Lume 18

lume Mato Grosso

Não Acabou

Revista nº. 18 • Ano 3 • Novembro/2017

No Paraguai contemporâneo, as feridas abertas com a Guerra da Tríplice Aliança ainda não fecharam. Pag. 28

AUREA MARIA - ENTREVISTA DO MÊS GERAÇÃO DE PESO E DE PESAR FILINTO MÜLLER - 45 ANOS OS CAPACETES AZUIS DE VOLTA AO LAR ELEANOR MARX - ENTRE REVOLUÇÕES E PAIXÕES SARITA BARACAT - RETRATO EM PRETO E BRANCO GABRIEL GARCIA MARQUEZ - AMERICANIDADE

10 18 24 36 46 54 62

CUIABÁ 300 ANOS A ORIGEM HISTÓRICA DE MATO GROSSO SEMPRE ESTARÁ LIGADA À DE CUIABÁ

O PRESIDENTE DE MATO GROSSO, DOM AQUINO CORRÊA, VISITA, EM SANT´ANA DO PARANAÍBA, O CASARÃO QUE, EM 1870, SE HOSPEDOU O VISCONDE DE TAUNAY, AUTOR DE “A RETIRADA DA LAGUNA”.

lumeMatoGrosso

C A RTA D O E D I TO R

N

este novembro de 2017, a Editora Memória Brasileira, através da LUME MATO GROSSO, dá as boas vindas a um novo membro que passa a compor este grupo. Vem para impulsionar nossos propósitos de sempre produzir uma revista de boa qualidade, trata-se de Benedito Donizete de Moraes - o Pescuma, jornalista, empresário na área de comunicação e apresentador do programa de televisão É Bem Mato Grosso, na TV Centro América. Além disso, Pescuma é um dos mais importantes nomes da música e cultura regional, em Mato Grosso e país afora.

Vem para somar. Seja muito bem vindo, pois quem ganhará com isso é a sociedade mato-grossense.

A edição deste mês de novembro vem recheada de boas novas, com destaque para uma reportagem sobre o Paraguai, país vizinho pouco conhecido de brasileiros, a não ser por suas zonas francas, em Pedro

JOÃO CARLOS VICENTE FERREIRA Editor Geral

Juan Caballero e Ciudad del Leste, paraíso de compras. No mais, esse país é uma incógnita, sempre relacionado, na mente da gente brasileira, de fora equivocada, às questões das ilicitudes, zombarias e escárnios. Ocorre que o Paraguai tem um passado de glórias, uma história muito bonita e que passou por duas guerras cruentas, que quase dizimou o país. O povo é guerreiro e por isso não se deixou vencer e nem se abater. Fiel às suas origens e histórias, guarda-as e as repassam às novas gerações. Na épica Guerra do Paraguai, para eles chamada de Guerra Grande, contra a Tríplice Aliança, que juntou o Brasil, Argentina e Uruguai, a população masculina foi reduzida a 10% de idosos e crianças, apenas.

O país foi reerguido pela força da mulher paraguaia, que tem esse papel reconhecido pela história. Parte dos pontos de batalhas e de importância histórica nesse embate bélico foi visitado, por conta de pesquisas, por

equipe deste periódico, que traz ao leitor um resumo de suas impressões.

Na editoria dedicada às personalidades apresentamos um recorte dos trabalhos da acadêmica Nilza Queiróz, cuiabana ligada às artes e que faz parte da Academia Mato-Grossense de Letras e do Instituto Histórico e Geográfico de Mato Grosso. Nilza é uma mulher de muito valor, tendo sido a primeira a dirigir a AML. Também homenageamos, através de texto de Wilson Pires, a professora Sarita Baracat de Arruda, que veio a falecer neste outubro, aos 86 anos, deixando um vazio na história da política recente em Mato Grosso.

Dentro de nossos projetos e propósitos editoriais estamos mantendo a mesma linha de atuação, buscando entreter o nosso público leitor com artigos e matérias com riqueza de conteúdo. São matérias pertinentes e com prazo de validade a perder de vista.

Boa leitura a todos!

lumeMatoGrosso

EXPEDIENTE

lume Mato Grosso

PESCUMA MORAIS Diretor de Expansão e de Projetos Especiais ELEONOR CRISTINA FERREIRA Diretora Comercial JOÃO CARLOS VICENTE FERREIRA Editor Geral MARIA RITA UEMURA Jornalista Responsável JOÃO GUILHERME O. V. FERREIRA Revisão AFRÂNIO CORRÊA, ANDRÉIA VIEIRA, ANNA MARIA RIBEIRO, BENEDITO PEDRO DORILEO, CARLOS FERREIRA, CARLOS GOMES DE CARVALHO, DIEGO DA SILVA BARROS, EDNA LARA, EDUARDO MAHON, ELIETH GRIPP, ENIEL GOCHETTE, EVELYN RIBEIRO, FELIPE DE ALBUQUERQUE, JOSANE SALES, JUDI OLLI, JULIANA RODRIGUES, JÚNIOR CÉSAR GOMES GUIMÃES, KALLITA DOS ANJOS MORAES, KEILA GUIMARÃES, LUCIENE CARVALHO, MILTON PEREIRA DE PINHO - GUAPO, RAFAEL LIRA, ROSARIO CASALENUOVO, ROSE DOMINGUES, THAYS OLIVEIRA SILVA, VALÉRIA CARVALHO, YAN CARLOS NOGUEIRA Colaboradores ANDREY ROMEU, ANTÔNIO CARLOS FERREIRA (BANAVITA), CECÍLIA KAWALL, CHICO VALDINEI, EDUARDO ANDRADE, HEITOR MAGNO, HENRIQUE SANTIAN, JOSÉ MEDEIROS, JOYCE CORRÊA, JÚLIO ROCHA, LAÉRCIO

MIRANDA, LUIS ALVES, LUIS GOMES, RAI REIS, MAIKE BUENO, MARCOS BERGAMASCO, MARCOS LOPES, MÁRIO FRIEDLANDER, MOISÉS INÁCIO DE SOUZA, SAMUEL MELIN Fotos OS ARTIGOS ASSINADOS NÃO SÃO DE RESPONSABILIDADE DE LUME MATO GROSSO, E SIM DE SEUS AUTORES. LUME - MATO GROSSO é uma publicação mensal da EDITORA MEMÓRIA BRASILEIRA Distribuição Exclusiva no Brasil RUA PROFESSORA AMÉLIA MUNIZ, 107, CIDADE ALTA, CUIABÁ, MT, 78.030-445 (65) 3054-1847 | 36371774 99284-0228 | 9925-8248 Contato WWW.FACEBOOK.COM/REVISTALUMEMT Lume-line REVISTALUMEMT@GMAIL.COM Cartas, matérias e sugestões de pauta MEMORIABRASILEIRA13@GMAIL.COM Para anunciar ROSELI MENDES CARNAÍBA Projeto Gráfico/Diagramação LA MUJER PARAGUAIA (ÓLEO SOBRE TELA DE JUAN MANUEL BLANES 1830-1901) Capa

lumeMatoGrosso

SUMÁRIO

12.

8.

16.

14.

23.

20.

39.

38.

ECONOMIA

PERSONALIDADE

TURISMO

PARA QUANDO VOCÊ FOR

SOCIEDADE

SOCIEDADE

6

FOTOGRAFIA

CULTURA

lumeMatoGrosso

40. 55.

50.

58.

56.

66.

60. 67.

EDUCAÇÃO

ARTES PLÁSTICAS

MEMÓRIA

LITERATURA

LITERATURA

CRÔNICA

LITERATURA

ÚLTIMA PÁGINA

7

lumeMatoGrosso

PERSONALIDADE

8

Nilza Queiroz Freire

Mato-Grosso e o médio na Escola Técnica de Comércio. Mais tarde, Nilza bacharelou-se em Ciências Contábeis pela Universidade Federal de Mato Grosso - UFMT. Suas atividades profissionais foram exercidas em diversas empresas, como a “Encomind” e a “Mattos & Nunes”. Também prestou serviço ao Ministério da Saúde e à Universidade Federal de Mato Grosso, onde se aposentou como chefe da Secretaria da Reitoria e prestou relevantes serviços na Gerência de Contabilidade da Coordenação Financeira, e também enquanto chefe da Prestação de Contas e da Secretaria da Reitoria. É sócia efetiva do Instituto Histórico e Geográfico e da Academia Mato-Grossense de Letras. Colaborou em diversos periódicos regionais e seus escritos estão sendo enfeixados em livro a ser lançado. No Instituto Histórico e Geográfico de Mato Grosso, escolheu como patrono uma mulher, a professora Maria Dimpina Lobo Duarte. Na Academia Mato-Grossense de Letras, ocupa a Cadeira nº. 14, patrocinada pelo também professor e educador, padre Ernesto Camilo Barreto. No período em que foi Tesoureira da Academia, sua dedicação à instituição foi diuturnamente aplaudida, visto que, mesmo residindo temporariamente em outra cidade, Nilza fazia questão de dar sua contribui-

ção no setor da Tesouraria da instituição, trabalho abnegado e reconhecido pelo conjunto dos acadêmicos.

Em 2009, tornou-se presidente da Academia Mato-Grossense de Letras, cargo que ocupou com galhardia, sempre presente pelas manhãs cuiabanas em seu gabinete, no casarão do Barão de Melgaço, sede daquela quase centenária instituição. Deixou a presidência em 2013, para que o acadêmico José Carrara conduzisse a eleição e a posse da instituição daquele ano, que resultou na alçada à presidência do acadêmico Eduardo Mahon.

Nilza Queiroz é pessoa muito querida pela sociedade e pelos seus pares de Casa Barão, a qual frequenta em suas reuniões e festividades de posses e lançamentos de livros e eventos culturais. Em sua vida cultural publicou muitos artigos em periódicos de Mato Grosso e de Mato Grosso do Sul. Escreveu Plano de Contas, monografia apresentada no Curso de Especialização em Contabilidade/UFMT, 1983/4; A Escola que Vivi, documentário a respeito da escola pública, oferecido ao Governo do Estado de Mato Grosso; Micro Empresas como Modelo, trabalho oferecido à Funcep; Crônicas da Cidade Verde; Professora Alina: uma educadora além do seu tempo. Em co-edição com Ivan Echeverria e Aecim Tocantins.

lumeMatoGrosso

A

personalidade do mês de novembro de 2017 é a escritora, poetisa e contabilista Nilza Queiroz Freire, mulher de forte personalidade e de posições definidas sobre as questões sócio-econômicas, políticas e culturais de Mato Grosso e do Brasil. Nilza foi a primeira mulher a ocupar a presidência da Academia Mato-Grossense de Letras em quase cem anos de história daquela instituição que cultua a memória e a história da literatura de Mato Grosso.

A acadêmica Nilza Queiroz é adepta dos conceitos proporcionados pelo ioga, que une os nossos aspectos físicos, emocionais e espirituais na busca de um caminho para um sentido de vida profundo, atividade desempenhada sistematicamente.

Nilza nasceu no dia 1º de julho de 1932, na antiga e ainda colonialesca Cuiabá, em período que Mato Grosso era governado pelo advogado Leônidas Antero de Mattos, designado pelo presidente Getúlio Vargas (19301945). Eram seus pais Tarcílio Fernandes de Queiroz e Ana Pinto de Queiroz, que lhe encaminharam para as primeiras letras. Estudou na Escola Modelo Barão de Melgaço, capacitando-se, aos 12 anos de idade para os Exame de Admissão na Escola Particular da Professora Amélia de Arruda Alves - a Professora Amelinha.

O curso ginasial foi cursado junto ao Colégio Estadual de

9

lumeMatoGrosso

E N T R E V I S TA

Áurea Maria Voz espetacular, segurança e personalidade forte

A 10

POR JOÃO CARLOS VICENTE FERREIRA

revista LUME MATO GROSSO entrevistou a jovem cantora Áurea Maria, de Cuiabá, para a edição de novembro de 2017. Áurea é dona de um vozeirão que impressiona, além de muito talento e desenvoltura com o microfone, coisa rara de se ver

em uma garota de apenas 13 anos de idade. Qualidade vocal ela tem de sobra e, se os deuses permitirem, será dona de brilhante carreira no meio musical brasileiro. Estamos torcendo por seu sucesso, pois é isso que essa menina mais quer em sua vida, confiram aqui mesmo por suas palavras.

COMO A MÚSICA ENTRA NA SUA VIDA? »»A música faz parte na minha vida desde sempre.

Está em todo lugar, pois sou movida a música.

NA SUA BREVE CARREIRA MUSICAL, VOCÊ JÁ CANTOU EM MUITOS LUGARES? »»Sim, já cantei e me apre-

QUAL INSTRUMENTO QUE VOCÊ TOCA? VOCÊ SE ACOMPANHA? »»Piano. No entanto, o piano não é um instrumento do qual me utilizo para me acompanhar em meus shows, pois nele executo músicas clássicas, diferentemente do meu repertório de canto.

QUAL É O TIPO DE REPERTÓRIO QUE VOCÊ APRECIA? »»Eu gosto muito de MPB e de POP, tanto nacional quanto internacional. Ouço muito a música POP. QUAIS SÃO OS CANTORES QUE LHE INSPIRAM E NOS QUAIS SE ESPELHA? »»Elis Regina é uma de minhas preferidas, gosto muito também da Demi Lovato, por conta de sua forma de cantar. Certamente essas duas são as minhas maiores influenciadoras.

VOCÊ COMPÕE? »»Eu não componho, ainda. Não me vêem à mente, da forma que penso que deve ser, os motivos para que possa escrever. Mas

sinto que isso ocorrerá, no momento certo.

COMO VOCÊ SE IMAGINA NO FUTURO, O QUE ANSEIA PARA SI? QUAL É A SUA PRIORIDADE, OS ESTUDOS OU A MÚSICA? »»Bom, eu quero terminar os meus estudos. Isso é fato.

Eu penso bastante em fazer dermatologia, mas, também, penso na música. Nesse momento é um período de construção, ainda fico em dúvida. É tudo tão complexo, mas penso em ser cantora profissional.

