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FALTA DE EDUCAÇÃO FINANCEIRA PROVOCA ENDIVIDAMENTO

Boa parte das famílias brasileiras segue endividada, mas a culpa nem sempre é do baixo salário

David Natan e Estêvão Júnior

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Luana vende churros perto do Mackenzie

Oendividamento é um problema expressivo para boa parte da população do Brasil. Em números mais precisos, 78% dos lares brasileiros estão com dívidas ainda não quitadas, segundo a Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic), divulgada em agosto deste ano pela Confederação Nacional do Consumo de Bens, Serviço e Turismo (CNC). Estudos feitos pela CNC apontam que 29% das famílias estão em situação de inadimplência, ou seja, com as dívidas em atraso. Para 9 em cada 10 famílias, o cartão de crédito foi o principal responsável por essa situação, atingindo um percentual de 85,4% de pessoas nessas circunstâncias, sendo que 10,7% desses afirmam que não possuem condições de quitarem suas dívidas. O alto percentual de endividados pode ser explicado por vários fatores, internos e externos, que afetaram o valor dos produtos, como a guerra entre Rússia e Ucrânia, a pandemia de covid-19, o alto dos alimentos, que persiste mesmo com a deflação no Brasil, e o valor do combustível, que só agora começa a cair. De acordo com pesquisa da Confederação Nacional de Indústria (CNI), os maiores responsáveis pelo endividamento são o gás (que responde por 68% dos problemas financeiros das famílias), o arroz e feijão (64%), contas de luz (61%), carne vermelha (61%), frutas, legumes e verduras (59%), e os combustíveis (57%). Ainda segundo a CNI, 45% dos brasileiros estão evitando comer em restaurantes fora de casa, 40% deixaram de comprar determinados tipos de alimentos e 43% afirmaram diminuir os gastos com o transporte público. Para completar, 16% das famílias precisaram vender bens próprios para quitar as dívidas. O alto percentual não é apenas resultado da crise, mas também da falta de educação básica sobre administração financeira, pois as pesquisas apontam que 68% dos brasileiros não conseguem guardar dinheiro. Especialistas também afirmam que muitos endividados atingem esse nível porque gastam compulsivamente. “O brasileiro não foi educado para utilizar o crédito de maneira correta, mas foi induzido a crer que o limite do cartão é uma extensão do salário, ou seja, quando a renda não é suficiente, ele pode complementá-la usando o cartão. O que as pessoas não percebem é que esse dinheiro fácil mina a sua renda por meio da cobrança de juros sobre juros”, diz Patrícia Lages, autora e comentarista de educação financeira. Esse é o caso de Luana Patrícia Silva Severo, 23 anos, que trabalha vendendo churros ao lado do metrô no bairro de Higienópolis. Ela afirma que enfrenta dívidas por causa do cartão de crédito, mas não por ter uma renda abaixo do normal, ou por precisar investir muito dinheiro em alimentação, luz, gás, contas básicas, nem para sustentar o trabalho, comprando ingredientes para fazer os churros ou o carrinho rosa que utiliza. O problema, segundo ela, é gastar com o consumo de produtos supérfluos. A vendedora afirmou que possui 4 cartões, mas nem mesmo sabe o porquê de ter tantos deles e porque ainda não os cancelou. Luana contou que não possui nenhum planejamento em mente para melhorar seu status, nem mesmo um curso de aprendizado sobre educação financeira básica, ou utilizar benefícios do governo. Segundo a vendedora, a única coisa que tinha em mente, como probabilidade de melhorar seu status financeiro, seria participar do concurso da Mega-Sena. Ainda de acordo com Patrícia, isso ocorre porque “as pessoas geralmente buscam atender suas necessidades, logo, se não buscam conhecimento, é porque creem que não necessitam. Muitos acham que não conseguem arcar com suas contas porque o salário é baixo ou porque as coisas estão caras. Porém, por mais que o salário suba ou que as coisas baixem, a falta de educação financeira sempre afetará o orçamento das pessoas, não importando o quanto ganhem”. Lages afirma que para solucionar esse tipo de problema “é preciso que as pessoas estabeleçam um limite para o uso consciente do cartão, de forma que a fatura seja sempre paga integralmente”. Ela conclui: “é preciso definir também quais serão as despesas a serem pagas com o cartão”.

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