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Fase de formação de cumplicidade goal-corrected

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Referencias

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e essa mochila não pode ficar à porta” (comunicação pessoal). É sobre essas “pedras” que devemos trabalhar com a C/J. Tendo o passado da C/J sempre presente, o foco estará em como as mudanças na nova rotina diária e no seu mundo envolvente a/o podem ajudar a recuperar dos traumas experienciados.

As C/J integram o acolhimento residencial, por norma, no momento em que as suas vidas perderam estrutura ou significado, sendo por isso o momento para sentirem alguma ordem nas suas vidas, o que lhes permitirá repor algum sentido nas suas vivências e experiências até então. Estas C/J precisam de uma estrutura que seja resiliente o suficiente para suportar a sua desorganização emocional, enquanto experienciam esta estrutura como estável e credível. Só a partir daqui serão capazes de começar a lidar com os motivos que contribuíram para o seu acolhimento (Kornerup, 2009). Talvez por essa razão, o estabelecimento de rotinas saudáveis relacionadas com o deitar, as refeições e o banho, por exemplo, seja uma das primeiras preocupações dos profissionais quando uma C/J é acolhida/o. Mas sabemos que para algumas o estabelecimento de rotinas pode ser muito difícil.

Quando chegam ao acolhimento, as C/J vêm cheias de medos, receios e um enorme sentimento de culpabilidade: medo criado por mágoas, danos e deceções passadas, mas também medo do que o futuro trará; e culpa pela situação do acolhimento. Com o tempo e o estabelecimento de relações afetivas securizantes, estes receios diminuem, a C/J reduz as barreiras e começa a aceitar a intervenção do outro, deixando-o entrar na sua vida. Mas só o fará quando sentir confiança e segurança, uma vez que, até ao momento do acolhimento, a maioria dos adultos na sua vida falhou e não a protegeu. O receio de tudo se repetir é imenso, bem como a ambivalência de estar longe da família que, apesar de ter sido maltratante, não deixa de ser a sua família. A mudança gera medo e muitas ansiedades.

Assim, a partir do momento em que uma C/J entra numa casa de acolhimento a tarefa primordial é proporcionar-lhe um ambiente o mais natural possível e próximo de um ambiente familiar, tentando não quebrar com rotinas ou rituais anteriores ao acolhimento (desde que saudáveis) e com o contacto com o exterior.

Em Portugal, as casas de acolhimento são muito distintas entre si e em diversos aspetos que vão desde a sua dimensão, o tipo de edificado, a segregação em função do género, a maior ou menor homogeneidade das idades das C/J acolhidos, o tipo de abertura à comunidade e o trabalho realizado com as famílias, ao modelo teórico que sustenta as suas práticas, a forma como a intervenção junto das C/J é ou não intencional ou nível da planificação das atividades quotidianas, entre outros (Rodrigues & Barbosa-Ducharne, 2017). Toda esta variabilidade dificulta não só o estabelecimento de modos de funcionamento mais uniformes, como também a tentativa de proporcionar um ambiente mais familiar e acolhedor. Definir o planeamento de rotinas, regras e rituais de uma casa de acolhimento com oito C/J é diferente de uma com 14 ou com 35.

O período do acolhimento deve ser terapêutico e, nesse sentido, todo o ambiente, planeamento e rotinas da Casa devem ser bem definidos e organizados, orientando adequadamente as intervenções/ações dos cuidadores. Estes, por seu lado, devem interiorizar a responsabilidade de criar um ambiente que estruture nas C/J acolhidos os mecanismos necessários para responderem positivamente aos contextos adversos. O ambiente físico, as rotinas, as atividades, a educação, o envolvimento e participação das C/J, e a qualidade das relações com os adultos são fatores importantes que devem

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