QUAL É O SEU PENSAMENTO EM RELAÇÃO AO PROGRAMA THE VOICE, DA REDE GLOBO, QUE POSSIBILITOU, À CANTORAS DE MATO GROSSO, MAIORES OPORTUNIDADES EM SUAS CARREIRAS? »»Bom, eu já pensei em me inscrever nesse programa. No entanto, ao mesmo tempo acho que está muito cedo. Não tenho certeza se estou preparada para enfrentar esse programa. Conheço a Ana Rafaela, a Lorena Li e a Ana Clara, do The Voice Kids e vejo que o programa é uma janela de oportunidades. Mas ainda estou analisando possibilidades de enfrentar esse desafio.

QUANDO VOCÊ EXECUTA MÚSICAS CONSAGRADAS POR ELIS REGINA, COMO QUAL É A SENSAÇÃO QUE VOCÊ TEM DIANTE DO PÚBLICO? »»É sempre um desafio.

São músicas complexas, de letras bem elaboradas e nuances musicais características de Elis. A sensação é sempre muito boa, pois eu começo a cantar, tenho segurança no que faço e consigo chegar ao final da canção com as mesmas notas musicais do começo. É bom ver o sorriso das pessoas e o olhar de aprovação. Fico feliz.

lumeMatoGrosso

sentei em vários lugares em cuiabá. Não tive ainda a oportunidade de cantar em outros palcos fora da minha cidade. Eu canto muito em festas e também no meu colégio, o Coração de Jesus, onde estudo a 7ª série e do qual faço parte do coral, na condição de soprano.

QUAL É A TUA OPINIÃO SOBRE A MÚSICA SERTANEJA? »»Olha, eu escuto de vez em quando. Não sou muito fã.

E SOBRE A MÚSICA MATOGROSSENSE DE RAÍZ, O RASQUEADO CUIABANO E SUAS VARIANTES? »»Acho muito legal. É a música da nossa cultura. Ouço desde criança, a gente se habitua, pois o meu pai gosta muito e com ele ouvi bastante.

QUAL A SUA OPINIÃO SOBRE O ATUAL MOMENTO POLÍTICO BRASILEIRO. APESAR DE SUA POUCA IDADE, VOCÊ DISCUTE ESSE TEMA COM SUA FAMÍLIA E SEUS AMIGOS? »»Não sou muito ligada em política, mas o momento é delicado. O Brasil vive um período caótico. Entra governo sai governo. É corrupção. Prende gente. E no estado acho que as coisas não estão lá muito boas também.

Contatos para shows: Nika - (65)99976-4466

11

lumeMatoGrosso

ECONOMIA

Artesanato Mineral

Aprendizado - Capacitação - Profissionalização

O 12

DA REDAÇÃO

Núcleo de Treinamento Mineral da Companhia Matogrossense de Mineração – METAMAT, constitui um instrumento pedagógico, eficiente na capacitação profissional de um segmento importante da nossa gente, geralmente não qualificada para um mercado de trabalho, cada vez mais exigente e seleto. A METAMAT, detentora do conhecimento geológico do Estado de Mato Grosso, juntamente com a Secretaria de Estado

de Desenvolvimento Econômico – SEDEC, demonstrando preocupação com o encaminhamento profissional de uma parcela importante do povo que aqui vive, buscam em conjunto alternativas para a região da Grande Cuiabá e municípios do interior, principalmente aqueles que possuem vocação mineira, representando assim uma alternativa diversificada para a economia local e ao mesmo tempo que fomentam novos postos de trabalho.

lumeMatoGrosso “Nosso objetivo, é estimular o crescimento do artesanato mineral, promovendo assim, a divulgação das riquezas de Mato Grosso em todo Brasil e internacionalmente”.

Estados como a Bahia, Minas Gerais, Goiás e Pará já desenvolvem trabalhos semelhantes a este. O incremento de atividades turísticas, que ocorrem em vários municípios de Mato Grosso, oportuniza a presença de pessoas que admiram o potencial e a arte das peças artesanais confeccionadas em rochas e minerais.

O artesão precisa ter criatividade e sensibilidade para produzir belas peças de arte.

Cortar, formatar, detalhar, polir as peças e depois vê-las na sua perfeição, é o seu trabalho e a sua realização. O processo criativo tem início no momento da escolha do bem mineral a ser trabalhado. A cor, a textura, a resistência ao corte e ao polimento devem ser avaliados, prioritariamente na matéria-prima.

A serra diamantada possibilita uma visão mais precisa do que é possível ser confeccionado. Nela se faz o corte das rochas e minerais, permitindo assim que, no rebolo de esmeril - outro instrumento do artesão - tenha mais facilidade para a criação do produto.

Formatada a peça, o artesão parte para o disco de esmeril. É ali que ele observa os detalhes do artefato desejado. Os cortes e os detalhes mais precisos já podem, então, ser verificados.

Durante o processo de confecção das peças, surgem muitas ranhuras, além daquelas

naturais das rochas. É onde entra o disco de madeira. Parte do polimento é feito, então, retirando as imperfeições mais grosseiras, que serão eliminadas com o disco de feltro.

Olhos, penas, escamas e outros pequenos detalhes das peças, são conseguidos com o disco tipo dentorium, - um outro tipo de esmeril - onde se acopla um determinado tipo de eixo como por exemplo aquele utilizado pelos dentistas.

Assim, o Núcleo de Artesanato Mineral, longe de representar um mega empreendimento, constitui-se numa pequena unidade industrial, que funciona como uma célula de um novo modelo de gestão de recursos, onde o beneficiamento e a transformação dos bens minerais se tornam tão importante quanto sua produção.

O Artesanato Mineral implantado é profissionalizante, onde a prioridade é a formação técnica e a qualificação de mão-de-obra, sendo, portanto, de relevante impacto positivo na questão social.

A METAMAT contratou o instrutor Edvaldo Cleidson Veríssimo, de Goiás, com vasta experiência na área para ministrar curso de capacitação e qualificação em artesanato mineral para quase 30 pessoas de várias partes do Estado, neste segundo semestre de 2017. O objetivo da instituição é divulgar a potencialidade mineral mato-grossense a partir da transformação da pedra bruta em artesanato.

13

lumeMatoGrosso

PA R A Q UA N D O VOCE FOR

14

lumeMatoGrosso

CECÍLIA KAWALL Mora em Chapada dos Guimarães, é guia de ecoturismo e de aventura, empresária, fotógrafa e escreve para Lume MT.

Japão A saga continua

S

TEXTO E FOTOS CECÍLIA KAWALL

em dúvida este destino merece ser apreciado com calma, com tudo o que pode oferecer. Difícil é traduzir este país tão diverso, cheio de cultura e ao mesmo tempo recheado de novidades.

Uma das atividades muito recomendada é tomar um banho em uma das ‘hot springs’ (águas quentes) de lá. E, se tiver oportunidade, em mais de uma. Existem por toda parte, nas cidades e no campo, modernas e requintadas ou extremamente simples mas, todas são incríveis.

Na entrada você recebe um ‘kit’ com toalhas e um kimono. Passa primeiro por uma ala onde tem uma pequena ducha com xampú, creme e sabonete, para higiene inicial pois afinal os banhos são comunitários.

Logo em seguida são os ofurôs (piscinas) de águas termais, com bolhas, com

jatos, internas, externas, de madeira ou pedras. Sempre tem uma de água gelada para promover o ‘choque térmico’. Saunas e massagens ainda podem completar a diversão. Na verdade esta é uma prática muito comum entre eles e não significa exatamente diversão mas sim um ritual de desintoxicação e limpeza, vital. Para os orientais a prevenção dos desequilíbrios da saúde vem em primeiro lugar , são de suma importância pois só assim podem cumprir as duras jornadas.

Como eu disse antes, aprecie sem moderação, faça uma meditação! Respire e inspire-se nas tradições milenares japonesas, traga bem estar e qualidade de vida para sua vida, aqui e agora, pratique um esporte, um alongamento ou apenas reserve um momento de silêncio apenas para você.

15

lumeMatoGrosso

TURISMO

Réveillon num Santuário Amazônico

U

16

POR JOSANA SALLES FOTOS SAMUEL MELIN E LUIS GOMES

ma viagem inesquecível no sul da Amazônia, em Alta Floresta, Mato Grosso. Um réveillon em um dos hotéis de selva mais premiados do mundo, confortável, com a melhor gastronomia e com muita aventura. Tudo preparando para recarregar as energias para 2018 com muita alegria e tranquilidade.

Nas margens do rio Cristalino, afluente do grande rio Teles facilmente é possível chegar até o Cristalino Lodge, um dos mais famosos hotéis de selva da Amazônia.

Nessa época, a floresta está ainda mais exuberante e o céu, ultra colorido. Diversão não falta: percorrer trilhas na mata, andar de canoa no rio Cristalino, dormir profundamente ouvindo os sons da floresta, jantar à luz de velas e, claro, observar a Amazônia intocada em todo o seu esplendor em cima de torres, banhos de rio, comida boa e uma noite

de Réveillon inesquecível para dançar e fazer novos amigos. Várias opções de passeios por trilhas para conhecer um pouco da fauna brasileira. A lista é longa e diversificada: araras, tucanos, bugios, macacos-prego, tamanduás bandeira e mirim, antas, catetos, bichos preguiça, onças, garças, borboletas, jacarés, ariranhas e capivaras.

A programação da virada do ano é exclusiva, welcome drink com toalhas geladas na chegada ao hotel- Happy hour no fim da tarde - com destaque para os drinks assinados pelo Cristalino, música ao vivo numa atmosfera ideal para curtir momentos de celebração, ceia especial para o Réveillon e café-da-manhã até às 12h00 no dia 1º de janeiro e Special Gift de Ano Novo. A decoração é especial, criando ambientes acolhedores e inspiradores para passar o final do ano cheio de boas energias.

lumeMatoGrosso SOBRE O CRISTALINO LODGE O Cristalino Lodge é um destino privilegiado na Amazônia para amantes da natureza e observadores de aves. O hotel está localizado em Alta Floresta, Mato Grosso, em uma Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN) de 11.399 hectares – uma área seis vezes maior do que o arquipélago de Fernando de Noronha. Só de aves, são 595 espécies diferentes já catalogadas, muitas delas raras para a ciência.

A alta biodiversidade da região atrai turistas e pesquisadores do mundo todo em busca de conforto e um genuíno contato com a floresta no coração do Brasil.

O Cristalino Lodge é vencedor do World Savers Award, prêmio concedido pela Condé Nast Traveler, e foi selecionado como um dos melhores hotéis do Brasil pela National Geographic Traveler.

O QUE INCLÚI: »»Transfers entre o aeroporto e o hotel »»Acomodações »»Pensão completa - 3 refeições por dia »»Atividades de exploração diárias acompanhadas por guia local com equipamentos, barcos e canoas (grupos não maiores do que 8 pessoas por guia) »»Seguro de viagem INFORMAÇÕES E RESERVAS: info@cristalinolodge.com.br sales@cristalinolodge.com.br www.cristalinolodge.com.br +55 66 3521 1396 (Alta Floresta/MT) Floresta Tour

17

lumeMatoGrosso

SAÚDE

Geração de Peso e de Pesar Viver em Mato Grosso é muito bom!

T

18

emos belezas naturais maravilhosas e uma culinária rica e diversificada. Misturamos as mais diversas culturas dentro da nossa panela e, digamos assim, somos um povo de muitos tons e sabores. Adoramos uma farofa de banana acompanhada de Maria Isabel. Sem falar na mujica de pintado com pirão de peixe. Alimentos deliciosos, como as sobremesas, que vão do furrundum ao doce de leite. E, junto com nosso café da manhã, ou chá da tarde, não pode

POR ANDREIA VIEIRA

faltar o nosso grande patrimônio, o bolo de arroz.

Deu água na boca? Certamente, sim. Mas, é preciso despertar em todos nós, com a mesma intensidade que o alimento, o outro lado, o resultado dessa comilança toda, ou seja, o excesso de peso que pode vir com os alimentos deliciosos.

Hoje, Cuiabá é a capital com maior índice percentual de pessoas acima do peso no Brasil. Isso, sem dúvida, deveria ser a maior preocupação nossa no que diz respeito à saúde, vez que, junto com a obesida-

de é somado uma série de outras doenças. Podemos citar algumas: hipertensão, diabetes, dislipidemia (colesterol), infarto, AVC, doenças articulares, etc.

Parece ironia, mas como diz um velho ditado, estamos morrendo pela boca, como peixes. Criamos uma mistura bombástica, uma sociedade sedentária aliada ao abuso de alimentos ricos em açúcar e gorduras. Assim, temos a combinação perfeita para ter como resultado uma população obesa. O sedentarismo talvez seja um dos ônus

lumeMatoGrosso

ANDREIA VIEIRA É graduada em Direito, Especialista em Direito agroambiental, Engenheira de Alimentos, estudante de Nutrição e Articulista

da modernidade. Tudo está ao alcance de qualquer pessoa nas pontas dos dedos, ao simples toque de uma tela de celular, de um controle remoto, sem sair do lugar. Se precisamos de um serviço bancário, geralmente não vamos mais até o banco, usamos os dedos; comprar roupa, usamos os dedos; até comprar um carro. Se nas cavernas precisávamos de todos os músculos do corpo, hoje isso se resumiu aos dedos, na verdade dois dedos.

Na mesma velocidade da tecnologia, há um grande risco: as gerações futuras terem uma expectativa de vida menor que a geração atual, ou, ao menos, se caso viverem tanto quanto os dias de hoje, ou quem sabe até mais, com certeza, terão muito menos qualidade de vida. Isso porque teremos uma população mais doente e com mais problemas cardiológicos e metabólicos. Infeliz-

mente estamos antecipando algumas patologias que antes apareciam na quarta ou quinta década de vida e agora começaram a aparecer, em alguns casos, já a partir da segunda década de vida, principalmente o diabetes e a hipertensão.

Existe um outro ditado que diz: o que não mata, engorda. Mas, diante da

atual situação e cultura da sociedade, podemos inverter esse mesmo ditado em: o que engorda, mata.

Portanto, a obesidade deve ser encarada como uma epidemia e como tal, combatida. Assim, como na década de noventa houve uma guerra para diminuir os índices de tabagismo no Brasil, é preciso fazer

o mesmo esforço com relação à obesidade; por exemplo, nas escolas, poderíamos adotar cardápios mais voltados ao saudável e, ao mesmo tempo, incentivar os alunos à maior prática de esportes com maior número de aulas de educação física durante a semana.

