenço e Cuiabá.

Dois pontos na cartografia dos Estados de Mato Grosso e de Mato Grosso do Sul delineiam, mesmo que descontinuamente, e com uma perda territorial considerável. Nesses espaços, continuam a reproduzir a maneira de ser Guató, reorganizada diante do processo histórico no qual se acham inseridos.

Os modos de viver dos indígenas da etnia Guató dos dois estados não deixam de subsistir se comparados às primeiras informações etnográficas de viajantes e exploradores do século XVI. Eles

não desapareceram sem deixar traços visíveis de sua existência anterior. A reflexão que se faz mostra que as organizações sociais são mutáveis, como em quaisquer sistemas culturais.

Os Guató, senhores das águas pantaneiras, que outrora faziam de suas canoas suas próprias casas, aos poucos foram perdendo suas terras. Anteriormente à demarcação das Terras Indígenas Guató e Baía dos Guató, principalmente entre as décadas de 1950 e 1970, passaram a morar em municípios periféricos ao Pantanal – Barão de Melgaço, Cáceres, Poconé, Ladário e Corumbá.

Mas, ainda que um processo violento de colonização tenha quase que exterminado o povo Guató, é com orgulho que irmã Ada Gambarotto afirmou: “Tem Guató aí. Tem Guató lá. Tem em todo o Pantanal! E devagarzinho, fomos ajuntando as peças de um grande mosaico que se julgava destruído”.

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FAMÍLIA DE GUATÓ, NO PANTANAL DE MATO GROSSO, COMEÇO DO SÉCULO XX. (FOTO: MISSÃO SALESIANA)

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CRÔNICA

Em Preto e Branco

A

POR ANA CAROLINA HALIUC BRAGANÇA

dentrou a sala de audiências. Uma jovem senhora, dinâmica, em passos acelerados a ele dirigiu-se, estendendo-lhe uma mão para tomar um documento e apontando-lhe com a outra mão uma cadeira preta, disposta à uma mesa branca. Tudo era preto e branco. As paredes eram brancas, a mesa era branca, as cadeiras eram pretas, os computadores eram pretos, as vestimentas de todos os presentes eram pretas e brancas, as sombras nos rostos das personagens eram pretas e brancas: um tabuleiro de xadrez embaralhado, a despeito de querer parecer organizado sob o manto do asseio, da solenidade, da geometria, pois que o tabuleiro sim tem uma geometria, quadrados alternados, colunas e linhas formando uma ilusão ótica em que o diverso origina um todo, e ali não, não havia harmonia onde a interlocução entre o preto e o branco fosse mera-

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mente protocolar. Sentou-se. O juiz fez surgir da toga preta uma mão branca que movimentava para cima e para baixo ao dirigir-se ao protagonista, esclarecendo-lhe: O Senhor foi arrolado como testemunha neste processo em que são acusados... O Senhor está sob compromisso e tem o dever de falar a verdade e somente a verdade, sob pena de incorrer em crime e ser preso e processado por isso... O Senhor tem conhecimento dos fatos narrados nos autos número.... Sou vítima. Nesse caso, o Senhor não está sob compromisso, mas deve falar a verdade por dever moral de contribuir com a Justiça, para o que peço sua colaboração e passo, então, a palavra à acusação. A acusação não vestia toga, mas trajava um elegante terno preto modelo slim acompanhado da tradicional camisa branca, colarinho impecável, modelo inglês, consoante a moda entre os mais descolaFOTOS DIVULGAÇÃO

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ANA CAROLINA HALIUC BRAGANÇA É Procuradora da República. Atuou no Ministério Público Federal em Mato Grosso, Roraima e, atualmente, é titular do 13º Ofício da Procuradoria da República no Amazonas, especializado em matéria ambiental. Formada em Direito pela USP, não esconde sua paixão pelo meio ambiente e pelas comunidades tradicionais.

dos. Era ao menos trinta anos mais jovem que o protagonista, do que não muito destoava o próprio juiz. Coçando a penteada barba preta, que lhe realçava o branco do pescoço, pediu-lhe a acusação que contasse o que ocorrera naquela data, havia um ano, a trajetória que o conduzira até ali.

