TCC UFRGS 2021.2_ENTREGA 01_PESQUISA_LETÍCIA BETIO

Discente: Letícia Bettio Orientadora: Profª Eliane Constantinou

Caminhos possíveis da paisagem rururbana: lugares de encontro no Bairro Campo Novo, em Porto Alegre

Trabalho de Conclusão de Curso | Faculdade de Arquitetura e Urbanismo UFRGS | 2021.2

Em memória de minha avó, Terezinha Bettio, razão da minha sede de viver, eterna potência da minha busca por transformação, e fonte de todo o afeto que eu anseio em multiplicar.

Ao pedacinho de Porto Alegre que resumiu sua jornada neste mundo - também minhas raízes e meu lar -, bairro Campo Novo. Na busca por narrativas afetivas sobre esta paisagem rururbana, este lugar de encontros.

“Quando for grande, quero ser de outra maneira. Quero ser longe. Eu respondia: ninguém é longe. As pessoas são sempre perto de alguma coisa e perto delas mesmas."

--- Valter Hugo Mãe, A Desumanização

Sumário

introdução motivações e razões de ser contextualização afinal, onde fica o Campo Novo? as narrativas da regulação urbana evolução da mancha urbana problemática as contradições do viver "fora da cidade" paisagem interrompida então, por que mesmo? justificativa e objetivos parâmetros do plano de ações abordagem metodológica lugares de encontro entre ideias Donna Haraway e as urgências do nosso tempo memória: imaginação, intuição, compreensão caracterização inserção na mesoescala espacialização redes de conexões sujeito e sociabilidade rururbanos instrumentalização caminhos possíveis ferramentas do plano estratégico bibliografia histórico escolar um trabalho em construção

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Introdução O título deste trabalho demorou cerca de 43 dias para ser gestado, repensado, deletado, até que finalmente emergiu - muito mais pela iminência do prazo final de matrícula na disciplina, do que pela sensação de estar pronto para dar as caras para o mundo. Cheguei nesta dupla de conceitos, pois achei que chamar este conjunto de ações meramente de "Plano para o Bairro Campo Novo" não seria capaz de traduzir o verdadeiro sentido de existir deste trabalho. lugar (subst. masc.)

Espaço que ocupa ou pode ocupar uma pessoa, uma coisa: um lugar para cada coisa e cada coisa em seu lugar. encontro (subst. masc.)

Ato ou efeito de encontrar, de estar diante de alguém.

A expressão lugar é polissêmica, ou seja, possui uma variedade de significados: localidade, espaço ocupado, ponto de referência, entre outros. Na Geografia, este conceito transcendeu a noção de uma simples porção definida de um espaço, para ganhar sentidos subjetivos, relacionados às afetividades que podemos adquirir pela paisagem. Paisagem essa, definida de forma simples por Raquel Tardin (2018) como

Nasci e cresci neste pedaço de Porto Alegre onde construí uma noção de sociabilidade urbana contraditória. Antes de entrar na estrada principal que corta o bairro, existe até hoje uma placa indicando "Bem Vindo aos Caminhos Rurais de Porto Alegre". Porém, depois de ingressar na faculdade de Arquitetura e Urbanismo, descobri que aquela área há muito não era considerada mais rural. Já fazia parte de uma Macrozona denominada "Cidade Rururbana". Campo Novo já era "cidade", portanto, há bastante tempo. Esse entendimento, no entanto, ainda se confundia com as memórias que eu tinha das aulas de geografia no ensino fundamental, quando a professora estendeu um mapa de Porto Alegre para toda a sala e pediu para que cada aluno indicasse onde estava o bairro em que morava. Eu não achei o meu. Apontei o dedo no mapa e mostrei "moro perto desse daqui". Nesta ocasião, ainda faltavam alguns anos para, também já na faculdade, eu descobrir que o Campo Novo apenas havia sido oficializado como bairro de Porto Alegre em 2011, por isso eu não consegui achá-lo no mapa, naquela aula em 2004.

Hoje, já oficializado como bairro há mais de dez anos, o Campo Novo continua sendo meu lugar, apesar de não mais residir lá. Cenário também de disputas retóricas sobre seu uso e regulação, ainda é lugar de encontro de diversas realidades, paisagens, caminhos e afetos.

[...] a interação entre homem e natureza de acordo com o olhar humano. É a instância físico-espacial vivida e criada pelo homem e por ele percebida e significada. É lugar da vida – dos encontros, das festas, das crenças, das artes, do habitar, do produzir, etc. (1)

Quero falar de lugares de encontro em diversas escalas. Encontros entre vizinhos na calçada, entre as realidades sociais heterogêneas que convivem dentro de um mesmo bairro; encontros entre a natureza remanescente - suas concentrações verdes, os braços de seus arroios -, com o ritmo de urbanização crescente; encontros entre os resquícios de uma cidade (não mais) rural, com a inevitável especulação imobiliária que avança para a zona sul de Porto Alegre.

Eu e minha irmã gêmea, Gabriela, memórias afetivas dos caminhos não mais rurais de Porto Alegre, 1997

(1) Introdução em TARDIN, Raquel (Org.) Análise, Ordenação e Projeto da Paisagem: Uma abordagem sistêmica. Rio de Janeiro: Rio Books. UFRJ. PROURB, 2018.

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Motivazões e razões de ser Questionei-me muito antes de finalmente decidir a região que iria trabalhar e a temática escolhida para meu TCC; pensei por vezes que poderiam parecer motivações egocêntricas, focadas em uma tentativa pessoal de voltar pra casa (coisas que não combinam com a expectativa sobre o papel social da arquitetura e urbanismo). Uma tentativa de retomar um passado e uma realidade que não me pertencem mais, pelo menos não no mesmo contexto e quase que não a mesma cidade. Nessa busca por uma razão "mais nobre" de existir para minha proposta, por uma motivação mais altruísta do que um simples retorno a si mesma, entendi que não tinha como fugir dessa perspectiva individual. Encontrei nas leituras sobre o devir um possível significado que pudesse equilibrar essa ânsia pela transformação social, sem ignorar uma narrativa pessoal - e até íntima -, sobre este espaço em Porto Alegre.

O conceito de devir foi muito discutido ao longo dos anos na filosofia, e guarda muitas interpretações: A mudança como única constância na existência; não podemos entrar em um mesmo rio duas vezes (2); A realidade que nos cerca se movimenta também em mudança (3) Resume a existência das coisas em si, sua materialidade, faz com que tudo se movimente para a perfeição a qual está destinado (4) Sintetiza o aparecimento da verdade na realidade, movimenta a história através de uma força organizadora (5) Mas também pode ser o impulso da vontade, a partir de desejos; não somente "vir a ser algo", mas "vir a ser algo maior" (6) De maneira ampla, é o desejo de fazer-se co-presente; não é uma criação individual, mas um encontro com o outro. Outros indivíduos, outras realidades a nossa volta (7)

Ao longo do anos, o bairro Campo Novo passou por constantes transformações, em uma realidade de movimento. Sua força organizadora mudou com o tempo, a forma como as pessoas o conhecem: de zona rural, a pedaço de fim de mundo, até finalmente conseguir ser reconhecido como bairro pela prefeitura, ao oásis que hoje é vendido pelas incorporadoras. Dentro de todos esses conceitos e esse constante ir e vir - de pessoas, nomes, alcunhas, apelidos -, que forças construíram, e por que não, também destruíram o bairro? Como o Campo Novo se adapta às urgências de novos tempos? E por fim, por que apesar de nítidas as transformações pelas quais ele passou, ainda há um caráter generalizado de que ficou parado no tempo?