Por outro lado, o governo deveria aumentar a tributação sobre alguns alimentos comprovadamente danosos a saúde como refrigerantes, doces e sucos industrializados. Também, investir em propagandas de promoção à saúde, em especial para falar dos benefícios dos alimentos naturais e mostrar o risco daqueles que são industrializados. Essas ações têm que começar rapidamente ou vamos deixar nossos filhos e netos condenados a um futuro sombrio, rico em doenças e muito pobre em saúde. O nosso alimento deve continuar sendo o maior e o melhor remédio, e não o nosso veneno para a morte.

19

lumeMatoGrosso

M ECI O I DA M D ABN I EI N ATE

H

Hipocrisia e Bom Senso

ipocrisia é dita com fingimento da maneira de ser, pensar, sentir ou crer. Considerando que a hipocrisia é uma taxação a característica de um indivíduo ou um comportamento, ou seja , quem

20

POR ROSARIO CASALENUOVO

julga é também hipócrita. Os que lutam pela liberdade de expressão como o caso da MAM de SP onde o artista ficou estátua com o “pigulim” de fora perto das crianças, também julgou e condenou os que pensaram e critica-

ram a sua arte. Certamente se fosse realizada esta exposição em uma tribo indígena onde todos são naturalistas e deixam o “bicho” solto, passaria desapercebido sem aplausos e nem vaias em um silêncio de morte.

lumeMatoGrosso Todos nós somos hipócritas por algum momento e, as vezes, até por educação. Desde o seu nascimento qual criança que não fez manha para conseguir alguma coisa? Diante da pressão moral ou ética, dos pais, qual jovem que não teve que omitir ou mentir? Encarar de frente os conceitos religiosos, as tendências das orientações sexuais onde o indivíduo se descobre diferente do conceito tido como normal.

Você acredita em Deus?

Claro que sim!!! A resposta

vem imediata com medo de ser taxado como ateu e ser colocado para fora da tribo cristã. Você já usou droga?

Nuncaaa!! Afirmações carregadas de maldade e inveja, como: Ela é mãe solteira!!! Ele repetiu de ano na escola!! Ele foi demitido!!!

Ele foi traído, é chifrudo!!!

Diante de uma sociedade também hipócrita como não mentir ou omitir? Todos nós nos fazemos de santos e exemplares, pois ganharemos assim a consideração dos nossos pais, dos professores, dos amigos,

dos inimigos, mas principalmente um lugar no céu ao lado do Chefe.

Um filósofo disse que as caridades que foram realizadas no mundo se for perguntar qual o motivo que deu origem a boa ação, a pessoa teria vergonha de revelar.

Um dia eu fui barrado no meu próprio condomínio por não estar funcionando meu controle do portão da garagem e tive que descer do carro e ir até a portaria para me identificar e assim o porteiro abrir o portão. Ele me pediu desculpas por ter

21

lumeMatoGrosso

CIDADANIA

22

sido duro. Eu agradeci por ter guardado o prédio onde estavam meus filhos e vários amigos com suas famílias. No dia seguinte um outro morador deu um escândalo e ofendeu o porteiro pois ele estava sem controle e ficou buzinando para o porteiro abrir.

Onde eu quero chegar com esta história? Um político governista federal teve a notícia de seus filhos sendo presos por desvios de dinheiro. Ele alegou que a juíza estava perseguindo a família e com retaliação a ele.

Seria nobre todos os políticos que estão sendo flechados pela procuradoria e judiciário, dizer que diante da situação do Brasil onde todos os políticos estão suspeitos, agradecer e elogiar a ação deles para criar um novo Brasil.

Mas é assim, a hipocrisia torna-se uma proteção, uma forma de esconderijo, uma armadura para burlar as verdades, as falcatruas, os roubos, mas também dos conceitos sociais que apedrejam o pecador “ou “culpado”. Mesmo diante de questões tão comuns, porém pesadas, muito pesadas como a sexualidade, as crenças religiosas.

Assim como o jovem que se descobre aos tenros 14 ou 16 anos de idade ser homossexual, mas diante da pressão social, do pai, dos tios, dos primos e ami-

gos, ele busca o refúgio de um celibato. Não quer viver o sexo e acaba em um seminário escondendo atrás da batina. Buscando assim a religião e o amparo de Deus.

Conversei sobre este caminho para os que sofreram traumas sexuais, um homem que entrou nestes corredores e uma mulher que optou por ser freira, mas o motivo foi um estupro quando era ainda menina. No voar dos tempos ambos desistiram de seguir a castidade.

Mas os que seguiram alguns criaram maturidade e poder e passaram a ser pedófilos.

Pergunta! Porque eles quiseram se esconder assim? Não seria nossa cultura hipócrita?

O que passaria pela cabeça dos homens ao encontrar uma mulher que foi abusada sexualmente? E pelas línguas das “amigas” principalmente se ela se formou uma mulher bonita. A vida é um círculo, no lado oposto esta a GP (garota de programa), acompanhante universitária que faz do sexo

um modo de vida. Nos dois extremos temos o mesmo tema. O sexo medo e sexo oportunista cercado pela hipocrisia do mundo.

E o bom senso que esta no tema destes escritos tipo Nelson Rodrigues?

O Bom senso vem ao colocarmos luz nestas situações que se repetem mesmo sendo vividas por Jesus e escrita na Bíblia.

Só de assumirmos nosso lado hipócrita já é o primeiro passo para o bom senso.

Como ter bom senso diante da prisão do ex-governador Cabral e de sua mulher que faliram o Rio de Janeiro?

Eles passarão muitos anos na cadeia merecidamente. Podemos sim ficarmos honrados com suas penas, mas nunca felizes, não é humano sentirmos alegria disto, onde uma família se desfez, seus filhos órfãos. Temos que viver um luto.

LUTO!!! Sentimento de tristeza pela destruição moral e física de uma família.

Bom senso é aceitar e ter tolerância religiosa, racial, social, cultural, por outro lado, bom senso é mentir ou omitir para não causar revolta daquele que pensa estar com Deus mas cego pela vaidade e maldade, se joga nos braços do demônio do lado de fora da igreja e da uma piscada com sorriso sacana e desce as escadaria e rumam para o seu lar juntos.

M ECI O TAI D MIBAINE O NTE

O Bullying Mata

O

bullying, tema já tratado por esta revista na edição nº 14, de junho deste ano, e que é uma das formas de violência que mais cresce no mundo, é uma situação que se caracteriza por agressões intencionais, verbais ou físicas, e é entendido como ameaça, tirania, opressão, intimidação, humilhação e maltrato. Em alguns casos extremos, o bullying chega a afetar o estado emocional de jovens de tal maneira que faz que a opção sejam sempre as trágicas, como o suicídio ou a provocação da morte de pessoas, como foi o caso recente ocorrido em Goiânia, quando um adolescente de 14 anos abriu fogo dentro

DA REDAÇÃO

do colégio particular que estudava. O resultado foi trágico, duas mortes e outros quatro baleados.

O menino afirmou em depoimento que fez o que fez em detrimento de bullying sofrido na escola e que inspirou-se em casos semelhantes fartamente mostrados pela televisão, com destaque para o caso Columbine, ocorrido em 1999, nos Estados Unidos.

O bullying sempre existiu. O primeiro a relacionar a palavra a um fenômeno foi Dan Olweus, professor da Universidade da Noruega, no fim da década de 1970. Ao estudar as tendências suicidas entre adolescentes, o pesquisador descobriu que a maioria desses jovens tinha so-

frido algum tipo de ameaça e que, portanto, o bullying era um mal a combater.

Impossível fato como esse não despertar autoridades, notadamente as educacionais sobre esse fenômeno. A escola não deve ser apenas um local de ensino formal, mas também de formação cidadã, de direitos e deveres, amizade, cooperação e solidariedade. Agir contra o bullying é uma forma barata e eficiente de diminuir a violência entre estudantes e na sociedade. Pensamos também que é essencial que o trabalho de conscientização seja feito também com os espectadores do bullying, aqueles que endossam a agressão e os que a assistem passivamente.

23

lumeMatoGrosso

M E IM OE AMMÓBRIIEAN T E

E

Filinto Müller 45 Anos POR BENEDITO PEDRO DORILEO

m 2018, rememoram-se 45 anos da morte de um grande brasileiro, ocorrida na França, exatamente no dia em que nasceu, 11 de julho. O senador Filinto Müller, cuiabano, acompanhou o século de 1900 a 1973. Nesse ano, escrevi, Um Mandato Certo, transcrito nos anais do Senado, hoje, não mais encontrado. Descaso ou o vírus eletrônico devorou a página. Fico a pensar: implantamos a UFMT com máquina datilográfica, restando minhas minutas do próprio pu-

24

nho em volumosas pastas, não contando, ainda, com a informatização. O Senador, antes como tenente do Exército Brasileiro, amarga, em 1922, o exílio como revolucionário derrotado, reconquistando, ao depois, a patente pela anistia. Em 1930, novamente a lutar pela reestruturação do País com arcaicas estruturas, torna-se vitorioso. Participa da ditadura de Getúlio Vargas até 1945; com a queda do Estado Novo, vai para a reserva como general de brigada. Bacharel em Direito.

reador, presidente da Câmara Municipal de Cuiabá, Secretário municipal do Partido e convencional, debati muito nessa Convenção, insistindo por apresentação de plano governamental do candidato a governador.

Juscelino Kubitschek de Oliveira, o fundador de Brasília, senador por Goiás, após deixar a Presi-dência da República, em 1961, era o candidato natural do PSD para retornar à presidência da República. De quinta-feira a sábado, dos dias 26, 27 e 28 de março de 1964, dera-se, no Rio de Janeiro, Palácio Tiradentes, a Convenção Nacional do Partido Social Democrata, sob a presidência de Tancredo Neves. Os convencionais mato-grossenses estavam presentes, eu era o caçula. No último dia, JK, já consagrado candidato, escolheu a bancada de Mato Grosso para o almoço, na Praça Corumbá, nº 3, na Lagoa Rodrigo de Freitas, hoje, Praça Filinto Müller. Era a residência do Senador e esposa, senhora Consuelo. Todos chamavam-no de Presidente. Entre nós, também presente o diretor do Departamento dos Correios e Telégrafos de Cuiabá, Lídio Modesto da Silva, cargo importante na época. A sesta foi agradabilíssima com a simpatia do casal anfitrião, e Juscelino, descontraidamente, na varanda a falar-nos sobre o plano do seu pretendido segundo governo, cujo símbolo de campanha era uma máquina agrícola. A figura de Filinto como sempre era realçada.

lumeMatoGrosso

Restaurada a democracia, e com a eleição e posse do Presidente Eurico Gaspar Dutra, passa a chefiar em Mato Grosso o Partido Social Democrata, elegendo-se para o Senado da República, em 1945; mas cede a vaga para o habilidoso político, advogado João VillasBoas da União Democrática Nacional, mediante recurso eleitoral. A partir de 1947, jamais perdeu eleição para a Câmara Alta até 1973, quando em acidente aéreo com esposa e neto menor foram vitimados (o cigarro aceso deixado na toalete da aeronave). Foram os seus mandatos: 1947-1951; 1955-1963; 1963-1971; 1971-1973.

O sonho de governar Mato Grosso não se concretizou, por duas vezes candidato da situação. A oposição vencia sempre.

Competiu com Fernando Corrêa da Costa da UDN, em 1950 e em 1960. Em 1965, seria o candidato da oposição e certamente venceria, porém lançou o engenheiro civil, mato-grossense de Miranda, Pedro Pedrossian que ganhou as eleições diretas para o último mandato constitucional de cinco anos. Pois, o Senador já estava convocado pelo governo militar, proveniente da Revolução de 31 de março de 1964. Foi quando, na Convenção pessedista, o professor João Crisóstomo de Figueiredo sentenciou: “funcionando a coligação, ganha-se até com Gastão”. Tratavam-se dos Partidos Social Democrata e Trabalhista Brasileiro, criados no laboratório de Vargas. Ve-

OPERAÇÃO DE RESCALDO FEITO POR BOMBEIROS PARISIENSES NO AVIÃO DA VARIG, PREFIXO RG-820, EM 11/07/1973, ACIDENTE NO QUAL MORREU O SENADOR FILINTO MÜLLER

25

lumeMatoGrosso

M E IM OE AMMÓBRIIEAN T E

26

À noite, o apogeu na Praça XV de Novembro, em frente ao Palácio Tiradentes, quando houve o comício de encerramento e JK, de terno preto, era ovacionado delirantemente pelo povo. Guardo na memória ter visto no meio da multidão o jornalista cuiabano Eugênio de Carvalho, retransmitindo para Cuiabá, em locução radiofônica, com precária condição tecnológica da época.

Durou pouco, parcas foram as horas de apoteose democrática, a manobra militar ocupava posições estratégicas, e, no dia 31 de março, terça-feira, o vice-presidente João Goulart que assumira com a renúncia de Jânio da Silva Quadros, estava deposto da presidência da República. Os governadores Carlos Lacerda (Rio de Janeiro) e Juracy Magalhães (Minas Gerais) sacudiam o País pela liberdade democrática diante da corrupção e ameaça comunista. Mulheres cariocas estavam na rua com a Marcha da Família com Deus pela Liberdade. A guerra fria USA-URSS amargurava o mundo.

Permanecemos dias no Rio, e, no Domingo da Ressurreição, 5 de abril, na Celebração Eucarística na Paróquia de São João Batista, na Rua Voluntários da Pátria,

tor. Hoje, esta conduta não mais se vê. Estava ele com o Padre Antônio Vieira: “não responder é tão cruel, que até a natureza responde com o eco do penhasco”.

Para mim, no dealbar da mocidade, colhi forte experiência; deixei a vida política de um mandato de vereador para dedicação ao exercício do magistério e ao Direito – era o caminho; nada pedi, nem requeri um palmo de terra, além do jeton de presença na Edilidade. Conquista na vida como fundador, por concursos públicos ou cargo eletivo acadêmico.

Sem cogitação ideológica, reverencia-se o seu talento e competência política.

Se todo o grande chefe deve ser líder, nem todo o líder necessita ser chefe. O líder vale-se do prestígio que lhe dá autoridade.

Era comum no recesso: parlamentares e autoridades reunirem-se com ele para promoção de entendimentos com o Governo no sentido de buscar o caminho que levasse à reabertura do Congresso, à recomposição do Regime Democrático.

