3 minute read

Apresentação

Dois anos seguidos, 2019 e 2020, registraram os maiores índices de desmatamento na Amazônia brasileira, tendência que se mantém em 2021. Este período começou com a posse como Presidente da República, em janeiro de 2019, de um capitão reformado do Exército, que escolheu para ministro do Meio Ambiente um advogado, que se demitiu em junho de 2021, após fracassar no controle da perda da floresta. Este fato foi reconhecido até pelo Presidente, que delegou a uma junta comandada por seu vice, um general reformado do Exército, a tentativa de controlar o corte e a queima da vegetação original amazônida, também sem sucesso.

Perder biodiversidade afeta diretamente a população que vive junto às áreas preservadas, mas também os serviços ecossistêmicos e ambientais que a Amazônia brasileira presta ao país e ao mundo, como indicam vários capítulos reunidos neste livro. Por isso esse tema é tão importante e merece uma reflexão crítica em busca de alternativas a essa situação.

Advertisement

Cabe notar que a Amazônia é frequentemente debatida em diversos eventos e publicações do Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo (IEA-USP).1 Em setembro de 2020, o Grupo de Pesquisa em Meio Ambiente e Sociedade, do IEA-USP, organizou o seminário com o mesmo título do livro com o objetivo de fomentar a discussão de formas de combater o desmatamento, mas também de demonstrar experiências em curso que permitem conciliar atividade econômica com a conservação

1 Ver, por exemplo, os seminários “Amazônia: povos e projetos”, realizados em 2019, disponível em <http://www.iea.usp.br/midiateca/video/videos-2019/amazonia-povos-e-projetos>, e o encontro “Desafios para uma Amazônia Sustentável na Contemporaneidade”, que ocorreu em 2016, disponível em <http://www.iea.usp.br/midiateca/video/videos-2016/desafios-para-uma-amazonia-sustentavel-na-contemporaneidade-hidrovia-ferrovia-e-rodovia-logistica-intermodal-desenvolvimento-e-conservacao>. Entre as publicações, levantamento de março de 2021 na revista Estudos Avançados indicava 61 trabalhos publicados sobre Amazônia (disponível em: <http://www.iea.usp.br/revista/assuntos/amazonia>).

da biodiversidade e das comunidades que vivem na Amazônia.2 Dessa vez, procurou-se combinar pesquisadores amazônicos com pesquisadores que têm sua origem e instituição de pesquisa em outras partes do país. Parte dos capítulos a seguir resulta de contribuições de participantes do evento, às quais foram somadas outras reflexões.

No primeiro capítulo, Josué da Costa Silva discorre sobre o que a Amazônia tem de mais singular: uma teia densa de relações sociais que resulta em um universo de crenças e modos de vida peculiares que mostram como viver sem afetar drasticamente os sistemas naturais que ocorrem na floresta. Por sua vez, no segundo capítulo, Roberto Araújo e Ima C. G. Vieira alertam sobre os riscos de uma inserção da Amazônia que reproduza teorias coloniais, ainda que revestidas de um discurso atualizado baseado em premissas ambientais. No terceiro capítulo, Ivani Ferreira de Faria e Diego Ken Osoegawa mostram que a violação de direitos de povos amazônicos predomina no processo de devastação, mas também indicam caminhos já trilhados por comunidades ao analisarem experiências bem-sucedidas que conseguiram valorizar o conhecimento local e a conservação ambiental em novos circuitos produtivos na Amazônia. Maria Madalena de Aguiar Cavalcante e Gean Magalhães da Costa mostram, no quarto capítulo, os efeitos em Rondônia da dinâmica predatória em curso. No quinto capítulo, Neli Aparecida de Mello-Théry mostra como o desmonte institucional promovido pelo atual governo federal contribuiu para a devastação recorde da Amazônia; tema que também é abordado, no capítulo sexto, por Pedro Roberto Jacobi e Luiza Muccillo de Barcellos, que, além disso, apontam alternativas a esse cenário. Por seu turno, no sétimo capítulo, Wagner Costa Ribeiro associa o desmatamento ao acesso ilegal de terras, trata das consequências e recupera parte da literatura acadêmica dedicada a novas premissas para a Amazônia. Por fim, no capítulo oitavo, Lubia Vinhas, Claudio A. de Almeida, Fabiano Morelli e Luiz Eduardo P. Maurano mostram que, apesar da conjuntura adversa que desqualifica a ciência produzida no Brasil, o país conseguiu montar uma estrutura técnica e operacional capaz de monitorar o desmatamento na Amazônia.

Existem várias alternativas à devastação amazônica em curso. O conjunto de textos aqui reunidos é uma amostra do que pode ser feito para alterar radicalmente a forma pela qual essa parcela fundamental do território brasileiro é tratada. Esperamos que esta contribuição ganhe eco junto à sociedade brasileira e aos tomadores de decisão.

Wagner Costa Ribeiro Pedro Roberto Jacobi

2  Os encontros estão disponíveis em: <http://www.iea.usp.br/midiateca/video/videos-2020/ amazonia-alternativas-a-devastacao> e <http://www.iea.usp.br/midiateca/video/videos 2020/copy_of_amazonia-alternativas-a-devastacao%20-%20segundo%20dia>.

This article is from: