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REI ZULU A PROCURA DE ADVERSÁRIOS

UM POUCO DA HISTÓRIA DO CAMPO DE BOLA DE PARAIBANO.

LÉO LASAN

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Agora nas férias, espero continuar desenhando alguns pontos da nossa cidade dos anos 65 a 80. Como fotos da época são difíceis de encontrar, resolvi tirar da memória as imagens da infância e trazer aos leitores que viveram nos tempos bons em que o futebol era o único e saudável lazer da cidade nas tardes de sábados e domingos. Hoje trago uma ideia de como era o nosso campo de futebol que ficava por trás do cemitério municipal.

Em entrevista em 2015, com o Sr. Onildo Lira Brito, o mesmo revelou que primeiro grande campo de Paraibano, foi em um terreno medindo 120 X 90 metros, cedido pelo então Prefeito de Paraibano, Sr. José Lira Brito (Zuza), irmão de Onildo. Zuza governou o município de 1960 à 1965 e tinha Antônio Castor de Araújo como vice-prefeito de Paraibano.

De acordo com as informações de Onildo Brito, o terreno foi todo desmatado e limpo pelos jogadores, isso mesmo na mão, com ferramentas como foices, facão, enxadas, picaretas, pás, etc.

Com o terreno pronto, Onildo que era dono do segundo time fundado na cidade, o Paraibanense Futebol Club, foi com os documentos do terreno até Pastos Bons-MA e registrou o imóvel em nome do time. O campo ainda não estava no tamanho ideal, e a partir de uma sugestão de Paulo de Tarso Carvalho, o Paulinho do Cartório, Onildo pediu uma colaboração para que os times treinassem, a ideia era com o dinheiro aumentar o tamanho do campo.

O antigo campo de bola, como os moradores chamavam, ficava onde atualmente estão os prédios do Hospital Municipal, Câmara de Vereadores, Secretaria de Educação, INSS e todo o largo que compreende o espaço. O Cemitério já existia, e nos finais de semana quando tinha jogo, sempre que um jogador dava um chute para o gol, a bola caia sobre as catacumbas, até as 18 horas tudo, bem sempre tinha alguém para ir buscar a pelota... Mas depois das 18 horas meio escuro, poucos se atreviam entrar no cemitério para buscar a bola... Dizia-se que as almas não devolviam incomodadas com tantas bolas caindo em cima das sepulturas... A lenda só não servia para a resenha depois do jogo, que era feita no Bar Cantinho do Céu, no canto de fora do Cemitério, ali as luzes de lamparina alumiava mais que as velas do cemitério. O campo de futebol foi auge dos anos 60 até os anos 90. Onildo afirmou em entrevista que o Paraibanense Futebol Club foi campeão regional e excursionava por várias cidades e Floriano no Piauí.

O fim do amor de Onildo pelo esporte veio com a disputa política, que sempre foi muito acirrada na cidade, as duas famílias políticas tradicionais da época travaram uma verdadeira batalha na campanha pela Prefeitura "Perdemos a política, foi indo, foi indo ai com brigas políticas, fui embora para Imperatriz,

quando voltei soube da morte do meu irmão (Zuza), fiquei mais desmotivado e aí larguei de vez o futebol".afirmou Onildo ao jornalista Leo Lasan. Mas o campo de futebol continuou com outras pessoas investindo nos times, muitos desportistas e times fenomenais como o time do Dinizinho, filho do prefeito Antonio Diniz Barros (adm. de 1977 a 1983) e vice Pedro Sá.

O time do Dinizim foi um dos primeiros que tiverem uma estrutura profissional, com técnico, profissional da educação física e massagista pagos, e uma equipe com jogadores jovens e adultos, uniformes profissionais completos, sede, e um time de adolescente e crianças como base do time adulto.

Sobre os outros times como Comercial Futebol Clube o primeiro fundado por José Carneiro e Maranhão Atlético Clube criado por Ari Furtado, pretendo falar em outra reportagem. Lembrando que essas informações fazem parte de uma ´serie de entrevistas que fiz com vários jogadores, técnicos e donos de times no ano de 2015 e que estão arquivadas para posterior matérias. Ilustrações, Fotos e Matéria Leo Lasan/Paraibanonews.

https://imirante.com/esporte/sao-luis/2022/12/28/com-o-skate-como-novidade-trofeu-mirante-2023-divulgalista-dos-indicados-aopremio?fbclid=IwAR3YX4yf9y6ywgeCXGbwU9lM71l7GNMWdBDNcuzOTf9URvG6UPwc1HiLLvc