– Quem não tem opositores? Filinto os teve, como exemplo do episódio de Olga Benário, esposa de Luís Carlos Prestes, deportada para a Alemanha que lhe valera uma injustiça. Nada com o Senador. A decisão foi do Supremo Tribunal Federal. Foi o homem a quem se conferiu o papel de reajustador da atividade política brasileira até a sua morte. Admira-se a sua visão de estadista naqueles duros anos a tentar salvar a classe política brasileira em naufrágio, o quanto possível. Ao longo da sua vida, escreveu Filinto Müller um catecismo político que não pode ser relegado.

lumeMatoGrosso

Botafogo, ouvimos do monsenhor no púlpito a predicar: “Pax vobis, o Brasil está livre do comunismo”. A Igreja Católica, incondicionalmente, apoiava a deposição do governo socialista. O jornal impresso O Globo estampava na primeira página vigoroso Editorial sob o título: “Ressurge a Democracia!: Vive a Nação dias gloriosos. Porque souberam unir todos os patriotas independentemente de vinculações políticas, simpatias ou opinião para salvar o que é essencial: a democracia, a lei e a ordem. Graças à decisão e ao heroísmo das Forças Armadas, o Brasil livrou-se do governo irresponsável que insistia em arrastá-lo para rumos contrários à sua vocação e tradições” ... “restaurar a Nação na integridade de seus direitos, livrando-a do amargo fim que lhe estava reservado pelos vermelhos que haviam envolvido o Executivo Federal” ... (Rio de Janeiro, 4ª feira, 1 de abril de 1964). Esse era verdadeiramente o cenário da época.

Segue a eleição indireta compulsória no Congresso Nacional do marechal Humberto de Alencar Castelo Branco, tendo o senador JK também votado nele. Havia promessa de poder excepcional por dois anos, sugerindo esperança de restauração da liberdade. A histórica convenção nacional tornou-se inepta. O restante é sabido, a abertura democrática somente se deu na década de 1980 do século passado.

Filinto Müller, cujo centenário de nascimento ocorreu em 2000, exerceu as presidências da Aliança Renovadora Nacional e a do Senado. Salientamos uma das virtudes do Senador, a solicitude; jamais deixou de responder a um eleitor, amigo ou oposi-

27

lumeMatoGrosso

R E P O RTAG E M ESPECIAL

Não Acabou No Paraguai contemporâneo, as feridas abertas com a Guerra do Paraguai ainda não fecharam POR JOÃO CARLOS VICENTE FERREIRA

A Guerra do Paraguai foi um dos conflitos mais sangrentos envolvendo países da América do Sul. Ocorreu entre os anos de 1864 a 1870, a explicação para a guerra encontra-se nas disputas entre países sulamericanos. De um lado estava Brasil, Uruguai e Argentina formando a Tríplice Aliança contra o Paraguai. Antes do conflito, o país liderado por Francisco Solano López era uma grande potência econômica que pouco dependia dos países europeus, fato que desagradava profundamente às metrópoles colonizadoras. O Paraguai saiu da guerra completamente arrasado, com 90% de sua população masculina morta em campos de batalha.

Destruído economicamente, o país nunca mais voltou a ser o que era antes.

28

lumeMatoGrosso MULHERES E CRIANÇAS POSAM PARA FOTOGRAFIA EM FINS DA GUERRA DA TRIPLICE ALIANÇA

29

PEÇAS HISTÓRICAS DA GUERRA DO PARAGUAI, RECOLHIDAS E EXPOSTAS NO MUSEU MUNICIPAL DE PERIBEBUY

lumeMatoGrosso

R E P O RTAG E M ESPECIAL

RUÍNAS DE MISSÕES JESUÍTAS, NA REGIÃO DO MUNICÍPIO DE ENCARNACIÓN, SUL DO PARAGUAY

O

Paraguai é um país exótico, mágico, repleto de contrastes e de surpresas. É uma terra onde o passado, presente e futuro se encontram em todas as esquinas e que, apesar de sua proximidade física com o Brasil, ainda não é totalmente conhecido por nosso povo.

Em setembro deste ano a Revista LUME MATO GROSSO empreendeu via-

30

gem de pesquisas ao Paraguai, país que compõe o MERCOSUL e passa por período de transformações e mudanças positivas em sua economia. O povo paraguaio, que passou por uma sucessão de ditaduras e guerras, possui rica cultura com raízes em sociedades indígenas, mescladas com a do colonizador espanhol, busca superar questões de desigualdades so-

lumeMatoGrosso ciais e anseia pela consolidação de garantias constitucionais. O Paraguai, com cerca de 6 milhões de habitantes, ostenta o status de mais de dois séculos de independência é o único país sul-americano que possui dois idiomas oficiais, o espanhol e o guarani, ainda carrega uma imagem negativa dentro do Brasil. Essa visão deturpada que parte do povo brasi-

leiro tem do Paraguai, em muito está ligada às questões do narcotráfico e ao contrabando, massificados pela mídia ostensiva brasileira. No entanto, existe um quase que absoluto desconhecimento da realidade paraguaia por parte dos brasileiros, notadamente dos estados que se avizinham desse país, a exemplo de Mato Grosso e outros da Federação.

31

lumeMatoGrosso

R E P O RTAG E M ESPECIAL DIVERSIDADE ÉTNICA À diversa e rica história paraguaia associaram-se, ao longo dos tempos, a de povos de diversas nacionalidades, enriquecendo e diversificando as questões étnicas e culturais dessa gente. São alemães, italianos, ucranianos, árabes, russos menonitas, chineses, coreanos e os brasileiros, que, com cerca de 300 mil imigrantes formam a maior colônia de estrangeiros no Paraguai. Os menonitas, advindos de movimento religioso surgido no período da reforma protestante, vindos da Rússia, se estabeleceram em várias regiões do Paraguai a partir da década de 1920, fugindo de perseguições religiosas, sendo que grande parte se estabeleceu na região do Chaco, onde se dedicam à pecuária leiteira e são referência de qualidade em suas produções. Os chineses e árabes se concentram mais em Ciudad del Este e na capital, Assunção. Os alemães e japoneses, junto com os brasileiros, estão à frente das grandes agropecuárias dedicadas ao cultivo de grãos, produção que elevou o status do Paraguai na área econômica mundial. Os alemães ocuparam outros pontos de colonização no Paraguai, a exemplo do município de San Bernardino, localizado às margens do Lago de Ipacaraí, onde estão desde 1886.

Destaca-se, também, a Colônia Iguazú, a 40 km de Foz do Iguaçu, com destaque para os imigrantes japoneses, que ali se estabeleceram após a 2ª Guerra Mundial.

CHAGA QUE NÃO FECHA Quando dissemos, no cabeçalho desta matéria, que parte do povo paraguaio não aprecia o brasileiro, é preciso esclarecer que isso é um fato, mas que não ocorre de forma sistemática e sim pontual.

Os jovens aprendem nas escolas, desde crianças, sobre os fatos que envolveram a Guerra do Paraguai, que eles chamam de Grande Guerra contra a Tríplice Aliança, envolvendo o Brasil, Argentina e Uruguai.

No contexto do aprendizado são contados detalhes das batalhas e das atrocida-

32

des que os exércitos inimigos fizeram contra o povo paraguaio, notadamente com as mulheres e crianças. São lembranças que não tendem a se despovoar das mentes juvenis. Mesmo assim, nessa geração mais jovem, contemporânea, não vibra tão fortemente o sentimento antibrasileirismo.

Há quem diga que atualmente os paraguaios estão mais próximos do Brasil que da Argentina, apesar do idioma e da origem cultural paraguaia platina.

Em Piribebuy, Acosta Ñu, Pirayú, Caacupé, Tacuaral, Cerro Corá e tantos outros lugares que estivemos, e que são testemunhos vivos das desgraças sofridas pelo povo paraguaio, observamos que a maioria da população tem o Marechal Solano Lópes como o maior herói do país, pudemos ver e ouvir isso de várias pessoas, em diversos lugares do país, a exemplo do que nos foi dito pelos guias turísticos em Cerro León, local utilizado para preparar os soldados para os combates, em tempos de guerra. Existem alguns veículos de comunicação em Assunção, especialmente um jornal de grande circulação, o ABC Color, que sempre que pode dá “estocadas” em brasileiros. Também é comum vermos em livros e outros tipos de leitura indicativos das atrocidades feitas por brasileiros em tempos de guerra, como o saque, incêndio e quase total demolição, em 1871, do Teatro de la Ópera, construído pelo Marechal Solano Lópes. Outras pessoas, não em menor número, mas com fortes argumentos históricos e números plasmados na mente, tacham Lópes de inábil na política externa e afirmam que a guerra serviu apenas para exterminar grande parte da população paraguaia e atrasar o país. Trata-se, na verdade, dos Lopistas e dos Anti-Lopistas, termo que até os dias de hoje designa e divide opiniões entre os paraguaios sobre os fatos históricos que envolveram esse evento bélico. Impossível não lembrarem-se de fatos como o ocorrido em Piribebuy, onde um hospital militar foi incendiado com mais de 650 feridos em leito, além de enfermeiras e religiosos, em ato desnecessário, pois tratavam-

ANTIGA ESTAÇÃO FERROVIÁRIA NO MUNICÍPIO DE PIRAYÚ, PRÓXIMO AO ACAMPAMENTO DE CERRO LEON

HOMENAGEM AO MARECHAL SOLANO LÓPEZ, EM CERRO CORÁ, ÁS MARGENS DO RIO AQUIDABAN

33

lumeMatoGrosso

R E P O RTAG E M ESPECIAL -se de jovens com menos de 15 anos e anciãos. Nesta mesma linha de atrocidades está Acosta Ñu, no Departamento de Cordilheira, o mesmo de Piribebuy, onde mais de 3,5 mil crianças, que buscavam defender posições e o espaço em que moravam, armados com paus e alguns poucos punhais, foram degolados por tropa de soldados brasileiros em 16 de agosto de 1869, quando a guerra já estava ganha, inclusive com a capital, Assunção, em mãos de brasileiros.

Essa data transformou-se no Dia da Criança, ou Día de los Ñinos, em homenagem aos milhares de meninos mortos em batalha. Essa antibrasilidade, às vezes latente, além das tristes lembranças de degolas e estupros, ainda tem voz forte e corrente na elite urbana, notadamente na asuncena, que pretende a soberania energética de Itaipu, dominada pela política e políticos brasileiros. Outro fator a ser considerado nesse sentimento guarani em detrimento de nossa gente advém dos campesinos, que clamam por uma melhor distribuição de suas terras e, ainda, não conseguem conviver com a vizinhança, em suas férteis terras, abarrotada de campos de soja de grandes plantadores brasileiros, que dominam a agricultura paraguaia em várias regiões do país, notadamente as de topografia favorável.

Já ouvimos diversas vezes, aqui em Mato Grosso, sempre em tom de ameaça, que empresas ligadas ao agronegócio estão de malas (quase) prontas e cintos afivelados para migrarem com suas máquinas, equipamentos e muito, muito dinheiro no bolso para o Paraguai, por conta da política de impostos que o país vizinho possui.

34

É só o governo estadual apertar um pouco e isso acontecerá, mesmo porque, de certa forma, isto já ocorre e algumas empresas brasileiras que possuem investimentos tanto no Paraguai, quanto na Bolívia.

Contemporaneamente o momento socioeconômico e político que o Paraguai vive é o da liberdade republicana, status baseado na Revolução Francesa (1789), porém, apesar do nítido avanço na liberdade no período pós-ditadura, falta ao país lidar melhor com as desigualdades sociais, que ainda comprometem o presente. Daí sim, se isso for resolvido, o país deslancha, especialmente se trabalhar melhor os direitos políticos e o seu sistema eleitoral, ainda débil e caudilhesco, de certa forma.

NOVOS TEMPOS Pode-se dizer que de alguns anos para cá, a partir da época dos festejos do bicentenário da Independência do Paraguai, o país vive um período de autoestima elevada que aumenta ainda mais o sentimento nacionalista guarani. É muito comum ver nas pequenas localidades, cidades, ruas, pontes, postes e na capital, bandeiras paraguaias hasteadas e pinturas em vermelho, azul e branco a ilustrar esses lugares.

Ao par desse exacerbado nacionalismo, pode-se dizer que ainda existe dependência econômica paraguaia em relação às multinacionais que atualmente dominam mais de 50% das exportações nacionais. O governo ainda não tem “na mão” o poder de negociação devida. Quando Gaspar Rodríguez Francia, um dos próceres da Independência, se tornou ditador temporário no ano de 1814, e dois anos depois ditador perpétuo, uma de suas primeiras atitudes foi a de fechar fronteiras e valorizar o povo, distribuindo terras e permitindo que o guarani, até então um idioma proibido pela elite política colonialista espanhola, fosse falado em público, permitindo assim, dessa forma, que o Paraguai tivesse dois idiomas, o guarani e o espanhol. Não acreditamos que a política paraguaia deva ser tão radical e imitar

lumeMatoGrosso

VISTA NOTURNA DO PÁLÁCIO DO GOVERNO, EM ASSUNÇÃO

os feitos de Francia, mas deve sim, olhar para dentro de si e observar que uma das mais importantes divisas econômicas do Paraguai poderá vir a ser o turismo, setor que carece de investimentos e de um olhar mais apurado das autoridades políticas.

O patrimônio histórico arquitetônico do país é espetacular. É só listar as cidades históricas existentes, começando pela capital, Assunção, que é o casco histórico do grande vale dos rios Paraguay e Paraná, pelas antigas residências que bordejam os bairros ribeirinhos e os mais lembrados sempre, a exemplo de Salonia, Obrero, San Roque, Las Mercedes, Villa Morra e Trinidad. O país foi, na época de primeira etapa de conquista, a partir da capital, o ponto de partida de expedições para os que buscavam o mítico “El Dourado”, além de ser o centro dos Caminhos Reais, que saíam de Assunção com destino ao interior e exterior, seguindo sempre pelos caminhos guaraníticos.

Temos ainda o Chaco paraguaio, que é o Pantanal. Isso mesmo! Uma extensão do Pantanal de Mato Grosso, com caracterís-

VENDEDORA DE CHIPÁ, NA CIDADE DE CAACUPÉ

ticas semelhantes e outras diversas, tendo como principal cidade a histórica Concepción. Além dessas citadas, temos ainda as históricas cidades de Pilar, Villa Rica, Piribebuy, Pirayú, Encarnación e as suas ruínas jesuíticas das missões paraguaias.

