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Edson Covic 33 e

Este exemplo mostra que a taxa de inflação pondera o comportamento dos gastos das famílias que estão no range de 1 a 40 salários-mínimos. Embora a variação do rendimento seja grande, espera-se que o comportamento proporcional de gastos não sofra grande dispersão nesse universo. Entretanto, a inflação de cada indivíduo pode sofrer maior ou menor desvio do centro da taxa da inflação oficial na medida em que os gastos sejam maiores nos grupos de maior peso que nos demais grupos. É importante notar que os efeitos da inflação além de alterar o padrão de consumo, também pode modificar a distribuição da renda e do poder de compra na sociedade. Em nosso exemplo, o Sr. “A” poupava R$ 5.000, (33% de seu rendimento) no Período I, mas no Período II ele aumentou a capacidade de poupar para 34% (R$ 5.608) de seu rendimento. Por outro lado, o Sr. “B” que não tinha sobras para poupança no Período I, passou a dever 0,4% de seu rendimento no período II para manter o padrão de consumo. Mensalmente, o IBGE apura em 10 regiões metropolitanas, aproximadamente 430 mil preços em 377 locais e procede a comparação dessa variação. A ponderação de gastos é atualizada sempre que se observa uma variação nos hábitos de consumo, seja pela inovação de produtos e serviços ou por outros motivos. Essa atualização depende da POF – Pesquisa do Orçamento Familiar que indica o que as famílias consomem e o peso de cada gasto em relação a renda. Além da ponderação dos hábitos de consumo em relação a renda, ainda se procede outra ponderação relativa ao peso dos gastos em cada região. A média ponderada dessas variações resultam num único valor que é a inflação do país. Por isso, a inflação real de cada indivíduo pode ser maior ou menor que o resultado da ponderação das variações adotadas pelo IBGE. Nesse sentido, é interessante que na medida do possível, cada família adote um orçamento familiar de gastos e busque adequar suas despesas nos limites das variações de sua renda evitando com isso o descontrole financeiro, o endividamento e no pior dos casos, o inadimplemento acarretando desconforto financeiro para a família.

Memórias frescas no vento que passa

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Num dia de verão, deslumbrámo-nos com a fantástica Serra de Montejunto, entre imensos vales e campos repletos de vinhas e pastos. Na aragem dos dias, procuramos a história e a memória.

Cidália de Aguiar Bióloga, professora, repórter 60+

Ventos da serra

O meu avô paterno era moleiro numa azenha que aproveitava a água límpida do rio. Na minha memória de criança ofuscada pelo tempo, eu observava, entre encantada e curiosa, as mós a rodar, triturando vagarosamente os grãos de cereais. A farinha ia caindo, à medida que o seu som cadenciado e quase musical se fazia sentir. Também possuíam um moinho de vento, na Serra dos Candeeiros, às portas de Rio Maior, distrito de Santarém, onde, à sua sombra protetora, eu e os meus pais fizemos um dia um piquenique. Resistia contra tudo e contra todos, devido à sua robusta construção. Perdi-lhes o rasto e não usufruí desses patrimónios, mas as memórias persistem, protegidas das vicissitudes da vida. Subsistiu o gosto pelos moinhos, o vento assobiando nas velas, a magia dos ocasos sobre as serras. Não serei a única. Estes antigos construtores da farinha que originará “o pão de cada dia” povoam o imaginário de muitos portugueses.

Moinhos há muitos, de Avis só um

É na Serra do Montejunto que se encontra o Moinho de Avis, entre a maior concentração de moinhos de vento de Portugal. Construído em 1810, produz farinha usada para confecionar pão, a partir de variedades de cereais selecionadas. Foi restaurado em 2008, por um carpinteiro apaixonado por moinhos e por estes locais mágicos, que persistem no tempo. Em visita marcada, ele recebe os visitantes e explica o funcionamento do engenho e o modo ancestral de produção da farinha. Também o avô deste proprietário tinha uma azenha, daí o gosto e a paixão. Como era carpinteiro, os seus conhecimentos permitiram-lhe refazer os interiores. O entusiasmo foi tal que após ter feito o primeiro moinho nunca mais

Fotos: divulgação turística parou e já lá vão quarenta. Mas não se pense que ali só se origina farinha para demonstração. Na realidade são muitos os interessados em adquiri-la, de vários tipos e de qualidade, como ali se produz. E não se limita a produzir a farinha, inicia o processo desde a sementeira, para satisfação dos amantes do pão resultante. Os produtos são biológicos (os grãos não possuem vestígios de pesticidas, garante o proprietário). Mantem-se a rusticidade de todo o processo tradicional. E lembramos que, quando a República foi implantada em Portugal, o moinho de Avis tinha cem anos! Ao chegar a este autêntico museu vivo, tem-se ainda a hipótese de saborear um cozido à portuguesa e o pão feito a partir da farinha de Avis, num pequeno restaurante ali perto. É uma ocasião rara de ver um moinho de vento em funcionamento e assistir extasiado ao nascer do Sol, ou ao seu ocaso, desde o alto daquela serra. De todos os moinhos restaurados em Portugal, outros foram aproveitados para fins habitacionais, turísticos ou de restauração.

Real Fábrica do Gelo – uma frescura que vinha da serra

Mas nem só de moinhos se fez o nosso dia na serra do Montejunto. Vem de longe o desejo de, em dias de canícula, fazer um refresco. O hábito de saborear gelados e matar a sede com bebidas frescas terá vindo de Espanha, introduzido em Portugal pela Corte de Filipe II. Antes da existência do comum frigorífico, os portugueses já usavam o gelo para as bebidas, gelados e tratamentos medicinais. A neve produzida em tempos servia o propósito, transformada em gelo, numa memória encantada do nosso património industrial, que persiste no tempo. Para satisfazer os desejos da realeza, da corte e, mais tarde, por volta do século XVIII. da burguesia e populares, foi durante o reinado de D. João V, em 1741, que se construiu a primeira manufatura de gelo na Serra de Montejunto, a Real Fábrica do Gelo. No ano de 1782 deu-se início a uma nova fase, após as obras de ampliação. Próximo de Lisboa, as condições desta serra eram as mais propícias à congelação da água durante a estação invernosa. A Real Fábrica era constituída por dois grupos de construções. O primeiro, que produzia o gelo, era composto por dois poços de captação de água, um tanque - depósito de receção, uma pequena casa e um conjunto de tanques rasos (cerca de 50). O segundo grupo servia de armazém, compreendendo um edifício onde se tratava o gelo e três silos com cobertura abobadada. Conta-se que quando chegava o mês de setembro, se enchiam os tanques de água. Durante a noite o frio fazia o seu trabalho e a água congelava. Então o guarda da fábrica ia a cavalo até às aldeias e, com uma corneta, acordava os trabalhadores. Antes do nascer do sol, as placas de gelo eram partidas, os fragmentos amontoados e depois carregados para os silos de armazenamento, onde o gelo era conservado até à

magazine 60+ #39 - Outubro/2022 - pág.36

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