Blog da Katia Rubio 2022. Brasil. Por Katia Rubio

Competição Esportes Psicologia Quando comecei a estudar a trajetória dos atletas olímpicos brasileiros tive como referência os medalhistas. Isso porque vários deles despontavam espontaneamente no discurso da nova geração como inspiração na busca da identidade do ser atleta. Pouco a pouco percebi que dentre os medalhistas havia aqueles que não consideravam as suas medalhas como um símbolo de mérito. Logicamente isso acontecia com quem havia conquistado uma medalha de prata ou de bronze. O ouro é incontestável! Afinal, é sobre quem ocupa esse lugar que se dirigem as luzes concretas e simbólicas da vitória. E aqui chegamos a uma encruzilhada que não está relacionada apenas ao esporte, mas a todas as atividades que envolvem competição. Houve atletas que ressignificassem o metal das medalhas de segundo e terceiro lugares conferindo-lhes 24 quilates, mesmo sem ser ouro. Isso porque o processo de conquista dessa posição tinha um significado pessoal que não acompanhava a narrativa social sobre a derrota. A derrota está para o esporte como a sombra social que paira sobre aquilo que é refutado em um mundo produtivista como a tristeza, a depressão, o recolhimento, a quietude, o silêncio e outras formas de subjetivação que fogem ao frenesi. Como prática discursiva, a derrota é acompanhada de adjetivações que remetem àquilo que deve ser refutado, impedido ou mesmo negado, uma vez que nenhum atleta treina e compete com a intenção de perder. Some-se ao foco pessoal de quem busca por um resultado favorável, o desejo coletivo de torcedores, patrocinadores e grupos identitários em torno de quem compete. O esporte atual é produto de uma sociedade pautada em valores associados diretamente a resultados mensuráveis a partir de categorias que valorizam o vencedor, por competências que afirmam o mérito como valor máximo do produtivismo. Considerando que no universo esportivo o número de derrotados é infinitamente maior do que o de vitoriosos dediquei parte da minha energia de pesquisa a compreender as razões que levavam à negação de uma possibilidade tão presente e real na vida de quem se dedica a competir. Em um primeiro momento, observei como a agonística, valor fundante da competição esportiva, representada na superação dos limites do atleta que permite a transcendência da finitude por meio da conquista de uma marca até então inalcançável, se relaciona com a valorização da vitória, renegando a derrota como uma possibilidade do competir. A razão de ser de uma prática pautada na agonística, na busca dos limites de um corpo falível cuja fronteira é a própria humanidade, desloca-se da superação das impossibilidades pessoais para a luta contra quem coloca em risco a busca de um desejo nem sempre pautado no próprio desejo, mas na necessidade de um sistema organizado e constituído para lucrar com um resultado positivo. A condição implícita nessa discussão recai sobre aquilo que acontece com todos os demais atletas que não alcançam esse resultado. Relegados aos degraus menos nobres do pódio, ou pior ainda, distante da possibilidade de usufruir das luzes que iluminam quem nele sobe, aos derrotados restam as sombras da ignorância e do esquecimento, afinal, a derrota é o contraponto imaginário noturno de realizações não menos dignas de registro e análise. Em trabalhos mais recentes busquei categorizar as diferentes representações da derrota. Isso vale não apenas para redimensionar um dado objetivo da competição esportiva, como também para auxiliar os atletas que vivem esse resultado como uma condição para o qual não foram preparados a lidar. - A derrota por falta de mérito: quando não se chegou ao nível adequado para o enfrentamento daquela competição em específico. - A derrota pelo mérito do adversário: quando se utiliza todos os recursos na competição, mas o adversário é reconhecidamente superior, - A derrota para o imponderável: quando fatores externos à competição interferem no resultado, independentemente do mérito de quem compete. Entram aqui as questões políticas e institucionais, erros de arbitragem, atitudes anti-esportivas, doping.

As competições de futebol dos últimos dias exemplificam cada uma dessas formas de derrota e apontam para a complexidade do fenômeno esportivo. Mais do que uma simples competição, o esporte clama pela reflexão de suas representações. É muito mais do que 22 pessoas buscando superar a defesa de um espaço na busca da colocação de um objeto em uma meta nada metafórica. Nesse jogo de idas e vindas estão esboçados interesses pessoais e coletivos marcados pelo presente e pelo passado. Quando se trata de times nacionais um encontro entre seleções faz aflorar as marcas políticas do passado que envolve colonialismo, dominação, exploração, subordinação e, por que não, genocídio. E ali, em um campo gramado, cercado por milhares de espectadores, com a bola rolando durante 90 minutos, ou um pouco mais, se desenha as diferentes dimensões da derrota. Perder na fase de classificação pode parecer normal a quem ainda não alcançou o nível dos grandes times. Afirma-se assim a derrota pelo mérito do adversário. Surpresa é ver times campeões do passado se despedindo antes mesmo de chegar aos confrontos diretos. É a derrota por falta de mérito (ou seria para o imponderável?). E, com a entrada de equipamentos para afirmar resultados há quem tenha saído da competição, ou permanecido nela, mesmo diante das evidências da tecnologia. Mas, o mais importante que vejo nessa Copa do Mundo é a vitória, e não a derrota, de quem era considerado coadjuvante do espetáculo, ainda que para se chegar a ele tenha sido preciso se classificar diante de outros iguais. Assistir à desclassificação daqueles que se autodefinem como a referência da excelência esportiva, justamente por nações historicamente subordinadas pelo uso da força, prova que o esporte é muito mais do que um jogo, ou melhor, que o esporte é um jogo que não se desvincula da política.