Passando e observando esses locais, vimos um patrimônio histórico rico, mas ainda mal cuidado. A partir do momento que essas localidades e alguns prédios públicos e privados passarem por recuperação e restauração, o país poderá fazer roteiros adequados de pacotes turísticos e se constituirá num dos pontos mais visitados da América do Sul.

35

lumeMatoGrosso

DENÚNCIA

Os “Capacetes Azuis” De Volta Ao Lar

N

o início do mês de outubro finalizou-se oficialmente a atuação da Minustah (Mission des Nations Unies pour la Stabilisation en Haïti), em português, Missão das Nações Unidas para Estabilização no Haiti, uma missão de paz criada pelo Conselho de Segurança das Nações Unidas em 30 de abril de 2004 para, segundo a ONU, restaurar a ordem no Haiti, após um período de insurgência e a deposição do presidente Jean-Bertrand Aristide.

Os militares brasileiros estiveram presentes na Minustah desde seu início, sendo o país responsável por coordenar a missão, que a princípio era algo temporário,

36

POR RAFAEL A. LIRA

não um trabalho que duraria treze longos anos. O que, ao olhos de muitos haitianos, foi desnecessário, visto que não se vê grandes impactos positivos desta presença massiva de mais de vinte nações que passaram por lá no decorrer desse período.

O último contingente de militares deixou o país no dia 15 de outubro de 2017.

O número exacerbado de países que fizeram parte da missão trouxe consequências trágicas para a ilha caribenha, como o surto de cólera, entre outras doenças, e diversos casos de abusos sexuais que haitianos e haitianas sofreram por parte de militares, como o caso dos soldados venezuelanos que abusaram de

um nativo dentro da própria base em um quarto, sendo toda esta ação filmada e que acabou publicada numa rede social, podendo ser assistida por qualquer um até hoje. Crimes estes abafados pela própria ONU, portanto pouco ou nada noticiado na imprensa.

Qualquer um que se aventurou a ir para o Haiti neste período que a Minustah esteve presente massivamente viu nas ruas, principalmente da capital, inúmeros carros pomposos com a sigla UN (United Nations) em suas laterais, e milhares de soldados com suas fardas “passeando” com suas armas, seus capacetes azuis e seus óculos de sol. Sinceramente era

lumeMatoGrosso

RAFAEL LIRA É professor, tradutor de crioulo, ex-missionário religioso e viveu, por quase um ano, no Haiti

difícil entender o porquê de tantos militares e tantas bases, pois não se via a necessidade de tanta gente, uma missão bilionária para custear algo desnecessariamente megalomaníaco.

O Haiti vive uma crise política e econômica histórica, é fato. Porém, não se pode usar isso como um subterfúgio para implantar forças de paz. O que já é um paradoxo, a paz precisa ser feita usando força? E não é pouca! Eram tanques de guerras, caminhões imensos, soldados com fortes armas andando pelas ruas, quando não parados entre uma ruela e outra, onde civis, inclusive crianças, circulavam diariamente, cena frequente na comunidade de Cite Soléil. Parecia uma espécie de amedrontamento militar.

Pouco se diz sobre o assunto, na imprensa não se viu na época tais notícias, quando o exército brasileiro invadiu a comunidade de Cite Soléil a fim de pacificá-la em 2006 (na verdade alguns representantes afirmaram depois que fora um treinamento para a instalação das UPP’S nas favelas do Rio de Janeiro), houve um massacre, muitos inocentes morreram, casas foram metralhadas, pais e mães de família, além de crianças,

foram brutalmente assassinadas - imagens e relatos apresentados no documentário “Haiti: o massacre em Cité Soleil” (disponível no Youtube, em duas partes).

Traduzindo, o país serviu de cobaia para uma ação que se faria mais à frente em solo brasileiro. Isso é forçar a paz? Qual paz se estava pretendendo estabelecer?

Para Ricardo Seitenfus, especialista gaúcho que foi representante da OEA (Organização dos Estados Americanos) na Minustah entre 2009 e 2011, em entrevista concedida à Veja, publicada no site da revista em 06/10/17, afirma que “boas missões de paz são missões curtas”. Segundo ele, uma das vantagens da Minustah para o exército brasileiro é que os militares perceberam que seria uma chance de fazer manobras e exercícios reais sem correr grandes riscos, ainda afirma que não houve mortes em ações, exceto decorrentes do terremoto. Portanto, para os “capacetes azuis” era vantajoso fazer parte desta missão, eram muito bem pagos, além de terem 80% dos custos cobertos pela ONU, informação esta dada por Seitenfus.

Os soldados brasileiros atuantes na Minustah não

são nem de longe os heróis da pátria haitiana conforme romantizou Luciano Huck em matéria produzida para o seu programa. Se duvidas pergunte a qualquer especialista em Direitos Humanos no Haiti. Obviamente não se pode apagar as contribuições do exército do Brasil em diversos setores do país caribenho, em especial no que diz respeito à engenharia, com construções de ruas e asfaltamentos, além da atuação direta durante o terremoto em 2010 e o furação Mathew em 2016, porém foram ações pontuais durante os treze anos de permanência.

Em mais de uma década deveria haver um avanço positivamente significativo no Haiti devido a presença de tantas forças de paz, e tantos países unidos em um propósito que deveria ser principal o de dar autonomia ao país para gerir sua própria economia e política. O que não se vê hoje, pois acaba de ser instalada uma nova missão, a MINUJUSTH. Serão mais quantos anos de interferência em solo haitiano? Fica a incógnita e a incerteza no ar e no coração do povo que luta pra ser dono de si, sem ter que sempre prestar contas de tudo o que faz.

37

lumeMatoGrosso

FOTOGRAFIA

HENRIQUE SANTIAN O fotógrafo documentarista traz em suas obras um pouco daquilo por onde passa, histórias contadas em imagens, e sentimentos que nos fazem enxergar o mundo a nossa volta e ver que nosso espaço se resume na amplidão

Fotografia Documental Oficina de fotografia levou arte aos bairros de Chapada dos Guimarães

O

FOTOS HENRIQUE SANTIAN

fotógrafo Henrique Santian tem se destacado por ministrar oficinas de fotografia em diversas áreas do estado de Mato Grosso, como em Confresa, Cotriguaçu, Vila Bela da Santíssima Trindade e outras cidades. De 31 de julho a 3 de agosto deste ano foi a vez de Chapada dos Guimarães receber os ensinamentos e orientações do consagrado fotógrafo. Alunos das escolas Professora Maria Luisa de Araujo Gomes, no Bairro Olho D água; Ana Tereza, do Bairro São Sebastião e Coronel Rafael de Siqueira, no centro de Chapada, participaram da Oficina de Fotografia ministrada por Santian como parte da programação do 32º Festival de Inverno de Chapada dos Guimarães de 2017.

Nas oficinas foi trabalhado a fotografia como

38

ferramenta para estimular a sensibilidade e o senso critico dos alunos para documentar cenas do nosso cotidiano, personalidades e lugares importantes de Chapada dos Guimarães.

São formas, paisagens, cores e sentimentos que construímos com a fotografia, mostrando diferentes olhares sobre a nossa cidade.

Nas oficinas, foi realizado um registro de vários pontos importantes da cidade, a exemplo da horta Santa Edwiges, do bairro São Sebastião, da Praça Dom Wunibaldo, Parque da Quineira, do Horto Florestal e do centro da localidade.

Foi selecionada uma foto por participante, sendo assim realizada exposição coletiva com os resultados da oficina na Feirinha da Sustentabilidade, ao lado da matriz.

Outras oficinas em www. flickr.com/photos/oficinasmt/

lumeMatoGrosso

C U LT U R A

Tradição Cultuada

Folia de Reis no município de Dom Aquino

E

m janeiro deste ano produzimos uma reportagem sobre Folia de Reis no município de Dom Aquino, na região sul de Mato Grosso. Trata-se de cidade de tradição garimpeira e colonizada, principalmente, por famílias de origem do nordeste brasileiro, que trouxeram consigo suas tradições, dentre as quais o culto à Folia de Reis.

Na edição nº 9 desta revista informamos aos nossos leitores que a pesquisa havia sido feita pelo Sr. Mário Hermes, do Museu do Instituto Histórico de Dom Aquino. Ele tem envolvi-

mento forte nesse processo relativo à Folia de Reis de Dom Aquino, inclusive encaminhou, o dossiê que foi idealizado, pesquisado e elaborado pela professora Guaracy Sales Ribeiro, citada na referida matéria, para o registro histórico e tombamento através da Secretaria de Estado de Cultura. Esse procedimento foi realizado e foi publicado no Diário Oficial do Estado no dia 4 de abril de 2014.

Reconhecemos que esse registro indica o nome da professora Guaracy como a pesquisadora desse processo. No entanto, não

podemos deixar de reconhecer o envolvimento e o trabalho desenvolvido pelo Sr. Mário Hermes Ferreira Mendes e D. Irene Aparecida da Silva à frente do Museu Cultural Wilson Furtado de Mendonça, instituição que ajudei a criar. A Folia de Reis irá continuar, outras pesquisas serão realizadas e o que mais importa é que não deixe de ser cultuada pelo povo dessa histórica cidade, em qualquer época, em qualquer tempo.

Nossos eternos e reconhecidos agradecimentos à Mário Hermes, Irene Aparecida e Guaracy Sales.

39

lumeMatoGrosso

EDUCAÇÃO

A Universidade Pertence Ao Estudante O POR BENEDITO PEDRO DORILEO

orador da humanidade, o Cícero da tribuna romana, advertiu com veemência: não existe período na vida pública ou particular isento de deveres. Quem bebeu da água

40

limpa e lambeu o suor do cerrado, ou quem depois chegou e auferiu vantagens da obra levantada em moderno campus universitário com estruturas e cursos arrancados dos cascalhos ásperos da longa ca-

minhada obrigam-se todos a considerar a conquista de um povo secularmente esquecido no Centro Oeste, até ouvir a conclamação de Juscelino Kubitschek de Oliveira com Brasília no Planalto Central Brasileiro.

lumeMatoGrosso Datas têm passado em branco no silêncio frio dos sentimentos, premidos pelos tempos cinzentos desde o esporte na derrota vexatória da Copa do Mundo de 2014, ou pelos momentos desoladores da corrupção oficiali-

zada dos Mensalões, ou da Operação Lava-Jato com o assalto à Petrobras. Há uma Nação apática e depressiva.

No caso particular da nossa Universidade Federal, em Cuiabá, nasceu ela como reação de um povo

desprovido de estradas e meios de comunicação.Foi Mato Grosso a última unidade federativa, em 1970, a receber uma universidade.

O canto cuiabano era de agradecimento e regozijo.

Daí,o Dia da Confraterniza-

41

lumeMatoGrosso

EDUCAÇÃO

ção Universitária, em 10 de dezembro, quando a comunidade e povo reuniam-se, outrora,em congraçamento – como previsto no Estatuto da UFMT para comemorar a data de sua criação. E também período coincidente com a Colação de Grau Unificada. Assim fazem as grandes Universidades no mundo, como a portuguesa de Coimbra, repetindo sempre o exemplo da tradição, a manter secularmente uma Congregação de Antigos Reitores – qual corpo eletivo de valores.

Não, contrariamente, mediocrizamos, apagamos história, enterramos lideranças, escondemos valores e projetos. Entre celebrar democracia e punir excessos políticos existe uma distância, como para os que se estacionaram e posam de vítimas de ditadura permanentemente, sob engodo para provocar comoção e mascarar incompetência, com intenção de usurpar do poder. As apurações registram corrupções mais graves do que as verificadas na década de 1960, e inéditas des-

42

de o Império brasileiro. E a violência, agora, mata em nosso país, anualmente, mais que as guerras contemporâneas no mundo.

O atual desalento da recessão econômica não pode comprometer a obra da educação que é uma constante, como o alimento para o corpo humano. Os estudantes aguardam sempre o desen-

rolar continuado do período letivo, os da pós-graduação, no exercício das suas pesquisas. Os graduandos têm direito à Colação de Grau, integralizados os créditos do curso no tempo certo, a partir do início do primeiro período letivo, ininterruptamente. É seu direito ínsito conquistado no ato de admissão e

matrícula, podendo recorrer à Justiça para devida reparação. Greve não pode trancar o Ano Acadêmico. Se paralizações outras obrigam o percentual mínimo de atividade, da mesma forma aplica-se à greve em âmbito universitário. Aliás, o Congresso Nacional, desde 1988, adrede, não regulamentou o Direito de Greve. Campus tem vida própria e não pode perder o elã dos universitários que são o seu espírito vivificante.

Biblioteca Central é do povo, não pode ser fechada.

Pode parecer contraditório, a pressão docente é indispensável, diante da qualidade da educação e dos salários depreciados, todavia a inteligência induz para um funcionamento reduzido da vida docente nessa fase. Percebe-se, nestes últimos tempos, que os órgãos representativos dos estudantes encolheram-se diante do engajamento de muitos professores que lhe tomaram as ações em sua associação sindical. Em suma, o direito maior é do estudante. Não é exagero afirmar que a Universidade lhe pertence.

lumeMatoGrosso À ESQUERDA, O ENTÃO ESTUDANTE DE DIREITO, BENEDITO PEDRO DORILEO, MAIS TARDE REITOR DA UFMT,

Em pé está a Associação dos Docentes, a ADUFMAT, idealizada na década de 1970 pelos professores, sob liderança do professor Waldir Bertúlio, atuando como sindicato e mantendo-se ativa. O sindicato dos técnicos, o SINTUF, deixa de pleitear reestruturação para conquistar o quadro de técnicos pesquisadores diante de pessoal com curso em nível de excelência, que pode, também, integrar pesquisa de campo. No tempo atual,

fica distante o mandamento da Reforma Universitária de 1968 que obrigava o professor, lotado no Departamento, à tríplice função do ensino, da pesquisa e da extensão. Pode, ainda, ocorrer; porém, há de respeitar-se a diversidade vocacional. O Brasil clama por pesquisas aplicadas para o seu desenvolvimento, cérebros devem ser buscados, independentemente de selos acadêmicos. Os maiores gênios da humanidade não foram, necessariamente, do

magistério. Professor, técnico, cientista ou profissional da indústria podem compor equipes de pesquisas aplicadas – seja a translacional imediata para o consumo do povo, seja a pesquisa verticalizada para os inventos em busca ciosa de patentes. – Que a Universidade repense democrática, autônoma e sensatamente o seu caminho, compondo tarefas emergentes para o desenvolvimento regional e nacional – como reclama a sociedade brasileira.