Antes de mais nada, cabe explicar que este trabalho não pretende responder todos esses questionamentos existenciais. No entanto, tal reflexão não poderia ser deixada de lado, uma vez que constituiu grande parte do impulso inicial, e do desejo em trabalhar nesta região - para muitos porto alegrenses desconhecida e, ao mesmo tempo, para mim tão cara e familiar.

Na busca por entender as contradições que envolvem a evolução urbana do bairro, espero encontrar ferramentas que instrumentalizem lugares de encontro, manifestações da coletividade, e estratégias que auxiliem na manutenção de uma relação afetiva com o espaço. Acima de tudo, que o Campo Novo permaneça neste movimento constante e inevitável da existência que é o devir, mas de uma forma mais gentil com o meio ambiente, com sua memória, e especialmente, com seus moradores. Esta investigação é, portanto, motivada por um propósito acadêmico de pensar uma parte da cidade muitas vezes esquecida pelo planejamento urbano tradicional, mas também por um desejo muito grande de retorno àquele que guarda minhas mais caras memórias; um retorno aos meus, uma volta para casa.

Interpretações livres e pessoais dos estudos e conceitos de devir trabalhados respectivamente por (2) Heráclito, (3) Platão, (4) Aristóteles, (5) Hegel, (6) Nietzsche e (7) Delleuze

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Contextualização

afinal, onde fica o Campo Novo?

O Campo Novo é um bairro da zona sul de Porto Alegre, criado pela Lei n.º 11.058 de 11 de março de 2011, juntamente com o bairro Chapéu do Sol, e alterado pela Lei 12.112 de 2016. Na ocasião deste projeto de lei, o vereador responsável afirmou ser "o primeiro passo para a afirmação geopolítica da comunidade" e que a região dos dois novos bairros necessitava de "forte processo de regularização fundiária".

Com isso, não demorou muito para que o bairro - anteriormente característico como uma região de produção primária da cidade ganhasse o foco do Departamento Municipal de Habitação (DEMHAB), para implantação de casas populares do programa municipal, bem como do Programa Federal Minha Casa Minha Vida (PMCMV).

Não é novidade que as regiões mais afastadas do centro da cidade são preferência das gestões municipais neoliberais para dispersão da população mais pobre, especialmente após a alteração do Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano (PDDUA) definir que a totalidade do território de Porto Alegre seria denominado como urbano; ou seja, sobrepondo o o perímetro urbanizado sobre o que anteriormente era considerado zona rural, facilitando a construção de habitação de baixa renda nas áreas mais afastadas do acesso à infraestrutura urbana.

De acordo com últimos dados do Observatório dos Bairros, publicado em 2015 na plataforma http://www.observapoa.com.br/, o bairro pertence à Região Centro-Sul do Orçamento Participativo. Com cerca de 8.766 habitantes (2015) e uma área de 5,92 km², a taxa de analfabetismo é de 5,2% e o rendimento médio é de R$ 823,52. Entre a força de trabalho do bairro, 57,93% possuem carteira assinada e 50,36% dos trabalhadores completaram o Ensino Médio.

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VILA NOVA BELÉM VELHO

IPANEMA

CAMPO NOVO RESTINGA MORRO DA TAPERA

ESPÍRITO SANTO

HÍPICA ABERTA DOS MORROS

Devir - uma realidade de constante movimento e as narrativas da regulação urbana

AEIS de PRODUÇÃO HIS identificação de áreas p/ ampliação da produção de HIS. Utilização di instrumentos disponíveis: AEIS, AUOPs, Projetos Especiais

AEIS de REGULARIZAÇÃO HIS redução da segregação socioespacial/cidade socialmente miscigenada

AEIS de REGULARIZAÇÃO HIS qualidade de vida para os assentamentos e qualidade ambiental para o entorno

AEIS de PRODUÇÃO HIS reserva de área com potencial de urbanização e regulação da produção informal - Loteador social

AEIS de REGULARIZAÇÃO HIS reconhecimento da existência de núcleos urbanos e utilização de tecnologias apropriadas para infraestrutura

Avanço da urbanização em Porto Alegre ao longo dos anos

Estratégia de Produção da Cidade - HIS* pelo PDDU

ocupação urbana de 1772 a 1945

PDDUA 97 - Área Intensiva

ocupação urbana de 1945 a 1979

PDDUA 97 - Área de Interesse Ambiental

ocupação urbana de 1979 a 2010

PDDUA 97 - Área Rarefeita

Em Porto Alegre, a urbanização inicialmente concentrou-se nas regiões Centro e Norte do município, devido à posição geográfica privilegiada em relação aos acessos fluvial e terrestre da cidade.

Essa urbanização concentrada no centro fez com que a região sul mantivesse um caráter rural durante muitos anos, ao lado de vastas áreas verdes.

No entanto, o crescente aumento populacional e as alterações no PDDUA, fizeram da zona sul foco de expansão urbana e, por conseguinte, especulação imobiliária. Essa proximidade com a natureza é frequentemente utilizada como estratégia atrativa de venda, visando uma população de alta renda, que está cansada de viver no "caos da cidade" e busca a tranquilidade de um movimento à la arcadismo urbano.

A alta demanda por construções na antiga zona rural, é utilizada de justificativa pra inúmeras flexibilizações na legislação, favorecendo grandes incorporadoras e deixando de lado o interesse dos pequenos produtores rurais da região. A equação inclui falta de incentivo econômico para atividade primária, alteração na tributação sobre as terras (agora urbanas e não mais rurais), somada à pressão da bolha imobiliária e o resultado é quase inevitável: a produção rural em Porto Alegre está com os dias contados, bem como a preservação das matas nativas circundantes.

*HIS = sigla para Habitação de Interesse Social

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evolução da mancha urbana Nas imagens de satélite abaixo temos a evolução da mancha urbana no bairro. De 1985, apesar da baixa qualidade da imagem, é possível notar uma predominância significativa das áreas verdes; o grão de ocupação provavelmente era muito pequeno, quando comparado ao seu entorno natural. A partir de 2011, no entanto, vemos o surgimento das primeiras manchas de terraplanagem, demarcando o perímetro de um futuro condomínio fechado de alto padrão, bem como o surgimento de dois empreendimentos de habitação popular que contrastam com o grão ao redor, por serem os primeiros prédios em altura da região. Em 2013 vemos a infraestrutura do condomínio já consolidada, demarcando uma interrupção na mata nativa.

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1985

2003

2009

2011

2016

2015

2013

2012

2017

2019

2020

2021

Problemática

o lado rural perde espaço

A reportagem do Jornal do Comércio que empresta o subtítulo a esta sessão começa com uma memória romântica do bairro: "Do alto dos pessegueiros de uma chácara, a paisagem bucólica do campo que predominava alguns anos atrás no horizonte é interrompida. [...] Um lugar onde o cinza do concreto começa a dividir espaço com o verde da natureza." É difícil distinguir se essa demarcação do cinza se expandindo sobre o verde advém de uma estratégia de adensamento urbano prevista pelo PDDUA, ou se a urbanização representada ao lado como "as divisões da cidade" foi quem gerou as discussões para alteração na legislação, e consequente 'des'demarcação da zona rural de Porto Alegre. O fato é que a especulação imobiliária está avançando sobre a cidade rururbana, com propostas quase irrecusáveis de compras das chácaras dos produtores rurais, para dar lugar a condomínios fechados. Hoje, na região do Campo Novo, restam cerca de 22 a 30 famílias de agricultores, segundo dados da Emater.

Famílias de Agricultores atendidas pela Emater/RS*

Divisões da Cidade: adensamento urbano

1 a 3 famílias

AOI - área de ocupação intensiva

4 a 7 famílias

AOR - área de ocupação rarefeita

10 a 12 famílias

AR - área rural

22 a 30 famílias 52 famílias

*Emater = sigla para Associação Riograndense de Empreendimentos de Assistência Técnica e Extensão Rural

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as contradições do viver "fora da cidade" "Há quase uma década, moradores do Beco Seis, ou Acesso Taquara, no bairro Campo Novo, zona sul de Porto Alegre, pedem o asfaltamento do acesso que, hoje, tem cerca de 18 casas. Os vizinhos alegam que o nível do beco começou a baixar após uma obra realizada pela prefeitura em 2013."

Uma boca de lobo Ao longo da sua extensão o beco tem apenas uma boca de lobo que, segundo os moradores, está estragada. Duas equipes da prefeitura estiveram no local em períodos diferentes para analisar a situação.

Tarde de conversa com os moradores do campo novo para conscientização sobre o descarte irregular de lixo. Agradeço ao SR. Renato Jaguarão e ao secretário @marcosfelipi.poa e toda equipe da secretaria e do DMLU, pelo empenho em resolver o foco de lixo do beco do paladino. # focodelixo # camponovo # becodopaladino # portoalegre

fim de mundo

oásis na cidade "Localizado em uma área total de 1.334.344 m², entre belas paisagens e áreas de preservação ambiental, característica peculiar deste lugar.

O Condomínio oferece um alto padrão de moradia, infraestrutura e paisagens surpreendentes, garantindo a seus moradores qualidade de vida e bem-estar para seus familiares e convidados."

"As trilhas fazem uma perfeita integração entre as áreas de lazer e as áreas verdes, trazendo um gostinho de interior a quem mora neste lugar"

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"A partir de agora, tire os sapatos, ouça os pássaros e relaxe.

"Um oásis de mata preservada em meio à selva de pedra. [...] você e sua família vão se reconectar à natureza."

"SEJA ABRAÇADO PELA NATUREZA Ao fundo uma área de preservação permanente cortada por um arroio que faz divisa com o [...]. Na frente temos um riacho de água transparente também dentro de uma área de preservação permanente que serve de isolamento da rua."

Paisagem interrompida

agentes urbanos em um cenário de disputa Em 2012, a Secretaria do Planejamento da Prefeitura Municipal de Porto Alegre publicou as Bases do Plano Estratégico da Zona Sul, onde apresentava uma preocupação específica com o desenvolvimento sustentável e planejado desta região. Deste 2008, quando foi instituído o Grupo de Trabalho, o desafio foi construir referências para a formulação de um plano específico para esta parcela do território definida pelo plano diretor como Cidade Rururbana - Macrozona 8.

Em um processo de gestão participativa foram desenvolvidas atividades para identificar os principais conflitos, potencialidades, definir as diretrizes necessárias para consolidar um conjunto de propostas integradas, estabelecendo um rumo para a Zona Sul nas próximas décadas. Para a implementação do Plano, a análise levou em conta a potencialização das características de ocupação rarefeitas do território, considerando os aspectos de conservação do ambiente natural, mitigação dos impactos da ocupação habitacional irregular e indicação de ações estratégicas que promovam o desenvolvimento sustentável.

Em suma, o documento ao elencar seus objetivos, utilizou-se reiteradamente dos conceitos de "desenvolvimento", "enfrentamento de questões", "oportunidades, desempenho e resultados", salientando, no entanto, a importância de promover essas mudanças aliadas à manutenção da características principais da região.

Já em 2014, a Supervisão de Desenvolvimento Urbano - SMURB publicou o resultado de um trabalho iniciado em 2012, com considerações para subsidiar um eventual retorno da “zona rural legal”. Tal demanda originou-se no artigo 141 da Lei Complementar 646/2010 que aponta a necessidade de um grupo de trabalho para estudar e, se for o caso, encaminhar projeto de lei para a restauração da zona rural da Cidade, com sua localização, delimitação, modelo espacial e regime urbanístico respectivo.

O documento retoma o porquê da definição do “tudo é cidade” no PDDUA, reiterando que tal posição partiu de estudos urbanísticos e do reconhecimento da diversidade dos setores sul e extremo sul do município; contrariando a crítica, que aponta a expansão intensiva sobre a área agrícola como motivação para alterar os limites legais entre as zonas urbana e rural na macrodivisão territorial do 1º PDDU. Ao contrário, o novo Plano Diretor estaria enfatizando o estímulo à atividade rural, enquanto complementaridade ao urbano, para melhor possibilidade de gestão de políticas e serviços públicos.

Aponta também o surgimento de diversos dispositivos legais pós 1999 (8), que teria subsidiado a importância da gestão do território municipal como um todo, o que só seria viável dentro da lógica do “tudo é cidade”, adotada como pressuposto de um sistema de gestão integrada do planejamento territorial.

(8) Estatuto da Cidade - LC 10.257/2001; Conferência de Avaliação do PDDUA; Plano Municipal de Habitação de Interesse Social; Programa Minha Casa Minha Vida; Novos Núcleos Intensivos; Bases do Plano Estratégico da Zona Sul; Sistema Municipal de Unidades de Conservação da Natureza de Porto Alegre; Mapeamento dos Corredores Ecológicos; Plano Diretor de Drenagem Urbana; Novo Código Florestal.

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Então, por que mesmo? justificativa e objetivos

Em síntese, este trabalho se propõe a elaborar - de forma experimental - um plano estratégico que possa interagir com as constantes transformações no tempo e no espaço, possibilitando vislumbrar mais de uma alternativa, mais de um cenário possível para o bairro. Sabe-se que o Campo Novo é permeado por uma escala de realidades heterogêneas, como pôde ser observado nas análises anteriores: remanescências rurais, loteamentos de habitação popular, condomínios fechados de alto padrão, áreas de preservação ambiental, tecidos, em suma, fragmentados da paisagem. Tal diversidade inevitavelmente gera conflitos sobre a ocupação do território, além de uma ideia difusa sobre sua identidade. Por isso, parte-se, do reconhecimento desses conflitos e da compreensão que é impossível projetar sobre um ideal de território inerte e estático, uma vez que o devir e o constante movimento são premissas substanciais desta investigação.

Com isso, este trabalho se justifica por explorar uma abordagem metodológica do planejamento urbano a partir dos conflitos, e da ideia de conviver com eles, sem a intenção de resolvê-los (como se fossem problemas). O plano estratégico objetiva nortear cenários possíveis dessa convivência, proporcionar lugares de encontro destas realidades. Ainda, se possível, buscar um sentido de integração, alinhando os interesses dos agentes envolvidos, numa tentativa de minimizar as fragmentações geradas por tais conflitos, e respeitando as peculiaridades e características específicas quanto aos aspectos socioeconômicos, urbanísticos e ambientais de uma paisagem diversificada, como a do bairro Campo Novo.

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(9) CHIAVENATO, Idalberto. Planejamento estratégico. Elsevier Brasil, 2004.

O plano estratégico pretende entender e instrumentalizar formas de lidar com um sistema complexo, de forma que uma alternativa não invalide necessariamente a outra. Os resultados deste trabalho pretendem demonstrar a variedade de um conjunto de ações que tenham um sentido comum, promovendo uma compreensão holísitica da região, alinhando expectativas e viabilizando sua governabilidade.

A gestão estratégica trata em primeiro lugar da formulação de propostas que determinem rumos ou formas de atingirem objetivos.

Idalberto Chiavenato, autor brasileiro referência em Teoria da Administração afirma que: "[...] o planejamento pressupõe a necessidade de um processo decisório que ocorrerá antes, durante e depois de sua elaboração e implementação, e ainda que o processo de planejar envolve, portanto, um “modo de pensar”, e um salutar modo de pensar envolve indagações, e indagações envolvem questionamentos sobre o que será feito, como, quando, quanto, para quem, porque e onde será feito."(9)

Baseado nessa ideia de temporalidade, primeiramente conceituada neste trabalho a partir do termo filosófico de devir, e agora a partir de uma abordagem prática, pretende-se estruturar o Plano Estratégico para o bairro Campo Novo a partir de séries temporais adequadas à sua instrumentalização. Entendendo as narrativas do passado, analisando o presente e planejando o futuro, respeitando e reconhecendo as diferentes escalas do plano de ações

Parâmetros do plano de ações O território, espaço de disputa entre as relações de poder, algo que não pode ser estabelecido por fronteiras rígidas; diz respeito ao espaço cotidiano onde um grupo habita. E por último, mas fechando de forma cíclica, o lugar: espaço daquilo que nos afeta diretamente, que impacta nas sensações; espaço da afetação, espaço dos afetos.

Cada uma dessas escalas irá se complementar na elaboração das diretrizes gerais do plano estratégico, gerando projetos e ações que instrumentalizem mudanças. Em um ritmo cíclico de monitoramento dessas transformações e melhorias dos objetivos.

Região Paisagem Território Lugar

Diretrizes Gerais

OBJETIVOS

Os objetivos específicos incluem a compreensão do espaço partir de quatro conceitos geográficos centrais: região, enquanto a delimitação de um espaço de forma racional; temos as regiões de orçamento participativo, as regiões de planejamento, etc. É a denominação primordial para estudos que buscam entendem certos aspectos de um espaço. Em segundo lugar, a paisagem, a tela onde vislumbramos os fenômenos espaciais; vai para além da percepção de sentido único da visão, pode ser apreendida por todos os sentidos.

levantamento de dados

Programas e Projetos

Ações de Implementação

avaliação e monitoramento

definição dos objetivos instrumentalização das mudanças

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Abordagem metodológica

lugares de encontro entre ideias Frente às contradições analisadas, à complexidade explícita do sistema urbano, e considerando o atual modelo de enfrentamento dos conflitos territoriais, econômicos, socioespaciais e de regulação urbanística, decidi por encarar este desafio a partir de uma lógica científica contra-hegemônica.

Uma das ambições da ciência moderna é a resolução de problemas. O cientista observa fios embolados, cheios de nós, e aplica seus métodos para transformar aquele cenário caótico em algo organizado (10). Estrutura seus objetivos vislumbrando o fim, busca respostas para as questões levantadas; e quando as alcança, o problema está resolvido, podendo partir para o próximo desafio. Em contraponto, vejo a necessidade de perseguir um caminho alternativo para lidar com a paisagem urbana, uma vez que - seguindo os princípios da Ciência da Complexidade - a cidade se apresenta como um sistema complexo e adaptativo, capaz de se auto organizar, definindo padrões no tempo e no espaço (11). Em outras palavras, não há uma solução padronizada para os problemas da cidade, uma vez que estão em constante transformação, em um contínuo devir.

Por isso, escolho estruturar o plano de ações para o Campo Novo a partir de um referencial teórico que não só reconhece a irresolução dos problemas, como também escolhe permanecer com eles durante sua trajetória científica, convivendo com as dificuldades, e fazendo-se co-presente (12); promovendo um encontro com o outro (seja ele quem for). Este referencial é Donna Haraway, uma bióloga, filósofa, escritora e professora universitária estadunidense, autora do livro "Staying with the trouble: Making Kin in the Chthulucene”

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Neste título, Haraway constrói um diálogo sobre as urgências de nosso tempo. O termo estrangeiro - sem tradução - Chthulucene foi criado em contraposição ao conceito de Antropoceno (que para Paul J. Crutzen - 2002 - é a definição da época em que vivemos, quando os efeitos da presença humana no planeta são suficientemente superlativos para constituírem uma época geológica). No entanto, Haraway afirma que o Chthulucene não é uma era geológica, mas sua existência de fato se justifica pelo rompimento radical com as ideias antropocênicas; trata-se de uma forma alternativa de pensar o mundo do que propriamente uma substituição. É uma chamada por outras formas de ser, pensar e se relacionar, a partir do entendimento de que nenhuma espécie sozinha produz nada. Todo produto é um trabalho inter-espécie.

Donna Haraway também interage com a ideia dos string figures (fios de redes, jogos de barbantes, 'cama de gato') constantemente em seu livro. Os fios embolados não representam a necessidade de solução de nós/ problemas; não há necessidade de tentar 'desembaraçar' , pois para ela o compromisso é com o problema em si, interagir com ele, permanecer com o problema. "[...] Aprender a ficar com o problema de viver e morrer juntos em uma Terra danificada vai ser provar mais favorável ao modo de pensar que proporcionaria os meios de construir futuros mais habitáveis." Tradução livre, HARAWAY, Donna J. Staying with the Trouble. Duke University Press, 2016.