Blog da Katia Rubio 2022. Brasil. Por Katia Rubio

Esportes Olimpismo Psicologia

Era quase inverno de 2022 no hemisfério norte, época pouco usual para competições previstas para a temporada de verão, e como previsto, a bola começou a rolar em campos no meio de deserto onde brota combustível fóssil. “Quanta ousadia levar o esporte nascido na terra de gentlemen para a casa daqueles que quase dominaram a Europa séculos atrás”, pensou o Barão. Ressuscitado depois de quase 100 anos, devido à uma contenda nunca antes imaginada, ele tentava entender o que acontecera em menos de um século com o esporte que ele tanto ajudara a construir. Tudo bem que o futebol já não gozava de todo o seu respeito desde que Jules Rimet, o presidente mais longevo da FIFA, entendera que as regras do amadorismo não se aplicavam a si, levando à retirada do esporte bretão do programa olímpico dos Jogos de Los Angeles, de 1932. Incrédulo, aquele senhor de sobrancelhas hirsutas e bigode marcadamente personalizado, matutava como podia um seu conterrâneo desafiar as regras que regiam de forma tão objetiva o universo da bola. “Eu já começava a sentir o peso dos anos, a falta de recursos pessoais materiais e o frio das terras helvéticas, quando isso aconteceu”, lembrou o Barão surpreso com o impacto que aquela ousadia ainda causava em sua alma. O mundo, naquele tempo, ainda guardava a objetividade dos séculos anteriores. Dividido entre colonizadores e colonizados, pela força das armas ou do capital, o planeta tinha no Norte a determinação gráfica de estar acima e no centro do mapa mundi. Ali se concentravam os colonizadores. Abaixo de uma linha batizada com o nome de uma nação, que curiosamente estava mais para o Sul do que para o Norte, estavam basicamente os colonizados, fornecedores de preciosas matérias-primas, denominados “Novo Mundo”, que aliás de novo só havia o desconhecimento dos “velhos” sobre limites desconhecidos por eles. Foram necessárias algumas décadas para que um sociólogo lusitano reconhecesse a importância dos saberes produzidos naquelas terras habitadas por uma humanidade chamada de selvagem, bárbara ou outros adjetivos carregados de preconceito, aos quais denominou epistemologias do Sul. Pensador reconhecidamente eclético, afinal tinha formação em história, pedagogia e filosofia, o Barão olhava para o estádio repleto de uma gente tão diversa quanto as dúvidas que lhe passavam pela cabeça. E nesse momento lembrou-se de uma conversa lá no outro plano com um pós-atleta olímpico que pouco ou nada tinha da tropicalidade de onde vinha, a começar do nome. Olhos claros, fala empolada esse brasileiro que chegou a ser o segundo dirigente mais longevo da FIFA, fazia questão de se gabar da virada de jogo que promovera na instituição depois de pôr a escanteio o inglês que havia sabotado o Brasil na Copa de 1966. E com um misto de perplexidade e lamento, emendou: “O Jean Marie bem que me explicou, mas eu não tinha condições de entender... Para se ter e manter o poder de uma instituição global era preciso incluir os países colonizados que pouco ou nada representavam para o mundo europeu esportivo do meu tempo. C’est la vie! O mundo já não é mais o mesmo, mesmo! Mas, daí a permitir que eles levantem o caneco, já é demais!” E entre imagens e lembranças pretéritas e pretéritas mais que perfeitas, olho fixo no gramado onde a bola já rolava no jogo semifinal daquele campeonato mundial, um texto escrito em 1905 veio à mente daquele nobre defensor dos valores morais criados por Thomas Arnold, ampliados para outras instituições para além da Rugby School. Nele explicitava como a sua França via a África colonizada e estabelecia o tipo de relacionamento possível entre o norte e o sul. “A França será livre para trazer a paz com o comércio para o coração do velho Marrocos no dia em que deixar de considerá-lo como um Estado, para ver nele algo diferente de um agregado de comunidades com as quais é permitido negociar separadamente e que poder ser organizado passo a passo”. Os anos se passaram e o futebol continuava a reservar surpresas aos nobres detentores dos poderes esportivos

RAFAEL CASTELLANI

Entre para nossa lista e A beleza do jogo, do futebol, e sua imprevisibilidade - Universidade do Futeboldade

Texto: Rafael Castellani e João Batista Freire não reflete, necessariamente, a opinião da Universidade do Futebol.

Dezenove de dezembro, data que marcou aquela que foi, para muitos, a mais grandiosa final de Copa do Mundo de todos os tempos e, para alguns, uma das mais espetaculares partidas de futebol da história do esporte mais querido do planeta. Que belo jogo! Messi fez o milagre de conseguir que boa parte dos brasileiros torcesse para a Argentina. Algo impensável até então, diante de tamanha rivalidade com nossos “hermanos”. Torcíamos tanto que nosso desejo era para que o jogo não acabasse. Queríamos que esse jogo fosse eterno ou que todo jogo de futebol fosse assim. Mas não é sempre que os deuses visitam a Terra. Escolhem ocasiões especiais, em que podem jogar pelos pés de seus ungidos, e um deles estava em campo, defendendo a seleção Argentina. Nem mesmo a eletrizante tensão típica de uma final de Copa do Mundo conseguiu prejudicar a beleza do espetáculo proporcionado por, ao mesmo tempo, refinados e “raçudos” jogadores argentinos, sob a batuta de Messi, e pelos moleques atrevidos da França, liderados por Mbapeé. Os argentinos foram valentes e humildes, à frente da talentosa e brilhante geração de filhos de imigrantes africanos (a maioria deles) que vestiam a camisa da seleção francesa. O futebol de rua, das quadras, da periferia, dos mais pobres, dos negros, da molecada de rua da França deu certo. Fazer frente à seleção argentina bafejada pelos deuses do futebol não é para qualquer um. Haja atrevimento! Desafiar deuses é coisa de titãs. Um jogo que coroou mais um rei, Messi. E o futebol é tão generoso que permite vários reis ao lado de Pelé e Maradona. Como é bonito ver Messi jogar! O título, enfim, retorna à América do Sul, berço da arte do jogo de bola, do jogo forjado por pés descalços sujos de terra e lama. Mbappé sugeriu que o futebol da América do Sul é menos desenvolvido que o europeu, mas, pelo menos em parte, sua tese caiu por terra na final da Copa. Mbappé erra mais por palavras que por ações. Seu gol contra o excelente goleiro argentino foi daqueles de tirar o fôlego. Se o craque francês falasse de organização, gerenciamento, infraestrutura, tudo bem, mas se estiver falando de talento, técnica, criatividade e arte, ainda temos do lado de baixo do Equador, muito a ensinar. A fornalha donde se forja a arte de fazer futebol é mais quente deste lado do mundo que na Europa. Quanto à pedagogia, daríamos toda a razão a Mbappé se ele nos criticasse, pois que nossos meninos vão às equipes de base dos clubes e praticamente desaprendem o que aprenderam nas ruas. Nossa grande pedagogia ainda está fora das escolas e clubes de futebol. Erro persistente também entre os europeus. Independentemente de ser este ou aquele país a praticá-lo, o futebol encanta, arregimenta multidões nos estádios ou à frente das telas de TV e computadores. A Copa do mundo masculina de futebol, realizada no Catar, um dos países que mais desrespeitam direitos humanos no mundo, deu prova desse encanto. A equipe campeã, a Argentina, começou perdendo de uma das seleções menos favoritas, a Arábia Saudita. O Brasil perdeu de duas seleções que se mostraram fracas ao longo do torneio. A Alemanha, tetra campeã mundial, não disse a que veio. A tão falada “geração de ouro” belga, também não. Poucas vezes os profetas do futebol erraram tanto. A “zebra” correu solta pelos gramados nesta edição da Copa do Mundo. E isso devemos à imprevisibilidade. Se ela está presente em todas as ações humanas, em todos os acontecimentos da natureza, em nenhum momento está mais presente que no jogo lúdico. O lúdico é o paraíso da imprevisibilidade, é o que torna o jogo atraente. O mistério encanta, seduz, vicia, e não há jogo sem mistério. Corremos atrás do que não vemos, perseguimos o invisível e o incerto, queremos saber o fim, mas, se ele nos for contado, o jogo perde a graça. A graça do jogo está em não sabermos o que virá adiante. A Argentina sagrou-se campeã. Mas… e se Polônia ou México tivessem empatado seus jogos contra a Argentina na fase de grupos? E se o goleiro Australiano não tivesse cometido erro inesperado nas oitavas de finais em partida contra a Argentina? E se o Brasil não tivesse tomado o gol de empate por um gravíssimo erro tático contra a Croácia? E se a bola não tivesse desviado no Marquinhos? E se Neymar tivesse batido o primeiro pênalti contra a Croácia? E se a semifinal reunisse Argentina e Brasil? E se o goleiro argentino não fizesse tão brilhante defesa no último lance da prorrogação da final? E se…? E se…?