43

lumeMatoGrosso

MEMÓRIA

44

CAPA DO LIVRO O CAPITAL, EM FRANCÊS

lumeMatoGrosso

ANNA MARIA RIBEIRO F. M. DA COSTA é doutora em História, pesquisadora da Funai, professora do Univag - Centro Universitário de Várzea Grande, membro do Instituto Histórico e Geográfico de Mato Grosso e do Clube Filatélico, Numismático e afins de Cuiabá.

Eleanor Marx Entre revoluções e paixões

N

POR ANNA MARIA RIBEIRO F. M. COSTA FOTOS DIVULGAÇÃO

o ano em que o volume I de O Capital – 150 anos – e a Revolução Russa – 100 anos – fazem aniversário, não resta dúvida de que Mouro, apelido de Karl Marx (18181883), está em evidência. Editoras nacionais e estrangeiras reeditam vários livros do conjunto de fôlego da obra do filósofo, sociólogo, escritor e revolucionário socialista nascido na Prússia. Pelo Brasil, seminários, colóquios, mesas redondas acontecem em um cem número de universidades. Nas telas, França-Alemanha-Bélgica se uniram no drama histórico-biográfico O jovem Karl Marx, filme dirigido pelo haitiano Raoul Peck, selecionado para compor o 67º Festival Internacional de Berlim.

Em meio a tantas comemorações, vale lembrar de que O Capital, caracterizado por possuir notável complexidade no campo da Economia, Filosofia, Sociologia, História, dentre outros, acha-se acessível em HQ, com download grátis em https://issuu.com/ocomprimido/docs/karl-marx-o-capital-em-quadrinhos, para jovens adentrarem sem esforço nos escritos de Marx.

Mas, que fique bem claro que O Capital em

quadrinhos não substitui a leitura do texto original, pois, caso contrário, apresentar-se-ão como “fórmulas sem valor, meros dogmas que, não apenas não tem nada a ver com o conhecimento científico, como negam todo o sentido da obra de Marx, que passou mais de vinte anos de sua vida, na elaboração de O Capital e que, diga-se de passagem, não se deixava levar por meras simplificações, nem mesmo quando dava aulas aos operários”, como escreveu Lúcio Colletti na apresentação da HQ de Plaeckinger e Wolfram. E o que diriam Marx, Engels e seus seguidores ortodoxos, os “comunistas de carteirinha”?

KARL MARX

45

lumeMatoGrosso

MEMÓRIA

ELEANOR MARX AVELING

E lá se foram 150 anos da primeira edição de O Capital... O Capital, em alemão Das Kapital, é um conjunto de livros de Karl Marx que constituem uma análise do capitalismo – crítica da economia política – considerada a obra marco do pensamento socialista marxista. Circulado em Hamburgo em 14 de setembro de 1867, O Capital, LiFRIEDRICH ENGELS

46

vro I, é o único publicado durante sua vida.

Ainda que o Muro de Berlim, símbolo da Guerra Fria, não exista mais em seus propósitos, que a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS), poucos anos depois, desmembrou-se em vários outros países e que a fábrica de Coca-Cola, Ke Kou Ke Le (le = felicidade), símbolo do imperialismo norte-americano, seja uma das bebidas mais consumidas na República Popular da China há mais de 30 anos, é preciso ler O Capital? É Hugo da Gama Cerqueira, da UFMG, quem responde ao Caderno Pensar, do jornal Estado de Minas: “o capitalismo ainda é aquele examinado por Marx e O Capital é, de longe, a melhor análise já feita sobre as estruturas fundamentais do capitalismo, suas determinações essenciais, as leis econômicas que regem o movimento das sociedades modernas. Por essa razão, ler O Capital continua importante e atual, leitura que é incontornável para quem quiser entender as questões do nosso tempo.”

Os livros I, de 1867, organizado por Engels e Eleanor Marx Aveling, os II, de 1885, e III, de 1894, por Engels, e o IV, de 1905, pelo filósofo theco-austríaco Karl Kautsky (1854-1938), um dos idealizadores da social-democracia, são considerados estu-

Ibsen. Nos dizeres de sua mãe Jenny, ou Möhme, uma “política da cabeça aos pés”.

Tussy sempre esteve muito próxima a seu pai, Mouro, como também o chamava. Ela chegou a dizer que “o ar que respirava era o que vinha de meu pai”. Escreveu vários textos introdutórios aos estudos de Marx; foi sua companheira nos congressos do Partido do Trabalho Socialista, nas greves de trabalhadores. Proferiu fervorosos discursos em defesa dos oito trabalhadores de Chicago condenados à morte por enforcamento – os Oito de Chicago – quando em 1º de Maio de 1886 foram às ruas em meio a milhares de trabalhadores para reivindicar oito horas de trabalho. Em 1888, com o processo judicial aberto, o Estado foi condenado e reconhecida a inocência dos réus. No ano seguinte, em Paris, o Congresso Operário Internacional proclamou o 1º de Maio o “Dia Internacional do Trabalho”. E, ainda, divulgou o socialismo em dezenas de cidades na América, escreveu artigos por encomenda, deu aulas particulares, cursos e palestras sobre Shakespeare e arte dramática. Tornou-se uma figura ímpar para o movimento revolucionário internacional. Silveira, sua biógrafa, escreveu: “Eleanor parece encarnar com perfeição os princípios de Marx, combinando a teoria com um profun-

lumeMatoGrosso

dos basilares para a análise do capitalismo. Se Engels (1820-1895), apelidado de General, e Kautsky obtiveram grande notoriedade na organização dos manuscritos de Marx, pode-se atribuir o mesmo substantivo à Eleanor Marx Aveling?

No aniversário do Livro I de O Capital, organizado por Engels e Eleanor Marx Aveling, a 4ª edição alemã é considerada a versão definitiva diante à revisão de seus organizadores, sendo, frequentemente utilizada para traduções em diversas línguas. Isentando-me de análises de cunho econômico, político, social e filosófico, pretendo deter-me sobre Eleanor Marx, filha de Karl, livro escrito por Maria José Silveira, publicado em 2002. São apenas reflexos de quem foi tocada pela biografia da revolucionária londrina Eleanor Marx Aveling (1855-1898), filha mais nova de Jenny e Marx.

Considerada uma fervorosa ativista política e autora marxista, Eleanor, apelidada de Tussy, também uma filatelista, esteve desde cedo ao lado do pai, responsabilizando-se por organizar seus escritos, de decifrar sua caligrafia. Falante de várias línguas, a filha caçula e, dizem, a favorita de Marx, foi uma devoradora de William Shakespeare, Goethe, Gustave Flaubert (traduziu para o inglês Madame Bovary) e Henrik

COMUNA DE PARIS

47

lumeMatoGrosso

MEMÓRIA

MULHERES PRESAS, ESPERANDO DEPORTAÇÃO POR PARTICIPAREM DA COMUNA DE PARIS EM 1871

do sentimento humano, coisa desconhecida no mundo da política.” Em um determinado momento da vida em família, Marx teria dito em relação às duas filhas: “Jennychen é a mais parecida comigo, mas Tussy sou eu”.

De personalidade carismática, Eleanor manteve um longo namoro proibido com Hippolyte Prosper-Olivier Lissagaray. Escreveu Silveira: “ela o conheceu quando se envolveu no trabalho de ajuda e solidariedade aos perseguidos da Comuna que começaram a chegar a Londres sem dinheiro, sem trabalho, sem assistência”. A Comuna de Paris, iniciada com a revolução do proletariado parisiense, é considerada a primeira tentativa da história de criação e implantação de um governo socialista e durou de 18 de março a 28 de maio de 1871. A insurreição pôs-se contrária ao governo, teve como episódio final a Semana de Sangue, quando foi esmagada: vinte mil proletários fuzilados e quarenta mil feitos prisioneiros. No mesmo ano, Edouard Monet, uma grande personalidade da arte do século XIX, pintou La Barricada, que retratou esse episódio.

Foi na condição de ex-combatente francês da Comuna de Paris que Lissagaray

48

bateu à porta da família Marx. Havia escrito História da Comuna de 1871, compêndio sobre a insurreição e pretendia obter o aval de Marx para a garantia de prestígio e credibilidade que, mais tarde, Tussy traduziu do francês para o inglês. Nesse momento, durante o exílio de Lissagaray em Londres, a adolescente Eleanor, “ma petite femme”, como a chamava, iniciou um relacionamento amoroso, terminantemente proibido por sua família. Sem a aprovação de sua paixão, saiu de casa e foi ser professora em Brighton, a beira mar londrina.

Em 1884, após romper o romance com Lissagaray, que retornou a Paris, Tussy passou a viver ao lado de Edward Aveling (18491898), momento em que Marx já se encontrava gravemente doente e sua mãe já havida falecido. Aveling foi autor de inúmeros livros e panfletos, fundador da Liga Socialista, do Partido Trabalhista Independente e apaixonado pelo teatro amador, que passou a angariar fundos para o movimento socialista e sindical. Mas, o relacionamento amoroso logo demonstrou estar próximo ao fim, ao descobrir que Edward casou-se sigilosamente com uma jovem atriz.

a filósofa Márcia Tiburi (Revista Cult, 2014): “Marx está a nossa espera”, em tom profético. E, para o haitiano Raoul Peck, diretor de O jovem Karl Marx, “os homens não precisam de mitos para se libertarem, nós precisamos de homens que sonhem o novo, amem a liberdade humana e lutem por isso.”

Para finalizar, é Tussy quem responde se a pergunta fosse feita a ela: “o cerne do capitalismo está na alienação em que joga as pessoas, alienação tanto uma das outras, quanto da natureza e, sobretudo, de si mesmas: de seus sentidos, suas emoções, suas forças criativas.”

Escreveu Marx no prefácio de O Capital, livro I: “presumo, naturalmente, a existência de leitores que desejam aprender algo de novo e queiram, portanto, também pensar por conta própria.”

lumeMatoGrosso

Tussy, que se aconchegava com seus dois gatos pretos com laços de fitas vermelhas no pescoço, que se cercava de pilhas de livros no Museu Britânico, que costumava dizer que de Mouro havia herdado seu nariz e não sua genialidade, que liderou no Museu Britânico protestos contrários ao impedimento às mulheres de lerem o Kama Sutra, não suportou a notícia e, em 1898, cometeu suicídio ao ingerir ácido prússico, mais conhecido por cianureto. Em pensar que décadas antes, Mouro havia escrito o livro Peuchet: sobre o suicídio, publicado em 1846.

No texto introdutório, Michael Löwy explicou que o jovem Marx precipitou debates sobre a opressão da mulher e o direito ao aborto que parecem ser temas que se encontram afastados do materialismo dialético. Temas atuais e que exigem escrúpulos, Marx entendeu o suicídio “como sintoma de um meio social doente, necessitado de uma transformação radical.” E mais: na sociedade burguesa, “cada indivíduo, isolado dos demais, vive numa espécie de ‘solidão em massa’. As pessoas agem entre si como estranhas, hostilizando-se mutuamente, metidas em ‘luta e competição impiedosas’, ora como vítimas, ora como carrascos, caminho aberto para o desespero, o desatino – e o suicídio.” Certamente, o jovem Marx não imaginaria que duas de suas filhas cometeriam suicídio. O suicídio, em sua análise, é a “expressão extrema de uma sociedade doente, de um sistema que necessita de uma transformação radical para resolver não só as questões do campo da política e da economia, mas também as opressões nas relações sociais e o mal-estar dos indivíduos.”

Nos dias de hoje, partidos comunistas governam sete países. Cinco destes já se faziam existentes antes da crise do sistema soviético, em 1991, e mantêm o poder concentrado num sistema de partido único – China, Cuba, Coréia do Norte, Vietnã e Laos. Nos outros dois, os Partidos Comunistas estão à frente de governos eleitos democraticamente – República do Chipre e Nepal. Quanto à pergunta inicial – é preciso ler O Capital? – agora quem responde é

LA BARRICADA, ÓLEO SOBRE TELA, FEITA EM 1871, DE AUTORIA DO PINTOR FRANCÊS CLAUDE MONET.

49

lumeMatoGrosso

MEMร RIA

Ao Sabor da Histรณria 50

Vereadores mudam nomes de ruas em Cuiabรก

lumeMatoGrosso

E

stamos habituados a cruzar e andar pelas ruas Barão de Melgaço, 13 de Junho, Voluntários da Pátria e tantas outras da área central da capital de Mato Grosso, Cuiabá, mas nem sempre temos informações precisas sobre o porquê dos nomes dessas vias urbanas.

Segundo o historiador Estevão de Mendonça, a Câmara Municipal de Cuiabá, ainda no período imperial, resolveu alterar denominações de algumas ruas da capital. O motivo foi homenagear cidadãos ilustres que se empenharam na Guerra do Paraguai, além de lugares, datas e pontos históricos relacionados com a nossa história.

Em 3 de junho de 1871, foi publicado um edital com o seguinte teor: “O tenente Joaquim Alves Ferreira Sobrinho, Presidente da Câmara Municipal desta cidade, faz público aos habitantes desta cidade, que para comemorar fatos heróicos desta Província, durante a guerra contra o governo do Paraguai, resolveu em sessão de três do corrente, mudar as denominações das ruas abaixo mencionadas, a saber: Rua da Mandioca, se denominará Rua dois de Dezembro; A Rua Bela do Juiz será Rua Treze de Junho; A Rua Di-

reita a Rua Primeiro de Março; A Rua Augusta, será a Rua Onze de Julho; A Rua do Comércio, será a Rua 27 de Dezembro; A Rua da Esperança, será a Rua de Antônio João; A Rua do Campo, será a Rua do Barão de Melgaço; A Rua dos Pescadores, será a Rua de Couto de Magalhães; A Rua da Misericórdia, será a Rua do Coronel Peixoto; A Rua Formosa, será a Rua da Bela Vista; A Rua da Sé, será a Rua do Comandante Antônio Maria; A Rua da Fé, será a Rua do Comandante Costa; A Rua do Senhor dos Passos, será a Rua Sete de Setembro; O Campo d’Ourique, será a Praça do Alegre; A Travessa d’Alegria, será a Travessa dos Voluntários da Pátria.”

