REVISTA LUME - NOVEMBRO/2021 - EDIÇÃO Nº 53

lume Mato Grosso

Edna Lara

Quitutes cuiabanos. Pag. 24

ISSN 2447-6838

Revista nº. 53 • Ano 7 • Novembro/2021

.................

R$13,00

MÁRIO CORREA DA COSTA PESCUMA DE MORAIS FESTIVAL BAR EM BAR EXPOSIÇÃO DE ARTES VISUAIS “DEUSAS DO CERRADO” AMERICANIDADE: MARIO BENEDETTI

14 20 38 50 62

ÍNDIOS XINGUANOS EM PROCESSO DE PINTURA CORPORAL, NA DÉCADA DE 1980. FOTO VALDECI QUEIROZ

lumeMatoGrosso

C A RTA D O E D I TO R

JOÃO CARLOS VICENTE FERREIRA Editor Geral

A

frase “não existe almoço grátis” tem sua autoria frequente e erroneamente atribuída ao prêmio Nobel de Economia Milton Friedman. De fato, ele popularizou a frase, mas frisou que não a inventou. Sua origem remonta, provavelmente, ao século 19, nos Estados Unidos. Diz-se que a expressão faz referência ao fato de os saloons da época servirem “almoço grátis”, desde que o cliente comprasse bebidas. Ou seja, grátis coisa nenhuma! A frase acabou se tornando um dito popular quando se quer dizer que tudo na vida tem um preço, ainda que oculto e pouco óbvio. Faço alusão à frase “não existe almoço grátis”, tão utilizada nos últimos tempos, na política atual, o que a torna, para o povo brasileiro, ludibriado e comprado nas urnas, bem verdadeira. Tornou-se um indicativo, nos últimos tempos, de que não há ações políticas desinteressadas, mesmo as mais prosaicas. O que dizermos, então, quando nos deparávamos, até poucos anos atrás, com doações milionárias de empresas privadas em campanhas eleitorais? Os custos das campanhas subiam ano a ano, bem mais do que a inflação oficial e, grande parte desses recursos, obtidos através de doações de empresas eram utilizados para aliciar eleitores, comprometendo de forma efetiva a independência dos

eleitos. São muitos os fatos na política local e nacional que dão aval à essa frase.

Em 11 de fevereiro de 2015, o ex-diretor de Abastecimento da Petrobrás, Paulo Roberto Costa, se referiu a esse dito para mostrar como funcionam as indicações políticas para cargos de governo. No funcionalismo público mato-grossense o que mais se vê são indicações políticas de pessoas inabilitadas e descompromissadas com a vida pública e seus objetivos finais, que é o de atender a sociedade, que é a mantenedora do Estado, pois é quem paga os impostos. Por conta de contínua insatisfação com os serviços prestados pelo funcionalismo público, de forma geral, em todos os setores de prefeituras, Estado e União, avança a passos largos a proposta que acaba com a estabilidade no serviço público para servidores com baixo desempenho nas atividades desenvolvidas.

Com as novas regras eleitorais esperamos pela diminuição da fatídica compra de votos, hábito ancestral em Mato Grosso, tanto de políticos quanto de eleitores.

Alguns se salvam, mas são poucos. Esperamos que nas eleições deste ano o comportamento dos cidadãos seja mais cívico, elegendo candidatos que não estejam ligados à corrupção, o verdadeiro câncer da nação. E o tal do “almoço grátis”, nem pensar! Boa leitura a todos!

lumeMatoGrosso

EXPEDIENTE

lume Mato Grosso

PESCUMA MORAIS Diretor de Expansão e de Projetos Especiais ELEONOR CRISTINA FERREIRA Diretora Comercial JOÃO CARLOS VICENTE FERREIRA Editor Geral MARIA RITA UEMURA Jornalista Responsável JOÃO GUILHERME O. V. FERREIRA Revisão ANDRÉIA KRUGER, ANNA MARIA RIBEIRO, BENEDITO PEDRO DORILEO, CARLOS FERREIRA, CARLOS GOMES DE CARVALHO, CECÍLIA KAWALL, DIEGO DA SILVA BARROS, EDUARDO MAHON, ELIETH GRIPP, ENIEL GOCHETTE, EVELYN RIBEIRO, FELIPE DE ALBUQUERQUE, HENRIQUE SANTIAN, JOSANE SALES, JUDI OLLI, JULIANA RODRIGUES, JÚNIOR CÉSAR GOMES GUIMÃES, KALLITA DOS ANJOS MORAES, KEILA GUIMARÃES, LUCIENE CARVALHO, MILTON PEREIRA DE PINHO - GUAPO, RAFAEL LIRA, ROSARIO CASALENUOVO, ROSE DOMINGUES, THAYS OLIVEIRA SILVA, VALÉRIA CARVALHO, WLADIMIR TADEU BAPTISTA SOARES, YAN CARLOS NOGUEIRA Colaboradores ANDREY ROMEU, ANTÔNIO CARLOS FERREIRA (BANAVITA), CECÍLIA KAWALL, CHICO VALDINEI, EDUARDO ANDRADE, HEITOR MAGNO, HENRIQUE SANTIAN, JOSÉ MEDEIROS,

JOYCE CORRÊA, JÚLIO ROCHA, LAÉRCIO MIRANDA, LUIS ALVES, LUIS GOMES, RAI REIS, MAIKE BUENO, MARCOS BERGAMASCO, MARCOS LOPES, MÁRIO FRIEDLANDER, MOISÉS INÁCIO DE SOUZA, SAMUEL MELIN Fotos OS ARTIGOS ASSINADOS NÃO SÃO DE RESPONSABILIDADE DE LUME MATO GROSSO, E SIM DE SEUS AUTORES. LUME - MATO GROSSO é uma publicação mensal da EDITORA MEMÓRIA BRASILEIRA Distribuição Exclusiva no Brasil RUA PROFESSORA AMÉLIA MUNIZ, 107, CIDADE ALTA, CUIABÁ, MT, 78.030-445 (65) 3054-1847 | 36371774 99284-0228 | 9925-8248 Contato WWW.FACEBOOK.COM/REVISTALUMEMT Lume-line REVISTALUMEMT@GMAIL.COM Cartas, matérias e sugestões de pauta MEMORIABRASILEIRA13@GMAIL.COM Para anunciar ROSELI MENDES CARNAÍBA Projeto Gráfico/Diagramação EDNA LARA FOTO: JÚLIO ROCHA Capa

lumeMatoGrosso

SUMÁRIO

8.

PERSONALIDADE

18.

LÍNGUA PORTUGUESA

34.

MEMÓRIA

6

lumeMatoGrosso

42.

PARA QUANDO VOCÊ FOR

56. 60.

TURISMO

RETRATO EM PRETO E BRANCO

66.

ÚLTIMA PÁGINA

7

lumeMatoGrosso

PERSONALIDADE

maestro

fabrício

CARVALHO

A

8

revista LUME MATO GROSSO entrevista o maestro Fabrício Carvalho, regente da Orquestra Sinfônica da Universidade Federal de Mato Grosso. Considerado um dos maiores regentes da história musical mato-grossense, Fabrício nasceu na capital do Estado de São Paulo e reside em Mato Grosso desde os dez anos de idade. Seu primeiro aprendizado musical se dá ao piano com as professoras Ruth Fujimoto e Clélia Amaral Arruda. Ao discorrer sobre cultura geral sempre afirma ser um homem de sorte, pois, desde cedo teve acesso às artes, nas suas mais variadas formas, daí ser um expert nesse assunto. Fã da inventividade e capacidade de produção dos artistas mato-grossenses, sempre dá um jeito, em suas produções musicais, de formar parcerias regionais e exaltar a qualidade da arte musical de Mato Grosso.

9

lumeMatoGrosso

lumeMatoGrosso

PERSONALIDADE

10

COMO E QUANDO SE DÁ SUA VINDA A MATO GROSSO? » Sou filho de pai engenheiro e mãe professora ligados e entusiastas da música, cultura e arte de forma geral. Nasci na cidade de São Paulo e vim para Mato Grosso com dez

anos de idade, em 1984.

Minha família veio para cá no conhecido processo de migração que trouxe muita gente do Sul e do Sudeste do país para o Centro-Oeste, e de forma mais acentuada a partir da década de 1970. E o meu pai veio justamente para desem-

penhar uma atividade ligada às novas oportunidades que o Estado estava oferecendo: chegou com a finalidade de construir silos de armazenamento de grãos.

Mato Grosso produzindo, produzindo, produzindo, sem ter onde armazenar, então era preciso gen-

lumeMatoGrosso

Música que já fazia em São Paulo, ao entrar na Escola Preparatória de Instrumentistas da Orquestra Sinfônica. Assim, o meu primeiro contato com a Universidade aconteceu muito cedo, me encantei com as possibilidades que a instituição poderia me oferecer na área esportiva, na formação musical, enfim.

ENGENHARIA CIVIL OU REGÊNCIA, FOI DIFÍCIL ESSA ESCOLHA? » Pois é, quando chegou meu tempo de fazer um curso de graduação, fui fazer Engenharia Civil, por conta da ligação com a empresa do meu pai. Mas logo vi que aquilo ali não era a minha praia, se insistisse, ia acabar derrubando prédios ao invés de erguê-los. Então, em família, decidimos mudar o foco, fui para o Rio de Janeiro e fiz Regência.

Formado e de volta a Cuiabá, assumi a Orquestra Sinfônica da UFMT com vinte e dois anos, na época o mais jovem músico a ser maestro no Brasil.

te disposta a colocar mãos à obra. Ele logo se encantou com a cidade e com as potencialidades do Estado e resolveu trazer a família toda. Nessa época éramos apenas três irmãos: Eduardo, Fabrício e Priscila, o Álvaro, meu irmão caçula já nasceu em Cuiabá.

E SUA HISTÓRIA COM A UFMT, QUANDO COMEÇA? » A partir do momento que meu pai resolveu se estabelecer com sua família, em Cuiabá, buscou dar prosseguimento aos estudos de seus filhos. Ao par da escola convencional dei prosseguimento aos estudos de

QUE TAL A EXPERIÊNCIA DE SER MAESTRO AOS 22 ANOS? » Isso foi em 1997 e me impus como desafio a democratização e ampliação da Orquestra Sinfônica da UFMT. Sempre busquei honrar esse compromisso que fiz comigo mesmo, especialmente para facilitar o acesso da sociedade à cultura e música de qualidade.

11

lumeMatoGrosso

PERSONALIDADE

VOCÊ CONSEGUIU ESSE INTENTO? » Sim, hoje somos referência entre Sinfônicas em universidades públicas. Foram inúmeros e memoráveis os concertos que fizemos por todo o estado e Brasil afora.

SOBRE FORMAÇÃO DE MÚSICOS » Esse é um dos maiores desafios, pretendo trabalhar bastante para transformar em realidade concreta esse propósito.

COMO FOI SUA CARREIRA ADMINISTRATIVA NA UFMT? » Aliado ao meu trabalho na Regência da Sinfônica da UFMT desenvolvi trabalho na área administrativa da instituição. Fui coordenador de Políticas Culturais da UFMT e Pró-Reitor de Cultura e Esporte, durante oito anos, nos dois mandatos da prof. ª Maria Lúcia Cavalli Neder.

A CULTURA PERMITE AMPLIAR HORIZONTES? » Certamente, depois da

12

experiência na Pró-Reitoria de Cultura e Esporte, tornei-me secretário de Articulação e Relações Institucionais da Universidade, atuação desempenhada na gestão da Reitora Myrian Serra.