A expressão intencionalmente repetida inúmeras vezes acima, “e se”, somente nos reforça o aspecto imprevisível do jogo. Por mais que busquemos estudar e analisar o futebol e, acima de tudo, controlar suas variáveis, estaremos sempre sujeitos à sua imprevisibilidade. Há tantos “ses” para ocultar o imprevisível! Como gostaríamos que eles não existissem, como torcemos para que todo acaso deixe de ser acaso e reúna fatos em nosso favor! Mas se fosse assim, sequer seríamos torcedores, sequer estaríamos escrevendo estas linhas, sequer haveria graça e jogo, sequer a vida valeria a pena.

SYLVIO DE MAGALHÃES PADILHA E OS CLUBES EM SÃO PAULO.

ALBERTO MURRAY NETO ·

Durante a segunda guerra mundial, o Ditador Getúlio Vargas deu uma ordem que poderia ter mudado para pior os destinos do esporte no Brasil e em São Paulo. O ditador Vargas ordenou que fossem fechados todos os clubes esportivos de origem dos países do Eixo. Ou seja, os clubes de origem alemã, italiana e japonesa deveriam encerrar suas atividades. Quem cuidava do esporte em São Paulo naquela época era Sylvio de Magalhães Padilha, finalista Olímpico, multicampeão, líder do ranking mundial nos 400 metros com barreiras, capitão do exército e, acima de tudo, uma pessoa respeitadíssima, que defendia o esporte de todas as maneiras. O Capitão Padilha era do Diretor do Departamento de Esporte e Educação Física do Estado de São Paulo, o DEFE, atual Secretaria de Esporte. Ao receber a ordem do ditador Getúlio, Padilha recusou-se a cumprí-la. Em hipótese alguma iria determinar o fechamento dos clubes esportivos, cujos associados e esportistas radicados no Brasil, não poderiam pagar o preço da guerra insana iniciada por Hitler na distante Europa. A solução do Capitão Padilha foi reunir os clubes atingidos pela ordem do ditador e sugerir a mudança dos nomes. Assim, desmontaria as prestensões desastradas de Getúlio Vargas. E assim foi feito. O Espéria virou Floresta. O Palestra Itália virou Palmeiras (aliás, o nome Palmeiras foi sugestão do próprio Padilha). O Germânia virou Pinheiros. O Clube Alemão virou Yatch Clube Santo Amaro. E o mesmo ocorreu com diversos clubes japoneses, que fomentavam várias modalidades, notadamente o beisebol. Padilha reapondeu ao ofício do ditador Vargas informando sobre a mudança dos nomes e dando ciência ao presidente da República que, em São Paulo, nenhum clube seria fechado. Vargas viu aquilo como um ato de ousadia, mas teve que engolir a decisão do Capitão Padilha, o mais destacado atleta brasileiro daquela geração. Imagine o que teria havido com o esporte de São Paulo e do Brasil se esses clubes tivesse fechado. O Capitão Padilha tornou-se sócio honorário, ou benemérito, de todos esses clubes, que ficaram eternamente gratos por essa decisão corajosa. Essa não foi a única vez em que o Major Sylvio de Magalhães Padilha contrariou as ordens de governantes que tentaram prejudicar o esporte. Padilha nunca hesitou em defender o esporte e os atletas. No link abaixo, você poderá ler na matéria da ESPN BRASIL, um pouco mais da história do Major que, atleta, dirigente, peitou Getúlio e outros mais. O orgulho que sinto do meu avô é ime so

Segunda parte

LEOPOLDO GIL DIULCIO VAZ Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão Academia Ludovicense de Letras Academia Poética Brasileira Centro Esportivo Virtual Professor de Educação Física (aposentado) IF-MA; Mestre em Ciência da Informação

Dando continuidade ao resgate da memória da Capoeiragem, por estado...

