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Responsabilidade Ambiental e Sustentabilidade Carmen Lima, Coordenadora do Centro de Informação de Resíduos da Quercus e Fundadora e Coordenadora do SOS Amianto

RESPONSABILIDADE AMBIENTAL E SUSTENTABILIDADE

Quem nunca se maravilhou com a beleza do pôr-do-sol, a imensidão dos glaciares, o infinito do céu, a diversidade do arco-íris, a diversidade do reino animal e vegetal, a aventura dos montes e planícies, a tranquilidade dos rios e dos mares, os encantos da natureza... Na verdade somos uns privilegiados e nunca demos conta disso.

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Carmen Lima, Coordenadora do Centro de Informação de Resíduos da Quercus e Fundadora e Coordenadora do SOS AMIANTO, em entrevista à Revista Liderança no Feminino, fala-nos dos impactos ambientais e do “Esgotamento Ecológico” que estamos a assistir. Há anos que as nações e organizações da sociedade civil têm vindo a apelar para este tema, aproveitando as comemorações de efemérides, potenciando estas oportunidades para que todos percebam o comprometimento que têm em cuidar do Planeta e tornarem-se agentes da mudança, apelando à responsabilidade individual para preservar o nosso Planeta, desenvolvendo ações de sensibilização ambiental, promovendo campanhas de plantação de árvores autóctones e de recuperação de áreas florestais, alertando para a adoção de políticas mais sustentáveis e práticas que estimem o único lar que conhecemos.

Ao longo destes anos o Planeta Terra tem enfrentado vários problemas ambientais que nos têm preocupado, desde as alterações climáticas, à poluição do ar, à destruição da camada do ozono, da seca à poluição dos rios e oceanos, da dependência de energias fósseis à perda de biodiversidade, ao abandono de resíduos sem controlo. E assim, afinal que futuro vamos deixar para as gerações mais jovens?

Nestes últimos anos houve, por um lado, uma evolução positiva em matéria ambiental, com a melhoria da qualidade da água fornecida para consumo humano, a introdução de critérios para controlar as emissões gasosas, ou a criação de condições para a separação dos resíduos urbanos, mas por outro lado, verificou-se a degradação de algumas práticas ambientais, como o uso abusivo de produtos descartáveis em plástico, a opção pelo transporte individual em detrimento do transporte coletivo, a fraca aposta em energias renováveis com uma economia baseada nos combustíveis fósseis, factos que têm levado a que a humanidade tenha Todos nós somos afetados pelas consequências da poluição e das más práticas ambientais, sem exceção. Os cidadãos, empresas, governos, economias e a própria Natureza, sofremos os impactes dos problemas ambientais globais, como as alterações climáticas ou a poluição do mar e o desbaste das florestas.

uma pegada ecológica cada vez mais vincada – já são precisos na atualidade 1,5 Planetas para satisfazer as nossas necessidades atuais (alimentação, vestuário, mobilidade, uso de energia, produção de lixo, água para consumo). Todos nós somos afetados pelas consequências da poluição e das más práticas ambientais, sem exceção. Os cidadãos, empresas, governos, economias e a própria Natureza sofrem os impacto dos problemas ambientais globais, como as alterações climáticas ou a poluição do mar e o desbaste das florestas. É assustador que em todo o mundo, as abelhas estejam a morrer a um ritmo alarmante; das 68 espécies existentes na Europa, 24% estavam em extinção em 2014 e, nos Estados Unidos, desapareceram 44% das colónias existentes, em 2016.

Os números são da Lista Vermelha das Espécies Ameaçadas, da União Internacional para a Conservação da Natureza e dos Recursos Naturais. Segundo Albert Einstein, “quando as abelhas desaparecerem da face da Terra, o Homem só terá mais quatro anos de vida”. Este aviso é levado muito a sério pela Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO). Os alarmes têm soado. Em meados de cada ano a Humanidade vai consumindo todos os recursos naturais disponíveis no Planeta para aquele ano, o que significa que a partir desse momento vivemos acima das nossas possibilidades! Para conseguirmos visualizar a situação, isto significa que naquela data terão sido utilizadas todas as árvores, água, solos férteis e peixes fornecidos pela Terra, suficientes para alimentar e abrigar os seres humanos durante um ano, por outro lado terão sido absorvidos os resíduos rejeitados para o solo (aterros) e emitido mais carbono do que os oceanos e florestas conseguiriam absorver. Este “Esgotamento Ecológico" está em grande parte associado às emissões de carbono e à procura de alimentos, que tem sido o foco de uma grande preocupação. Isto significa que temos vindo a esgotar a biocapacidade do Planeta, ou seja, aquela área terrestre que nos fornece todos os recursos que precisamos para viver, e não estamos a permitir que esta regenere, na