Nessa última função tive a oportunidade de transitar mais um pouco e ampliar o alcance da cultura, de fazer a cultura dialogar um pouco mais com outras áreas, como a do desenvolvimento econômico e social. Sou um homem absolutamente encantado com a política pública que faz mudar a vida das pessoas para melhor.

FALE SOBRE O SUCESSO DA CIA SINFÔNICA » A minha experiência na iniciativa privada certamente contribui bastante na condução da Cia. Sinfônica, formada por mim e por meus irmãos: Eduardo, Priscila e Álvaro Carvalho. Estamos em atividade ininterrupta já há 26 anos prestando serviços na produção de diversos eventos no Brasil todo e

uma carreira bem sólida no exterior também. Buscamos seguir orientação deixada por nossa mãe que pregava a união forte e perene dos quatro irmãos nos trabalhos desenvolvidos pela Cia Sinfônica. Essa receita funcionou e irá funcionar, sempre.

A Cia. Sinfônica sempre é referência no contexto musical em Mato Grosso, pois contamos com um staff variado e exclusivo de músicos de alto nível, incluindo integrantes de Orquestras sinfônicas e Corais, tendo formação erudita e popular.

Nosso repertório é composto por variados estilos musicais, adequado a cada tipo de evento, do erudito ao popular, músicas evangélicas, católicas, temas de filmes, jazz, temas infantis, etc.

VOCÊ ACREDITA EM MATO GROSSO? » Acredito muito neste Estado e nas potencialidades de Mato Grosso tanto no setor público quanto na inciativa privada, creio que

lumeMatoGrosso a gente pode ampliar muito isso, essa nossa capacidade de produção. Mas, para isso, temos de encarar a tarefa de superar a limitação da monocultura (da soja) como motor econômico do Estado, investir em nosso potencial industrial e da prestação de serviços. Esta me parece que é uma realidade que está colocada de forma bastante clara. Assim, aposto muito na estratégia de diversificar a produção de Mato Grosso, gerando emprego e renda. E, em síntese, acredito também, e muito, nas parcerias público-privadas, penso que é o caminho para gente resolver alguns problemas, gargalos, principalmente em termos de logística. Acredito nisso. Sou um cara esperançoso em dias melhores.

FOTOS: ACERVO FABRÍCIO CARVALHO

13

lumeMatoGrosso

HISTÓRIA

14

lumeMatoGrosso

UBIRATÃ NASCENTES ALVES É membro da Academia Mato-Grossense de Letras - Cadeira nº 1. ubirata100@gmail.com

Mário Corrêa da Costa O Pioneiro da Energia

P

POR UBIRATÃ NASCENTES ALVES

ossuíam desde o gênesis nessa tradicional família, sangue de uma linhagem política, seus ancestrais no Império, já haviam exercido a presidência da Província como veremos. Nestes idos tempos, durante a Regência em 1830, o seu tio-bisavô Antônio Corrêa da Costa que estudou em Coimbra, governou a Província; enquanto o seu pai Antônio Correia da Costa dirigiu Mato Grosso, sendo eleito por sufrágio universal no período de 15 de agosto de 1895 até 26 janeiro 1898. Seu tio Pedro Celestino Corrêa da Costa, igualmente governou o Estado, contudo por 2 vezes, entre 1908 / 1911 ainda no espaço de 1922 a 1926, senador por dois momentos nos anos de 1918 e por fim em 1927.

Este era o invejável parentesco que o deixou fadado a obter um marcante futuro na sua vida, ao qual não veio a decepcionar.

Pois realmente não foi diferente, ao vir ao mundo em Cuiabá no dia 4 de fevereiro de 1886, seu pai supracitado Antônio Corrêa da Costa, genitora Antônia Leite Corrêa da Costa. Fez seus estudos preliminaries em Cuiabá, depois partiu para o Rio de Janeiro, ingressou na concorrida Universidade Nacional da Praia Vermelha, formando-se com louvor em Medicina. Inicialmente clinicou no Rio de Janeiro, então Distrito Federal, de 1911 até o ano de 1925, permeadas em viagens à Europa onde fizera estu-

dos para atingir uma especialização inicial.

Vejamos que a família amealhou um considerável patrimônio, como o departamento fazendário indicava que os Corrêa da Costa possuíam 40.352 hectares, chegando ao final de 1911 em 52.659 ha e até 1930 haviam expandido para 58.837 ha. Por exemplo, Antônio Corrêa da Costa - pai de Mário, 8 ½ sesmarias de terra, 10 propriedades urbanas, 9.200 cabeças de gado, 100 cavalos e ainda 194 escravos. Não parando por aí, inclua-se a usina no rio Cuiabá abaixo de Aricá, mais a fazenda Bom Jardim, local onde nascera Pedro Celestino. Seu parente Estevão Alves Corrêa governador no período 1923 até 1926, possuÍa em Miranda 40.000 ha dos 60.454 da área desse municÍpio como um todo, 84.215 ha em Aquidauana e ainda 40.161 ha em Três Lagoas, como estampa a sua declaração de impostos.

Feita essa digressão para entender a potência que representava essa família, fica mais fácil entender-se que fazendo seu regresso 1925, elege-se nesse mesmo ano em retumbante vitória ao posto maior do executivo estadual, tornando-se o nosso presidente do Estado ! Entra em exercício a 22 de janeiro de 1926, colocando em pronto andamento sua aspiração de viabilizar para a cidade a preciosa energia residencial, assim como a iluninação pública. Desafios não faltariam para

15

lumeMatoGrosso

HISTÓRIA

16

finalmente construir uma usina hidroelétrica, como trazer desde São Paulo até Cuiabá enormes e pesadas peças através precárias estradas de terra, que se agravava durante o período das chuvas ou em rios de baixo calado, uma verdadeira epopéia. Contudo, o abnegado sonhador mantinha-se firme e determinado em realizar seu projeto, feito a escolha do local, iniciam-se logo os trabalhos naquela que foi batizada como Casca I. A expectativa popular era intensa, avizinhava-se um conforto ilimitado, a energia elétrica !

Iniciam as obras ainda em junho de 1926, nesse interim sérias premências surgiram, em especial a mão de obra, que foi superada através da contratação de técnicos vindos até do exterior, incluíndo-se neste rol os serviços gerais, soerguer linhas de transmissão, outros. Superadas todas as barreiras, até as psicológicas, por fim nosso herói feito de carne e osso, entrega no dia 26 de julho de 1928, a tão desejada obra para a população, uma grande festa.

Tratava-se de uma usina colossal para a época, significava um grande avanço, mas carecia de constante manutenção pelos simplórios campeões que guardavam o

sistema de transmissão, os senhores Artur Gervásio, Ramiro Moreira da Silva, Orestes e Amidio Lima. Eram conhecidos por “Guarda Fios”, faziam a preservação da rede e resolviam as questões pertinentes, cobriam uma área de Cuiabá a Pindaival, Capão do Boi, até a Serra das Russas.

Outra faceta, na área do entorno da usina foi eregida em 1929 a casa do governador, antiga morada dos dirigentes estaduais, nominada também por “A Cascata do Governador”. Após Mário Corrêa todos os demais chefes de governo, utilizaram essa notável residência como local de lazer e descanso em lugar privilegiado, em cima da cachoeira do Rio da Casca. A morada possuía excelente infraestrutura com: piscina, pontes, quiosques, churrasqueiras, e uma cachoeira que surgiu no canal de derivação do Rio Casca, escadaria para descer até a casa das máquinas, escola e casas de funcionários, … mesmo sua mata ciliar foi preservada. Após 1929, todos os subsequentes governadores se utilizaram do local, para o seu descanso.

Mário Corrêa exerceu a cátedra com todos méritos até o fim, entregando o Estado ao successor, também eleito pelo voto di-

las Boas, que imputou vários crimes de responsabilidade, organizou-se em Mato Grosso, em junho de 1937, um tribunal especial para seu julgamento. Este o fatídico reconhecimento ao Homem que trouxe a luz para a sua amada cidade natal, faleceu jovem aos 51 anos, no dia 7 de setembro de 1937 no Rio, frustrando tal julgamento.

A pioneira usina hidroelétrica de Mato Grosso a Casca I foi tombada no ano de 2009, pelo patrimônio histórico estadual, e aguarda um estudo que definirá o seu uso e ocupação, que deverá resguardar o caráter de turístico cultural e tecnológico, preservando a história.

Aqui faço a lembrança deste sápio provérbio latino … “Lupus est homo homini lupus” É uma expressão latina que vem a significar : “o homem é o lobo do próprio homem”, criada por Plauto (254-184 a.C.) em sua festejada obra Asinaria, mais tarde sendo popularizada por Thomas Hobbes, filósofo inglês do século XVII, na sua consagrada obra “Do Cidadão”.

lumeMatoGrosso

reto Aníbal Benício de Toledo, em 22 janeiro de 1930. A conturbação gerada com a Revolução de 1930, levando ao poder Getúlio Vargas, sepulta a República Velha, revoga a constituição de 1891 e passa a governar por decretos, repercutiu no Estado pois nomeou interventores para todos os Governos, exceto o aliado Minas Gerais.

Melhor esclarecendo, a gestão de Anibal Benício foi abruptamente encerrada em 30 de novembro com revolução, sendo que posteriormente até a nomeação de Fenelon Müller em 8 de março de 1935, houve no total meia dezena de Interventores, dias bem alvoroçados ! Neste período retorna para as lides políticas Mário Corrêa, sendo eleito pela Assembléia, legitimado indiretamente para governar Mato Grosso, parecia haver apaziguado a disputa. Sendo eleito pela coalisão entre o Partido Liberal e Partido Evolucionista, logo houve uma cisão nesse ajuste, enquanto uma ala seguiu para Aliança Mato-Grossense capitaneada por Filinto Müller e senador José Vilas Boas, Mário Correa cria o Republicano Mato-Grossense. Isto representou uma ruptura profunda e igualmente a forte oposição que teria pela frente.

Havendo um atentado contra os senadores de oposição João Vilasboas e Vespasiano Martins, em dezembro de 1936, imputaram sua autoria a elementos ligados ao governador Mário Corrêa, agravando a situação política em Mato Grosso que degenerou em conflito. Governar o Estado ante todas estas circunstâncias e oposição ferrenha tornava-se inviável, cujo previsível desfecho seria agora o afastamento de Mário Corrêa, pois o governo federal, buscava a consolidação de poder, que se completaria com a implantação do Estado Novo. Desta forma decretou em 8 de março 1937 a intervenção federal no Estado, depondo assim, o governador Mário Corrêa da Costa e nomeou Manuel Ari da Silva Pires para o seu cargo.

Mário Corrêa da Costa, abatido recolheu-se no Rio de Janeiro, até o fim de seus dias. Frente as denúncias do senador Vi-

17

lumeMatoGrosso

LÍNGUA PORTUGUESA

MIRANDA DO DOURO

Mirandês,

A Segunda Língua Oficial em Portugal

F 18

oi há 20 anos que o Mirandês ganhou o estatuto de segunda língua oficial do país.

Tão antigo como o português, aquele que começou por ser considerado um dialeto, é falado por cerca de 15 mil pessoas. O mirandês, ou língua mirandesa, é o nome de uma língua falada no Nordeste de Portugal, já desde antes da fundação da nacionalidade portuguesa. Quanto

DA REDAÇÃO, COM VXMAG

à estrutura é uma língua românica, que teve a sua principal origem a partir do latim.

Historicamente pertence à família de línguas asturo-leonesas, onde também se incluem o asturiano e o leonês.