GOIÁS

LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ

A história de Goiás remonta ao início do século XVIII, com a chegada dos bandeirantes vindos de São Paulo, atraídos pela descoberta de minas de ouro. Bartolomeu Bueno da Silva, o Anhanguera, liderou a primeira bandeira com a intenção de se fixar no território, que saiu de São Paulo em 3 de julho de 1722. A região do Rio Vermelho foi a primeira a ser ocupada, onde fundou-se Vila Boa (mais tarde renomeada para Cidade de Goiás), que serviu como capital do território durante 200 anos. O processo de independência de Goiás se deu gradativamente, impulsionado pela formação de juntas administrativas. O desenvolvimento e povoamento do estado deu-se, de forma mais intensificada, a partir da mudança da capital para Goiânia, na década de 1930, e com a construção de Brasília, em 1960. é uma das 27 unidades federativas do Brasil. Situa-se na Região Centro-Oeste do país, no Planalto Central brasileiro. O seu território é de 340 257 km², sendo delimitado pelos estados de Mato Grosso do Sul a sudoeste, Mato Grosso a oeste, Tocantins a norte, Bahia a nordeste, Minas Gerais a leste, sudeste e sul e pelo Distrito Federal a leste. Goiânia é a capital e maior cidade do estado, assim como sede da Região Metropolitana de Goiânia, a única no estado. Outras cidades importantes, fora da região metropolitana de Goiânia, são: Anápolis, Rio Verde, Itumbiara, Catalão, Luziânia, Águas Lindas de Goiás, Valparaíso de Goiás, Formosa, Jataí, Caldas Novas, Goianésia, que também são as maiores cidades em população do interior do estado. Seus municípios situados a leste formam a Região Integrada de Desenvolvimento do Distrito Federal e Entorno, uma das duas RIDES no país. Ao todo, o estado possui 246 municípios.Com 7,2 milhões de habitantes, é o estado mais populoso da Região Centro-Oeste e o 11º mais populoso do país. Possui, ainda, a nona maior economia entre as unidades federativas brasileiras. Segundo o Tribunal Regional Eleitoral de Goiás, em 2016 registram-se 4 464 442 eleitores. Goiás – Wikipédia, a enciclopédia livre (wikipedia.org) Os registros históricos mais antigos encontrados na região do atual estado de Goiás, foram datados de cerca de 11 mil anos atrás, o que indica que a ocupação humana na área se iniciou há milhares de anos. Grande parte dos sítios arqueológicos presentes no estado estão situados em Serranópolis, Caiapônia e na Bacia do Paranã, abrigados em rochosos de arenito e quartzito, além de grutas de maciços calcários. Além destes, há fortes indícios de ocupação pré-histórica nos municípios de Uruaçu e Niquelândia que, juntos, abrigam abundante material lítico do homem pré-histórico, conhecido como "homem Paranaíba". Por conseguinte, o

"homem Paranaíba" é tido como o primeiro representante humano que viveu na área, pertencente ao grupo caçador-coletor. Outro grupo caçador-coletor que viveu na região foi o da "Fase Serranópolis", cujo comportamento foi influenciado por mudanças climáticas, o que fez com que este passasse a se alimentar de moluscos terrestres e dulcícolas, além de uma quantidade maior de frutos.[13] Populações ceramistas também ocuparam o território goiano, em uma época em que o clima e a vegetação eram, supostamente, semelhantes aos atuais. Estas populações ceramistas viveram há cerca de dois mil anos, e eram divididos em: Una, Aratu, Uru e Tupi-Guarani.[ A cultura ceramista da tradição Una, a mais antiga, habitava abrigos e grutas naturais. Alimentavam-se sobretudo de vegetais, e cultivavam milho, cabaça, amendoim, abóbora e algodão. Também foram responsáveis pelo desenvolvimento da tecnologia da produção de vasilhames cerâmicos. Os Aratus habitavam grandes agrupamentos, situados em ambientes abertos, principalmente em matas próximas a rios ou riachos. São os primeiros aldeões conhecidos. Assim como os Una, cultivavam milho, feijão e algodão. Eram responsáveis pela produção de vasilhames cerâmicos de diferentes tamanhos e, confeccionavam rodelas de fusos, utilizados na fiação do algodão, dentre outros artefatos oriundos da manipulação da argila. Já a população da tradição Uru só veio chegar ao território do atual estado, muito tempo após os Aratus. Sua passagem pela pré-história goiana tornou-se conhecida através dos sítios arqueológicos localizados no vale do Rio Araguaia e seus afluentes, datados do século XII. A mais recente das populações, os Tupi-Guaranis, é datada de 600 anos atrás. Estes viviam em aldeias super populosas, dispersas na bacia do Alto Araguaia e na bacia do Tocantins.[13]

Período colonial Aos tempos do descobrimento do Brasil pelos portugueses, a região do atual estado de Goiás era habitada pelos índios Avás-canoeiros, tupi-guaranis e tapuias.[14] A ocupação do território goiano teve início com Catarina Silva e as expedições de aventureiros (bandeirantes) provenientes da Capitania de São Vicente. As Bandeiras objetivavam procurar metais preciosos e capturar índios que, por sua vez, serviam como mão de obra escrava no desenvolvimento da agricultura e minas, tanto no "território dos Goyazes" quanto na Capitania de São Vicente. Além destas, outras expedições saíam do Pará, nas chamadas Descidas com vistas à catequese e ao aldeamento dos índios da região. Todas essas expedições tinham como rota o território do atual estado, mas não se dava a criação de vilas permanentes e nem a manutenção de um notável número de população na região. Com a descoberta de ouro na área, a ocupação efetiva se consolidou, tornando-se propriamente dita. Devido à descoberta de ouro em Minas Gerais (próximo à Ouro Preto) e em Mato Grosso (próximo à Cuiabá) entre 1698 e 1718, acreditava-se que a região também possuía abundância em minérios, ideia que ganhou força com a crença, de origem renascentista, de que o ouro era mais abundante quanto mais próximo da Linha do Equador e no sentido leste-oeste. Assim sendo, a busca por ouro no território se intensificou cada vez mais, fazendo deste o foco das expedições dos Bandeirantes pela região.[15]

Umas das Bandeiras mais importantes recebida pelo território goiano foi a liderada por Francisco Bueno, a primeira a encontrar ouro nestas terras, em 1682, embora em pequena quantidade. A região explorada por essa Bandeira estendeu-se das margens do Rio Araguaia até a região do atual município de Anhanguera. Bartolomeu Bueno da Silva, filho de Francisco Bueno e conhecido por Anhanguera (Diabo velho), também fazia parte desta Bandeira. Segundo registros, Bartolomeu Bueno da Silva interessou-se pelo ouro que adornava algumas índias de uma tribo, mas não obteve sucesso em obter informações confiáveis sobre a localização exata desse ouro. Para descobrir a localização, Anhanguera resolveu ameaçar por fogo nas fontes e rios da região, utilizando aguardente para convencer os índios da tribo de que tinhas "poderes" e meios para fazer isto acontecer. Apavorados, os índios levaram-no imediatamente às jazidas, surgindo assim o apelido "Anhanguera" (Diabo Velho ou Feiticeiro).[15] O filho de Anhanguera, também chamado Bartolomeu Bueno da Silva , tentou retornar aos locais onde seu pai havia passado, 40 anos após o acontecido. Bueno da Silva tinha como objetivo encontrar a “Serra dos Martírios”, um lugar fantástico onde grandes cristais aflorariam, tendo formas semelhantes a coroas, lanças e cravos, referentes à “Paixão de Cristo”. Esse lugar, místico, nunca foi encontrado, mas este acabou chegando às regiões próximas ao rio Vermelho, onde encontrou ouro em maior quantidade em 1722.[15] Bartolomeu Bueno da Silva acabou fixando-se na vila de Sant'Anna, em 1727, que mais tarde viria a se tornar a Vila Boa de Goyaz.[15]

Depois de seu retorno a São Paulo, onde apresentou os achados em terras goianas, Bueno da Silva foi nomeado capitão-mor das "minas das terras do povo Goiá". Apesar disso, sua influência foi sendo diminuída a medida que a administração régia se organizava na região. Acusado de sonegação de rendas, Bueno da Silva perdeu direitos obtidos junto ao rei, falecendo pobre e sem poder em 1740. O ouro explorado na área era retirado principalmente da superfície dos rios, através da peneiragem do cascalho, se tornando escasso após 1770. A região passou a viver basicamente da pequena agricultura de subsistência e de algumas atividades relativas à pecuária. Nesta época, as principais regiões de Goiás exploradas pela Capitania de São Paulo eram o Centro-Sul (proximidades dos limites com São Paulo). o Alto Tocantins e o Norte da capitania, até os limites da cidade de Porto Nacional (hoje pertencente ao Tocantins). Estas regiões, entretanto, só viriam a receber ocupação humana intensamente a partir dos séculos XIX e XX, como resultado da ampliação da pecuária e agricultura.[15] Separação da Capitania de São Paulo O atual estado de Goiás foi administrado, no período colonial, pela Capitania de São Paulo, na época a maior delas, estendendo-se do Uruguai até o atual estado de Rondônia. Todavia, seu poder não era tão extenso e proeminente, ficando distante das populações e, também, dos rendimentos.[15] Depois da descoberta de ouro em Goiás, em 1722, os portugueses buscaram aproximar-se da região produtora, como uma forma de controlar melhor a produção de ouro e evitar o contrabando, além de servir como uma resposta mais imediata aos ataques dos índios e controlar os conflitos e revoltas entre os mineradores. Assim sendo, foi criado através de alvará régio a Capitania de Goiás, desmembrada de São Paulo em 1744, com a divisão efetivada em 1748. O primeiro governador da então Capitania de Goyaz foi Dom Marcos de Noronha, que passou a residir em Vila Boa de Goyaz. [15]

Divisão administrativa do Brasil após a Guerra dos Emboabas. Durante a maior parte do período colonial e imperial, os limites territoriais entre as capitanias e províncias não eram demarcados com exatidão, estando quase sempre definidos pelos limites das paróquias ou através de deliberações políticas oriundas do poder central. Nesse período, Goiás foi uma das administrações a sofrer maiores perdas de território, com diversas divisões. Duas perdas significativas de território marcaram Goiás na época colonial: O Triângulo Mineiro e o Leste do Mato do Grosso.[15] A região que hoje corresponde ao Triângulo Mineiro pertenceu à capitania de Goiás, desde sua criação, em 1744, até 1816, pouco antes da independência brasileira. A região foi incorporada a Minas Gerais devido a pressões pessoais de integrantes de grupos dirigentes da região. Apesar de ter passado à hegemonia mineira, o Triângulo continuou sofrendo influência goiana nas suas mais variadas ações, sobretudo na questão política. Em 1861, a Assembleia Geral sediou uma das maiores discussões políticas à época, entre parlamentares de Minas Gerais e de Goiás, por conta da tentativa mineira de ampliar ainda mais o território de Minas Gerais, incorporando áreas do Sul Goiano e próximas ao Rio São Marcos, administradas pela Capitania de Goiás.[15] As capitanias de Mato Grosso e Goyaz começaram as discussões acerca de seus limites territoriais em 1753. Como resultado das discussões, ficou definido que os limites entre as duas capitanias seria a partir do Rio das Mortes até o Rio Pardo, sendo que este último seria usado como o último limite entre as duas, por sua localização quase na fronteira do Brasil com Bolívia. Em 1838, Mato Grosso reiniciou as movimentações de contestação de limites territoriais, criando a vila de Sant'Ana do Paranaíba, próximo ao limite pré-

estabelecido com Goiás. O caso foi tratado pela Assembleia Geral apenas em 1864, que criou uma legislação específica para o entrave. A situação perdurou até a República Velha, com a criação do município de Araguaia em 1913 por parte de Mato Grosso, e criação de Mineiros por parte de Goiás, o que culminou no agravamento do conflito. A questão ficou em suspenso até 1975, quando uma nova demarcação foi efetuada, durante o Regime militar. A decisão final veio em 2001, quando o Supremo Tribunal Federal (STF) demarcou, por definitivo, a nascente "A" do Rio Araguaia como ponto de partida das linhas demarcatórias entre os dois estados, resultando em perda territorial para Goiás.[15]

Império - De 1780 em diante, a Capitania de Goiás iniciou um processo de ruralização e regressão a uma economia de subsistência, devido ao esgotamento das jazidas auríferas, o que causou graves problemas financeiros, pela ausência de um produto básico rentável. Os portugueses agiram ativamente para tentar reverter essa situação, incentivando e promovendo a agricultura na região. Todavia, a ação não gerou resultados positivos, já que os agricultores temiam o pagamento de dízimos. Outros motivos que contribuíram para o fracasso da iniciativa foi a ausência de um mercado consumidor, dificuldade de exportação - sobretudo pela ausência de um sistema viário - e a falta de interesse dos mineiros pelo trabalho agrícola, pouco rentável. Quando o Brasil conquistou a independência, em 1822, a Capitania de Goyaz foi elevada à categoria de província. Porém, essa mudança pouco alterou a realidade socioeconômica de Goiás, que ainda enfrentava um quadro de pobreza e isolamento geográfico. Poucas mudanças ocorreram, sendo a maioria de ordem política e administrativa. A expansão da pecuária em Goiás alcançou relativo êxito nas três primeiras décadas do século XIX, resultando em um significativo aumento populacional, principalmente no sul da província.[16] A maioria dos migrantes que chegavam ao estado, vinham de outras províncias próximas, como Grão-Pará, Maranhão, Bahia e Minas Gerais. Com essa migração, surgiram novas localidades, que logo tornaram-se cidades: no sudoeste goiano, Rio Verde, Jataí, Mineiros, Caiapônia (então Rio Bonito), Quirinópolis (então Capelinha), entre outras. O norte da província também mudou consideravelmente com o aumento populacional. Além do surgimento de novas cidades, as que já existiam (Imperatriz, Palma, São José do Duro, São Domingos, Carolina e Arraias, ganharam novo impulso.[16]

Mapa da Província de Goiás, 1874. Arquivo Nacional. O poder central, apesar de distante, ainda exercia amplo poder sobre a região, pois detinham a livre escolha dos presidentes de província e outros cargos de importância política - todos de nacionalidade portuguesa descontentando os grupos locais. Após a abdicação de D.Pedro I, Goiás experimentou um movimento nacionalista liderado pelo padre Luiz Bartolomeu Marquez, pelo bispo Dom Fernando Ferreira e pelo coronel Felipe Antônio. De imediato, o movimento recebeu o apoio das tropas, conseguindo depor todos os portugueses que ocupavam cargos públicos em Goiás, entre eles, o presidente da província.[16] Vários partidos foram fundados na província por grupos locais insatisfeitos com a influência exercida pelo governo central. Nas últimas décadas do século XIX, surgiram os partidos O Liberal, em 1878, e o Conservador, em 1882. Jornais também foram fundados, usados principalmente como meio de difusão das ideias destes partidos, entre eles Tribuna Livre, Publicador Goiano, Jornal do Comércio, Folha de Goyaz e O

Libertador. Com isso, representantes próprios foram enviados à Câmara Alta, fortalecendo grupos políticos locais e lançando as bases para as futuras oligarquias.[16] O jornal O Libertador havia sido fundado pelo poeta goiano Antônio Félix de Bulhões, e usado por este como meio de divulgação de seus ideais abolicionistas. Félix de Bulhões também promoveu festas para angariar fundos, com o objetivo de alforriar escravos, e compôs o Hino Abolicionista Goiano. Com a sua morte, em 1887, várias sociedades emancipadoras se uniram e fundaram a Confederação Abolicionista Félix de Bulhões. Aproximadamente 4 mil escravos viviam em Goiás, à época da promulgação da Lei Áurea, sancionada em 13 de maio de 1888. [16] O ensino educacional em Goiás foi regulamentado em 1835, pelo presidente da província, José Rodrigues Jardim. Em 1846, foi criado na então capital, Cidade de Goiás, o Liceu, que contava com o ensino secundário. À época, jovens do interior de família classe média-alta e alta concluíam seus estudos em Minas Gerais e faziam curso superior em São Paulo, e os de família menos abastada, encaminhavam-se para a escola militar ou seminários. No entanto, a maioria da população permanecia analfabeta. Somente em 1882 foi criada a primeira Escola Normal de Goiás, na capital deste.[16]

