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Tópico 9 - Personalidades populares Tópico 10 - O Museu do Homem do Curimataú como lócus de identida-
Tópico 9
Personalidades populares
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Demócrito Humberto da Fonsêca Júnior1
São muitas as personalidades populares da nossa cidade, aqui a título de constarem nos livros dedicados à história de Cuité, fizemos um texto que inicialmente conta com sujeitos que por muito tempo alegraram, xingaram, causaram medo e preocupação entre a população; espero ampliar as menções em trabalhos e oportunidades futuras. Eram pessoas inteligentes que por muitas vezes foram consideradas loucas pela forma própria de transmitir histórias criativas do seu mundo imaginário, humoristas natos, que através da sua oralidade sempre tinham uma resposta de repente para todos os questionamentos; comentaristas que não deixavam passar os fatos e os comportamentos das pessoas de todos os níveis da sociedade; xingadores que ao serem insultados soltavam um rosário de palavrões, etc. Assim faziam parte do cotidiano de cada época, hoje apenas da memória da cidade. Destaco agora algumas personalidades que marcaram a história de Cuité, informo que são personagens que permanecem na memória de muitos cuiteenses e que a maioria viveram entre as décadas 1950 e 1980, histórias lembradas pelo autor e outras a partir de conversas com amigos e parentes. Não foi possível incluir os nomes de registro alguns dos populares a seguir, mas se propagam até hoje os seus inesquecíveis apelidos: Mané João, para cada pergunta, tinha uma resposta na ponta da língua, um repente, tudo era levado ao pé da letra. Ele era um jogador profissional do baralho. Trabalhou por um tempo no cassino de Messias. Um dia Messias resolveu mudar o piso do cassino, depois do trabalho feito, o pedreiro pediu que fosse feito um cartaz para ser colocado na entrada informando que o cimento do piso estava mole. Então o pedido foi feito, um aviso escrito num pedaço de papelão “proibido
1 - Ver mais sobre o autor no rodapé do Tópico 3, na pág. 49 deste livro.
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entrar, cimento mole”. Mané João do jeito que vinha entrou pisando no cimento mole do cassino, Messias quando chegou e viu as marcas no piso deixadas por Mané João, gritou “Mané João! Você tá doido? Não sabe lê? Olha aí o aviso: proibido entrar”. Mané João respondeu: “O negócio é que eu vou saindo”. Isso é só uma de muitas histórias de Mané João. Mocó, assim era chamado Antônio Cosme, que foi comerciante, vendedor de bebidas no cabaré e também possuía sinucas num prédio da travessa Getúlio Vargas (hoje Calçadão Prefeito Orlando Venâncio dos Santos). Costumava chamar as pessoas de “Charapa” e de “Charapinha”. Criticava fatos de pessoas das mais simples até as mais abastadas, ninguém escapava de sua língua ferina que sempre estava afiada. Depois de uma eleição, o candidato do grupo político Venâncio foi derrotado nas urnas. Um cidadão entrou no salão de sinuca e disse “Mocó! Os Venâncio pode enrolar a bandeira que não ganha mais uma eleição”. Mocó respondeu: “Ganha Charapa! Os Venâncio é como lagartixa, cai o rabo e depois nasce de novo. Pode anotar o que eu tô dizendo Charapa, vai voltar, vão votar e vai ganhar”. Tereza do Fuá, Tereza do Jatobá ou Tereza Preta, assim ela era conhecida. Outros apelidos ela não gostava, como: Burra Preta, Picolé de fumo, Picolé de asfalto, que jovens a insultavam e ela respondia com palavrões atingindo as famílias dos rapazes. Às vezes, para fazer vergonha a eles, ela dizia “hoje você me chama de burra preta, mais naquele dia no caminho para o Jatobá, eu era: meu bem, meu amor”. Tereza era uma negra que gostava de vestir roupas com estampas bem coloridas, lenço na cabeça, rosto bem pintado com batom bem vermelho, usava colares e pulseiras de bijuterias, unhas pintadas de esmalte vermelho, sapatos e bolsa tira colo. Partidária e frequentadora das casas da família Venâncio, sempre defendia os seus membros. Sua glória foi ser campeã ao desfilar como destaque na ala das baianas do Bloco Carnavalesco “Pega na Rua”, na avenida Francisco Theodoro da Fonsêca (antiga Avenida Sesquicentenário), no Carnaval de 1985, quando o bloco conquistou o Bicampeonato do Carnaval Cuiteense. Liga, era o seu apelido. Emídio era seu nome. Esse trezeano saía pelas ruas em porta em porta com a sua caixa e o tamborete engraxando os sapatos da freguesia. Não gostava da palavra engraxate, dizia que a
