A mulata e o malandro no samba carioca do início do século XX: um exame das relações de gênero no te

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A MULATA E O MALANDRO NO SAMBA CARIOCA DO INÍCIO DO SÉCULO XX: um exame das relações de gênero no teatro musicado Rodrigo Cantos Savelli Gomes1 Resumo: O presente artigo tem como objetivo verificar as transformações das relações de gênero no samba carioca do início do século XX a partir das produções do Teatro Musicado. Desde final do século XIX até meados do século XX o Teatro Musicado apresentou uma estrutura muito próxima ao que configurou a indústria fonográfica anos depois, por ele escoou grande parte da produção da música popular brasileira do início do século XX. Parto do princípio que para o samba se estabelecer como símbolo da identidade nacional diversos aspectos da cultura do samba foram reinventados, inclusive no campo das relações de gênero. Esta reinvenção nas relações de gênero se efetuou através da celebração do mito da mestiçagem e da democracia racial, onde a invenção da mulata emergiu como elemento essencial para o fortalecimento do diálogo entre o samba e a incipiente indústria do entretenimento que se formava em torno do teatro musicado. Palavras-chave: música e relações de gênero; história do samba; mulheres no samba.

O presente artigo tem como objetivo verificar as transformações das relações de gênero no samba carioca do início do século XX a partir das produções do Teatro Musicado. Desde final do século XIX até meados do século XX o Teatro Musicado apresentou uma estrutura muito próxima ao que configurou a indústria fonográfica anos depois, ou seja, a valorização da figura do autorcompositor; do cantor-intérprete; do produtor; o desejo/necessidade explícita de agradar ao público; a formação de audiências, seleção e divulgação da produção. Pode-se dizer que o Teatro Musicado foi a escola ou o embrião da indústria fonográfica, esta última vindo a substituí-lo por completo a partir dos anos 1950, conforme apontam diversos autores (LOPES, 2000; VALENÇA, 2000). Com o rádio mal ensaiando seus primeiros passos e o disco numa escala ainda reduzida, o Teatro Musicado, em especial o Teatro de Revista2, atraiu grande parte dos artistas populares. Por ele escoou grande parte da produção da música popular brasileira do início do século XX e dele dependeu em grande grau a divulgação e afirmação dos sucessos da época.

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Acadêmico do Programa de Pós-Graduação em Música (sub-área: Musicologia-Etnomusicologia) da Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC), Florianópolis, Brasil. Bolsista CAPES/CNPq. Professor da Secretaria de Educação da Prefeitura Municipal de Florianópolis. 2 Vários eram os gêneros do teatro musicado brasileiro da época. Entre os de maior expressão estão: a revista, a burleta e a opereta. Tais gêneros não eram independentes e nem completamente distintos entre si, ao contrário, eles estavam intensamente intercomunicados de modo que a fronteira entre eles nunca foi muito clara (FERNANDES, 1995). A revista tinha como principal característica a narração crítica dos acontecimentos do ano comentados humoristicamente.

1 Seminário Internacional Fazendo Gênero 10 (Anais Eletrônicos),Florianópolis, 2013. ISSN2179-510X


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