Até 1884 foi uma língua apenas oral. Desde então, tem sido também escrita, dispondo de uma Convenção Ortográfica desde 1999. Nomeadamente a partir do século XVI e apesar

de ser uma língua falada em Portugal desde o começo da sua existência, o mirandês é uma língua menorizada quer em termos culturais e sociológicos quer em termos políticos, levando a que Portugal fosse apresentado, até há muito pouco tempo, como o único país monolingue da Europa, afinal falsa exceção à regra do bilinguismo ou multilinguismo dos diversos países.

COMO SE DIZ PORTUGAL EM MIRANDÊS? O termo para identificar Portugal, na língua mirandesa, é Portuel. A título de curiosidade, Europa é Ouropa, país é paíç, hoje é hoije e império é ampério. Se tem curiosidade em perceber as semelhanças entre o português e o mirandês, tente compreender este pequeno excerto sobre Portugal retirado da página oficial da Wikipédia em língua mirandesa: “Pertual, oufecialmente República Pertuesa (República Portuguesa an pertués),[1][2] ye un paíç localizado ne l sudoeste de la Ouropa, an que l sou território queda na zona oucidental de la Península Eibérica i an arquipélagos ne l Atlántico Norte. Ten ua ária

to em aldeias como Caçarelhos, porém, apesar de muitíssimo debilitado, continua aí a ser falado por pessoas de idade. A área ocupada pela região onde se fala o mirandês tem à volta de 500 km² de superfície e situa-se na fronteira com a província espanhola de Zamora (Aliste e Sayago). O mirandês é também falado por muitos mirandeses que imigraram para as principais cidades do país ou que emigraram para o estrangeiro.

Na cidade de Miranda do Douro, onde segundo alguns autores deixou de se falar mirandês no início do século XVII, a língua tem vindo a regressar com as pessoas das aldeias que, nos últimos anos, aí têm vindo a fixar residência.

Também desde há alguns anos as crianças da cidade usufruem do ensino da língua mirandesa nas escolas públicas. Apesar disso, a fala mirandesa não é de uso normal na cidade, mas sim o português e, dada a quantidade de turistas espanhóis que a visitam para fazer compras ou simplesmente comer, o castelhano.

Daí que, para se ouvir falar mirandês, a cidade de Miranda do Douro não seja o local adequado, razão porque são apressadas e sem fundamento as conclusões que apontam para a extinção do mirandês pelo fato de não se falar na cidade que é capital administrativa da terra de Miranda.

lumeMatoGrosso

total de 92.391 km², i ye la nacion más oucidental de l cuntinente ouropeu. L território pertués ye delimitado la Norte i la Leste por Spanha i la Sul i Oeste pul Ouceano Atlántico, i cumprende la parte cuntinental i las regiones outónomas: ls arquipélagos de l Açores i de la Madeira. Durante ls seclos XV i XVI, Pertual fui ua poténcia mundial eiquenómica, social i cultural, custituindo-se l purmeiro i l más duradouro ampério quelonial de amplitude global.

Ye hoije un paíç zambolbido, eiconomicamente próspero, social i politicamente stable i cun Índice de Zambolbimiento Houmano eilebado. Ancontra-se antre ls 20 paízes de l mundo cun melhor culidade de bida,[6] anque l sou PIB per capita ser l menor antre ls paízes de la Ouropa Oucidental. Ye nembro de las Naciones Ounidas i de la Ounion Ouropeia (na altura de la sue adeson an 1986, CEE), i nembro-fundador de la NATO, de la OCDE, i de la CPLP. Partecipa an dibersas missones de manutençon de paç de las Naciones Ounidas.”

A língua mirandesa é falada em todas as aldeias do concelho de Miranda do Douro, com exceção de duas (Atenor e Teixeira), e em três aldeias do concelho de Vimioso (Vilar Seco, Angueira e Caçarelhos), no distrito de Bragança. O mirandês foi, apressadamente, dado como extin-

19

lumeMatoGrosso

C U LT U R A

20

lumeMatoGrosso

Pescuma

de Morais

Um Mestre da Cultura

O

talento nato para a música levou o jornalista e músico Benedito Donizete de Morais – o Pescuma – conhecido cantor, compositor e apresentador cuiabano a receber o título de Mestre da Cultura em Mato Grosso.

O evento para celebrar esse título foi programado para o dia 9 de dezembro de 2021, no Cine Teatro Cuiabá, onde será apresentado um vídeo documentário e o lançamento de um livro, peças de caráter biográfico.

Este projeto que inclui a produção de um livro biográfico e um video documentário foi realizado através de recursos da lei Aldir Blanc, aprovado pelo Conselho Estadual de Cultura de Mato Grosso, via Secretaria de Cultura do Estado.

21

lumeMatoGrosso

C U LT U R A

Em Mato Grosso existem artistas que dispensam apresentações e que, inevitavelmente, você conhece mesmo. Benedito Donizete de Morais – o Pescuma – é um deles: cantor, compositor, instrumentista, repentista, produtor fonográfico, produtor cultural, apresentador de TV e poeta. Pescuma é, no dizer do poeta Moisés Martins, o “Bandeirante Cuiabanizado” e, em muitos dizeres, um pilar sagrado da música e cultura produzida em Mato Grosso nas últimas décadas.

Quem não ouviu ou cantou músicas de Pescuma pelo menos uma vez? ♪É bem Mato Grosso …. O guaraná ralado, manga madura no quintal ♪… ♪Milho torradinho socado, canela açucarada♪... ♪O sol tá quente prá daná, tá, tá, tá, tá... ♪ São apenas alguns trechos de canções que marcaram sua carreira e a vida de muita gente, fãs, admiradores de seu talento e parceiros musicais.

Pescuma é um ser iluminado e tem o dom de criar versos e rimas em segundos.

Ele é o melhor exemplo de integração so-

22

cial que conheço, resistiu bravamente a todas as surpresas e insólitas pressões que a vida lhe apresentou. Sua habilidade e diplomacia social lhe permitiu escolher sempre o momento adequado para esperar as turbulências passarem, e aí sim, agir.

Pescuma sempre honrou a memória de seus pais, que ainda são a referência maior de sua vida e carreira musical.

Valor quase igual ele dá somente à sua medalhinha de São Benedito, que guarda em seu peito e a beija, em orações de agradecimento pelo alimento e pelo bom andar de sua vida, difícil às vezes, mas sempre superando obstáculos por sua divinal fé no santo negro.

A pandemia do coronavirus iniciada em 2020 com todo o seu vigor, e se estendendo até os índices catastróficos do primeiro semestre de 2021, fez o governo federal voltar os seus olhos à classe artística brasileira. Foi apresentado um projeto cultural com o nome de Pescuma de Morais na qualidade de Mestre da Cultura de Mato Grosso.

lumeMatoGrosso O projeto visou a produção de um vídeo documentário e um livro. A ideia foi a de fazer um trabalho de caráter biográfico, desde os seus mais tenros períodos entre as cidades de São Luíz do Paraitinga e Taubaté, no estado de São Paulo e posterior vinda à Cuiabá.

No entanto, foi em Taubaté que se iniciou na música. Ali ele começou a sentir o calor de sua futura profissão. Ali, quando recebeu aplausos percebeu que a alegria não está nas coisas alheias apenas, mas no íntimo de nossa alma. Ele pôde, naquele momento e espaço, com seu canto e violão, alegrar vidas, almas e corações.

Ali ele viu que o seu sentimento não era tão somente fazer o que você gosta nesta vida, mas gostar daquilo que faz.

Mais tarde, diante de muitos revezes e alegrias em sua vida, ele se permitiu fazer a sua hora, inclusive a de ficar com os pés sobre o tapete, tendo à frente um microfone e plateias, as mais diversas possíveis.

Quando questionado se ele teve um

modelo musical em sua infância e juventude, ele responde: “Sim, tive, minha orientação musical vem originalmente de meu pai, depois de meu irmão João Morais e, finalmente, do Lica, meu professor de violão clássico, sem esquecer que ficava maravilhado com as canções que minha mãe, a dona Luisa, entoava, com sua voz afinadíssima, não importando o lugar que estava, tanto fazia se era à frente de um fogão à lenha ou estendendo roupas no varal”.

Como se vê bons professores e inspirações não lhe faltaram, então, não demorou e, o agora Mestre, já estava fazendo música, muito melhor do que pudéssemos imaginar.

De forma não explicada até hoje, ainda criança, sem frequentar escola de música, apenas com orientação de seu irmão João Morais já tocava cavaquinho maravilhosamente, e, mais tarde, por seu talento musical nato transformou suas experiências de vida em canções inesquecíveis.

23

lumeMatoGrosso

R E P O RTAG E M ESPECIAL

24

lumeMatoGrosso

Os Quitutes Cuiabanos de

Edna Lara

A

chefe de cozinha Edna da Silva Lara lança em 3 de dezembro de 2021 o seu mais recente livro versado sobre cozinha regional. O local é a Sala Anderson Flores, no Cine Teatro Cuiabá. Reproduzimos aqui nesta revista uma entrevista feita com a celebrada culinarista.

Este bate papo foi uma volta ao passado e seu aprendizado junto à mãe dos primeiros temperos e fazeres da culinária. A maioria de nós tem a memória de um alimento que nos leva de volta à infância. Pode ser tão simples como uma ‘cachorrada’ que costumávamos receber como guloseima durante a nossa juventude, algo mais envolvente como uma mousse de maracujá, ou de limão, e até pode ser lembrança de um desastre de cozimento.

Não importa, as memórias envolvendo alimentos são vivas - e às vezes parecem mais evocativas do que outros tipos de memórias. A cuiabana Edna Lara, tem o dom do divino tempero e a mão boa para cozer qualquer tipo de alimento que se disponha a fazer, notadamente os seus quitutes, muitos deles com profunda ligação com a sua infância pensados como memórias de comida.

O projeto Diversidade dos Quitutes Cuiabanos foi realizado através de recursos da lei Aldir Blanc, via Secretaria de Cultura do Estado de Mato Grosso.

25

lumeMatoGrosso

R E P O RTAG E M ESPECIAL EDNA LARA, VOCÊ É NASCIDA ONDE? » Sou cuiabana do ‘pé rachado’, nascida na Rua do Meio, numa casa logo abaixo da Praça da Mandioca. Infância difícil, mas, de ótimas recordações.

QUEM ERAM OS SEUS PAIS E O QUE FAZIAM EM CUIABÁ? » Meu pai se chamava José Vitorino da Silva Lara, era funcionário público federal, fiscal do Ministério do Trabalho. Ele tinha o apelido de Zé Ceguinho e era muito querido na cidade. Minha mãe era Nympha Escolástica Lara, costureira, bordadeira, cozinheira, quituteira e brava demais. Toda minha irmandade sente orgulho em ser filho do Zé Ceguinho e dona Nympha.

ENTÃO SUA INFÂNCIA FOI RECHEADA DE HISTÓRIAS? » Fui danada. Mamãe dava graças a Deus quando nós ficávamos arrumadas para ir assistir reza.

Para ela, era um alívio.

“Mamãe, nós já vamos para igreja”. – “Vai, minha filha, que Deus acompanha”. Nós nos dividíamos, e cada uma sentava num ponto da igreja de São Benedito. Aí começava a reza, e aquela ladainha: “Ora-pro-nóbis, Ora-pro-nóbis…”. E aí eu falava assim: “Amanhã é meu aniversário…”, “Ora-pro-nóbis…”, “Vai ter doce de mamão…”, “Ora-pro-

26

-nóbis…”, “Vai ter doce de goiaba…”. Aí o padre falou: “Tem alguma coisa estranha aqui na igreja. Moisés, enquanto tocam o Sr. vai lá para trás, que o negócio está lá nos últimos bancos”. E era onde eu estava, lá atrás. Ai quando eu gritei, ele foi pé por pé, me pegou pela orelha e me levou para fora da igreja: “A Sra. pára de estar fazendo anarquia na hora da reza.

Eu vou contar para a sua mãe”. Aí foi o sufoco, porque mamãe batia. Quando os vizinhos sabiam que nós fazíamos alguma coisa, iam em casa e contava prá mamãe. Ela pegava o chicotinho e ‘toma’.

E o pior é que apanhavam os cinco filhos. Entrava na fila, igual do INSS. Ah, tem tanta história....

SEUS PRÓPRIOS VIZINHOS ENTREGAVAM VOCÊS PARA DONA NYMPHA. VOCÊ SE LEMBRA DE ALGUNS DELES? » Pois é, porque ali na rua do meio tinha o ‘João Priquito’, que era um comerciante que tinha uma loja atacadista. Eu acho que ele brigava muito, ele tinha muitas discussões.

E, na época, ‘o Priquito que zanga’, né. E como ele era muito zangado escreveram, colocaram nele de ‘João Priquito’, e pegou o apelido. Aliás, o cuiabano gosta de apelidar todo mundo, até hoje é assim. Tinha também o ‘Neco d’água’. O ‘Antô-

nio Cu D’água’ que era alfaiate. Um dia meu pai, o ‘Zé Ceguinho’, brigou com ‘João Priquito’. Aí entrou o ‘Neco D’água’ e foi aquela briga. Aí veio ‘Delfino Bocó’, que morava no final do Bairro Baú’, lá onde era o ‘Panfrigo’. Ali era a casa da sogra de Delfino. Sabe porque que ficou o nome de Delfino Bocó?

Por causa da sogra e do sogro, eles eram políticos.

Aqueles políticos... sabe.

De subir no caminhão e gritar. Eu lembro que eu participei disso aí com eles e com mamãe. Nós éramos PSD. Ainda numa esquina perto de casa morava ‘João Cavalo’, com casado com a professora Demilte de Sampanhe. E, ainda tem mais, na mesma região morava ‘Dito Branco’, casado com ‘Zélita Pote Preto’.

COMO ERAM OS PRIMEIROS QUITUTES QUE VOCÊ CHEGOU A SABOREAR, AQUELES QUE MARCARAM SUA INFÂNCIA? » Não tinha muito esse de quitute. Engraçado, sabe que naquela época era diferente, hoje você não se vê mais esse. Nem ouve falar. Mas as meninas faziam comida em casa, sabe. Chamavam duas ou três coleguinhas e iam cozinhar. Fazer um arroz ou um feijão. E eu tinha, na época, um amigo chamado João Manoel. Ele é casado hoje com alguém da

27

lumeMatoGrosso

lumeMatoGrosso

28

R E P O RTAG E M R E P O RTAG E M ESPECIAL ESPECIAL

família dos Fava. Quando menino, ele ia lá em casa e todo mundo falava: “João Manoel, entra aqui na cozinha. Entra aqui no quintal, vamos fazer alguma coisa”.

QUER DIZER QUE A CULINÁRIA CUIABANA ENTROU CEDO NA FAMÍLIA SILVA LARA? » Mamãe foi uma exímia cozinheira e nunca admitiu ter empregada. Nós éramos as empregadas da casa. Apanhávamos feito escravas, porém, de certa forma foi bom, toda minha irmandade aprendeu e cozinha bem.

ENTÃO, FOI UMA INFÂNCIA DIFÍCIL? » Como mamãe gostava de cozinhar e bater. – ‘Olha a panela’, ela dizia, se você desse bobeira o pau comia. Era a toque de caixa. Ah, pois é, foi difícil sim, mas sempre digo que valeu a pena o aprendizado. A nossa casa sempre foi cheia de gente. Entra e sai de visitas, sabe, é costume cuiabano, sentavam para bater papo e ficavam lá até a hora da boia. Aí, resultado, sobrava para quem? Mamãe foi muito rigorosa conosco. Mamãe batia mesmo.

E COMO ERA O HABITUAL CAFÉ DA MANHÃ? O QUE COMIAM NO DESJEJUM? » Éramos pessoas de hábitos simples. Em regra geral, tomávamos chá de capim cidreira com pão que

o padeiro deixava na soleira da janela, fresquinho e, por vezes, até quentinho.

E O FRANCISQUITO, VOCÊ COMIA ESSA DELÍCIA NO CAFÉ DA MANHÃ? » Agora quando..., que você está pensando, que é nessa fase que nós estamos aqui? Agora quando!!! Para mim o Francisquito se tornou memórias do paladar, algo que você tinha e sabe que não vai embora, um sabor e odor que fica, permanece. Francisquito não era alimento de todo dia não, tinha mais em festas.

O Francisquito tem a divisória dele, entende? Ele é para de manhã, para você tomar um café.

NA SUA INFÂNCIA VOCÊ IA MUITO ÀS FESTAS COM SUA FAMÍLIA? ESPECIALMENTE AS DE SANTOS DE DEVOÇÃO? » Ah, infância, o que vai me remeter… Um ou outro batizado, a missa de São Benedito em época de festejo, lá pelas quatro horas da manhã. Era o cortejo do pessoal para ir para a missa, e ia aquela música… Quando terminava ia todo mundo para a casa dos festeiros comer bolo. Antes disso mamãe punha a gente para fazer coleta para a igreja, de sacola. Em alguma festa que íamos mamãe se mostrava muito severa conosco, não deixava que aceitássemos os qui-

tutes das festas. Quando ofereciam – ‘Aceita um bolo de queijo’. Aí, aquele bolo de queijo rescendia em seu aroma, aquilo mexia com a nossa memória. ‘Não, elas acabaram de comer’ – dizia mamãe.

Mentira, nós estávamos no vinagre naquela hora.

E até louca de vontade de comer um quitutinho.

Numa dessas visitas, Heloisa minha irmã, quando viu o bolo de queijo, ficou louca, assanhou. E ela ficou tão desesperada que ela foi colocar a mão, mamãe pegou a mão dela – ‘Larga esse bolo, menina’. Aí ela olhou e disse: ‘Ah mamãe, mas nem um pouquinho de bolo? Eu estou com vontade’ – Mamãe com olhos bem arregalados disse: ‘Lá em casa você vai comer’. Olha, lá em casa ela comeu foi ‘este’ (palmadas). Quando eu conto essa história todo mundo morre de rir.

Heloisa foi difícil.

E O QUE VOCÊS COMIAM NA FESTA DE SÃO BENEDITO, COMO ERA O CARDÁPIO? » Antigamente era aquele ‘comidão’, carne seca com arroz, feijão empamonado, farofa de banana, está entendendo.

Hoje já são pratos mais sofisticados, né. Os doces eram os de caju, mangaba, de leite, cachorrada, furrundum e outras formas, a exemplo do Francisquito, bolo de arroz,

29

lumeMatoGrosso

R E P O RTAG E M ESPECIAL broinha, bolo de fubá e biscoito de nata. Tempo bom, comida de graça.

E NA ESCOLA? COMO ERA O ALIMENTO, VOCÊ LEVAVA LANCHE OU TINHA NA SUA ESCOLA? » Ah, hoje a criançada tem lanche, o governo dá lanche. Antes não tinha esse costume. Mamãe fazia com que comêssemos antes para não comer fora de casa. A educação era muito severa. Eu estudei em vários lugares e me lembro da Escola Modelo, com a professora Regina.

Nas escolas em que estudei, inclusive nas universidades que fiz, sempre mantive a forma de educação que mamãe me deu.

Até quando quis fazer faculdade de gastronomia.

NUM SALTO DAS ESTRIPULIAS EM SUA INFÂNCIA ATÉ O CURSO DE GASTRONOMIA, O QUE PODE RELATAR SOBRE ISSO? » Aí nós vamos chegar na história do porquê eu entrei na gastronomia de fato e de direito. Então, eu tinha noção do que significava o termo

30

‘gastronomia’, eu tive mamãe que sempre me inspirou a fazer comida, pois ela sempre cozinhou muito bem. Impossível não me lembrar das minhas tias Anita e Dona Menina, cozinheiras mãos-de-fada, também minha inspiração. Aí eu fui morar na cidade do Rio de Janeiro, nessa época eu já havia cursado Direito em Cuiabá e era servidora pública.

FOI NO RIO DE JANEIRO A SUA ‘PROFISSIONALIZAÇÃO’ NA CULINÁRIA? » Isso começou com uma história ‘sem querer’ no ano de 1993. Eu morava na rua Marquês de Abrantes, no bairro do Flamengo, com meu marido Ivo, a quem chamo carinhosamente de ‘Ico’, afinal de contas sou cuiabana e adoro apelidos.

Conheci Ico prá namoro no Rio, na casa de uma prima dele, Terezinha Jacaré, em torno de 1978. Morávamos num prédio em cima do supermercado Pão de Açúcar. Nesse mesmo edifício eu fazia um curso de pintura e acabei fazendo amizades. No dia do meu aniversário resolvi fazer uma comemoração com essas amigas. Eu havia ligado para uma senhora que fazia doces

e salgados para festas e ficou combinado para essa entrega à noite do dia seguinte, hora do café com as minhas amigas. Quando eu estava na aula de pintura me veio a informação que essa senhora dos quitutes não podia me atender por conta de um problema doméstico. Fiquei chateada.

Coincidentemente, onde eu estava fazendo aula de pintura, estava uma senhora ali. E ela me disse assim: “Gostei de você, Edna. Me passa o seu telefone”. Ela me liga: “Oi Edna, tudo bem? ” – “Bem porra nenhuma, estou com raiva. Levei um cano, a mulher falou que ia fazer os meus salgados e veio falar que não pode fazer”. Ela falou: “Que isso, Edna, você está falando com uma banqueteira de Belo Horizonte.

Eu vou lá na sua casa, nós vamos comprar os ingredientes e você mesma que vai preparar os salgados”.

E ela foi lá para casa, nós duas entramos na cozinha e fomos trabalhar.... Aí nisso eu olhei para ela e, com toda a força do meu pensamento lhe diss e :

ENTÃO O SEU ANIVERSÁRIO DE 1993 NO RIO FOI UM SUCESSO? » Ah, claro, fizemos salgados de vários tipos. Só que doces não entraram no cardápio naquela época. Éramos todas bonitas.... Não íamos perder a beleza. Só salgadinho.

VOCÊ PASSOU A FREQUENTAR CURSOS DE CULINÁRIA NO RIO DE JANEIRO, COMO FOI ISSO, APRENDEU OU APERFEIÇOOU OS VELHOS MÉTODOS DE ENFRENTAR UM FORNO E FOGÃO? »O aprendizado é a

soma de conhecimento.

Tudo foi válido. Fui em vários cursos, mas cada um que ia colocava defeito.

Esse não gostei... Ia ver, colocavam um frango lá, e eu falava: “Esse frango está cru”. E como eu não entendia de nada. Para falar que estava cru… Eu tinha simplesmente essa noção de criança, de mocinha, mas não com a precisão de uma profissional. Porque quem estava me ensinando era um profissional, eu questionava com os profissionais.

Aí um dia eu cheguei para a professora famosa: “Maria dos Anjos, este frango está cru”. Ela retrucou e zangada disse: “Como você sabe? ”. – “Ó..... Olha isso, e você ainda tem dúvida?