Estima-se que desde a década de 50 já foram produzidos 9 bilhões de toneladas de plástico e apenas 9% destes resíduos acabaram reciclados.

medida em que para isso acontecer seria necessário pelo menos um ano e meio, tempo que não temos tido! É sabido que as mudanças climáticas sempre existiram no nosso Planeta, ao longo dos milhões de anos, o problema é que neste último século o ritmo entre as variações climáticas tem vindo a sofrer uma forte aceleração, com tendência para atingir proporções dramáticas caso não sejam tomadas medidas adequadas. As ondas de calor e as secas extremas têm sido fenómenos climáticos cada vez mais frequentes. As emissões de gases com efeito de estufa tendem a aumentar, onde o CO2 (dióxido de carbono) surge como a principal fonte, proveniente da queima direta de combustíveis fósseis, do petróleo e do gás utilizado para a

Estamos a entrar numa fase “crítica”, já que a herança de alguns passivos ambientais e um historial de poluição e más práticas colocaram-nos num período complicado no que respeita a questões que merecem uma intervenção urgente.

produção de energia. Relativamente à poluição do mar, sobretudo pelo plástico, estudos recentes sobre os impactes do plástico em contexto marinho têm confirmado a morte de milhares de crias de aves marinhas no Pacífico que, por engano, são alimentadas pelos progenitores com estes resíduos de pequenas dimensões que não se degradam no seu aparelho digestivo. Estima-se que desde a década de 50 já foram produzidos 9 bilhões de toneladas de plástico e apenas 9% destes resíduos acabaram reciclados. Por outro lado, o Programa das Nações Unidas para o Ambiente refere que cerca de 8 milhões de toneladas de resíduos de plástico são lançados para os Oceanos a cada ano, demorando entre 200 a 400 anos a desaparecer na natureza. Por outro lado, os microplásticos (pequenas partículas de plástico), um ingrediente comum em muitos cosméticos e produtos de higiene pessoal (por exemplo: esfoliantes para cabelo, corpo e rosto, pastas e cremes dentais) como são demasiado pequenos para serem filtrados pela rede de esgotos acabam nos rios e mares, entrando na cadeia alimentar dos animais. Estamos a entrar numa fase “crítica”, já que a herança de alguns passivos ambientais e um historial de poluição e más práticas colocaram-nos num período complicado no que respeita a questões que merecem uma intervenção urgente. A crise climática, o uso abusivo de recursos, a poluição generalizada (do ar, rios e mares, solo, abandono de lixo), a perda de biodiversidade e a escassez de água têm colocado o nosso Planeta à beira do ponto de rotura, no qual é premente atuar. Agora, com o período atípico que estamos a atravessar devido à pandemia da Covid-19, à qual inicialmente foram atribuídos impactes ambientais positivos com a redução da poluição atmosférica associada à diminuição das deslocações automóveis e aéreas, assim como à menor laboração de uma série de indústrias,

Carmen Lima, Coordenadora do Centro de Informação de Resíduos da Quercus, Fundadora e Coordenadora do SOS AMIANTO

Gostemos ou não, se não preservarmos o Planeta Terra, não teremos, por enquanto, outro lugar onde possamos viver. Respeitar o Planeta é uma responsabilidade de cada um de nós.

veio a verificar-se que ao combate a este vírus estão associados também impactes negativos. Assistimos nos dias de hoje a um retrocesso no que toca a boas práticas ambientais e hábitos de vida sustentáveis, dado que é evidente o aumento do uso de materiais descartáveis, como copos, sacos de plástico, materiais de limpeza e embalagens para take-away, utilizados em maior número pelas pessoas durante esta nova “normalidade”, que em regra engrossam os números da quantidade de lixo a reciclar. A este aumento junta-se o facto de que a utilização de máscaras e luvas descartáveis, muitas vezes não colocadas nos sítios certos, potenciam um efeito catastrófico e uma maior quantidade de lixo enviada para aterro ou incineração. Esta nova normalidade, que “parou” o Mundo, veio criar um retrocesso em algumas políticas ambientais. Será inevitável repensarmos os nossos comportamentos, e até que ponto conseguimos mudar alguns hábitos, assim como contribuir para promover a discussão das políticas ambientais e governamentais adotadas por cada um dos países em matéria.

Gostemos ou não, se não preservarmos o Planeta Terra, não teremos, por enquanto, outro lugar onde possamos viver. Respeitar o Planeta é uma responsabilidade de cada um de nós. Nunca é demais referir que “Não há Planeta B”.

Carmen Lima

Coordenadora do Centro de Informação de Resíduos da Quercus Fundadora e Coordenadora do SOS AMIANTO Autora do livro “Não há Planeta B: dicas e truquespara um Ambiente Sustentável”