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Conto de Marcelino Freire “Totonha”

ANA TERRA - Márcia Barrozo

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Não. Não serei a voz de Ana. A carne de minha escrita não recompõe os tempos e alma de Ana. E se alguém me lê, recolha os fragmentos dos meus olhos a buscar caminho pros olhos de Ana.

Reiniciou escola já avó. A neta a trazia até a porta da sala antes de tomar rumo pra sua.

Ignorava que o nome estivesse lá nos ‘Tempos e Ventos’ do Veríssimo. Busquei explicar em meio à primeira chamada, mas, olhos sempre baixos, enrubesceu. E mais ainda quando alguém lembrou novela, Tarcísio Meira, Capitão Rodrigo e paixão.

Houve algum tempo até não mais se curvar cobrindo o caderno e acenar pra que eu chegasse a sua mesa. Falava sempre baixinho. Os olhos sempre evitando.

Pele esticada, ombros comprimidos. Passos curtos, os movimentos todos contidos sugeriam quão pouco prazer hidratou sua vida. Mas, a mão trêmula teimava a letra, o pensar, a palavra.

E, afinal, chegou o dia de pousar os olhos de névoa nos meus. E depois os dias de se encontrar vagalumes lá no fundo.

E houve o dia de contar pra turma o roçado, os bisavós e avós no quilombo. E houve o dia de rir com os causos do Marcílio. E tamborilar dedos com o rap do Rafael.

A cada dia a borracha menos nervosa. Hora mais hora rompendo, sem perceber, a miserável armadura em que a meteram. E existiram sim os tantos dias em que os olhos de Ana disseram aos meus o melhor boa noite.

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