Pega um pedaço e morde aí, vai sair sangue”. Eu acho que eu fui muito atrevida. Muito atrevida. “Morde aí para ver se sai sangue”, não deu outra. Ela pegou a coxa do frango e rasgou, sangue para todo lado. “Não falei para você que est a v a

cru”. Eu não respeitei a professora. Eu não tinha noção de respeito porque mamãe batia, meu respeito era porrada, eu tinha medo.

lumeMatoGrosso

“Dona Terezinha, escreva uma coisa. Saiba que eu serei uma mulher famosa na culinária. A partir de hoje eu vou aprender a fazer tudo, para não depender de ninguém. E serei uma mulher famosa”. Você veja o que eu disse para ela.

COM ISSO DEUSE POR SATISFEITA? ESTAVA PRONTA OU NÃO PARA SER UMA ‘CHEF’ DE COZINHA? » Depois de rodar por vários cursos no Rio de Janeiro resolvi mudar de ares e disse para mim mesma: “Não, já está na hora de eu procurar outros profissionais”. Foi quando eu soube de Álvaro Rodrigues, de São Paulo. Aí eu comecei a ir para São Paulo. Vou falar para você, fiz o melhor investimento da minha vida.

De tantas coisas vividas nesse curso uma delas eu gosto de lembrar, num dia de experimentos ele falou: “Sal à gosto”, e eu saí eu pro-

31

lumeMatoGrosso

R E P O RTAG E M ESPECIAL curando ‘sal de agosto’ em São Paulo. Aí cheguei para ele e falei: “Álvaro, eu não achei o sal de agosto”.

Mas como eu tenho esse lado irônico, humorista, ele achou que eu estava brincando. E não era brincadeira, era coisa séria mesmo. Eu não tinha noção mesmo. Com ele fiz um excelente investimento.

COM ÁLVARO RODRIGUES SE DÁ O SEU CONHECIMENTO NA ALTA CULINÁRIA E A SEGURANÇA EM ASSUMIR O POSTO DE ‘CHEF’ DE COZINHA? » Sim, fiquei satisfeita e segura com os ensinamentos de Álvaro Rodrigues. Mas depois achei importante fazer experiências e buscar aumentar conhecimento profissional. Foi aí que fiz curso de gastronomia na Universidade Estácio de Sá, no Rio de Janeiro, antes um pouco eu havia terminado a faculdade de Administração de Empresas.

VOCÊ FALOU EM EXPERIÊNCIAS? » Isso mesmo, teoria é teoria, mas a prática se adquire pondo a mão na massa, literalmente. Trabalhei em seis restaurantes do Bernardino, famoso no Rio de Janeiro. Delírio Tropical, atuando só com diet e light. Depois trabalhei para o Macro, Sabor do Beijo. E só trabalhávamos eu e Ivo. Algo em tor-

32

no de 1.000 sobremesas por semana. Não é brincadeira não, e aí, no ano que terminei o curso de gastronomia vim para Cuiabá.

Foi o retorno à minha querida terra natal.

VOLTAR À CUIABÁ FOI UMA OPÇÃO DE VIDA? » Minha sogra, a mãe do Ivo, já idosa levou uma queda e precisava de cuidados especiais. Não havia quem cuidasse e viemos a Cuiabá de forma definitiva.

ENTÃO EDNA LARA SAI DE CUIABÁ, EM 1993, COMO UMA ADVOGADA E SERVIDORA PÚBLICA E VOLTA DO RIO DE JANEIRO NA CONDIÇÃO DE CREDENCIADA ‘CHEF’ DE COZINHA? » Isso mesmo, a vida dá as suas voltas e seu jeitinho.

Após minha volta, em 2004, fui chamada pelo amigo Ênio de Oliveira, que trabalhava na Secretaria de Estado de Cultura, para ministrar cursos de culinária na Literamérica, uma feira literária que abriu espaços para divulgação e intercâmbio da cultura e culinária mato-grossense com os países da América do Sul. A partir daí as cortinas do sucesso se abriram para mim?

DE CERTA FORMA SUA PROFECIA SE EFETIVOU, VOCÊ FICOU FAMOSA A PARTIR DESSA PARCERIA NA SEC? » Claro, ministrei cursos para ‘chefs’ de cozinha de

vários países. Fizemos uma permuta, uma troca de conhecimentos. Fui enaltecida profissionalmente, fiquei conhecida e passei a ser convidada para participar de programas de televisão, em Cuiabá, de outros estados e de outros continentes, a exemplo de TV da Austrália e outra da Coreia que fizeram reportagens especiais sobre meu trabalho.

VOCÊ ATUOU NA CASA CUIABANA ENSINANDO CULINÁRIA CUIABANA? » A temporada de cursos de culinária que fiz na Casa Cuiabana foi maravilhosa. Foi um marco na minha vida, porque ali eu pude registrar os nossos pratos regionais. Foi através dessa exposição midiática que consegui escrever o livro ‘Diversidade da Gastronomia de Mato Grosso’, em 2009, com reedição em 2014, desta feita com versão em inglês para todas as receitas.

E AGORA, EM FINS DE 2021, EDNA LARA ARTISTA DE TEATRO. É UM PROJETO NOVO? » Foi convite do diretor Flávio Ferreira. Gostou do meu jeitão de contar causos e me pôs a ensaiar uma peça humorística. Estou gostando. Acho ótimo estar começando algo novo nessa fase da minha vida.

33

lumeMatoGrosso

lumeMatoGrosso

MEMÓRIA

Manifesto Comunista Que bicho é esse?

34

POR YAN CARLOS NOGUEIRA

antes de tudo, um documento histórico. Seu nome originalmente era “Manifesto do Partido Comunista”, um programa da recém-formada Liga dos Comunistas que, não podemos deixar de esquecer, só obtivera este novo nome com a participação de Marx e Engels.

A Liga dos Comunistas foi a organização posterior a “Liga dos Justos” que, por sua vez, foi um grupo dissidente da “Liga dos Outlaws”. De caráter internacional, a liga conseguiu influência política em Londres, Bruxelas e Paris. Com marco de sua fundação em 1847, se tornou a primeira organização internacional dos trabalhadores com base no socialismo científico criado por Marx e Engels que, an-

teriormente, viam no movimento um ideal utópico. É importante dizer que Marx e Engels já haviam produzido antes de forma conjunta e de forma individual. Engels publica “A Situação da Classe Trabalhadora na Inglaterra” em 1845 e Marx já havia escrito “Sobre a Questão Judaica” e a “Crítica da Filosofia do Direito de Hegel” (os dois em 1843). Ambos publicaram também “A Sagrada Família” em alemão no ano de 1844. O que faz então o Manifesto do Partido Comunista ter mais fama? Segundo o escritor Tariq Ali, “O Manifesto é o último grande documento do Iluminismo europeu e o primeiro a registrar um sistema de pensamento completamente

lumeMatoGrosso

H

á, dentre muitas outras palavras que rodeiam o Manifesto Comunista, uma que se destaca: polêmica. O texto completou 170 anos de publicação no mês de fevereiro e mesmo depois de mais de um século e meio ainda divide opiniões. É capaz de gerar brigas políticas não só com a oposição, mas dentro do próprio movimento “revolucionário”. Certamente este meu pequeno escrito também não está aquém de causar este efeito, mas o que quero partilhar com os leitores são apenas as minhas impressões de estudos e entregar um convite.

Afinal, que bicho é esse?

O poderoso tratado escrito por Marx e Engels é,

35

lumeMatoGrosso

MEMÓRIA novo: o materialismo histórico”. Bom, se ele é um documento do Iluminismo, é discutível, mas não há sombras de dúvida quanto ao “pensamento novo”. É lá que temos pela primeira vez, em pouquíssimas páginas, logo na primeira seção, a síntese histórica sobre a Luta de Classes: “A história de todas as sociedades até hoje existentes é a história das lutas de classes”.

De forma crítica, realizarão uma interpretação da sociedade de classes acerca da passagem da sociedade escravista para a sociedade burguesa moderna, sendo esta “o produto de um longo processo de desenvolvimento, de uma série de transformações nos modos de produção e circulação”.

Não se trata, contudo, de um texto que vai solucionar todos os problemas da sociedade. Ao contrário do que muitos acham o Manifesto também não está ligado com as Revoluções de 1848. De igual maneira, não se trata de um “manual de instruções sobre a sociedade burguesa”. É preciso lembrar que a dinâmica dos modos de produção Capitalista introduz novos fatores econômicos, culturais e sociais dentro da sociedade em estágios históricos. Não podemos transformar Marx e Engels em iconografias religiosas, bem como tornar suas respectivas obras em escritos sagrados. Marx foi um ferrenho crítico dessas atitudes. A importância do

36

PIERRE JOSEPH PROUDHON MIKHAIIL BAKUNIN

lumeMatoGrosso Manifesto está, a meu ver, na atenção que é possível observar na obra marxiana ao discorrer sobre a sociedade burguesa, na descoberta de um novo tipo de olhar econômico e filosófico e no tipo de intervenção proposta pelos autores.

Entretanto, não quero aqui cair na perspectiva reduzida, acredito que é um texto de extrema complexidade do ponto de vista político e social. Assuntos como a família, a propriedade privada dos meios de produção, o executivo no Estado, os partidos políticos e as correntes do “socialismo” estão lá.

Marx, embora o mais importante, não foi o único de sua época ao lado dos trabalhadores. Nomes como Bakunin e Proudhon tiveram grande influência política.

Este último Marx o acusa de socialista burguês, termo que, salvo as diferenças históricas, chega-nos próximo ao reformismo. Em relação a essa corrente, os autores escrevem: “Os socialistas burgueses querem as con-

dições de vida da sociedade moderna sem as lutas e os perigos que dela decorrem fatalmente. Querem a sociedade atual, mas eliminando os elementos que a revolucionam e dissolvem”, em outras palavras, seria a tentativa de reformar a sociedade, isto é, sem eliminar a base que a estrutura.

Certamente quem leu (ou vai ler) o Manifesto, terá um grande susto ao entrar na seção II. É estabelecido 10 principais medidas para o proletariado obter a “supremacia política” e dentre elas estão “a abolição do direito de herança” e o “confisco da propriedade de todos os emigrados e rebeldes”. É difícil discutir o assunto, mas é preciso lembrar aqui o período histórico em que foi lançado. Por isso, no prefácio à edição alemã de 1872, ambos escrevem: “a aplicação prática dos princípios dependerá, em todos os lugares e em todas as épocas, das condições históricas vigentes e por isso não se deve atribuir importância

demasiada às medidas revolucionárias propostas no final da seção II”. Não devemos cair aqui numa justificativa de revisar toda a obra marxiana. De forma alguma se trata disso.

Não é de minha intenção fazer uma análise exaustiva do Manifesto Comunista, mas de convidar os leitores a conhecer a obra marxiana.

Nos 170 anos do escrito há certos pontos que com certeza não estão válidos, para isso os próprios autores reconhecem. Entretanto, há igualmente outros pontos para considerar. Sendo assim, fica o convite para descobrir um pensamento que está aberto para críticas e a construção continua.

Yan Carlos Nogueira é aluno do curso de graduação em Serviço Social da UFMT. Amante dos livros, sonha em publicar um. Tem interesses nos estudos de Economia Política, Diversidade Sexual e Relações Familiares.

37

lumeMatoGrosso

GASTRONOMIA

38

lumeMatoGrosso

Festival Bar em Bar valoriza Gastronomia do Estado Valorização e retomada do setor foram os grandes focos TEXTO YAEL BOTELHO

E

FOTOS GUSTAVO DUARTE

m sua 15ª edição, o Festival Bar em Bar realizado pela Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel-MT) em parceria com a Cervejaria Louvada, estimou um aumento de aproximadamente 20% na circulação de pessoas e turistas durante o evento que aconteceu entre 04 a 21 de novembro.