O documento foi redigido pelo 1º Secretário José Maria Curvo e confirmado em assinatura pelo presidente Joaquim Alves Ferreira Sobrinho, em 5 de junho de 1871.

Posteriormente, com o tempo, os nomes foram sendo ajustados e Rua do Barão de Melgaço, ficou apenas Rua Barão de Melgaço, e assim ocorreu com outros nomes. Outros foram alterados, a exemplo Praça do Alegre, que hoje se chama Praça Moreira Cabral, em frente à Câmara Municipal da capital.

51

lumeMatoGrosso

R E T R ATO E M PRETO E BRANCO

Sarita e os Segredos da Mulher Vitoriosa

C 52

POR WILSON PIRES DE ANDRADE

lassificada por muitos como a última remanescente da era romântica da política em Mato Grosso, a professora Sarita Baracat de Arruda contava como se elegeu vereadora, prefeita e deputada estadual. Lembra da época em que ganhava eleições sem dinheiro e gostava de falar de suas raízes varzeagrandense, de descendência Síria.

cadeiras eram muito ingênuas: fazer quitutes, brincar de boneca, etc., apesar de morrermos de vontade, só íamos a festas depois dos 18 anos”, dizia ela. Os árabes sempre tiveram muito controle sobre a vida das mulheres. E com meu pai não foi muito diferente”.

Sarita cursou o primário no então Grupo Escolar Pedro Gardéz, em Várzea Grande. O ginásio, de 5ª a 8ª séries, no colégio Estadual de Cuiabá (Liceu Cuiabano) e o Magistério na Escola Pedro Celestino, em Cuiabá. Gostava de dizer que naquela época, concluir o segundo grau era uma glória, como se fosse pós-graduação em nível superior, lembrando das dificuldades para se estudar.

O primeiro emprego foi na Tesouraria da Prefeitura de Várzea Grande, em 1950. Em poucos meses, no mesmo ano, assumiu a chefia da Tesouraria, nomeada pelo prefeito Gonçalo Botelho de Campos, o primeiro eleito da história do município. “Ele foi o meu professor na política; o doutor Gonçalo foi eleito pela UDN e esse foi o primeiro partido ao qual me filiei”, dizia ela, com uma ponta de nostalgia.

Mas a paixão pela vida pública, segundo Sarita, começou ainda na adolescência. Em 1947, na 5ª série ginasial, ela já mobilizava os estudantes no colégio Estadual para reivindicar os direitos dos alunos.

“Eu não tinha herança política, mesmo assim sentia vontade de ajudar as pessoas”, recordava.

VITÓRIAS & AMIGOS “No meu tempo, fazíamos campanha a pé, percorrendo os bairros de casa em casa; as pessoas votavam em determinado candidato pela confiança e não existia essa história de se gastar rios de dinheiro”, observava, comparando com os custos atuais de uma disputa eleitoral. A vitória sorria sempre para os candidatos que detinham maior simpatia do eleitoral e apresentava as melhores propostas de trabalho.

Sempre falava que a amizade sincera também era muito importante.

Em 1951 entrou para o Magistério, na conhecida Escola Normal. Fez muitos amigos. Em 1957 recebeu o convite de algumas amigas para se candidatar à Câmara Municipal dos Vereadores de Várzea Grande.

Pensou um pouco e acabou aceitando. “Ninguém acreditava na minha vitória, só meu pai”, rememorava ela.

Sarita Baracat foi vereadora mais votada naquela eleição e liderou a oposição em Várzea Grande. Naquela época, a Câmara Municipal tinha apenas cinco vereadores. Com seus votos, a sublegenda de Sarita acabou “puxando” mais dois e a bancada oposicionista ficou com a maioria no legislativo várzea-grandense.

lumeMatoGrosso

Filha de pais sírios, Sarita Baracat de Arruda nasceu em Várzea Grande no dia 29 de dezembro de 1930. Seu pai, Miguel Baracat, nasceu em Damasco, capital da Síria, mas aos quatro anos de idade perdeu os pais e teve que vir com uma irmã para a América do Sul. “Aqui, como todo árabe, virou vendedor ambulante”, lembrava Sarita. Sua mãe, Warda Zain Baracat, nasceu em uma pequena cidade perto de Damasco, chamada Sidanaia. Devido às constantes guerras na região, fugiu com a família para Buenos Aires, na Argentina. Foi lá que Warda Zain e Miguel Baracat se conheceram e se casaram. A vida do casal ficava entre Buenos Aires, onde eram sócios de uma fábrica de tecelagem, e Várzea Grande, onde abriram o primeiro bar, a primeira padaria mecanizada e a primeira farmácia da cidade e tiveram oito filhos - quatro meninos e quatro meninas.

“Nós tivemos também o primeiro automóvel de Várzea Grande. Um Ford Modelo A, que batizamos de fubica”, contava Sarita Baracat. “Meu pai era um homem muito culto”, dizia ela, “escrevia e falava cinco idiomas. E fez questão que todos os filhos estudassem até o nível superior. A minha mãe, por outro lado, não pôde estudar por causa das guerras. Tive uma infância onde as brin-

53

lumeMatoGrosso

R E T R ATO E M PRETO E BRANCO TABU QUEBRADO Porém, foi em 1966 que Sarita Baracat alcançou a maior vitória de sua carreira; simultaneamente, quebrou um tabu de séculos. Foi à primeira mulher a chefiar o Poder Executivo de um município na História de Mato Grosso. E, de quebra, eleita pelo voto.

Faltando 35 dias para as eleições, o coronel Ubaldo Monteiro da Silva, que era deputado estadual, desistiu da candidatura, alegando problemas particulares. “Nós estávamos criando a Ala Feminina da Arena, já tínhamos 80 membros”.

De repente, alguns líderes da Arena ficam sem saber o que fazer, após a desistência de Ubaldo Monteiro. “Então a Ala Feminina exigiu que eu fosse candidata a prefeita e aceitei; os meus adversários, João Elói de Siqueira e Benedito José da Silva, me consideravam uma concorrente a menos”, sintetizava a professora.

O senador Fernando Corrêa da Costa, então candidato a governador de Mato Grosso, entrou em pânico. “Sarita, está ficando louca; você vai ser candidata e não tem onde cair morta” acusou Correa da Costa. Mas ela recebeu o aval de Garcia Neto, então candidato a deputado federal, e do advogado Augusto Mário Vieira, candidato a uma cadeira na Assembleia Legislativa. “Respondia ao doutor Fernando que seria candidata para

54

dar sustentação aos candidatos do partido, em Várzea Grande, mesmo sabendo que dificilmente conseguiria vencer”, lembrava. A resposta para Fernando Correa foi curta: “eu não sou ninguém; por isso, se perder não tem problema, mas vocês, candidatos majoritários terão um grupo para se apoiar”.

A campanha começou num corpo-a-corpo intenso com o eleitorado. Não existia nenhum cartaz, adesivos e tampouco dinheiro.

“Nessa altura, uniu todo poder econômico da ex-UDN contra a minha candidatura, porque ninguém admitia a possibilidade de uma mulher administrar Várzea Grande era aquela velha história do preconceito”, lembrava. O primeiro apoio de peso em Várzea Grande ela recebeu do empresário Joaquim Norberto de Barros. Os demais eram correlegionários humildes.

Sarita dizia que quando visitou a primeira residência já em campanha sentiu que tinha chances. A injeção de ânimo partiu de Dona Rosa, mãe do ex-vereador Batico Barros. “Ela me disse: Sarita, você vai ganhar, porque tem o dom de ajudar as pessoas”.

Na noite do primeiro dia de campanha, ela já era acompanhada por mais de vinte pessoas. “Quando a campanha ganhou corpo, eu saía de casa às 6 horas e só voltava às 10 horas da noite”, revelou Sarita.

A ex-prefeita disse que o fato de Várzea Grande ter pouco migrantes naquela época ajudou na sua campanha. “A gente conhecia todo mundo na cidade e na véspera da eleição o doutor Garcia Neto me disse que a eleição estava ganha”, relembrava. Quando terminou a contagem dos votos, a festa popular tomou conta de Várzea Grande. Sarita Baracat governou Várzea Grande de 1967 a 1970. Uma das principais obras de sua administração foi à rede de abastecimento de água tratada e a iluminação pública.

Foi casada com Emanuel Benedito de Arruda, de família tradicional da Passagem da Conceição, Sarita Baracat teve dois filhos, Ernandy Maurício Baracat de Arruda – Nico, Fernando César Baracat de Arruda e Eveline Baracat (adotiva).

Sarita Baracat foi vereadora, prefeita, deputada estadual, diretora da Codemat, delegada do Ministério da Educação – MEC e Secretária-chefe da Auditoria Geral do Estado de Mato Grosso, com toda certeza representou a própria trajetória da família Baracat em Mato Grosso, especialmente na Cidade de Várzea Grande. Sarita Baracat de Arruda morreu aos 86 anos e participava ativamente dos principais movimentos políticos da Cidade de Várzea Grande.

Wilson Pires de Andrade é jornalista profissional em Mato Grosso

lumeMatoGrosso

ARTES PLÁSTICAS

A

Arte Abstrata

arte abstrata é um movimento artístico, cujas obras possuem uma grande mistura de ideias. Com cores vivas, vibrantes e muita mistura, a arte abstrata conquistou o coração de muitos críticos de arte, e, hoje é considerada a arte do futuro.

Embora muitas pessoas critiquem este tipo de arte, por acharem que as pinturas são um monte de riscos e sujeiras, os críticos de arte elogiam a arte abstrata.

Surgidas há mais de 1000 anos atrás, a arte abstrata é um movimento artístico que tem como principal característica a representação de muitas coisas. É uma forma cultuada atualmente, e, com maior valor também. Existem obras da arte abstrata que valem milhões de dólares como é o caso de “A Cento-

POR ELIETH GRIPP

peia jantando com Adolf Hitler”, criada pelo artista francês François Debruce.

Criar obras abstratas não é fácil, e, exigem criatividade, perfeccionismo e muito tempo disponível.

A arte abstrata chegou ao Brasil em 1942. Muitas vezes as cores usadas são tão vivas que chegam a falar. A característica principal desta arte é a “incompreensibilidade”. Muitos não a entendem e por isso dizem não gostar dela. Um dos maiores artistas abstrato foi Wassily Kandinsky da Rússia. Kandinsky nasceu em Moscou, e, aos 20 anos entrou na Universidade para estudar Direito, mas, em 1895, começou a estudar pintura na Academia de Munique. Não parou mais. Tornou-se um grande artista. Foi o primeiro pintor Ocidental a produzir arte

abstrata e a desenvolveu pelo resto de sua vida até 1944, quando faleceu.

Há várias técnicas da arte abstrata. A que eu faço é a “MARMORIZAÇÂO”. Ela está presente em muitas igrejas do mundo inteiro, como na decoração da Igreja N. S. das Dores, em Niterói/RJ, além de muitas outras igrejas no Brasil.

Se você tiver o seu olhar aguçado, se surpreenderá com tudo que vai ver nesta pintura que ilustra este artigo: rostos de pessoas, animais, pássaros, animais marítimos, monstros, etc.

Dizem os críticos que esta será a arte do futuro.

Aprenda, então, a observá-la desde agora.

Elieth Gripp é artista plástica e artesã em Cuiabá/MT.

55

lumeMatoGrosso

L I T E R AT U R A

56

lumeMatoGrosso

LUCIENE JOSEFA DE CARVALHO Escritora, poetisa e membro da Academia Mato-Grossense de Letras

Novinha

Ó

POR LUCIENE CARVALHO FOTO DIVULGAÇÃO

professor, tô escrevendo pra ti falar uma coisa..., será que posso chamar ele de Prof, prá ficar mais legal, sei lá. Ti falar é como I ou é com E? Então, Prof, eu não sou mina de panguá na cena, queria ti falar que ti acho mó lindo, será que ele vai me caguetá para Coordenação? Véi, minha mãe vive repetindo que me criou sozinha que é meu pai e minha mãe... ou é minha mãe e meu pai, sei lá. Queria ti pedir tipo assim, que você não falasse pra ninguém dessa, ou desta? Sei lá, porquê se você falar pra alguém, eu tô ferrada, no doze, aí não tem pra mim, nem pra você Prof. Ó, tenho que ti falar que eu entrei no seu face, aff... mó emoção, fiquei viajando de ver altas fotos minha e sua naqueles lugar loco que você já foi, tô ligada que você já foi prá altos lugar, altas praias, que você mora num lugar do Centro , uma vez nós fomos jogar na quadra no Araés, tudo asfaltado, quando acabou o jogo tava de noitinha, fiquei de cara: os postes tudo com luz, não é como aqui no ‘industriário’ véi, deu até vontade de chorar, que eu lembrei do dia que assaltaram e tentaram estuprar minha avó. Véi uma senhora velha de 50 anos! Ela tava voltando da igreja! Sorte que o vizinho lá de baixo que tem carro, passou, viu o bagulho loco, puxou uma arma e os dois caras vazaram.

Minha avó só soluçava, falava que aquilo

não era lugar pra filho de Deus mora, Prof.

Sei que sou novinha e que, você vai ficar de segunda comigo, sei que sou BO, mas meu coração dispara desde a hora que ti vejo saindo do carro no estacionamento, hora que vai chegando, a hora da sua aula eu penso nós dois na praia, fazendo altas coisas, tipo você é meu número. Já decidi que seu nome vai ser minha primeira tatuagem (DANIEL), se minha avó pegá essa carta, tô morta, ainda mais falando de tatuagem e homem mais velho, mas minha avó é louca, véi, com 14 e meio, as minas já foram faz horas prof. Passei a gostar até de geografia por causa das suas aulas, você tem uma camisa lilás que faz você ficar mais gato, você deve ter comprado em algum lugar chic do shopping, foi na Renner, né, prof?. Áh, eu até gosto das roupas que minha mãe compra da minha tia, que busca em Goiânia, no meu tamanho. Aqui no Industriário eu derrubo todas, mais sei lá, outro nível, queria saber se você se liga em mim? Teve um dia que eu até achei que sim, foi quando eu pintei o cabelo de ruivo e fui de blusa baby look na sua aula, eu vi você olhando tipo assim, olhando muito.

Se você tiver a fim, lacrô. Já é! Outubro é um mês esquisito, a gente comemora o dia das crianças e o dia dos professores quase junto, né? Prof, eu não sou mais criança, na moral, eu quero é ser o seu presente.