(10) CHIODI, Vitor. Fazendo nós: fazer-com no Antropoceno. ClimaCom [online], Campinas, ano.4, n.9, Ago. 2017. Available from: http://climacom. mudancasclimaticas.net.br/?p=7288; (11) CONSTANTINOU, Eliane. Dinâmica intra-urbana: aleatoriedade e emergência de padrões espaço-temporais. 2007; (12) interpretação a partir do conceito de devir para Delleuze.

Donna Haraway

e as urgências do nosso tempo Vejo os fios como a escolha, o caminho possível de quem opta por entrar no planejamento participativo, de permanecer com o problema.

"Cada nó e cada fio embolado se encontra numa posição única, que marca relações criativas que só são inteligíveis quando se opta por permanecer com o problema.

Além de tudo, e mais importante, ao interagir com os fios embolados com nossas próprias mãos, as configurações mudam a cada instante. Nenhuma intervenção é estéril." [...] Não há 'eu' possível nos nós. Os nós são fazer-com (making-with) e são eles que interessam àqueles que decidiram ficar com o problema (staying with the trouble).

Fazer nós é fazer-nos. Fazer nós é fazer parentes (kin)." (CHIODI,2017).

As figuras textuais em Haraway são extremamente potentes: as linhas, os nós; além disso, ela se utiliza constantemente da figura do polvo, um animal tentacular, capaz de aprender com o sistema à sua volta, se adaptar e inclusive regenerar suas partes, quando necessário. O pensar deve ser através de tentáculos - abraçando o problema - e de suas ventosas - absorvendo as informações do contexto

Com tentáculos a autora explicita uma ciência social feita a partir das relações. Lembram os conceitos de redes, tão recorrentes na Ciência da Complexidade; redes que formam encontros, a partir de linhas, criando conexões, relações.

Para o produto final deste trabalho, não há ambição de desfazer os nós embolados, entregando um fio reto e liso. Pelo contrário, pretende-se apresentar uma rede de relações entre os atores presentes no bairro: caminhos possíveis, lugares de encontro entre o urbano e o rural, entre a humanidade e o espaço urbanizado - que ela ocupa.

Dito isso, a estruturação deste trabalho irá considerar fases que envolvam a memória do sistema urbano (coletiva, individual, mapográfica); a escuta aos moradores, numa rede de relações participativas; a definição dos nós e os fios que os conectam, através da espacialização das demandas; a compreensão do sistema, absorção de suas informações e planejamento tentacular; além da relação de contato constante, durante as próximas etapas do trabalho, com aqueles que escolheram permanecer com o problema.

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Metodologia

memória: imaginação, intuição, compreensão

levantamento documental: busca por mapas que revelem a evolução da mancha urbana no bairro e região imediata, sua memória rural, além de alterações nas estratégias do PDDUA em relação a esta área da cidade

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distribuição de um formulário online para moradores do bairro, com espaço para descreverem demandas, apontarem problemas e como imaginam possíveis melhorias na infraestrutura, e contarem suas narrativas sobre o bairro

espacialização dos dados levantados (de caracterização da região, e respostas do formulário).

Elaboração de cartografias intuitivas a partir de narrativas fotográficas do bairro e os relatos do moradores, para subsidiar o detalhamento e a implementação

planejamento e instrumentalização dos conceitos, princípios e diretrizes do plano estratégico, articulando com a compreensão dos moradores sobre o espaço e prevendo cenários futuros. Delimitação de um caminho possível de projeto

retomada do contato com os moradores que responderam o formulário, enviando resultados parciais do trabalho, e os entrevistando sobre seus entendimentos acerca da identidade do espaço, para poder prever e desenhar os possíveis lugares de encontro, enquanto intenção projetual na paisagem rururbana

Caracterização

inserção na mesoescala

O bairro Campo Novo encontra-se na interface entre a Macrozona 5 - Cidade Jardim (de estrutura com baixas densidades e integrada a elementos naturais da paisagem, um núcleo urbano com ares de cidade do interior, como definiu a própria Prefeitura de Porto Alegre ao conceituar as divisões da cidade); e a Macrozona 8 Cidade Rururbana, onde o urbano se mescla com a produção primária local, sítios, áreas de proteção ambiental e pequenas indústrias.

Mz1 - Cidade Radiocêntrica Mz 4 - Cidade de Transição Mz 5 - Cidade Jardim Mz 7 - Restinga Mz 8 - Cidade Rurubana CENTRO

RUBEM BERTA

Em seu entorno imediato se distribuem a Bacia do Arroio Espírito Santo e do Arroio do Salso, sendo a Bacia do Arroio Capivara predominante em seu perímetro. Além disso, faz limite com o Morro da Tapera, importante patrimônio ambiental da região.

SÃO JOSÉ CRISTAL

GLÓRIA

CASCATA

NONOAI CAVALHADA

Tal distribuição definida pelo PDDUA, considerou características socioeconômicas, paisagísticas e ambientais do território, além da possibilidade de distribuição harmônica de atividades, tipologia e porte das edificações. A própria percepção dos usuários sobre o espaço denota esta copresença de macrozonas, pois o bairro é conhecido por ter o ar bucólico, arcadiano*, de "retorno ao campo", com uma ocupação habitacional ora estruturada, ora não.

BELÉM VELHO TRISTEZA

VILA NOVA ARROIO CAPIVARA

LOMBA DO PINHEIRO CAMPO NOVO

ARROIO DO SALSO

IPANEMA

MORRO DA TAPERA HÍPICA

RESTINGA

ABERTA DOS MORROS SERRARIA

PONTA GROSSA

ARROIO ESPÍRITO SANTO CHAPÉU DO SOL

LAMI

*relativo à escola literária do Arcadismo

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Espacialização

sistemas de hierarquia MORFOLOGIA

USOS DO SOLO

CENTRALIDADES

Grande parte do grão está distribuído sobre a área de ocupação intensiva, assim como a maior parte da área de ocupação rarefeita coincide com as áreas de parque natural ou de preservação ambiental. No entanto, nota-se um delineado de vias surgindo a nordeste do bairro, sobre a AOR, que são os condomínios fechados de alto padrão ainda se estabelecendo no espaço.

A região tem caráter predominantemente residencial, aspecto bastante comum à zona sul da cidade. A existência de comércio e alguns serviços se dá junto à Av. Juca Batista, arterial de nível 1 que conecta alguns bairros da zona sul. Para além disso, a orla do Guaíba se configura como uma área de contemplação, onde é comum a implantação de clubes de lazer privados.

No bairro Campo Novo há apenas uma Unidade de Saúde, estando o Hospital Público mais próximo no bairro vizinho. Também não há predominância de praças e instituições de ensino públicas, diferente do que vê-se nas proximidades.

Nota-se ainda uma concentração de áreas de produção rural, e o Morro da Tapera como um ambiente natural com rotas de trilhas.

ocupação intensiva

uso residencial predominante

hospital

arterial 1

ocupação rarefeita

uso misto, predom. comercial

unidade básica de saúde

arterial 2

áreas de preservação

escola

coletora

área contemplação (orla/clubes)

praça/parque área de produção rural clubes área de trilha

22

Ordenamento territorial urbano condicionantes legais e institucionais

GRUPAMENTO DE ATIVIDADES PDDUA

ÁREAS ESPECIAIS DE INTERESSE SOCIAL

REGIME VOLUMÉTRICO

Na AOR (Área de Ocupação Rarefeita) as manchas identificadas como parque natural e proteção ambiental possuem restrições de atividades, sendo permitido apenas aquelas que dizem respeito à habitação; relacionadas ao lazer e ao turismo; educacionais e científicas de forma geral e relacionadas à proteção da fauna, da flora e da paisagem

As AEIS permitem que vilas e loteamentos irregulares sejam regularizados com regras diferenciadas (considerando, sempre que possível, a forma como o núcleo já está organizado). AEIS I e II: áreas já ocupadas de regularização possível no próprio local. AEIS III tratam de terrenos ainda não ocupados, identificados para a implantação de projetos habitacionais de interesse social.

As alturas máximas permitidas por unidades de estruturação dentro do bairro variam entre 9m e 18m nas áreas de ocupação intensiva. As regiões de regime urbanístico próprio coincidem com lotes rurais, e aquelas demarcadas como "conforme legislação específica" são as áreas onde foram implementados loteamentos de casas populares, como mostram alguns mapas na próxima sessão.

atividade mista

AEIS nível I

conforme legislação específica

predominantemente residencial

AEIS nível II

regime urbanístico próprio

AEIS nível III

intensiva - 9m

atividade conforme lei específica área de interesse cultural - parque urbano área de ambiência cultural - mista parque natural proteção do ambiente natural área de desenvolvimento diversificado

intensiva - 12,5m intensiva - 18m intensiva - 27m intensiva rarefeita - 9m

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Aspectos geográficos HIDROLOGIA

COBERTURA VEGETAL

TOPOGRAFIA

A Bacia Hidrográfica do Arroio Capivara, de acordo com o Plano Diretor de Drenagem Urbana, é dividida em duas regiões: uma maior, que é drenada pelo Arroio Capivara (11,34 km²), e outra a oeste da bacia, que corre diretamente para o Guaíba (2,09km²). A região da bacia encontra-se parcialmente urbanizada, mas em crescente adensamento, resultando em grande parte do arroio estar canalizado.

Na região como um todo há predominância de áreas com maciços de vegetação, ou seja, aquelas identificadas exclusivamente com árvores de médio/grande porte e mata nativa. E alguns trechos destes maciços são delimitados pelo Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano e Ambiental como áreas de parque natural ou de proteção ambiental, que é o caso do Morro da Tapera.

A topografia da região é majoritariamente plana. com diferenças de nível menores do que 5 metros dentro do bairro Campo Novo. Destaca-se apenas a formação do Morro da Tapera e, à nordeste, os morros pertencentes ao Bairro Belém Velho.

Arroio Capivara

Maciços de vegetação PDDUA - áreas de Parque Natural PDDUA - áreas de Proteção do Ambiente Natural

24

Resiliência estratégica ÁREA CRÍTICA ABASTECIMENTO DE ÁGUA

ÁREAS DE RISCO

CONTRADIÇÕES DO HABITAR

O bairro Campo Novo é abastecido por mais de uma Estação de Bombeamento de água de Porto Alegre. Nas manchas abaixo estão marcadas as áreas consideradas pela Prefeitura como críticas para abastecimento de água, de acordo com cada Sistema de Bombeamento.

Em vermelho consta a área registrada pela defesa civil como recorrente para risco de alagamentos. Sobrepondo ao desenho do Arroio Capivara, nota-se que esta área coincide com seu leito, hoje canalizado, causa provável para as ocorrências de alagamento.

No mapa abaixo vemos a espacializações das contradições do "viver fora da cidade", de casas "no fim do mundo" ao "oásis na zona sul", termos apresentados anteriormente. Coexistem uma diversidade de tipologias, de lotes, e de realidades socioeconômicas.

SIST. MENINO DEUS II 2° bombeamento

bacia hidrográfica do arroio capivara

vilas do DEMHAB

áreas registro de alagamento na defesa civil

ocupações irregulares

SIST. MENINO DEUS III 1° bombeamento

cobertura vegetal no entorno do arroio

Minha Casa Minha Vida condomínio fechado - alto padrão

SIST. BELÉM NOVO 1° bombeamento

lotes rurais

SIST. BELÉM NOVO 2° bombeamento

antigo lote rural em negociação para venda - condomínio fechado

25

Redes de conexões

resultados do formulário

Para permitir uma melhor noção das demandas reais de infraestrutura foi organizado um formulário virtual, encaminhado para moradores do Campo Novo. Um espaço onde quem vive o cotidiano do bairro poderia indicar melhorias a partir de situações observadas sob a ótica local. Os dados recolhidos neste formulário possibilitam também um diagnóstico dos sujeitos que vivenciam este espaço, mesmo que tratando-se de um recorte mínimo frente a população total.

No todo foram registradas 28 respostas; ainda que seja um número quase insignificante perto dos quase nove mil moradores, o objetivo era aproximar o plano de ações de quem de fato vivencia as demandas deste território. A idade dos entrevistados variou de 25 a 67 anos e 71,4% das respostas foram de pessoas que se identificam como mulheres; quanto às atividades desenvolvidas no lote, 23 possuem apenas a construção da casa, 2 possuem algum comércio, loja, oficina ou escritório de atendimento ao público e 3 exercem atividade rural no terreno.

Todos os 28 responderam que "sim" para a pergunta que questionava se ao longo dos anos o respondente considerava que o crescimento populacional não regulado alterou o caráter rural do bairro.

houve um crescimento desordenado que prejudicou os produtores rurais

26

os pontos de ônibus e lotação são muito distantes da minha casa

moro aqui desde meu nascimento, nem me vejo morando em outro lugar

A respeito de questões gerais de infraestrutura: 53,6% utiliza o transporte público para se locomover, sendo as linhas citadas majoritariamente o 281 - Campo novo e seus derivados; e lotação Campo Novo ou Juca Batista.

42,9% considera os pontos de ônibus e lotação distantes da sua casa 67,9% costuma realizar atividades a pé no bairro, sejam elas necessidades básicas ou de lazer 96,4% julga que a qualidade das calçadas dificulta seu deslocamento ou de algum de seus familiares Dentre as melhorias nas calçadas, as que mais apareceram foram: pavimentação, em primeiro lugar, depois melhoria na acessibilidade, seguido de alargamento da calçada.

Apenas 02 pessoas responderam que utilizam bicicleta para se locomover; apesar disso, 80% indicou que a existência de uma ciclovia poderia aumentar o número de ciclistas e a sensação de segurança.

Ainda sobre a situação viária, 78,6% mencionou a parca iluminação das ruas e a sensação de insegurança para andar à noite.

o bairro está perdendo a característica de rural, os agricultores estão vendendo para empreendimentos imobiliários

seria legal ter uma ONG de esportes pra crianças carentes

nasci aqui e é um bairro bom de morar, mas falta engajamento por parte dos líderes das associações para melhorar e deixar nosso bairro melhor

escola só tem ensino fundamental e o ensino é baixo

13

de tro n de ro ir 25%

EDUCAÇÃO em ro er bair o

42,9%

25%

89,3%

TRECHOS MAL ILUMINADOS

7,1%

l d a

ONDE ELES MORAM?

LAZER

ou laz tr

51,9%

pr e

cas laze a, r fo m r do as ba

esc cr a de olas ê qu ma nã e nd o a a

SAÚDE ut i l i z a sistem some n a de sa priva te úd do e

US aten d ainda e o b pre ási para US de o cisa co, utr se ob a

40,7%

a

o irr

7,4%

em as nd ro te air b do

Síntese das demandas r fica re fe casa em

o irr

cr esco ê que l a deman as ate as da n do dem ba 10,7%

arques mp r e a geral ze form e

US do b a atende integ irro r a dema alme nda nte

TRECHOS DE ALAGAMENTO

3 6 4 2

Est. Cristiano Kraemer R. Jorge Pereira Nunes R. Alvino Bernardes (1) Beco do Paladino (2) R. Antonio Amaro da Silva (3) R. José Inácio Pinheiro (4) prox. à Escola Paulina Moresco (5) prox. ao Super Tchê Barbaridade (6) prox. à sede campestre do Unificado (7)

continuo morando aqui por considerar sem a violência de muitos outros bairros, e ainda ter áreas verdes

1 5

7

É um ótimo bairro pra morar, calmo; realmente tem problema em infraestrutura, se isso melhorasse seria maravilhoso.

acho q deveria ter um programa no bairro de trilha para conhecerem o morro tapera

gosto do ar “rural” que existe, mesmo que seja pouco

tenho um comércio há 30 anos e resido há 32, gosto muito daqui.

quero morar em outro lugar, é muito longe do centro e o deslocamento toma grande parte do tempo

me criei aqui, tenho afeto pelo lugar, meus amigos, minha vida está aqui

27

Sujeito e sociabilidade rururbanos Os pesquisadores da Escola Sociológica de Chicago tiveram, dentre seus estudos, a preocupação em conceituar a sociabilidade no meio urbano: enquanto forma de relacionamento social em contextos de convívio, como nas relações de vizinhança, de caráter comunitário, nas relações entre grupos de interesse comum, e especialmente em grupos onde há diversidade de tipos humanos, presentes nos espaços públicos urbanos (FRÚGOLI JR., 2007). A sociabilidade urbana neutraliza, devido à proximidade física e social, possíveis diferenças entre indivíduos que coexistem em um determinado espaço da cidade, através da sua copresença no espaço. As diferenças não deixam de existir e eventualmente gerar conflitos, mas o convívio cotidiano constrói um consenso.

A partir desta reflexão, pergunto-me: seria possível distinguir tal conceito de uma sociabilidade rururbana? As formas de convívio, relações de vizinhança e apropriações do espaço público demonstram divergências em relação à sociabilidade nos espaços exclusivamente urbanos? Buscando responder tais questionamentos, ou gerar ainda mais indagações, que as perguntas ao lado foram listadas no formulário:

você considera o bairro Campo Novo VIOLENTO?

Sentar na calçada p/ conversar Visitar vizinho/familiar no bairro Frequentar bar/restaurante do bairro Atividades esportivas ao ar livre Caminhadas ou trilhas no Morro da Tapera

você identifica problemas quanto a DESCARTE DE LIXO E POLUIÇÃO AMBIENTAL?

você considera o bairro Campo Novo TRANQUILO? s meno ou s i a m 14,3%

sim

7,1%

10,7%

não

não

não

39,5%

não

32,1%

sim

3,6%

você se incomoda com a distância do bairro em relação ao CENTRO DE POA

sim

is ou menos ma

sim

Aos que assinalaram que gostam de exercer atividades de lazer dentro do próprio bairro, foi questionado qual a principal atividade, com a finalidade de entender as afetividades cotidianas e considerar sua manutenção e valorização no plano de ações. Foram obtidas as seguintes respostas.

57,1% 53,6%

28

92,9%

92,9%

O espaço público: lugar de encontros Em seguida foram listadas opções para que fossem assinaladas (mais de uma, se quisesse) aquelas que gostariam que fossem implementadas no bairro. A porcentagem de cada item é em relação ao total de respondentes. Nesta questão, obtivemos o seguinte resultado:

Praças e parques em geral

praças/parques mais arborizados

Quadras esportivas

pracinha para as crianças

Equip. de ginástica ao ar livre

quadras esportivas

Brinquedos para as crianças

salão de festas comunitário

Melhores calçadas/caminhadas

academia ao ar livre

Ciclovia

churrasqueiras ao ar livre

Bares e restaurantes

nenhum

você considera o bairro Campo Novo UM BOM LUGAR PARA MORAR?

não

z talve

3,6%

orar aqui de m to udaria nad e s a go o m nã 7,1%

17,9%

75%

78,6%

64,3% 92,9%

de morar a qu gosto staria de me i e l s go l h ma na infraestrutu oria ra s

32,1%

sim

sim

17,9%

Por fim, SE VOCÊ TIVESSE ESCOLHA você

ar or rro

3,6%

7,1%

talv ez

o

Você acredita que, com melhor qualidade do espaço público, se engajaria mais em ATIVIDADES COMUNITÁRIAS?

sim

nã

depleungdaer do

Você acredita que, com melhores equipamentos públicos, você se deslocaria menos EM BUSCA DE INFRAESTRUTURA

gostaria d em out e m ro ba i

Quando perguntados, com espaço para livre descrição, se sentiam falta de algum tipo de opção de lazer no bairro, algumas aparecera mais vezes que outras. De forma espontânea, as seguintes opções foram mencionados no quantitativo a seguir:

29

Ferramentas do Plano Estratégico imediatos

planejados

As ações para os conflitos identificados como imediatos a partir do formulário irão se basear a partir do diagnóstico de duas matrizes: 1) Matriz 5w2h: diagnóstico do conflito

Planejamento por cenários, projetando uma série de alternativas no manejo dos conflitos territoriais, mantendo a ideia de conviver com o problema, em vez de focar na sua (improvável) resolução.

O QUÊ (what)

ação a ser tomada

ONDE (where)

POR QUE (why)

a ação é realizada

justificativa da ação

SITUAÇÃO PASSADA análise do histórico, para embasar a análise das transformações da paisagem

possíveis Instrumentalização de métodos de avaliação e gestão contínua das demandas e melhorias observadas pelos moradores QUESTIONÁRIOS ANÁLISE DOCUMENTAL ESTREVISTAS OBSERVAÇÃO VISUAL DA PAISAGEM CONSIDERANDO A CO-PRESENÇA DOS ESPAÇOS: ESPAÇO CONCEBIDO

5w2h

QUANDO (when)

QUEM (who)

prazo para realizar

responsável pela ação

COMO

QUANTO

(how)

(how much)

planejamento para execução

impacto financeiro

compreensão dos conflitos territoriais, e avaliação para reconhecimento de padrões entre as interfaces da paisagem

2) Matriz de Importância: avalia a prioridade do conflito GRAVIDADE

30

URGÊNCIA

PRESENTE

TENDÊNCIA

1

sem gravidade

pode esperar

não altera ação

2

pouco grave

pouco urgente

piora: longo prazo

3

grave

+ rápido possível

piora: médio prazo

4

muito grave

urgente

piora: curto prazo

5

extrem. grave

ação imediata

piora rapidamente

aquele planejado por autoridades, urbanistas e proprietários, com etapas que fixam tanto o físico quanto o simbólico, o uso designado.

ESPAÇO VIVIDO

o sistema de imagens e símbolos (representações) atribuídos pelos usuários a este espaço, vivos no imaginário social.

CENÁRIO 1

CENÁRIO 3 CENÁRIO 2

ESPAÇO PERCEBIDO

[...]

lugar das potencialidades, ligação entre a realidade (rur)urbana e a realidade cotidiana, entre o espaço dominado e o espaço apropriado, entre os percursos, lugares e situações vividas. (LEFEBVRE, 2006).

composição dos panoramas possíveis e planejamento por cenários

Instrumentalização

eixos estruturadores do plano de ações

PROJETAR POR CAMINHOS

ESPAÇOS LIVRES RURURBANOS

CONVIVENDO COM OS CÓRREGOS

FRATURAS NA PAISAGEM

Pretende-se realizar uma análise sobre os padrões da paisagem, para identificar quais co-presenças, e conexões costumam se cruzar, tanto em relação à estrutura urbana (lote, tipologia construída, entorno imediato) quanto à sua interface com o ambiente natural. Por exemplo, reconhecer quais lugares de encontro ocorrem entre uma via coletora e o tecido urbano, entre um córrego canalizado e o espaço público, entre a encosta no morro e um lote rural. E a partir da compreensão desse padrões, projetar caminhos possíveis dessa convivência.

Enfoque do Plano para a implementação de espaços livres que sejam condizentes com as formas de sociabilidade estabelecidas na cidade rururbana, e com as demandas observadas a partir da aplicação do formulário.

Estratégias que promovam o manejo das áreas com ocorrências de alagamento, a partir do reconhecimento do córrego enquanto elemento da estruturação urbana a ser cuidado e preservado. Aqui, objetivase elencar formas de "revelar" os córregos ocultados pela urbanização, ou pelo mero esquecimento

Reconhecimento do conflito e escolha por permanecer com problema. Este eixo busca retomar a metodologia de Haraway para a aplicação do plano de ações, a partir da sobreposição das camadas apresentadas anteriormente: entre os caminhos, os espaços livres, e os córregos, quais interfaces de fato precisam de intervenção? E aquelas que não tem "solução visível", quais informações podemos absorver de forma tentacular, para adaptar o sistema à constância do problema e suas transformações?

Pretende-se aqui criar espaços alinhando as expectativas a partir do espaço concebido, do espaço vivido e do espaço percebido

A compreensão do arroio enquanto fragmento da natureza, mas também do cotidiano, visa a conscientização ambiental, apropriação coletiva, a construção de afetos pelo ambiente natural

31

Bibliografia BARTALINI, Vladimir. Os córregos ocultos e a rede de espaços públicos urbanos. Pós. Revista do Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo da FAUUSP, n. 16, p. 82-96, 2004, e revisado em 2009.

CHIAVENATO, Idalberto. Planejamento estratégico. Elsevier Brasil, 2004.

CHIODI, Vitor. Fazendo nós: fazer-com no Antropoceno. ClimaCom [online], Campinas, ano.4, n.9, Ago. 2017. Available from: http://climacom. mudancasclimaticas.net.br/?p=7288.

CONSTANTINOU, Eliane. Dinâmica intra-urbana: aleatoriedade e emergência de padrões espaço-temporais. 2007.

HARAWAY, Donna J. Staying with the Trouble. Duke University Press, 2016.

MÃE, Valter Hugo. A desumanização. Editora Biblioteca Azul, 2017.

TARDIN, Raquel (Org.) Análise, Ordenação e Projeto da Paisagem: Uma abordagem sistêmica. Rio de Janeiro: Rio Books. UFRJ. PROURB, 2018.

sites As Caras da Cidade - 8 - Cidade Rururbana: https://www2.portoalegre.rs.gov.br/spm/default.php? reg=9&p_secao=193 Reportagem no diário Gaúcho sobre alagamentos: http://diariogaucho.clicrbs.com.br/rs/dia-a-dia/noticia/2021/07/haoito-anos-moradores-esperam-por-asfaltamento-de-beco-na-zonasul-da-capital-20641182.html https://pt.wikipedia.org/wiki/Campo_Novo_(Porto_Alegre) http://lproweb.procempa.com.br/pmpa/prefpoa/observatorio/usu_d oc/bairro_campo_novo_oficiall.pdf O rural agrícola na metrópole: o caso de Porto Alegre/RS: https://journals.openedition.org/confins/13167?lang=pt O lado rural de Porto Alegre perde espaço: https://www.jornaldocomercio.com/site/noticia.php?codn=115372 legislação Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano e Ambiental – PDDUA – Lei Complementar 434/99. Porto Alegre, SPM. Plano Diretor de Drenagem Urbana. Manual de drenagem urbana Volume IV. DEP - Departamento de Esgotos Pluviais. Prefeitura Municipal de Porto Alegre, 20105.

Porto Alegre. Prefeitura Municipal. Secretaria do Planejamento.

Supervisão de Desenvolvimento Urbano. Grupo de Trabalho Zona Sul. Bases do plano estratégico zona sul / Organizadores Andrea Oberrather [e] Synthia Krás Borges. – Porto Alegre : 2012.

Porto Alegre. Secretaria Municipal de Urbanismo. Supervisão de Desenvolvimento Urbano. Urbano, rural, rururbano : considerações da Supervisão do Desenvolvimento Urbano. Prefeitura Municipal de Porto Alegre, 2014.

Histórico Escolar

Setor de Acessibilidade - SMIM CIEE | Centro de Integração Empresa-Escola

Estágio concluído em 20/07/2020

A todos que trilharam este caminho, ainda em construção, ao meu lado. Muito obrigada. "trabalhar com os outros para fazer algo que não se consegue fazer por si próprio" --- Richard Sennett