Contou. Mas antes, chorou. Chorou pelas filhas, duas já formadas e uma ainda a formar, uma flor aos doze anos que sonhava o protagonista em ver doutora e que, com a graça divina, obtivera uma vaga em disputada escola militar. Chorou pela casa que perdera, porque não mais conseguia pagar os aluguéis, porque não mais conseguia trabalhar para ganhar o pão de cada dia, porque não mais suportava a ideia de entrar em um veículo e conduzi-lo cidade afora como nos tempos de antigamente, em que trazia na mente o mapa de cada bairro, a localização de cada ruela, e o gosto de servir ao cliente em seu direito de ir e vir.

Chorou pela esposa que já não sabia o que fazer para ajudá-lo, que chegara a crê-lo morto uma vez pelo crime e outra vez pelo legado do crime, eis que vivia quase morto em vida. Chorou pela castração do hábito inofensivo de aí estar um dia após o outro, trabalhando, comendo, dormindo, amando, conduzindo, sem que se lhe passassem à cabeça questionamentos filosóficos sobre os porquês do mundo, o porquê de ser ele vítima, o porquê de ter sido levado à beira do abismo, o porquê de ter sido eleito para provação. Chorou pela fragilidade a que fora eiçado naquela ocasião, ele, pai de família, provedor, arrimo da casa, dono do lugar à cabeceira da mesa, jogado ao chão da traseira do carro popular que lhe servia de táxi, apertado, pés e mãos amarrados, encapuzado, ameaçado e humilhado enquanto rondavam seus algozes com seu veículo, depois utilizado em um assalto a mão armada. Cho-

rou pela fragilidade a que fora eiçado naquela ocasião, ele, pai de família, provedor, arrimo da casa, dono do lugar à cabeceira da mesa, abandonado à beira da estrada com o automóvel, fazendo sinal com as mãos atadas aos transeuntes da rodovia sem que ninguém lhe desse atenção, temeroso de ser confundido com um assaltante, já que junto a si tinha o veículo usado e avistado na cena do crime. Chorou pela fragilidade a que fora eiçado naquela ocasião, ele, pai de família, provedor, arrimo da casa, dono do lugar à cabeceira da mesa, chamado a recontar o seu calvário, as horas de martírio entre a vida e a morte passadas com a visão de borrões por entre a camisa-capuz, sem saber o que seria de sua filha-flor, de sua esposa, de si mesmo, a esse público em preto e branco, meninos para si, a quem o reviver do trauma não fazia mover músculo algum. Quebrantou-se perante o Estado-juiz, cuja reação foi como era aquela interlocução falseada do ambiente: protocolar. A acusação agradeceu-lhe cordialmente. A defesa, um magro senhor sentado à mesa à sua frente, de notáveis olhos azuis, terno preto desbotado e um tanto grande para seus ombros, perguntou-lhe se reconhecia os assaltantes; disse que sim, ainda entre lágrimas. O juiz acenou a mão branca dando por encerrado o depoimento tão logo confirmada a autoria do crime, agradeceu-lhe a presença e anunciou de imediato o início de nova audiência. O protagonista retirou do bolso um lenço surrado, levou-o à face. A dinâmica jovem senhora levantou-se de seu posto ao lado do magistrado para acompanhá-lo até a porta. Abriu-lhe o caminho, ofereceu-lhe o documento e sussurrou: O Senhor foi um herói hoje. A mão preta e vivida do protagonista agarrou a carteira de identidade, agradeceu ainda meio sem ar, e abandonou a sala de audiências.

Lá fora, o mundo tinha cores.

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R E T R ATO E M PRETO E BRANCO

Isabel Campos

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arinhosamente chamada de “Loló” pelos amigos, familiares e membros da sociedade cuiabana, para o grande público passou à história como “Professora Isabel”. Estamos falando de Isabel Pinto de Campos, professora, empresária e política, nascida em Cuiabá em 9 de outubro de 1946.

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fundadoras, conselheira e se aposentou como professora. Paralelamente ao curso de Letras, montou em um galpão ao lado do ‘bolicho’ de seu pai, uma pequena escola que deu o nome de Santa Isabel. Pelos bancos dessa escola passaram figuras que vieram a se tornar proeminentes na vida matogrossense.