57

lumeMatoGrosso

L I T E R AT U R A

Efemérida POR BENEDITO PEDRO DORILEO FOTOS DIVULGAÇÃO

O

58

s pescadores também têm, além das suas estórias, um conhecimento profissional infalível para aplicá-lo na hora certa. Quando por sobre as águas voam nuvens de siriruia, já recolhem os anzóis: “hoje não dá peixes, estão cevados, é dia de siriruia”.

dem os ansiosos relógios, marcadores dos compassos em minutos que somarão horas para ingresso no portal do novo século.

Na finitude do ser humano, o tempo lhe é algoz, quando não aproveitado por inteiro. – Mas o que é aproveitar o tempo se até o ócio temporário é benfazejo?

“Euntanni”, o tempo no conceito humano é célere.

Goethe enchia-se de indignação, como afirma Riboulet, diante do espetáculo da imensa dissipação que faz a humanidade dessa matéria preciosa e tão rara que é o tempo. Com uma espécie de fervor tátil, ele queria reter entre as suas mãos esse tecido parcimoniosamente medido. Cada um dos seus dias era assinalado por uma divisão nítida, lúcida de seu tempo.

A instintiva sabedoria da efemérida dá-lhe a dimensão exata dos seus passos vitais, levando-a, instantes antes da sua morte, a casar-se, eternizando a própria espécie. Ela viverá para sempre na recriação cíclica da existência.

O “homo sapiens” iniciou em laboratório a reprodução de células humanas, a clonagem é uma realidade a ingressar audaciosa no terceiro milênio; a longevidade é perseguida cientificamen-

te, a todo custo. É prevalente esta conquista, mas não se esqueçam, os cientistas, do Criador.

Contrasta, dolorosamente, quando, da primavera ao inverno da vida, o homem atinge a última quadra, cabelos nevados, passos vacilantes, ruína de uma antiga obra vigorosa, nega-se-lhe a dignidade da assistência subsidiária, tomando-lhe o cajado dos proventos necessários.

O poder, ah o poder, este quase sempre cega o poderoso –, só amanhã doerão os seus ossos de velho achacado em senil arrependimento. No Brasil, tem-se falado, insensivelmente, que o aposentado pesa nos cofres da nação, ou é vagabundo. Repelir é obrigação que todos devem assumir, pois comum é o caminho da florescência à folha seca e morta.

Assim, efemérida, que a vida lhe seja bela e longeva, compatível com a aspiração da sua natureza e espécie. E o ser humano, carregado de anos o quanto ele conquistar com sua inteligência e luta, seja respeitado em seus direitos até soar a hora de render o seu espírito a Deus.

lumeMatoGrosso

Ainda que a larva aquática demore na caprichosa metamorfose das mudas de pele, renovadas várias vezes, a forma adulta apta para a vida só é atingida com decurso de um a três anos.

Se para o homem cada dia representa uma cena, cada ano um ato, o último coroa a peça; para asiriruia, ou efemérida, o viver tem uma única cena que se confunde com um só dia de vida. Ou mesmo algumas horas lhe são bastante.

Um par, ou mais completa com dois pares de asa artisticamente reticuladas, tem um corpo minúsculo de um centímetro, sobressaindo-se os fios que descem multiarticulados do abdômen.

A vida explode-lhe quando da larva surge a ninfa; fende-se a pele, descerra o pano de boca, o palco abre-se para a existência: eis a efemérida gloriosamente a voar, aspirando o oxigênio, seu único alimento –, inaugura a vida.

Uma vez mais ocorre a muda post-ninfal e ela está noiva do tempo.

Naturalmente, que o nome foi motivado no étimo de efêmero, o pouco na conceituação do homem – o presentâneo, o ligeiro, o rápido, o passageiro. Pois bem, num lance de vista, de um salto, “uno saltu” para a efeméride é o suficiente para cumprir o ciclo previsto pela sua concepção.

A ordem temporal, medir o tempo, como me-

59

lumeMatoGrosso

L I T E R AT U R A

Quando as Horas Eram “Disputa”

N

POR GUAPO FOTOS DIVULGAÇÃO

o começo dos anos sessenta do século passado a fabricante japonesa dos famosos relógios Seiko, havia acabado de lançar modelo de relógio de quartzo que logo se espalhou pelo mundo todo por ter fama de ser muito

60

preciso, dispensava o arcaico modelo que precisava dar corda, era a prova d’água, enfim, era a coqueluche do momento e muito caro pra poder adquiri-lo.

Em Cáceres, havia um senhor muito conhecido pelo apelido de “Antonio Cutia”, típico peão pan-

taneiro que “desmontou” o termo usado para designar o título de ex-peão. Ele era analfabeto, no entanto, era esperto e conhecia muito bem o dinheiro, pois era dono de um açougue muito procurado pela clientela.

“Antonio Cutia”, não sei a origem da sua alcunha,

lumeMatoGrosso

MILTON PEREIRA DE PINHO - O GUAPO Músico e escritor

aparentava ter uns cinquenta anos, mas era conhecido no meio popular por gostar, nas horas vagas, de um bom “trago”, jogo de truco espanhol, corrida de cavalo e “campeá muié”, como ele mesmo dizia, dando seu risadão de bonachão e de bem com a vida.

Quando eu era mandado pela minha mãe, para comprar carne no seu açougue e chegava lá, já em torno das nove horas, ele dizia em tom reprovador: - “Eh guri! Essas horas que “oce tchega” e quer ainda levar carne de primeira pra sua mãe? Agora “djá” num tem mais nada…

E agora o que que “tá” pra fazê? Depois “chuá” mãe vem “falá” pra mim que mandei só “rebotaio” do açougue pra ela”, continuava ele, me apoquentando, porém eu não falava nada, porque, naquele tempo, criança nunca tinha razão.

Enquanto tentava “arrumar” alguma parte de carne boa pra eu levar pra casa e também contentar a minha mãe, “Antonio Cutia” voltou a conversar com outro peão que estava lá, quando eu cheguei.

Era um jóquei ou ginete das corridas de cancha dupla de Cáceres, como se falava, lá na fronteira.

- “O “Baio Leque”, do Dorileo, num vai corre esta semana”, dizia o “Antonio Cutia”, enquanto cortava a minha carne e o outro, admirado, então respondeu.

- “Ago por que? Algum pobrema? Ele é o maior campeão do momento… duvido que vai ter cavalo “cantchero” melhor que ele no domingo que vem, lá na “Cantcha da Linha de Tiro” “chô Antonio”! Respondeu o peão, entre estar surpreso e duvidando do futuro fato nas corridas do final de semana.

- “É que o Baio leque “matchucou a pata diantera e o Dorileu num que arriscá perde, né?” Confortou “Antonio Cutia”.

Quando ele terminou de “arrumar” a minha carne e me entregou prendida no “gancho” (um utensílio da época pra carregar a carne in natura comprada nos açougues e que todos tinham que levar quando fosse nos açougues), foi que prestei atenção no seu punho, onde estampava um lindo e novíssimo relógio Seiko, então eu disse pra ele que era um bom relógio.

O peão também viu e ficou maravilhado e, com a maior naturalidade, perguntou as horas pra ele dizendo: - “Quantas horas aí no seu Seiko “chô Antonio?”

Ele olhou para o relógio, mas não sabia ler as horas, pois era analfabeto. Então respondeu sorrindo: - “Iiih…O pau tá quebrano”! O outro sem entender contestou.

- “Mas por que?” E ele, ainda olhando o relógio, reagiu.

- “O pontero menorzinho qué passá na frente do grandão”.

lumeMatoGrosso

L I T E R AT U R A

62

A Busca Pelo Intercâmbio Cultural Entre Os Povos Da América Do Sul:

lumeMatoGrosso

Americanidade

Gabriel Garcia Márquez

Gabriel García Márquez foi um escritor colombiano e seu livro de maior expressão foi “Cem Anos de Solidão”, publicado em 1967.

Recebeu o prêmio Nobel de Literatura, em 1982, pelo conjunto de sua obra. Em 1962 ganhou o prêmio Esso de Romance, na Colômbia, com “O Veneno da Madrugada”. Trabalhou em vários Jornais, foi correspondente internacional na Europa e em Nova York. Pela sua amizade com Fidel Castro e suas críticas aos exilados cubanos, foi perseguido pela CIA. Foi acusado também de colaborar com a guerrilha na Colômbia e exilouse no México, onde escreveu várias obras.

63

lumeMatoGrosso

L I T E R AT U R A

O 64

escritor Gabriel García Marques nasceu no dia 6 de março de 1927, na cidade de Aracataca na Colômbia. Filho de Gabriel Elígio García e Luisa Santiaga Márquez. O casal teve onze filhos. Gabriel foi criado com os avós, em Aracataca, enquanto a família vivia na cidade de Barranquilla. Estudou no Liceu Nacional de Zipaquirá em Barranquilla. Estudou Direito e Ciência Políticas na Universidade Nacional da Colômbia, em Bogotá, mas não concluiu o curso. Casado com Mercedes Barcha, teve dois filhos, Rodrigo e Gonzalo.

Iniciou sua carreira literária, no final da década de quarenta, com a publicação de contos, onde retrata um mundo fantástico que caracteriza toda sua obra. Em 1949 ingressou no jornal El Universal, trabalhou também

lumeMatoGrosso no El Heraldo e no El Espectador. Em 1955, influenciado pelo professor de literatura, Calderón Hermida, escreveu seu primeiro romance “O Enterro do Diabo”.

Em 1959 vai para Europa como correspondente internacional e em 1961 vai para Nova York, também como correspondente.

Suas críticas aos exilados cubanos e sua amizade com Fidel Castro fizeram ser perseguido pela CIA. Em 1962 ganhou o Prêmio Esso, na Colômbia, com o romance “O Veneno da Madrugada”.

Publicou, em 1967, “Cem Anos de Solidão”, considerado um marco da literatura latino-americana. O livro é uma saga que narra a história da família Buendia, na cidade fictícia de Macondo: um universo mágico habitado por desejos, sonhos e paixões, des-

crito com insuperável talento poético. Entre seus romances e contos escreveu “Relato de um Náufrago” em 1955 e “O Amor nos Tempos do Cólera” em 1985. Foi o primeiro colombiano a receber o Nobel da Literatura em 1982, pelo conjunto de sua obra. Recebeu o Prêmio Esso de novela por “Má Hora”, e, em 1971, o Doutor Honoris Causa da Universidade Colúmbia, em Nova Iorque. Recebeu a Medalha da Legião Francesa em Paris, em 1981. Em 2002, depois de ser diagnosticado com um câncer linfático, escreveu sua autobiografia “Viver para Contar”. Em abril de 2009 declarou que tinha encerrado sua carreira literária, estava aposentado. Gabriel García Marquez, que também sofria de demência senil, faleceu em sua casa no México, no dia 17 de abril de 2014.

65

lumeMatoGrosso

CRÔNICA

No Ponto

D

uas amigas. O sol quente, escaldante. A avenida movimentada: carros, pessoas, animais, poeira....

Elas sentadas no ponto à espera da condução que como de costume demorava a passar...

Elas conversavam animadamente.

Shophia, gestante de seis meses, usava um short jeans extremamente pressionado ao corpo, um top preto que quase era capaz de cobrir toda a extensão da barriga, o top nas costas entrecruzava linhas formando emparelhamentos de “xis” que cobriam fragmentos da pele. Maria, sua amiga, vestia um vestido verde com estampa floral.

66

POR JUDI OLLI (*)

As flores eram pequenas, do tamanho dos seus sonhos... igualmente justo.

Mas, surpreendentemente nenhuma das duas aparentava desconforto, apesar da carne sobressaltar a roupa pela supressão.

Conversavam. Um celular toca. É o de Shophia. É o namorado que está preso por tráfico de drogas.

- Firmeza, não, mô, ele não apareceu com o dinheiro, tive que ir atrás, botei o pânico, aí no outro dia o dim apareceu, se não tivesse pagado ia pedir pros cara passar fogo nele.... tá.... té mais, mô!

- Era Kito perguntando dos negócio. Disse Shophia à Maria, que a olhava com curiosidade.

- Então, Maria, como eu estava falando, ontem à noite foi loco, nem lembro como cheguei em casa, tava doidona.

- E o bebê?

- Haá o doutor falou que vai sair com defeito, deu pra vê nas imagens lá....

Um ônibus passa. A poeira sobe. A atmosfera fica invisível.

Colisão. Não existia mais horizonte, apenas barulhos, buzinas, sirenes, gritos e sangue.

PODE SER O FIM. (*) Judi Olli é Mestranda em estudos literários pela UFMT, Programa de Pós-Graduação em Estudos de Linguagem/ PPGEL

lumeMatoGrosso

Ú LT I M A P Á G I N A

A Breve História Do Sonho POR CARLOS GOMES DE CARVALHO FOTOS DIVULGAÇÃO

Reinventa-se ao sonhar:

- o imenso sol

no pequeno bolso do paletó – se coloca.

- translúcido, pelas ruas a celebrar as coisas simples da vida –se põe.

- a barganhar a esperança na esquina a despedir-se do medo na estreita viela, a mesma que passa em frente, rente à porta de sua casa – é o que se faz.

E ainda, sem amparo, sem qualquer proteção un pas de deux no trapézio da vida – se dança e rindo, só rindo em folhas, no tempo soterradas – tropeça-se.

Deus bendiz o sonho dos justos e dos insanos e mais dos sedentos que dos famintos.

Carlos Gomes de Carvalho publicou os livros de poesias A Arquitetura do Homem, Hematopoemas, Pássaros Sonhadores.

67

f /TCEMatoGrosso

@TCEmatogrosso

www.tce.mt.gov.br

Gestão nota 10 Desde 2000 o Tribunal de Contas de Mato Grosso, por meio da Escola Superior de Contas "Benedicto Sant'Ana da Silva Freire”, cria ações educativas, capacita e desenvolve iniciativas que auxiliam as instituições a garantir a boa gestão dos recursos públicos.

60 mil pessoas já participaram dos 839 cursos, palestras e treinamentos realizados. Até hoje foram 21 mil horas/aula com o Ao todo, mais de

objetivo de instruir servidores, gestores e prestadores de serviços no aperfeiçoamento da gestão pública.

Seja também um multiplicador de conhecimentos. A melhoria dos serviços públicos depende de cada um de nós.

Confira a programação de cursos e eventos da Escola de Contas.

Acesse tce.mt.gov.br/eventos