39

FOTO DIVULGAÇÃO

lumeMatoGrosso

GASTRONOMIA

40

Entre as cidades de Cuiabá, Várzea Grande, Chapada dos Guimarães, Lucas do Rio Verde, Rondonópolis, Cáceres e Alta Floresta, 50 bares e restaurantes participaram com pratos para todos os gostos e com diversos valores que começaram a partir de R$ 18,00.

A presidente da Abrasel-MT, Lorenna Bezerra, conta que as expectativas foram alcançadas. Com a reabertura do comércio e a retirada de restrições de horários de funcionamento em algumas cidades, houve um aumento da participação de estabelecimentos. “A presença de cada cidade deu um toque especial para o festival por meio de diversidade gastronômica, já que os bares e restaurantes sempre criam uma receita diferente daquelas já ofertadas no cardápio, oferecidas a um preço promocional”, destaca.

A chef do restaurante Verso Gastro Bar, Paula Borges, acredita que esta é uma ótima oportunidade para a retomada do setor. “É bom para todo mundo, consumidores e empresários, para fomentarmos e unirmos forças aos bares e restaurantes que sofreram tanto durante a pandemia”, diz.

Pela segunda vez participando do evento, o Verso Gastro Bar criou para esta edição o petisco Arancini de Baião de Pol-

lumeMatoGrosso

vo, que é uma versão do baião de dois com polvo e bolinho de risoto frito. “O legal é que as pessoas realmente façam o giro de ir provando a gastronomia de cada local.

Isso já acontece bastante em outros estados, espero que se crie essa cultura aqui também”, complementa Paula.

Para a chef do Mahalo, Ariani Malouf, um Festival como este faz com que a união dos estabelecimentos gere um movimento positivo e forte ao setor. “Para mim foi um prazer enorme poder participar. A proposta do De Bar em Bar é muito importante, ainda mais neste momento que voltamos às atividades”, relata.

O aperitivo preparado pelo Mahalo levou um toque crocante. “Criei um bolinho de milho crispy com banana caramelizada e camarão flambado, grelhado com azeite e ervas.

Uma mistura de sabores incrível”, lembra Ariani.

A diretora administrativa do Sinuelo, Cristina Giordani, descreve eventos gastronômicos deste porte como uma excelente oportunidade para conhecer novas cozinhas, profissionais, gostos e sabores e gerar novos relacionamentos. “É um auxílio para conquistarmos mais clientes e divulgar a nossa cultura e gastronomia para Mato Grosso”, afirma.

A tábua de frios colonial

LORENNA BEZERRA

com salame caseiro fatiado, picanha suína defumada fatiada e queijo cobocó, acompanhado com torradinhas de orégano e azeite, foi o especial da vez criado pelo Sinuelo para esta edição do Festival.

Além de atrair novos consumidores, o De Bar em Bar sempre faz questão de receber feedbacks não só sobre as porções criadas, mas também sobre o serviço do estabelecimento, com o objetivo de estimular a criatividade dos chefs, que elaboram novos petiscos, tornando o menu cada vez mais atrativo.

Neste ano, o festival aconteceu em formato híbrido, ou seja, os clientes desfrutaram as porções presencialmente e em via delivery.

“Sabemos que é na mesa do bar que surgem as melhores ideias, os sorrisos mais espontâneos e os momentos mais marcantes. E é assim que o festival foi celebrado, depois de um ano bastante turbulento, brindamos à vida e dissemos: Saúde”, finaliza Lorenna.

SOBRE A ABRASEL » A Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel) é uma organização de cunho associativo empresarial que tem como missão representar e desenvolver o setor de alimentação fora do lar (AFL), facilitando o empreender e melhorando a qualidade de vida no País.

41

lumeMatoGrosso

PA R A Q UA N D O VOCÊ FOR

42

Os Segredos Escondidos de Choquequirao, Nos Andes Peruanos

43

lumeMatoGrosso

lumeMatoGrosso

PA R A Q UA N D O VOCÊ FOR

O 44

poderoso Império Inca criou, ao longo dos tempos, uma arquitetura impressionante.

Machu Picchu foi construído sobre um enclave megalítico muito antigo, sendo um dos exemplos mais famosos de sua habilidade e maestria. No entanto, Machu Picchu não é o único monumento construído pelos Incas, existem outros menos conhecidos, mas igualmente impressionantes. Um deles é o Choquequirao, que ainda guarda segredos escondidos e onde os arqueólogos só conseguiram arranhar a superfície de tudo que permanece escondido no subsolo.

Choquequirao é também conhecida como a “irmã” de Machu Picchu, já que é semelhante a essa estrutura em organização e arquitetura. Choquequirao está localizado no sopé das Montanhas Wilkapampa, na província de La Convención, a noroeste da região de Cuzco. A cidade chegou ao conhecimento dos europeus quando foi descoberto pelo explorador espanhol Juan Arias Diaz, em 1710. Enquanto Machu Picchu foi descoberto em 1911 e escavado no ano seguinte, estima-se que apenas um terço de Choquequirao tenha sido escavado até os dias de hoje. Ele fica escondido e esperando para ser revelado.

Especula-se que Choquequirao foi

construído por uma ou duas gerações antes da chegada dos espanhóis à América do Sul, baseado no fato de que a cidade foi construída como uma terra real por Topa Inca Yupanqui, o décimo governador do Império Inca, que viveu durante a segunda parte do século XV. Como narrado pelos escritos da época, Topa Inca Yupanqui tinha a intenção de construir uma cidade semelhante a Machu Picchu, que havia sido feita por seu pai e antecessor, Pachacuti. Outra versão da história assegura que Choquequirao foi construído ao mesmo tempo que Machu Picchu, sua construção sendo dirigida por Pachacuti, em vez de por seu sucessor.

lumeMatoGrosso

ESCADARIAS MILENARES COM REFERÊNCIAS ÀS LHAMAS E ALPACAS, ANIMAIS QUE CONTRIBUÍRAM PARA O TRANSPORTE DE PEDRAS PARA CONSTRUÇÃO DA CIDADE

45

lumeMatoGrosso

PA R A Q UA N D O VOCÊ FOR

PERTO DOS CÉUS Como Machu Picchu, Choquequirao também é centrado em uma colina alta com uma montanha ainda mais alta atrás e um promontório dianteiro. Além disso, abaixo de cada cidade existe um rio sagrado. No auge do Império Inca, é possível que Choquequirao funcionasse como um centro administrativo provincial e fosse um elo vital entre a selva da Amazônia e Cuzco. Também tem sido especulado que Choquequirao era um centro de peregrinação em determinados momentos para eventos cerimoniais com o

46

apoio do estado regional. Além disso, há evidências de que Choquequirao era um importante centro de cultivo e distribuição de coca.

As escavações de Choquequirao revelaram a grande habilidade dos engenheiros incas: tudo foi construído com grande precisão e atenção aos detalhes. Por exemplo, fontes de água com pedras grandes foram construídas para não se desgastarem rapidamente, enquanto os moradores de Choquequirao demonstraram sua riqueza e poder através das portas duplas de suas casas, sob cujas jane-

lumeMatoGrosso CHOQUEQUIRAO

las surgiram pedras achatadas que dizem ser para manter a comida refrigerada, bem como canais de irrigação para os habitantes da cidade. Descendo os degraus da praça principal, encontramos um dos aspectos mais interessantes do Choquequirao: em um complexo de terraços, os construtores da cidade decoraram cada um deles com pedras brancas dando-lhes a forma de lhamas ou alpacas. Uma interpretação dessas expressões artísticas assegura que elas foram criadas como amostras de afeição por esse animal que foi usado

para transportar alimentos e suprimentos.

Apesar de todo o exposto, apenas 1% dos turistas que visitam Machu Picchu conhecem Choquequirao. Uma das razões para isso é que a estrada para Choquequirao é muito mais difícil de viajar do que a estrada para Machu Picchu. O governo peruano planeja colocar um teleférico para levar os turistas às ruínas antigas em apenas 15 minutos. Isso poderá trazer turistas para o local, mas com propósito de evitar impactos ambientais negativos, além de garantir a preservação do local.

47

lumeMatoGrosso

PA R A Q UA N D O VOCE FOR

48

lumeMatoGrosso

É

São Félix do Araguaia

um dos destinos turísticos mais encantadores de Mato Grosso. A cidade emerge à margem esquerda do Rio Araguaia, defronte à Ilha do Bananal, que divide esse estado com o de Goiás.

A denominação da cidade foi dada pelo bispo D. Sebastião Thomaz Câmara, no dia 20 de novembro de 1942. A invocação a São Félix provinha do sofrimento do povo na conquista de uma terra povoada por nações indígenas, região de tensão social. Tomaram São Félix por padroeiro, acredi-

FOTOS DIVULGAÇÃO

tando que os protegia contra os índios xavantes, que habitavam a região e faziam incursões sobre o então povoado, pois não admitiam a ocupação de seu território.

São Félix, por ser uma região lindamente abençoada pela natureza, já foi parada de muitos notáveis brasileiros, que aqui aportaram com suas caravanas, para descansar das longas viagens pelo rio Araguaia. Juscelino Kubitschek foi um dos amantes do Araguaia e de São Félix.

Getúlio Vargas, em 1942, construiu uma base militar

da FAB na ilha. Mais tarde, Juscelino fez um belíssimo hotel para acomodar ilustres visitantes, o hotel JK, hoje destruído, mas ainda espelhando um tempo alegre e esperançoso.

A lei nº 163, de 25 de outubro de 1948, criou o distrito de São Félix com território vinculado ao município de Barra do Garças. Em 1963, uma lei propôs a criação do município, tendo sido vetada pelo executivo estadual. Em 13 de maio de 1976, através da lei estadual nº 3689, foi criado o município de São Félix do Araguaia.

49

lumeMatoGrosso

ARTES VISUAIS

50

lumeMatoGrosso

Deusas do Cerrado TEXTO JOÃO GABRIEL FERREIRA

C

FOTOS FABLICIO RODRIGUES DE BARROS

onceber uma exposição que ecoe as cores da mata é conceber uma poética que fale desde o Cerrado.

Deusas do Cerrado - Mito da Beleza, assim como as árvores do bioma que carrega em seu nome, nasce de uma semente: a ideia de que a beleza é um mito.

Embora nos seja apresentada de forma tão idealizada através da indústria cultural, a noção de beleza que advém de corpos padrões fabricados pela indústria estética é falsa. Compreender outras formas anatômicas de habitar o mundo é o gatilho poético que culmina na pintura das Deusas que compõem essa exposição.

51

lumeMatoGrosso

ARTES VISUAIS

Toda mulher carrega consigo suas Deusas e a concepção dessas obras é um experimento da artista Anna Lua de compreender as Deusas Ancestrais que já a acompanhavam em sua jornada. Percorrer um caminho que nasce duma poética do inconsciente e transborda em experimentações para compreensão de si, do ser e da essência do ser - o ser em comunhão com a natureza. A conexão com a natureza expressa uma estrutura fundamental no processo artístico de Anna Lua, uma vez que a mudança de Cuiabá para Chapada dos Guimarães significou uma transição de ambiência no seu pensamento artístico: uma transmutação de paisagens ecológicas desencadeando na descoberta da cocriação com a espiritualidade.

Um espírito que não foge da potência criadora do encontro do eu consigo mesma. Do encontro do eu com sua Deusa.