Em 1973, quando exercia o cargo de delegada de ensino de Mato Grosso, foi convidada pelo então prefeito de Várzea Grande, Júlio Campos, para assumir a Secretaria Municipal de Educação. Seu espírito de liderança e trabalho despertaram a atenção do jovem e solteiro prefeito. Casaram-se no final de dezembro de 1975.

Da união nasceram quatro filhos Laura, Consuelo, Júlio Neto e Silvia. Durante mais de 30 anos participou ativamente das campanhas eleitorais do marido, começando pela de 1978, quando Júlio Campos foi eleito proporcionalmente o deputado federal mais votado da história de Mato Grosso.

Em 1982 foi a principal coordenadora da campanha eleitoral que resultou na vitória de Júlio Campos ao Governo do Estado. Há quem aponte a professora Isabel Campos, pela sua participação intensiva naquela campanha, o diferencial que garantiu a vitoria sobre o padre Raimundo Pombo, candidato pelo PMDB. Com a posse de Júlio Campos, Isabel Campos assumiu a presi-

dência da Fundação de Promoção Social-ProSol, onde ficou de 1983 a 1986. Mesmo à frente da instituição, continuou por algum tempo dando aulas na Universidade Federal de Mato Grosso. Ela participou ainda das campanhas de Júlio Campos à Assembleia Nacional Constituinte, em 1986; ao Senado, em 1990 e na derrota para Dante de Oliveira ao governo estadual, em 1998.

Em 2008, já debilitada pela doença, ajudou como pôde na tentativa de Júlio Campos em voltar à Prefeitura de Várzea Grande. Pouco podendo participar de comícios, de passeatas, ou caminhadas, realizou em sua residência dezenas de reuniões com candidatos, a vereador, lideranças comunitárias e de classes. Sua última participação eleitoral foi em 2010, apenas através de telefonemas e cartas, onde ajudou Julio Campos a voltar à Câmara dos Deputados pela terceira vez. Em sua vida Isabel Campos recebeu dezenas de títulos de cidadania de benemérita, menções honrosas e condecorações, mas gostava mesmo é do título de ‘Professora’, com o qual queria e pedia para ser tratada. Além das salas de aula e dos livros, Isabel Campos tinha uma grande paixão pela comunicação.

Desde a década de 1980 do século passado, ela participou de importantes projetos na área de comunicação em Mato Grosso. Faleceu em 1º de dezembro de 2012.

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Isabel foi uma das mais importantes e respeitadas figuras da política mato-grossense, a partir da década de 1970, ao lado de seu marido, Júlio José de Campos. A partir de 2005, Isabel passou a ter sérios problemas de saúde. Neste período esteve internada em hospitais de Cuiabá e, posteriormente, no Albert Einstein, na cidade de São Paulo, onde submeteu-se a várias cirurgias e de sessões de quimioterapia e radioterapia. Sua garra e vontade de viver permitiu que convivesse com uma grave doença por sete anos. Segundo alguns médicos, o tipo de enfermidade a que ela havia sido acometida, estimava o tempo de vida útil entre três a quatro anos, no máximo.

Aos cinco anos ficou órfã de sua mãe Escolástica Coelho Pinto. Com a morte da mãe, seu pai José Pinto, comerciante do bairro do Porto, internou-a juntamente com outras três das quatro irmãs, no Asilo e Orfanato Imaculada Conceição, em Poconé e posteriormente no Colégio Imaculada Conceição em Cáceres, onde fez os cursos primário e secundário. Retornou a Cuiabá onde concluiu o curso Normal-Magistério, no Colégio Coração de Jesus.

Formou-se em Letras pela Faculdade de Filosofia Ciências e Letras que viria ser um dos embriões da Universidade Federal de Mato Grosso, da qual foi uma das

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L IMT E M R AÓTRUI RA A

Americanidade A Busca Pelo Intercâmbio Cultural Entre Os Povos Da América Do Sul:

Mario Benedetti

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DA REDAÇÃO

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M

ario Benedetti nasceu em Paso de los Toros (Tacuarembó, Uruguai) em 14 de setembro de 1920, filho de Brenno Benedetti e Matilde Farrugia, que, seguindo seus costumes italianos, batizou-o com cinco nomes conhecidos como Mario Orlando Hardy Hamlet Brenno Benedetti Farrugia.