República O Brasil passou ao regime republicano em 15 de novembro de 1889, fazendo de Goiás um estado. Entretanto, pouco se modificou na unidade administrativa em termos socioeconômicos, em especial pelo isolamento resultante da carência dos meios de comunicação. Aliado a isso, a ausência de centros urbanos e de um mercado interno, além de uma economia de subsistência, também contribuíram para os problemas enfrentados pela população goiana. Apenas mudanças administrativas e políticas foram vistas. A primeira fase da República no Brasil, que durou desde sua proclamação até 1930, acentuou a disputa entre as elites oligárquicas de Goiás pelo poder político. Os principais grupos de elite eram os Bulhões, os Fleury, e os Jardim Caiado, que exerciam influência nas mais diversas atividades do estado. Os Bulhões apresentaram forte influência sobre a política do estado até por volta de 1912, com sua liderança maior em José Leopoldo de Bulhões, sucedidos pela elite oligárquica dos Jardim Caiado, liderada por Antônio Ramos Caiado, com seu poder exercido até 1930.[17]

Um dos meios de desenvolvimento advindos da mudança para o período republicano, de forma imediata, foi a instalação do telégrafo em 1891, usado para a transmissão de notícias.[17] Posteriormente, a estrada de ferro em território goiano, que chegou no início do século XX, também foi de grande importância para a urbanização na região e a ligação com outras partes do país, facilitando a produção de arroz para exportação.[17] Entretanto, a estrada de ferro não se estendeu até a cidade de Goiás, capital estadual à época, assim como não se prolongou ao norte do estado, devido principalmente a falta de recursos financeiros. Essas regiões permaneciam praticamente incomunicáveis. A pecuária, predominante na parte sul, passou a ser o setor mais importante da economia.[17] Com a Revolução de 1930, que levou Getúlio Vargas à Presidência do Brasil, foram registradas alterações no cenário político estadual. Getúlio Vargas destituiu os governadores e nomeou um governo provisório composto por três membros. O Dr. Pedro Ludovico Teixeira foi nomeado em Goiás, passando a ser interventor do estado dias após sua primeira nomeação.[17] Outra iniciativa surgida como resultado da revolução foi um plano de ação adotado pelo governo nacional, para levar desenvolvimento a alguns estados interioranos do país, entre os quais Goiás, que recebeu investimentos nas áreas do transporte, educação, saúde e exportação. O plano de ação de desenvolvimento em Goiás previa uma outra medida para alcançar o objetivo: A mudança da capital estadual e construção da futura capital.[17]

Construção de Goiânia

Os ideais de "progresso e desenvolvimento", levantados durante a revolução de 1930, foram os principais impulsionadores da mudança da capital goiana, proposta que já havia sido pensada em governos anteriores, mas que nunca havia sido habilitada em parte por falta de apoio do governo nacional. A região onde se encontra a atual capital foi escolhida por apresentar melhores condições hidrográficas, topográficas, climáticas e pela proximidade da estrada de ferro.[17] No dia 24 de outubro de 1933, lançou-se o projeto de construção e mudança da sede do governo do estado de Goiás, sendo que dois anos depois, em 7 de novembro de 1935, a mudança provisória da nova capital foi

iniciada. Para escolher o nome da nova capital, foi promovido um concurso, administrado pelo semanário "O Social". O nome escolhido foi "Goiânia", conforme sugerido pelo professor Alfredo de Castro.[17] Em 23 de março de 1937, a mudança da capital para Goiânia foi finalizada. O município de Goiás perdeu o posto de sede estadual por meio do Decreto 1.816 daquele ano. Cinco anos após sua instalação definitiva como capital, Goiânia já registrava 15 mil habitantes, atraídos principalmente do norte de Goiás e de estados próximos, como Minas Gerais, Piauí, Bahia e Maranhão. [17] Goiás experimentou um crescimento acelerado em vários setores, a partir de 1940, resultado de políticas adotadas tanto pelo governo estadual quanto pelo governo nacional, como o desbravamento do Mato Grosso Goiano, a campanha nacional de "Marcha para o Oeste" - com a finalidade de povoação de áreas do interior do Brasil - e a construção de Brasília, que viria a ser a nova capital nacional, assim como ocorrido com Goiânia.[17] A imigração no estado se intensificou, a urbanização e o êxodo rural foram estimuladas, e a agropecuária se espalhou para outras partes do território, que não fossem apenas o sul. Entretanto, assim como outras partes do país, a industrialização ainda era recorrente e a economia era quase que integralmente dependente do setor primário (agricultura e pecuária), com a vigência do sistema latifundiário.[17] Em contrapartida, como meio de estimular o desenvolvimento de outras áreas econômicas no estado (principalmente a industrialização), foram criados o Banco do Estado e a Centrais Elétricas de Goiás (CELG), na década de 1950. A continuação dessa inciativa se deu no governo de Mauro Borges Teixeira, que governou Goiás entre 1960 e 1964. Mauro Borges Teixeira também procurou descentralizar a economia, elaborando outro projeto, chamado de "Plano de Desenvolvimento Econômico de Goiás", que funcionou como uma diretriz onde se abrangia áreas de agricultura e pecuária, transportes e comunicações, energia elétrica, educação e cultura, saúde e assistência social, levantamento de recursos naturais e turismo.

Ano 1881\Edição 00022 (1) A Tribuna Livre : Orgão do Club Liberal de Goyaz (GO) - 1878 a 1884

Ano 1882\Edição 00284 (1) A Tribuna Livre : Orgão do Club Liberal de Goyaz (GO) - 1878 a 1884

Ano 1885\Edição 00027 (1) O Publicador Goyano (GO) - 1885 a 1889

Ano 1955\Edição 01567A (1) O Estado de Goiaz (GO) - 1951 a 1955

Ano 1956\Edição 00096 (1) Jornal de Noticias (GO) - 1952 a 1959