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sua profissão era “lustrador de sapatos”. Passava as três festas do ano trabalhando (Carnaval, São João e Padroeira), depois era sua vez de comemorar sozinho, bebendo durante vários dias em bodegas e bares da cidade. Tinha um timbre de voz alta (que doía no ouvido) e cantava pequenos trechos de músicas românticas. Quando chegava no ambiente para beber, dizia “bota aí uma pra eu ficar rico”. Quando não tinha dinheiro para beber e encontrava estudantes bebendo, ele pedia uma dose de cachaça, os estudantes diziam que só davam uma dose se ele declamasse a poesia Versos Íntimos de Augusto dos Anjos. Na mesma hora, ele declamava, bebia a dose e já saía para beber n’outro lugar. Pirigo, outra personagem, fazia muito barulho na rua, gritando muito e correndo atrás das crianças e jovens, com a mão no bolso como se fosse puxar uma arma, ao ouvir que iam matar Condena (sua filha) ou que iam se casar com ela. Pirigo era uma mulher de estatura baixa, geralmente estava vestida com roupas masculinas. Também ficava furiosa quando a apelidavam de “barguilha de flandre”, dizia ela: “venha cachorro da mulesta, venha infeliz, que você vai ver o que é bom”. Além do seu apelido, outros da sua família eram apelidados, como seu marido “Pelado” e seus os filhos Condena, Catita e Rola Bosta. Era frequentadora do casarão dos Venâncio (Rua XV de novembro).
Somam-se também a essas importantes personalidades do passado: Alzira Antônio Lá Antonio Quincó Azulejo Baleia Beira Sêca Belizão Bento Sussu Bico de Pau Biliviu Boca Aberta Boca Murcha Cabo Otílio Cara Brilhosa
ColChão de Mola
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Couro de rato
Do Carmo Tobias Dorinha Elvira Pé de Quenga Galera Geraldo Bozin Hortelina Itabaiana João Bocão João Folote João Frizado Pinhara Lacraia Lau
ZuZu
120 Cara Fôfa Cara Preta Catombo Chupa Miolo Cícero do Coveiro Cíntia Colchão de Mola Couro de Rato Cristãozinho Cururu Deputado Zé Borges
Zé Cristino
Luzia Gogóia Mala Véia Mané Aleijado Mané Bigode de Açúcar Mané Cego Mané Galdino Mané Inácio Manusco Maravilha Maria Branca Maria Cajueiro
Maria Carro Maria Jaraguá Maria Pachola Maria Virada Martinho Doido Meiota Ministro Mauro Moita Nêga Livramento O Môco do Jatobá Pai Véi Papa Sereno Papada de Serraria Papai Noel
Severino Palmeira (Pintor) Tigunda Tirinete Tremendão Valdemar Aleijado Vovô do Lixo Xingão Zé do Galo Zé Enedino Zé Gato Zé Moreira Zé Pequeno Zé Pequeno Zé Polino Zefa kelemente
Zé soares
Parada Pedro Bufa Pedro Cosca Péia Onça Porca Russa Pôu Prefeito de São Bento Raja Riqueta Rodete Romeira Seu Bozin Seu Buriti Seu Jonas
de M ayra C lara Z ação vetori e C hado aro B erto M a a M de i lustrações
tereZa do Fuá
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Hoje ainda temos uma personalidade popular de destaque e que todo mundo gosta: Gabirão, também chamado de Mané Gabira. No carnaval saía e sai vestido de mulher com a cara cheia de maisena e batendo com um pau numa lata de óleo pelas ruas durante os quatro dias de festa. Durante o ano, principalmente na segunda-feira, ficava dançando na porta da loja Mosath Discos ao som do carimbó do Pará, de Pinduca, todo vestido a caráter. A turma do Banco do Brasil sempre dava roupas, camisas, sapatos, cintos e capanga (bolsa para dinheiro e documentos) que era sucesso na época, ele saía pelas ruas todo social e com um pente pantera no bolso que exibia dizendo que era da moda. Hoje, anda pelas ruas pedindo dinheiro a quem encontra e perguntando sobre a política de Cuité.
REFERÊNCIAS
LIMEIRA, Cláudio. Remanso. JOÃO PESSOA: IDEIA, 2016.
SOUSA, Aécio Cândido. Poemas hemorrágicos. MOSSORÓ, 1985.
ENTREVISTAS
JOSÉ ZITO DE LIMA, entrevista concedida ao autor em junho de 2016.
ELIEL FERREIRA SOARES, entrevista concedida ao autor em junho de 2016.
ROSILENE BALDOÍNO, concedida ao autor em junho de 2016.
MARIA DAS MERCÊS BALDOÍNO, concedida ao autor em junho de 2016.