A família viveu em Paso de los Toros durante os dois primeiros anos da vida do autor, antes de se mudar para Tacuarembó e Montevidéu. Lá, em 1928, Benedetti iniciou seus estudos primários na Escola Alemã, que seria seguida pelo Liceu Miranda, onde realizou estudos secundários incompletos devido às dificuldades econômicas da família, e a Escola Raumsolica de Logosofia.

A partir dos quatorze anos, trabalhou na Will L. Smith, SA. de peças de reposição para automóveis, nas quais ele fazia praticamente tudo: era vendedor, caixa, estenógrafo, contador; até 1939, acompa-

nhando como secretário o líder da Escola Raumsólica (que também incluía sua família e a família de Luz López Alegre, que mais tarde se tornaria sua esposa), mudou-se para Buenos Aires, onde também fez um pouco de tudo, mas especialmente - segundo mais tarde, lendo Baldomero Fernández Moreno - descobrindo sua vocação de poeta. Retornou a Montevidéu em 1941, onde logo obteve uma posição oficial no Escritório Geral de Contabilidade da Nação e onde (de 1945 a 1974, com o fechamento da publicação), integrou-se à redação do semanário Marcha , importante fórum de reflexão. e análise chave na cultura do Rio da Prata, na qual se formaram até três gerações de intelectuais uruguaios (com nomes principais como Juan Carlos Onnetti, Eduardo Galeano, Emir Rodríguez Monegal, Ángel Rama, Alfredo Zitarrosa, Daniel Viglietti ou Idea Vilariño) Benedetti literário seria diretor em 1954.

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MEMÓRIA

Nesse mesmo ano de 1945, publicou seu primeiro livro de poemas, La eve indeleble , que não será publicado novamente, e um ano depois, em 23 de março de 1946, casou-se com Luz López Alegre, seu grande amor e parceira de vida, que conhecia desde que era criança. Um ano depois, o casal viaja parte da Europa com os pais da Luz, em uma viagem que será o prelúdio para o que eles farão em 1957, por muito mais tempo.

De volta a Montevidéu, em 1948, dirigiu a revista literária Marginalia e apareceu seu primeiro ensaio, Peripecia y novela (1948), que foi seguido por seu primeiro livro de histórias, Esta manhã (1949), com o qual

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ganhou o Prêmio do Ministério. de instrução pública, um prêmio para o qual Mario Benedetti concordou repetidamente, até que em 1958 renunciou devido a discrepâncias com seus regulamentos. Pelas mesmas datas ele participa ativamente do movimento contra o Tratado Militar com os Estados Unidos, sua primeira ação como militante, e publica os poemas de Only Meanwhile (1950), editados por Number, uma das revistas literárias mais proeminentes da época, da qual Benedetti era membro do conselho editorial, e que também será responsável pelas edições de Marcel Proust e outros ensaios e The Last Voyage e outras histórias, posteriormente in-

tegradas em outros títulos.

Em 1953 aparece Quem de nós, seu primeiro romance, que, apesar de bem recebido pelos críticos, passará quase despercebido entre o público e terá que esperar pela atração do volume da história Montevideanos (1959) - em que as principais características do romance a narrativa de Benedetti e especialmente a de seu próximo romance, La trugua (1960), para ser lida com atenção.

Foi esse último trabalho, The Truce, que foi a consagração definitiva do escritor e o início de sua projeção internacional (o romance tinha mais de cem edições, foi traduzido em dezenove idiomas e levado para o cinema, teatro, rá-

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de estado em 27 de junho de 1973, renunciou ao cargo na universidade e, devido a suas posições políticas, deixou o Uruguai, iniciando um longo exílio de quase 12 anos, que o levou a residir na Argentina, Peru, Cuba e Espanha, e que também deu origem a esse processo batizado por ele como um “descrente”: uma experiência com traços profundos na sua vida literária.