O deslocamento entre ambientes alimenta não apenas uma transmutação espiritual, mas também a descoberta por novos

52

materiais com os quais se cria arte. Anna Lua tem como guia o movimento de Arte Visionária, em que o uso de materiais não convencionais expressa o objetivo de produzir arte a partir de um estado não-ordinário de consciência. Transcender o corpo a partir da materialidade, entre cores e texturas das obras, que nos conduz ao encontro da nossa força. Como nas fotografias de Ju Queiroz, que agregam para compor essa exposição, em que Anna me relata sua capacidade de sentir as cores que vibravam dos espíritos das pessoas. Ver o espectro de cores que ecoa de um ser consistiu numa peça chave para materializar esses matizes em pinturas corporais nos corpos de mulheres que aceitaram não só serem modelos, mas representações simbólicas das Deusas. A semiótica das mulheres do cerrado é também contemplada nas obras de Anna Lua, em que Deusas do Cerrado destroem o mito da beleza e representam as mulheres mato-grossenses.

53

lumeMatoGrosso

lumeMatoGrosso

ARTES VISUAIS

A ARTISTA Anna Lua, nome artístico de Anna Flávia Barros, nasceu e cresceu em Cuiabá - MT. Nascida em 29 de Janeiro de 1998, vinda de uma família cheia de artistas. Estudou por muitos anos no Colégio Coração de Jesus em Cuiabá, onde teve seu primeiro contato com o teatro e a arte da infância à juventude. Incentivada por sua avó materna, aos 11 anos, entrou para aula de pintura a tinta óleo, onde teve seu primeiro despertar para a sua arte.

Durante o ensino médio, estudante do Colégio Estadual Liceu Cuiabano, Anna entrou para o grupo de teatro da escola, onde em 2 anos criava e produzia peças teatrais, apresentadas entre as aulas e eventos escolares. Depois do ensino médio, decidiu fazer o curso de Direito na UNIC. Estagiou na Secretaria de Estado e Cultura no ano de 2017 e fez o seu primeiro curso de Gestão Cultural, onde permaneceu seu acesso à Cultura. Após 2 anos de curso, sentiu que não era aquilo que queria, e sim a Arte.

Em 2017, incentivada por amigos, Anna começou a desenhar com lápis grafite e estudar realismo, com base em estudos e artistas da internet. Conheceu uma técnica com camadas de giz desenhados com a ponta da faca, e se aventurou por um tempo. Cobrada pela família e uma forma de

54

incentivo a si, decidiu que viveria de arte, estudaria pela internet e trabalharia para pintar e ter materiais. E assim foram por 3 anos, não medindo esforços para incentivar o dom da arte que tanto amava.

Em 2018, foi chamada para sua primeira exposição,”Witch Art - Arte é Liberdade!” que ocorreu em Maio de 2018 no Bloco de História na UFMT. Foi a primeira vez que vendia suas Artes, sentiu que as pessoas gostavam e decidiu começar a expor na internet. Criou a página “annaflavia.art” na plataforma do Instagram, onde mostrava seus processos e criações.

A partir dali foi chamando a atenção de outros artistas, frequentando exposições em Cuiabá, procurando aprender a ser uma “artista”. Sem poder ter um recurso e acesso a uma faculdade de artes, estudava na internet, acessava a cursos grátis disponíveis online, tirava dúvidas com outros artistas. Começou a fazer parcerias com lojas e se oferecer em eventos para poder vender suas obras. Em Dezembro de 2018, expôs no Sesc Casa dos Artesões, edição “Feira do Quintal”, onde também pintou ao vivo.

Em 2019, abriu seu ateliê junto a cozinha de sua casa, onde passou a trabalhar dia e noite, na construção de um sonho, o de um dia ter um ateliê de arte profissional. Passou a produzir variadas telas, dividiu seu conhecimento com outros artistas e amigos que procuravam saber sobre arte. Direcionou muitas reuniões de projetos com outros artistas, como a intervenção artística: “Construção”. Neste mesmo ano, descobriu uma de suas grandes paixões, a tinta fluorescente. Criou então: “O mundo de Anjins”, com personagens e histórias contadas por suas telas.

Através dos estudos de plantas, geometria sagrada e história da arte, a sua ligação com a “Arte Visionária”. Aprofundou seu envolvimento com o sagrado feminino através de suas Deusas, guiado pelo que acredita ser seu eu espiritual.

Participou de variados eventos em 2019, entre exposições e live paintings,

No ano de 2021, os planos em conjunto com o Ateliê, foram de que seria um ano “Projeto”. Ao longo de 2 anos, em composição das telas, as Deusas foram as que mais chamaram a atenção do seu público, seu eu e fazer artístico. Anna criou o projeto piloto das Deusas do Cerrado, com o ideal de contar a história dessas deusas junto a mitologia e a sua arte. Inspirado no projeto piloto, criou com a Fotógrafa Juliana Queiroz, a vivência artística “O Encontro com a Deusa”.

Residindo em Chapada dos Guimarães, Anna Lua, expõe e trabalha em seu ateliê, tanto presencialmente quanto online, através do perfil : instagram.com/annalua.art. Atualmente, em suas produções atua com a arte visionária, geometria sagrada, sagrado feminino, trazendo temas relevantes a temas inovadores para a cena cultural regional.

lumeMatoGrosso

sendo: Sapere Aude “Tributo ao Bob Marley, edições de Julho e Dezembro de 2019; Construção: “A Intervenção”, exposição que idealizou com amigos em Agosto de 2019; Street Art - Movimento Rota, edições de Outubro, Novembro e Dezembro de 2019.

Em busca do seu encontro com seu fazer artístico, mudou-se para Chapada dos Guimarães - MT, em Dezembro de 2019.

Anna viu em Chapada uma cidade acolhedora para artistas, se encantou pela proximidade da natureza, diferente do seu habitual. Decidiu que ali, abriria seu sonhado Ateliê. Em adaptação em sua nova cidade, oferecia serviços através da arte. Foi Staff em 2 Campings na cidade, revitalizou a fachada de hostéis e pousadas, expôs suas artes a venda nas feiras, ganhando seu espaço e reconhecimento através de suas luas e deusas.

Com a vinda da Pandemia pelas causas da COVID-19, Anna ficou 6 meses sem trabalhar, vivendo apenas dos auxílios e doações. Até que teve a ideia de oferecer os serviços de Murais Artísticos, entre Pousadas, Estabelecimentos, Hostel e Hosmestay. Descobriu, por um meio de sobrevivência, as consequências da pandemia, sua paixão por murais. Materializando e Criando, artes inovadoras para cada ambiente. Pela expansão da arte, do amor, da criação, das cores e harmonia, fazendo pelo que acredita, arte é a cura do planeta.

Decidida, abriu seu Ateliê em Agosto de 2020, mesmo no meio de uma pandemia, o seu desejo era que as pessoas tivessem acesso à arte, online ou presencial, pudessem ver uma arte sendo produzida, saber que tipo de material se usa pra produzir uma tela, um ambiente de trabalho artístico profissional. Em Setembro de 2020, participou do “Ixpia O Festival”, pintando ao vivo e mostrando um pouco de sua arte. Teve suas obras expostas no “Mostra a tua Arte”, movimento criado digitalmente para expor obras de artistas independentes em prédios de Belém, no Pará.

EXPOSIÇÕES E EVENTOS

» Witch Art - Arte é Liberdade (edição de

Maio de 2018); » Feira de Quintal Sesc Casa dos Artesões (edição de Dezembro de 2018); » Festival Sapere Aude (edições de Julho e Dezembro de 2019); Movimento Rota Street Art (edições de outubro, novembro e dezembro de 2019); » Mostra a Tua Arte (edição de setembro de 2020); » Ixpia O Festival (edição setembro-outubro de 2020); » Idealizou, com outros artistas, a exposição de arte “Construção - A intervenção’’, realizada no Metade Cheio em Agosto de 2019.

SERVIÇO Exposição de Artes Visuais “Deusas do Cerrado” Local: Casa di Rose - Rua do Penhasco, 105, Centro, Chapada dos Guimarães, MT Data: de 15 de dezembro de 2021 a 16 de janeiro de 2022 Horário: de quinta a domingo, das 15h às 19h

55

lumeMatoGrosso

TURISMO

56

Parque Nacional Cerro Corá, no Paraguai, Combina Cultura, História e Natureza Local

lumeMatoGrosso

Atrativos naturais históricos e imperdíveis oferecem o lugar imponente cercado por colinas; e que foi a cena da última batalha da Guerra da Tríplice Aliança, em 1º de março de 1870 POR MARCIANO CANDIA

57

lumeMatoGrosso

TURISMO

58

O

Parque Nacional Cerro Corá não só oferece lugares históricos atraentes, deixados por um punhado de soldados sob o comando do Marechal Francisco Solano López; também apresenta atrações naturais, rodeado pela cordilheira de Amambay.

No local existem monumentos de lembrança e área de recreação às margens do rio Aquidabán. “Entre as principais atrações e mais visitadas estão as trilhas que temos em várias partes, no meio da vegetação, além disso, há o mirante natural chamado Cerro Muralla, muito exigido por suas belezas naturais, e por quem faz estudos da fauna e da flora “, diz Buenaventura Gutiérrez, guarda-chefe do Cerro Corá.

Ele acrescenta que muitos dos visitantes pedem para visitar as áreas históricas, já que o parque possui um museu que armazena em sua coleção restos de armamentos e outros itens que foram usados na guerra.

O parque está localizado a 454 km de Assunção e a 45 km ao sul da cidade de Pedro Juan Caballero, em uma grande propriedade, “atualmente temos um total de 5.538 hectares em nosso domínio, a maioria deles com floresta, que tentamos conservar e manter intactos, evitando danos ao ecossistema da fauna e flora”, menciona Buenventura.

Em termos de flora, a variedade reina e há ainda trevos, “talvez já seja o único lugar onde ainda temos as espécies que já desapareceram de quase todo o país”, completou.

As visitas são muito comuns no site, cerca de 12.000 pessoas chegam ao parque a cada ano, 60% delas são estudantes do Paraguai e da América Latina, enquanto os 40% restantes são principalmente biólogos, amantes da natureza e outros.

A entrada no parque é totalmente gratuita, e quem quiser ficar pode fazê-lo em hotéis próximos, já que o parque não possui hospedagem; ou na área de camping, “aqueles que mais se hospedam são estrangeiros, a maioria europeus, que gostam da natureza, mas também estudantes de nosso país vêm acampar”.

O guarda florestal mencionou que se os visitantes precisarem de guias, eles podem acompanhá-los, “somos um total de 5 companheiros que costumamos oferecer nosso serviço aos visitantes”, disse.

No ano passado um incêndio infeliz atingiu o local, o fogo consumiu grande parte da floresta, mas felizmente poderia ser controlado e desde então, eles não tiveram eventos similares, “muito já está se recuperando quase o todo, mas há também outros lugares como as montanhas que ainda precisam de mais tempo para se recuperar totalmente, este ano tivemos chuvas nos meses críticos de secas e é por isso que estamos tranquilos”, disse Buenaventura.

59

lumeMatoGrosso

lumeMatoGrosso

60

R E T R ATO E M PRETO E BRANCO

FOTO DIVULGAÇÃO

lumeMatoGrosso

Estevão Torquato da Silva

E

stevão Torquato da Silva nasceu em Cuiabá a 2 de agosto de 1923. Filho de antiga família mato-grossense, era conhecido no meio social e político pelo apelido de Coronel Torquato. Passou por diversas instituições militares e civis, onde imprimiu a marca da austeridade e a disposição de servir.