Depois daqueles longos anos em que ele viveu e escreveu fora de seu país, a sua esposa, que teve que ficar no Uruguai, cuidando de suas mães, Benedetti retornou ao seu país em março de 1983, tornando-se um membro do Conselho de Administração em a nova revista, a Brecha.

A partir de então produziu uma série de livros: Memórias esquecidas, Vento do exílio, Spring with a broken corner, A solidão de Babel, Perguntas aleatórias, O mundo que respiro, Insônia e insônia, O futuro do meu passado, Ainda existem, Adeus e bem-vindo, Testemunha de si mesmo, Geografias, The Blot of Coffee, Andamios, além de outros trabalhos consagrados.

O autor dividiu seu tempo entre suas residências no Uruguai e na Espanha até que, após a morte de sua esposa, em 2006, ele se muda definitivamente para sua casa uruguaia, em Montevidéo. Por ocasião de sua transferência, Benedetti doou parte de sua biblio-

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dio e televisão), que corre paralelo à crescente relevância de Benedetti como poeta desde o retumbante sucesso de seu Poemas de la oficina (1956).

O ano de 1960 é uma data significativa também para a carreira pessoal e política do autor. Ele viveu cinco meses nos Estados Unidos (que, segundo ele, foi “sufocado” por múltiplas razões: materialismo, racismo, desigualdade), fato que lhe deu inspiração para escrever o seu primeiro texto explicitamente comprometido, The country of straw tail (1960).

Desde então, ele vai aumentar sua participação política e viver uma época de intensa atividade intelectual (ele trabalha como crítico e co-editor da página literária do jornal La mañana , colabora como comediante na revista Peloduro, escreve em La Tribuna Popular, viaja ao México para participar do II Congresso Latino-Americano de Escritores, é membro do Conselho Diretivo da Casa de las Américas em Havana, fundou e dirigiu o Centro de Pesquisa Literária, até 1971. Escreve Gracias por el fuego, em 1965, Cartas de emergência, em 1973, A casa e o tijolo, em 1977, e Cotidianas, em 1979. Lidera o Movimento dos Independentes de 26 de março que depois integrará a Frente Ampla (alternativa aos dois partidos clássicos: o Branco e o Colorado). Após o golpe

teca pessoal em Madri para o Centro de Estudos Ibero-Americanos da Universidade de Alicante, que leva seu nome. Veio a falecer em 17 de maio de 2009.

O governo uruguaio decretou luto nacional e ordenou que sua vigília fosse realizada com honras nacionais no Salão dos Passos Perdidos do Palácio Legislativo. Ao pé do caixão, dezenas de flores e canetas se acumularam, que as pessoas depositaram como uma última homenagem ao escritor.

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Ú LT I M A P Á G I N A

Canção do Paiaguá DE DOM AQUINO CORRÊA

Nasci á beira Da água ligeira, Sou Paiaguá!

De sul a norte, Tribo mais forte Que nós não há.

Nas mansas águas, Vive sem mágoas O Paiaguá; O seu recreio, O seu enleio No rio está.

Nele me afundo, Nado no fundo, Surdo acolá; E nem há peixe, Que atrás me deixe, Sou Paiaguá!

Se faz soalheira, Durmo-lhe á beira,

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Ao pé do ingá; Mas se refresca.

Lá vai á pesca O Paiaguá!

E. quando guio, Á flor do rio, A minha ubá, Nem flexa voa, Como a canoa Do Paiaguá.

Um dia, os brancos: Dentre os barrancos, Surgem de lá; Mas, em momentos, Viram quinhentos Arcos de cá.

Na luta ingente, Que eternamente Retumbará, Fez quatrocentas

Mortes cruentas O Paiaguá.

Não! o emboaba, Em nossa taba, Não reinará!

Nós coalharemos A água de remos, Sou Paiaguá!

Nas finas proas Destas canoas, Triunfará, Por todo o rio, O poderio Do Paiaguá!

Nasci á beira Da água ligeira, Sou Paiaguá!

De sul a norte, Tribo mais forte Que nós não há.

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