Faleceu a 24 de agosto de 2006. Foi casado por longas décadas com dona Bertolina Nascimento da Silva.

Ainda jovem frequentou o curso de contabilidade da Escola Técnica de Comércio de Cuiabá e mais tarde tornou-se cirurgiãodentista pela Faculdade Fluminense de Medicina e oficial-dentista pela Escola de Saúde do Exército. Estudou economia na Faculdade de Ciências Econômicas de Mato Grosso e fez estágio na Universidade de San Diego. Dirigiu a Escola Técnica Federal de Mato Grosso e foi diretor financeiro das Centrais Elétricas Mato-grossenses (CEMAT).

Foi eleito vereador em Cuiabá e deputado estadual em 1979/1983, foi também presidente do Mixto Esporte Clube, seu time de futebol do cora-

ção. Afeito à política, no entanto, com reservas, devido à sua forma austera de pensar e de agir, foi eleito vice-prefeito de Cuiabá em 1985, assumiu o cargo titular em 19861987 quando Dante de Oliveira (PMDB), o prefeito de Cuiabá, ocupou o Ministério da Reforma Agrária no governo José Sarney (antes de 1986 os prefeitos de capitais brasileiras e de cidades consideradas estratégicas eram indicados pelo governo federal).

Se o número de cargos públicos pode dar a dimensão do homem público que os ocupou, Estevão Torquato representa um marco na política mato-grossense. Ele não só ocupou diversos e importantes cargos — prefeito, diretor de escola, presidente de clube de futebol, dentista, entre outros —, mas o fez com a naturalidade de quem recebe um presente desejado, mas já esperado. Assim se deu com o homem que tinha como meta executar com fervor cada trabalho a que se propunha fazer.

“Sempre leal aos seus princípios e amigos”, nas palavras de Aecim Tocan-

tins, Torquato também já foi: presidente do Lions Clube (unidade Centro) e fundador do Lions Clube Cuiabá Norte; diretor-tesoureiro do Clube Náutico; professor de Ciências Contábeis da UFMT; membro do Conselho Diretor do Abrigo Bom Jesus; 2º vice-diretor da Santa Casa de Misericórdia; membro do Conselho da Fundação Dom Aquino Corrêa; e, cargo que ainda ocupa, tesoureiro da Pia União de Santo Antônio, entidade filantrópica de ajuda a famílias pobres.

Durante o seu mandato de vice-prefeito, o Coronel Torquato assumiu por 13 meses a prefeitura, a notícia de que teria que assumir a prefeitura de uma hora para outra pegou Torquato de surpresa. No entanto, deu conta do recado e da responsabilidade que lhe foi confiada.

Muito religioso, já com a idade avançada, acordava cedo todos os dias para ir à Igreja da Boa Morte, onde rezava o terço e espera a missa das 6h. Nessa empreitada ia dirigindo o próprio carro, ocasião em que afirmara: “É o único horário que dirijo, pois, o trânsito é mais tranquilo”.

61

lumeMatoGrosso

A MLEI TR EI CR A N T UI DRAAD E

A Busca Pelo Intercâmbio Cultural Entre Os Povos Da América Do Sul:

Mario Benedetti

62

DA REDAÇÃO

lumeMatoGrosso

M

ario Benedetti nasceu em Paso de los Toros (Tacuarembó, Uruguai) em 14 de setembro de 1920, filho de Brenno Benedetti e Matilde Farrugia, que, seguindo seus costumes italianos, batizou-o com cinco nomes conhecidos como Mario Orlando Hardy Hamlet Brenno Benedetti Farrugia.

A família viveu em Paso de los Toros durante os dois primeiros anos da vida do autor, antes de se mudar para Tacuarembó e Montevidéu. Lá, em 1928, Benedetti iniciou seus estudos primários na Escola Alemã, que seria seguida pelo Liceu Miranda, onde realizou estudos secundários incompletos devido às dificuldades econômicas da família, e a Escola Raumsolica de Logosofia.

A partir dos quatorze anos, trabalhou na Will L. Smith, SA. de peças de reposição para automóveis, nas quais ele fazia praticamente tudo: era vendedor, caixa, estenógrafo, contador; até 1939, acompa-

nhando como secretário o líder da Escola Raumsólica (que também incluía sua família e a família de Luz López Alegre, que mais tarde se tornaria sua esposa), mudou-se para Buenos Aires, onde também fez um pouco de tudo, mas especialmente - segundo mais tarde, lendo Baldomero Fernández Moreno - descobrindo sua vocação de poeta. Retornou a Montevidéu em 1941, onde logo obteve uma posição oficial no Escritório Geral de Contabilidade da Nação e onde (de 1945 a 1974, com o fechamento da publicação), integrou-se à redação do semanário Marcha , importante fórum de reflexão. e análise chave na cultura do Rio da Prata, na qual se formaram até três gerações de intelectuais uruguaios (com nomes principais como Juan Carlos Onnetti, Eduardo Galeano, Emir Rodríguez Monegal, Ángel Rama, Alfredo Zitarrosa, Daniel Viglietti ou Idea Vilariño) Benedetti literário seria diretor em 1954.

63

lumeMatoGrosso

AMERICANIDADE

Nesse mesmo ano de 1945, publicou seu primeiro livro de poemas, La eve indeleble , que não será publicado novamente, e um ano depois, em 23 de março de 1946, casou-se com Luz López Alegre, seu grande amor e parceira de vida, que conhecia desde que era criança. Um ano depois, o casal viaja parte da Europa com os pais da Luz, em uma viagem que será o prelúdio para o que eles farão em 1957, por muito mais tempo.

De volta a Montevidéu, em 1948, dirigiu a revista literária Marginalia e apareceu seu primeiro ensaio, Peripecia y novela (1948), que foi seguido por seu primeiro livro de histórias, Esta manhã (1949), com o qual

64

ganhou o Prêmio do Ministério. de instrução pública, um prêmio para o qual Mario Benedetti concordou repetidamente, até que em 1958 renunciou devido a discrepâncias com seus regulamentos. Pelas mesmas datas ele participa ativamente do movimento contra o Tratado Militar com os Estados Unidos, sua primeira ação como militante, e publica os poemas de Only Meanwhile (1950), editados por Number, uma das revistas literárias mais proeminentes da época, da qual Benedetti era membro do conselho editorial, e que também será responsável pelas edições de Marcel Proust e outros ensaios e The Last Voyage e outras histórias, posteriormente in-

tegradas em outros títulos.

Em 1953 aparece Quem de nós, seu primeiro romance, que, apesar de bem recebido pelos críticos, passará quase despercebido entre o público e terá que esperar pela atração do volume da história Montevideanos (1959) - em que as principais características do romance a narrativa de Benedetti e especialmente a de seu próximo romance, La trugua (1960), para ser lida com atenção.

Foi esse último trabalho, The Truce, que foi a consagração definitiva do escritor e o início de sua projeção internacional (o romance tinha mais de cem edições, foi traduzido em dezenove idiomas e levado para o cinema, teatro, rá-

FOTO DIVULGAÇÃO

de estado em 27 de junho de 1973, renunciou ao cargo na universidade e, devido a suas posições políticas, deixou o Uruguai, iniciando um longo exílio de quase 12 anos, que o levou a residir na Argentina, Peru, Cuba e Espanha, e que também deu origem a esse processo batizado por ele como um “descrente”: uma experiência com traços profundos na sua vida literária.

Depois daqueles longos anos em que ele viveu e escreveu fora de seu país, a sua esposa, que teve que ficar no Uruguai, cuidando de suas mães, Benedetti retornou ao seu país em março de 1983, tornando-se um membro do Conselho de Administração em a nova revista, a Brecha.

A partir de então produziu uma série de livros: Memórias esquecidas, Vento do exílio, Spring with a broken corner, A solidão de Babel, Perguntas aleatórias, O mundo que respiro, Insônia e insônia, O futuro do meu passado, Ainda existem, Adeus e bem-vindo, Testemunha de si mesmo, Geografias, The Blot of Coffee, Andamios, além de outros trabalhos consagrados.

O autor dividiu seu tempo entre suas residências no Uruguai e na Espanha até que, após a morte de sua esposa, em 2006, ele se muda definitivamente para sua casa uruguaia, em Montevidéo. Por ocasião de sua transferência, Benedetti doou parte de sua biblio-

lumeMatoGrosso

dio e televisão), que corre paralelo à crescente relevância de Benedetti como poeta desde o retumbante sucesso de seu Poemas de la oficina (1956).

O ano de 1960 é uma data significativa também para a carreira pessoal e política do autor. Ele viveu cinco meses nos Estados Unidos (que, segundo ele, foi “sufocado” por múltiplas razões: materialismo, racismo, desigualdade), fato que lhe deu inspiração para escrever o seu primeiro texto explicitamente comprometido, The country of straw tail (1960).

Desde então, ele vai aumentar sua participação política e viver uma época de intensa atividade intelectual (ele trabalha como crítico e co-editor da página literária do jornal La mañana , colabora como comediante na revista Peloduro, escreve em La Tribuna Popular, viaja ao México para participar do II Congresso Latino-Americano de Escritores, é membro do Conselho Diretivo da Casa de las Américas em Havana, fundou e dirigiu o Centro de Pesquisa Literária, até 1971. Escreve Gracias por el fuego, em 1965, Cartas de emergência, em 1973, A casa e o tijolo, em 1977, e Cotidianas, em 1979. Lidera o Movimento dos Independentes de 26 de março que depois integrará a Frente Ampla (alternativa aos dois partidos clássicos: o Branco e o Colorado). Após o golpe

teca pessoal em Madri para o Centro de Estudos Ibero-Americanos da Universidade de Alicante, que leva seu nome. Veio a falecer em 17 de maio de 2009.

O governo uruguaio decretou luto nacional e ordenou que sua vigília fosse realizada com honras nacionais no Salão dos Passos Perdidos do Palácio Legislativo. Ao pé do caixão, dezenas de flores e canetas se acumularam, que as pessoas depositaram como uma última homenagem ao escritor.

65

lumeMatoGrosso

Ú LT I M A P Á G I N A

Canção do Paiaguá DE DOM AQUINO CORRÊA

Nasci á beira Da água ligeira, Sou Paiaguá!

De sul a norte, Tribo mais forte Que nós não há.

Nas mansas águas, Vive sem mágoas O Paiaguá; O seu recreio, O seu enleio No rio está.

Nele me afundo, Nado no fundo, Surdo acolá; E nem há peixe, Que atrás me deixe, Sou Paiaguá!

Se faz soalheira, Durmo-lhe á beira,

66

Ao pé do ingá; Mas se refresca.

Lá vai á pesca O Paiaguá!

E. quando guio, Á flor do rio, A minha ubá, Nem flexa voa, Como a canoa Do Paiaguá.

Um dia, os brancos: Dentre os barrancos, Surgem de lá; Mas, em momentos, Viram quinhentos Arcos de cá.

Na luta ingente, Que eternamente Retumbará, Fez quatrocentas

Mortes cruentas O Paiaguá.

Não! o emboaba, Em nossa taba, Não reinará!

Nós coalharemos A água de remos, Sou Paiaguá!

Nas finas proas Destas canoas, Triunfará, Por todo o rio, O poderio Do Paiaguá!

Nasci á beira Da água ligeira, Sou Paiaguá!

De sul a norte, Tribo mais forte Que nós não há.

lumeMatoGrosso

conheça a chapada dos guimarães nossas belezas naturais, nossa arte e nossa cultura.

centro cultural

casadirose.com.br (65)99941-6937 foto: rai reis

67